Gondim e a Escatologia da Esperança


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Marcelo Lemos

A Lei de Deus foi dada como um padrão para todos os povos, “guardai-os, pois, e, fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que ouvirão todos estes estatutos e dirão: Só este grande povo é gente sábia e inteligente. Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados  como SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o chamamos? E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje sou perante vós?” (Deuteronômio 4.6-8). Pretensão que é comprovada em muitas outras referencias (I Reis 10.1. 8-9; Isaías 24.5; 51.4; Salmos 2.9ss; 47.1,2; 94.10-12; 97.1,2; 119.46, 118,119; Provérbios 16.12; Eclesiástes 12.13).

Com o Advento do Cristo, o desígnio de Deus não foi alterado, antes, tornado realidade pela instrumentalidade do Evangelho. “E acontecerá, nos últimos dias, que se firmará o monte da casa do SENHOR no cume dos montes e se exalçará por cima dos outeiros; e concorrerão a ele todas as nações. E virão muitos povos e dirão: Vinde, subamos ao monte do SENHOR, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine o que concerne aos seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a Lei, e de Jerusalém, a palavra do SENHOR” (Isaías 2.2).

Este não é um pensamento muito popular nos dias de hoje, e talvez soe estranho a alguns já acostumados a ideia de que o Cristianismo está predestinados a ser sempre uma cultura marginal na História. Depois de duas guerras mundiais a Igreja abriu espaço a um pessimismo escatológico até então inédito. Se outrora havia a esperança de converter o mundo, passamos a conviver com o sentimento de que tudo vai mal, e irá de mal a pior à medida que o calendário avança mais alguns passos. Além disso, os cristãos parecem convencidos de que o próprio homem achará respostas para suas questões éticas e morais, como se a Lei de Deus fosse retrógada e superada.

Mas a escatologia da esperança não morreu. Assim como na parábola da menor das sementes, tipologia do Reino (S. Mateus 13. 31,32), lenta e progressivamente a esperança ressurge, atraindo a si cada vez mais e mais simpatizantes e soldados. Mas há alguns riscos pelo caminho, pois nem mesmo seu nome, “esperança”, está livre de deturpações.

Tomei um susto esta semana. Culpa de Ricardo Gondim, que aparece em vídeo (vide abaixo), numa palestra para líderes da sua Denominação, fazendo apologia de uma tal “Teologia da Esperança”, que nasceu das meditações marxistas de Jurgem Moltmann. Mas, que esperança pode haver onde não há a tradicional esperança da Igreja, a qual Gondim chama de “utopia”? É a esperança do homem no homem, que sonha tornar o Reino presente e visível por seu ativismo social no mundo. No evangelho “social” o homem é seu próprio Cristo, e a esperança da Igreja é tida como “discurso alienante” nas mãos dos poderosos.



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Nem tudo em Moltmann é ruim em intenção, mas tudo nele é ruim em essência. E de boas intenções o inferno, segundo a lenda, anda bem cheio. A intenção da Teologia da Esperança de Moltmann é convocar os cristãos a exercerem seus carismas no dia-a-dia, trazendo para hoje o Reino de Deus, inaugurado por Cristo. E ele fala sobre isso com palavras belíssimas e corretas: “[a Igreja é] uma comunidade de fé, esperança e fraternidade que se torna fermento de vida para todo o mundo”. Criticar a alienação de setores da Igreja e propor uma ação concreta no mundo não é o problema com Moltmann. Não é a intenção, mas a essência de sua teologia que peca. Em sua essência a teologia dele nega a historicidade da Segunda Vinda, além de abraçar a heresia universalista, segundo a qual todos os homens serão salvos. Não sei se Gondim já chegou a este ponto, mas pela lógica, é apenas uma questão de tempo. Sim, pois a ideia de um Deus aberto para o futuro, e para quem o futuro é um mistério tanto como é para o homem, também se faz presente na teologia marxista de Moltmann. Só falta a Gondim declarar-se universalista, negando o inferno, se é que já não o fez. Bem, acho que me assustei atoa, o buraco é ainda mais fundo...

“Que Cristo fez com essas chaves (do inferno)? Ele abriu as portas, é evidente! Quando você pensa no Inferno nunca deve fazê-lo com intenção de saber se você ou qualquer outro está caminhando para lá, mas sempre olhando para Cristo. Em suas feridas a morte e o inferno foram superados” (Jurgem Moltmann, em entrevista ao jornalista Berndt Florian).

