Arminianos Contra Romanos 9 (Parte 1)

Arminianismo VS Romanos 9

= Primeira Parte =


Marcelo Lemos

PRELÚDIO

O presente artigo é uma resposta bíblica e exegética ao texto “A Interpretação de Romanos 9 à Luz da Ortodoxia”, escrito por Ebenezer José de Oliveira, e  publicado no portal arminiano www.arminianismo.com.

Já na introdução do artigo o autor advoga que Romanos 9, não pode ser interpretado como defendem os calvinistas, com base nas seguintes razões:
1- O TEMA DE ROMANOS 9 NÃO É ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO GERAL, MAS DE ISRAEL

2- O ÁPICE DA PROBLEMÁTICA DO CAPÍTULO 9, 10 E 11 GIRA EM TORNO DOS ISRAELITAS NA CARNE, E NÃO DOS ESPIRITUAIS

3- O OBJETIVO EM ROMANOS 9 NÃO É DEFENDER O ENSINO DA DUPLA PREDESTINAÇÃO INCONDICIONAL, MAS SALIENTAR A AUTORIDADE DIVINA NA ESCOLHA SALVÍFICA POR CRITÉRIOS SOBERANOS, E NÃO JUDAIZANTES

4- A ILUSTRAÇÃO DE JACÓ E ESAÚ NÃO VEM ADVOGAR A ELEIÇÃO E REJEIÇÃO INCONDICIONAL, MAS ENSINA QUE AS PROMESSAS ESTÃO FIDELIZADAS NO PACTO DIVINO, NÃO SUBORDINAM-SE AOS CRITÉRIOS DOS JUDAIZANTES

5- A ILUSTRAÇÃO DE FARAÓ NÃO VEM ADVOGAR COERÇÃO DIVINA PARA A PRÁTICA DE PECADO, MAS SALIENTA A SOBERANIA DE USAR QUEM QUISER, IMPLICITANDO O DIREITO MORAL DIVINO DE PERMITIR O PECADO E PODER REDUNDÁ-LO EM GLORIFICAÇÃO DA JUSTIÇA DIVINA

6- A ILUSTRAÇÃO DOS VASOS NÃO ADVOGA QUE DEUS CRIA SERES MORAIS OBJETIVAMENTE ESTRUTURADOS E PROGRAMADOS PARA SEREM INCRÉDULOS, MAS ILUSTRA QUE FOI DEUS QUEM FORMOU A NAÇÃO DE ISRAEL, PORÉM PERMITIU QUE JUDEUS PUDESSEM DESONRAR O PACTO PREESTABELECIDO.

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Antes de analisarmos mais de perto cada uma destas razões, gostaria de analisar o próprio título do artigo, no qual se lê: A interpretação de Romanos 9 a luz da ortodoxia. Fica clara a intenção do autor: sugerir que a interpretação calvinista para este texto não condiz com a ortodoxia bíblica e cristã. E justamente a fim de sustentar a escolha de sua tese, o autor argumenta:
A ortodoxia tem a finalidade de mostrar as mais evidentes e essenciais doutrinas da Bíblia, como a Trindade, a perfeição dos atributos morais divinos, a imutabilidade divina, a divindade de Cristo, a redenção pela encarnação, morte e ressurreição de Jesus, a salvação pela graça por meio da fé em Cristo e etc., para que o crente tenha critérios firmes para analisar as interpretações, as teses e as teorias, se são mesmos bíblicas e ortodoxas, ou não. É a aceitação às doutrinas mais essenciais da Bíblia que caracteriza uma teoria teológica como ortodoxa; como também é a quebra das doutrinas mais essenciais da Bíblia que caracteriza uma teoria ou tese teológica como liberal. Portanto, toda teoria que interprete o capítulo 9 de Romanos como afirmando que Deus deseja que o reprovado peque, que Deus concorre moralmente com a prática de cada pecado, que Deus só conhece cada ato de pecado previamente porque preordenou esses atos, que Deus por Sua vontade objetiva e imediata causa cada pecado, que predestinou alguns homens para perdição, não pelas obras deles, mas pelo Seu absolutismo (predestinação incondicional), todas estas são de cunho liberal, pois quebram, necessariamente, a imutabilidade e perfeição do caráter e atributos morais de Deus. Todas estas teses são infâmias e blasfêmias contra o perfeito Criador de todas as coisas. Elas podem ser consideradas até conservadoras se conservam o ensino de algum teólogo do passado, porém não podem ser consideradas ortodoxas, porque quebram pilares da ortodoxia; por isso devem ser consideradas anátemas!

