Arminianos Contra Romanos 9 (Parte 3)

Arminianismo VS Romanos 9

= Terceira Parte =



Marcelo Lemos

Depois de um pequeno recesso, devido ao Natal, estamos de volta, retomando as atualizações do blog, e dando continuidade a nossa resposta ao artigo “A Interpretação de Romanos 9 à Luz da Ortodoxia”, publicado no site arminianismo.com. Hoje, abordaremos o segundo argumento de seu autor.



SEGUNDO ARGUMENTO:

O ÁPICE DA PROBLEMATICA GIRA EM TORNO DOS ISRAELITAS NA CARNE

E NÃO DOS ESPIRITUAIS



Basicamente, o corpo desta segunda objeção, como vocês podem conferir no portal arminiano, não precisa ser discutido, já que o mesmo esforça-se para demonstrar que Paulo está falando diretamente aos judeus, fato que todos nós sabemos e admitimos desde os dias da Reforma. Nunca teve, a teologia reformada, qualquer problema com isso. Aqueles que porventura afirmem que temos tal problema, provavelmente não conhece nada do que ensinamos.

Faço questão, todavia, de parabenizar o autor do texto por conseguir resumir com propriedade a intenção de Paulo ao discorrer sobre a Eleição de Israel:
“(...) podemos concluir que a problemática que Paulo tenta solucionar no texto em comento consiste em: “Se as promessas que Deus fez aos patriarcas e à nação de Israel parecem indicar uma predestinação incondicional para todo israelita, então como Deus poderia condenar qualquer um desses que rejeitarem a Jesus Cristo, sem quebrar essas promessas?”. Em síntese, os argumentos de Paulo em Romanos 9, 10 e 11 giram em torno da etnia e dos indivíduos israelitas na carne, explicando que Deus não é obrigado a salvar todos, a Sua soberania e o fundamentos das Suas promessas Lhe dão o direito a eleger condicionalmente só em Cristo”.

Perfeito! Não me oponho sequer a sua afirmação quanto a Deus ter o direito de “eleger condicionalmente só em Cristo”; apesar de saber que tal afirmação, no contexto arminiano, implica numa salvação meritória – o que não é problema nosso, cristãos reformados, não é mesmo?

O irmão Ebenezer resumiu bem a questão que Paulo tem em mente: se as promessas de Deus a Israel foram incondicionais (na verdade Ebenezer não aceita este ponto, pois diz “parecem indicar”), como Ele poderia não salvar a todos os que, fisicamente, pela circuncisão da carne, pertenciam a Nação do Pacto? A resposta de Paulo é genial: “Ora, - responde o apóstolo; pelo simples fato de que nem todo aquele que pertence fisicamente a Nação do Pacto é, de fato, um israelita”.

O ‘Verdadeiro Israel’ não é aquele que retirou um pedaço da pele que cobre o pênis, mas sim, aquele que recebeu a Jesus pela fé. Portanto, Paulo afirma mais: “não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa...” (v. 8).

Agora, prestem bastante atenção do argumento de Paulo. Ele está negando que ser um verdadeiro israelita dependa do mérito humano, ou seja, dependa das obras de alguém. A circuncisão era obra, era mérito. “Ei, Paulo, dê uma olhada aqui nas minhas cuecas, e atreva-se a dizer que não somos filhos de Deus!” – gritavam os Israelitas. Paulo responde, porém, que ser parte do ‘Verdadeiro Israel’ não depende das obras humanas, não é por mérito:
“Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece (...)Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” – Romanos 9. 15,16, 18.

“Ora, se não depende daquilo que nós fizemos, então, depende do quê?”. Estás, querido leitor, acompanhando o argumento de Paulo? “Depende”, responde o apóstolo, “da vontade soberana de Deus, depende da eleição da graça; e não do mérito humano!”.

É neste ponto que entra a fé em Jesus. O irmão Ebenezer afirma que fazer parte do verdadeiro Israel é algo condicionado ao crer em Jesus. De fato, sem tal fé ninguém fará parte do verdadeiro Israel. Não podemos, todavia, fecharmos nossos olhos para o fato de que Paulo explica o porquê de nem todos os israelitas terem aceitado a Cristo, e novamente, claro, seu argumento é que tal fé também depende da escolha soberana de Deus:
Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas – Romanos 11. 5-10.

O que todo o Israel físico buscava não pode alcançar. Buscavam ser “filhos de Deus” pelos meritos humanos: linhagem, circuncisão, preceitos cerimoniais e farisaicos. Tais méritos eram a sua tábua de salvação. Todavia, Paulo aponta para um elemento de fundamental importância, sem o qual não se podia alcançar o alvo: a fé em Cristo. Aqueles que possuem tal fé, são filhos de Deus; os que sem fé o querem ser, não o são. E, tal fé salvífica, não é um mérito humano, mas sim, um dom de Deus, “segundo a eleição da graça”. Sim! Pois de outra maneira, seria “por obra”, e neste caso, “já não é mais graça”. Assim, aqueles que não aceitaram a Cristo foram “endurecidos” por Deus. E o argumento de Paulo continua: “Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem”.