Por uma questão de honestidade intelectual devo admitir que nas duas obras de Moltamann que já li (“Que é o homem?”, “Igreja, poder do Espírito”), não me lembro – frise-se bem o ‘não me lembro’ – de uma negação aberta da Segunda Vinda literal. Nestas duas obras Moltamann é sempre muito vago ao se referir a ela, de modo que seria preciso uma análise mais profunda para determinar seu pensamento aqui. Porém, como não li a obra “Teologia da Esperança”, que é a recomendada por Gondim no vídeo, e assumindo que Gondim conhece mais de Moltamann que eu, espero não estar sendo injusto com a teologia do luterano. Fora isso creio estar falando com conhecimento de causa sobre os demais problemas com sua teologia.

Moltmann está certo em convocar a Igreja para atuar como agente do Reino de Deus aqui e agora? Está! Mas ele não consegue fazer tal convite sem transformar as Escrituras numa cartilha marxista e, por tabela, transformar o Evangelho e a Eternidade em utopias. Seria um ateísmo disfarçado? Moltmann nega, todavia, eu o acusaria de Deísmo sem muito remorso. Ou seja, ele parece pensar em Deus como um grande relojoeiro que deu corda e só... Qualquer semelhança entre isso e teísmo aberto seria apenas coincidência? Talvez.

O fato é que a esperança de Moltamann e Gondim é tão falsa quanto o marxismo que os dois abraçam, e que fomenta o evangelho social dos teólogos da libertação. Algum tempo atrás, Bento XVI, que estudou junto com o luterano, sentenciou, na encíclica Spes Salvi: “A época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo perfeito que, graças aos conhecimentos da ciência e a uma política cientificamente fundada, parecia tornar-se realizável. Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro «reino de Deus»”. Moltmann não se impressionou muito, segundo ele a Santa Sé, que hoje seu ex-colega de turma lidera, não é uma instituição evangélica; pode não ser, mas o deus relojoeiro também não é!

Caro Gondim, ter esperança no homem não é ter esperança, é antes desesperança. E não tentem me iludir sobre isso. A verdadeira Teologia da Esperança, e sua Escatologia, também acreditam no Reino de Deus aqui e agora, e militam numa Igreja messiânica, agente de Deus no mundo; porém, não edifica seu castelo sobre uma Utopia, mas na Rocha, que é Cristo, de quem o Credo ensina: Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os morto”. O marxismo, este eterno fracassado que permeia vosso pensamento, este sim, que grande utopia, não? O que esperar de uma teologia que nasce justamente do coração do ateísmo? Senhores; se é isto que vocês chamam de “cristianismo intelectual”, quero morrer burro e ignorante, cantarolando ingenuamente “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens” (I Coríntios 1.25).

O Cristianismo não irá transformar o mundo pela força política (marxista ou não), ou por força de leis. O único caminho para um novo mundo é a regeneração, e esta, possível exclusivamente pela Pregação do Evangelho; um Evangelho que não caminha olhando para um “horizonte utópico”, mas para Aquele “que é, que era, e que há de vir” (Apocalipse 1.4).

Trago comigo incontáveis reservas contra o Dispensacionalismo, suas distorções bíblicas e seu indigesto “arrebatamento secreto” – apesar de já os ter defendido um dia. Que alegria se cada dispensacionalista visse unir foças nas trincheiras da Escatologia da Esperança (Pós-Milenismo), porém, apesar de tudo, e acima de qualquer diferença, estamos unidos por uma mesma esperança: “Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!”. Se alguém nega essa esperança não faz parte da família de Cristo, e não posso chamar de “meu irmão”.


Um comentário :

  1. Deve-se discordar preliminarmente da afirmação inicial no texto posto em foco, haja vista a própria afirmação da divindade no tangente à Lei intermediada por Moises mostrar-se personalíssima e buscar tão somente direcionada a um povo denominado "ISRAEL". Inexiste nos textos mosaicos qualquer menção às gentes, portanto, fica como esclarecimento o fato da Lei mosaica ser o paradigma da prefalada nação enquanto os gentis estavam distanciados da obrigatoriedade da submissão requerida pela lei dada aos Judeus.
    Que a Lei foi dada aos Hebreus é ponto pacifico, as nações estavam em plena escuridão com relação ao propósito da mesma; vide: “Ouve, pois, ó Israel, e atenta que os guardes, para que bem te suceda, e muito te multipliques, como te disse o Senhor, Deus de teus pais, na terra que mana leite e mel”. (Deut.6:3)
    Não há que se falar em relacionamentos de cláusulas legais com povos distintos de Israel, porquanto o relacionamento da divindade com os gentios se deu por intermédio da Graça e da Verdade que se tornou de conhecimento multinacional através dos apóstolos de Jesus Cristo. (João 1:17); (Mateus 28:19-20).

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