Se Paulo estivesse querendo dizer no cap. 9 que é Deus quem incondicionalmente predestina alguns homens para pecar, conclui-se inevitavelmente que Deus seria um ser antinomista em si mesmo (porque ignora os princípios morais eternos), Deus apenas teria amor, mas não seria o próprio amor (porque sentia satisfação em fazer sofrer eternamente quem não podia evitar sua programação fatal), seria maquiavélico porque dava a Lei para que obedecesse, mas usava de malícia para que não pudesse obedecer, Deus seria injusto (porque condenaria com penas eternas a quem Ele mesmo programou, inelutavelmente, para uma vida de impiedade). Poderíamos dizer, pela análise desta teoria calvinista, que Deus seria tão imperfeito moralmente quanto o homem.

Ao lermos esta introdução nos damos conta de que o artigo, apesar de toda a consideração que devemos ao autor, não merece o esforço de ser refutado. O faremos, porém, por amor à verdade e aos nossos irmãos na fé. O texto, por si, não é digno de tal esforço e, com base na introdução do mesmo, apresentaremos algumas razões:

1º) O Autor Não Se Propõe a Fazer Exegese.

Antes mesmo de analisar a interpretação calvinista em si, e antes mesmo de propor qual seria a interpretação mais adequada, o articulista já dá o passo decisivo, classificando a doutrina reformada de heresia. O leitor do artigo deveria observar que em sua introdução o autor já estabelece seu veredicto, sem sequer ter analisado um único argumento calvinista.

Tal atitude o leva a ‘estudar’ o texto sem procurar saber o que o texto diz, mas sim, munido daquilo que acha que o texto não pode dizer. O articulista afirma textualmente coisas do tipo: “Portanto, toda teoria que interprete o capítulo 9 de Romanos como afirmando que Deus deseja que o reprovado peque (...) que predestinou alguns homens para perdição, não pelas obras deles (...) todas estas são de cunho liberal, pois quebram, necessariamente, a imutabilidade e perfeição do caráter e atributos morais de Deus”. Em outras palavras, qualquer significado que não seja o que ele DESEJA encontrar, não será por ele aceito como ‘doutrina bíblica’ – mesmo que para isso ele precise ignorar detalhes importantes do texto, e acrescentar outros que não fazem parte do pensamento original do autor inspirado; como poderemos comprovar mais adiante, no decorrer da análise que faremos do artigo. O que ele fez aqui? Ele estabelece um padrão de dogma, e a luz de tal dogma ele vai tentar interpretar o texto, de modo que o significado se ajuste aos dogmas previamente estabelecidos.

Tal estudo pode ser chamado de qualquer coisa, menos de “exegese”.

2º) O Autor Manipula Tendenciosamente Termos Teológicos.