Os judeus que aceitam a Cristo fazem parte do verdadeiro Israel, enquanto que os judeus que rejeitam a cristo não fazem. Mas, por qual razão alguns crêem e outros não? A explicação de Paulo é uma só: Não depende de quem quer, nem de quem busca, mas de Deus que se compadece. Deus elege uns, e aos demais ele soberanamente endurece e cega, a fim de não poderem ver! O argumento de Paulo é simples e claro.

Por isso, apesar de concordarmos com a correta compreensão que o autor do artigo tem da intenção de Paulo (falar diretamente aos judeus), isso de forma alguma nega o fato de que Paulo está, em todas as instancias da salvação, defendendo a total soberania do Senhor, em todos os casos individuais.

Além disso, também discordamos do título que o autor dá a esta segunda objeção. Segundo ele, o texto fala dos “israelitas na carne, e não dos israelitas espirituais”. Tal afirmação é uma insanidade, tendo em vista que os dois grupos são abundantemente citados no texto, e mesmo que não fossem, a eleição de um implica na rejeição do outro. Ora, Paulo diz apenas os eleitos, segundo a eleição da graça, podem crer em Cristo. Logo, tal eleição afeta os "da carne" e os "espirituais". Do contrário, não afeta nenhum dos dois! Some-se a isto o fato de Paulo explicar que por trás de cada um deles, do que eles são e fazem, impera a vontade livre e soberana de Deus, sem qualquer participação dos méritos humanos, como acabamos de demonstrar.

Em outras palavras, a tese desta segunda objeção é apenas cortina de fumaça – uma tentativa tola de tentar tampar o sol com a peneira; pois os “israelitas espirituais” são aqueles que dentre os judeus e gentios receberam o privilégio de terem fé em Jesus! Aqui temos mais um testemunho da universalidade da eleição soberana, ainda que Paulo esteja discutindo diretamente com os judaizantes! Os demais, não podem ter fé em Jesus, pois foram endurecidos. Logo, o argumento de Paulo, ainda que fale diretamente sobre o direito de Deus rejeitar os “da carne”, abraça a eleição de um para a condenação, e de outro para a salvação:
“Não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar sua Ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da Ira, preparados para a perdição? Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para a glória já dantes preparou?” – Romanos 9.21-22.

Concluindo sua segundo objeção o irmão Ebenezer afirma: Portanto, interpretar que os israelitas que Paulo se refere são todos os eleitos da terra, é um erro de particularização do texto; e texto sem contexto é pretexto para heresia!”. Realmente seria uma insanidade dizer que os “israelitas” são “todos os “eleitos da terra” – todo teólogo reformado fala que Paulo esta falando diretamente aos judeus. Todavia, também demonstramos que o argumento de Paulo fundamenta-se na vontade soberana de Deus sobre cada individuo da raça humana. Com efeito, o argumento de Paulo abrange judeus e gentios, como já demonstramos em outra ocasião.

Como Deus poderia nos rejeitar? – era a pergunta frequentemente feita a Paulo, pelos judeus. A resposta de Paulo é: “Porque Deus é soberano sobre todos os homens, ele faz deles o que bem entender. Ele agiu assim com Esaú e a maioria dos seus descendentes; ele agiu assim com Faraó e a maioria de seus súditos; Ele faz a mesma coisa com vocês! Ser filho de Deus não depende do que o homem quer ou faz, mas da escolha soberana de Deus, que tem misericórdia de quem quiser ter misericórdia!”.

Logo, quem particulariza o texto, ao se negar a admitir a universalidade da eleição, não é a Teologia Reformada...

Para compreender melhor a tolice daqueles que tentam esconder o fato de que o base do argumento de Paulo é ser Deus soberano sobre todos os homens, quer judeus, quer gregos, aconselhamo a leitura do segundo artigo desta série:

5 comentários :

  1. Marcelo,

    Que venga el quarto articulo!

    Em Cristo,

    Clóvis

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  2. Que venga el quarto articulo! [2]

    ResponderExcluir
  3. Marcelo,

    Como os reformados enxergam a questão do "tempo dos gentios" e do fato de Paulo afirmar que, então, "todo o Israel será salvo"?

    Gostaria que, se possível, me enviasse um email com alguma orientação neste assunto: vspimentel@gmail.com.

    Em Cristo,
    Vinícius

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