Um exemplo de tal manipulação pode ser visto no uso que o autor faz de termos como “ortodoxia”, “conservador” e “liberal”. Toda a sua argumentação é com intenção de convencer o leitor, certamente o leitor desavisado, e sem apresentar sequer o argumento negado (!), de que a doutrina reformada é herética. Seu argumento tenta convencer os incautos de que os reformadores negaram as doutrinas essenciais do Cristianismo, e que, por isso, sua tese sobre a salvação deve ser descartada como “não ortodoxia”. (Risos)

Não contente com isso, o autor ainda tem a pretensão de classificar a fé reformada como “liberal”, numa demonstração clara de não saber o significado de tais termos. De “liberal” a Teologia Reformada não tem nada, e não preciso sequer me dar ao trabalho de responder a tamanha desfaçatez. Limitarei a perguntar ao oponente: quais doutrinas essenciais da fé cristã os reformadores negaram? Por acaso negamos a Triunidade de Deus? Negamos a inspiração das Escrituras? Negamos a o Sacrifício Expiatório e Vicário de Jesus? Negamos algum dos atributos morais de Deus? Negamos a responsabilidade moral do homem? Negamos a necessidade da fé? Negamos a necessidade do arrependimento? Negamos a importância da santificação? Não, meus queridos! A fé reformada não nega qualquer doutrina cristã, antes estabelece cada uma delas! (Aliás, coisa que o arminianismo não pode fazer, como demonstramos em outro texto, em resposta dada a artigo do Blog do Ciro!)

Outro exemplo de como o autor do referido artigo manipula os termos teológicos a seu bel prazer, reside no fato de não ter mencionado que “ortodoxia” tem muito haver com a confecionalidade da fé. Ou seja, a ortodoxia se estabelece, em meio às diversas controvérsias, por meio de credos e confissões. É neste sentido que se aceita a universalidade de credos como o ‘Credo Apostólico’, por exemplo. Ninguém será considerado “evangélico” caso não se submeta a este credo histórico. Em outras palavras, por “ortodoxia” se diz da aceitação das formulações teológicas historicamente aceitas pela Igreja. As Doutrinas da Graça, e sua Interpretação de Romanos 9, são parte essencial da Igreja Reformada. Por este prisma, ou seja, do ponto de vista histórico e confecional, a Doutrina Calvinista é completamente ortodoxa, e fora da ortodoxia estão aqueles que se desviaram da fé original da Igreja Protestante.

Tendo isso em mente, se pode afirmar que ninguém que negue as Doutrinas da Graça pode se dizer herdeiro de Lutero. Os sinergistas, a luz da ordodoxia evangélica/protestante, são todos hereges!!A “justificação pela fé”, bandeira central da Reforma, estabeleceu-se a partir da aceitação da Doutrina da Predestinação, a ponto de Lutero afirmar que se tal doutrina caísse, toda a fé evangélica também cairia. Sem a Predestinação, afirmou Lutero, estabelece-se novamente a salvação pelas obras, e o papado vence o debate. Portanto, os arminianos podem até nos considerar hereges segundo a ‘ortodoxia deles’, porém, como fé evangélica histórica e confessional, nós estamos do lado da ortodoxia!

Por tal razão, chega a ser divertido vê-lo afirmar que a Doutrina Reformada pode até ser considerada “conservadora” , pois conserva o ensino “de algum teólogo do passado, porém não podem ser consideradas ortodoxas, porque quebram pilares da ortodoxia”. Percebem a manipulação? Ora, meus queridos irmãos em Cristo; pensemos por apenas um minuto: quem estabeleceu a ortodoxia da fé evangélica histórica? Não foram os Reformadores? Portanto, de qual “ortodoxia” o nosso querido irmão está se referindo, afinal? E que ninguém se atreva a me sair com algo como “a simples ortodoxia bíblica”, pois isso não me diz nada, uma vez que “ortodoxia” obrigatoriamente se refere ao entendimento da Igreja sobre o ensino das Escrituras! Portanto, repito a pergunta: de qual “ortodoxia”, afinal, o nosso querido irmão Ebenezer está se referindo? Certamente não é a ortodoxia evangélica/protestante!

Além disso, observemos como o irmão define uma doutrina “conservadora”. Mais um exemplo de capiciosa manipulação. Ele afirma textualmente: pode ser considerada convervadora se conservam o ensino de algum teólogo do passado”. Neste pequeno trecho podemos identificar dois erros mirabolantes. O primeiro é que a Doutrina Reformada apenas conserva o ensino de “algum teólogo do passado” – nada disso! Antes, a Doutrina Reformada é a base da fé protestante. O arminianismo é que é a inovação no seio da Igreja evangélica, não o contrário! O segundo erro é afirmar que “conservar o ensino de algum teólogo do passado” seja o bastante para considerar uma teoria como “conservadora”. Se fosse assim, deveríamos considerar as Testemunhas de Jeová como “cristãos conservadores”, uma vez que eles, de fato, sustentam o ensino de “algum teólogo do passado”. Novamente o autor demonstra disposição em manipular conceitos teológicos a seu bel-prazer.

Não obstante a introdução do artigo é muito boa para os calvinistas: serve como exemplo de com qual espírito os arminianos costumam se aproximar do texto de Romanos 9. Interessante que os arminianos normalmente reclamam dos argumentos que usamos para “mundo” em João 3.16, mesmo que todos os nossos argumentos sobre o termo “mundo” sejam bíblicos! Já aqui, em Romanos 9, eles querem impor sua filosofia humanista ao texto, e ainda saírem do debate com a áurea da ortodoxia.

Nos próximos artigos, querendo Deus, começaremos a analisar cada um dos argumentos principais da “exegese” sugerida pelo autor.

Fiquem com Deus; paz e bem!

14 comentários :

  1. EH gente, é por isso que eu gosto desse cara, kkkkkkkkkk.
    Valeu pastor, ja adorei o primeiro artigo.
    brigadao

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  2. Paz Marcelo,

    Excelente texto!

    Vou acompanhá-lo...

    Marcos Sampaio.

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  3. Aguardo os próximos com ansiedade!!!

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  4. Marcelo,

    Parabéns pela disposição em tratar um artigo que começa tão mal. Concordo que ele não merece uma refutação, mas dou graças que você tenha consciência da necessidade de estabelecer a verdade sobre os escombros da mentira.

    E como é triste ver uma pessoa desencaminhar as pessoas dessa forma, redefinindo termos a bel-prazer, somente para criar uma aparência de "ortodoxia", para usar o termo que ele abusa.

    Vou almoçar, depois volto para ler os outros artigos da série.

    Em Cristo,

    Clóvis
    Editor do Cinco Solas

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  5. Clovis;

    Bom te ver aqui. Espero que goste dos demais artigos, e sinta-se livre para nos trazer qualquer contribuição que julgar necessária.

    Estive verificando no fórum deles, e vi que o artigo aqui analisado é visto com muito orgulho e pompa por eles... Apesar de já conhecer o mesmo de longa data, por indicação de um leitor amigo, não tinha me dado conta de que eles levavam o mesmo tão a sério!

    Paz!

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  6. Marcelo,

    Estava procurando através de site de busca o livro Tudo pela Graça do Spurgeon e um dos primeiros links era do site citado arminianismo.com e mesmo assim fui ver doque se tratava. Eles mostram um "lado arminiano" do Spurgeon e mostram vários textos. Sabe se os textos são confiáveis e se forem estão completos ou manipulados para os propósitos arminianos.

    Em Cristo

    Márcio

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  7. Marcio

    Não, não tenho conhecimento do uso que o referido site fez das palavras de Spurgeon; mas, provavelmente haverá manipulação, pois Spurgeon era completamente calvinista. Vou tentar dar uma olhada na questão.

    Paz e bem

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  8. Está em: Capitulo 5 - O outro lado de C. H. Spurgeon

    Paz !

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  9. Estarei dando uma olhada, depois.

    Grato.

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  10. Meus cumprimentos, Marcelos.

    Nós da resistência temos dever em defender a Sã doutrina.
    Não somos chamados para sermos contepladores, nem espectadores.

    Mas forjados nas armas da verdade, exortamos, admoestarmos e reprendermos os devios de conduta autnticamente Cristã. somente e unicamente para HONROSA glória de JESUS CRISTO .

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