Outro Evangelho...

Outro Evangelho

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Marcelo Lemos


“Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” – Gálatas 1. 6-8.
Estamos vivendo numa era de grande avanço das religiões e das crenças, a despeito dos os materialistas terem afirmado que devido ao avanço das ciências, o homem deixaria a ‘muleta’ da religião para trás. O fato é que o homem jamais conseguiu, nem conseguirá, se livrar do toque da eternidade que Deus imprimiu no coração da humanidade.
Está esculpido na alma de cada ser humano um sentimento da Divindade, o qual de forma alguma pode destruir; e está naturalmente arraigada em todos a mesma convicção: há um Deus – João Calvino, Institutas.
Desafortunadamente, o homem não tem nenhuma capacidade de encontrar, por si mesmo, a verdadeira religião, a saber: aquela que conduz o pecador a Deus, mediante Jesus Cristo (João 14.6). E isto devido a corrupção da natureza humana, que além de tornar a todos culpáveis perante Deus, a todos faz incapazes de praticar, ou sequer compreender o bem espiritual.
Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso todos pecaram” – Romanos 5.12.

Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente – I Cor. 2. 14.

Porventura pode o etíope mudar a sua pelo, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal – Jeremias 13. 23.

Sendo incapaz de compreender, e de obedecer, a perfeita vontade do Senhor, é natural que os esforços humanos para encontrar o caminho para a vida resulte em pecado e blasfêmias.
Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis – Romanos 1. 21-23.

Não é sem razão que a alma não-regenerada se sinta ofendida com a pregação do Evangelho, uma vez que este a reduz a pó e cinzas, exaltando única e exclusivamente a vontade e o poder de Deus, o qual opera seu querer livre de qualquer julgamento fora de si.

Também é compreensível que o homem se sinta no direito de criar sua própria religião, e deuses a sua própria imagem e semelhança. Igualmente é de se esperar que o Maligno ainda os induza a criarem uma caricatura do evangelho, o qual tem aparência de verdade, mas que, no entanto, nega toda a verdade da fé que uma vez foi entregue aos santos. Muitas vezes nos assustamos com tamanha ousadia detectável nos corações humanos; todavia, a triste realidade espiritual a nossa volta condiz perfeitamente com aquilo que a Bíblia nos ensina sobre a terrível condição espiritual da humanidade.

Tal constatação deveria nos servir como um convite à humildade. Segundo as mesmas Escrituras, cada um de nós, feitos por Deus filhos seus, um dia também fizemos parte da multidão sem Cristo.
E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos, nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como os outros também” – Efésios 2.1-3.

De modo que, se hoje temos em nós algum bem espiritual, algum louvor evangélico; tais virtudes não são obra de nossos méritos, nem de nossas capacidades e melhores escolhas; antes, são frutos operados em nós pelo próprio agir soberano e gracioso de Deus.
Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos); e nos ressuscitou juntamente com ele nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos obra sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” – Efésios 2. 4-10.

Voltando ao texto de Paulo, ficamos sabendo que desde os primitivos dias da Igreja Cristã, o Inimigo já propunha ao mundo não apenas suas falsas religiões, como também, seus falsos evangelhos. As Igrejas da Galácia estavam enfrentando o assédio destes falsos evangelhos. Paulo escreve sua carta a eles, visando combater o engano judaizante que estava minando a fé da Igreja, convidando-a a depositar sua fé nas obras da Lei, e não nos méritos de Cristo.

Não estamos em situação melhor no que diz respeito a tais assédios. Constantemente a Igreja de Jesus receberá em suas portas algum emissário do Inferno, portanto algum sedutor convite para um ‘outro’ evangelho. O grande problema é que boa parte dos cristãos de nosso tempo parece não ser capaz de entender o que é o verdadeiro evangelho, de modo que são presas fácies para qualquer outro evangelho que se apresente.

Além disso, os outros evangelhos são, na maioria dos casos, muito parecidos com o verdadeiro evangelho. Alguém já disse que a eficácia de um falsificador está justamente na sua capacidade de se fazer parecido com aquilo que deseja imitar. Claro que uma nota de brinque é uma falsificação, mas ninguém a leva a sério, antes a considera apenas um brinquedo. É o que ocorre com Inri Cristo, por exemplo – ele não oferece qualquer ameaça a saúde espiritual da Igreja. Todavia, os falsos apóstolos também existem, e sua capacidade camaleônica é o que os torna tão eficazes e perigosos.

Isso nos deveria lembrar das celebres palavras de um grande ministro batista reformado:
O Evangelho de Satanás não é um sistema ou princípios revolucionários, nem tão pouco um programa de anarquia. Não promove discussão ou guerra, antes aponta para a paz e a unidade. Não pretende colocar mãe contra filha, nem o filho contra seu pai, mas sim alimentar o espírito fraternal insinuando que a raça humana é uma grande ‘família’. Não pretende humilhar o homem natural, antes melhorá-lo e engrandecê-lo. Seu objetivo é tornar este mundo tão confortável e amigo, que a ausência de Cristo não será sentida. Sua missão é fazer o homem ocupar-se tanto com este mundo, que não lhe restem tempo nem inclinação para pensar no mundo por vir. É amado pelas massas, pois ignora que por natureza o homem é uma criatura caída, alienada da vida de Deus, e morto em delitos e pecados, para quem a única esperança é o novo nascimento – Arthur Pink; tradução livre.

Comparando tudo o que temos dito acima com a realidade do ‘mundo evangélico’ de nosso tempo, não é difícil detectar a presença massiva e militante do Evangelho de Satanás em nosso meio. Com efeito, pode ser até que, em algumas circunstancias, a dificuldade esteja em identificar a pregação do evangelho da graça, dado o apego que vemos a ensinos e tradições humanas.

Nosso mundo ‘gospel’ está saturado de evidencias de seu distanciamento do Evangelho de Cristo. Que o Evangelho de Cristo tem haver com os princípios de auto-ajuda que tanto sucesso fazem no mundo secular? Que a pregação do Evangelho tem haver com a exaltação das habilidades e supostas competências do gênero humano? Que a mensagem do Evangelho, de uma salvação pela fé somente, tem a haver com um Cristo que fica a espera de homens de boa vontade? Eu respondo: absolutamente nada!

Em sua definição sobre o falso evangelho, Arthur Pink se revela profético. Atentem, meus amigos, para o fato de que todas as vezes que apontamos biblicamente os erros e desvios do mundo evangélico de nosso tempo, a resposta mais comum que nos enviam passa, forçosamente, por uma suposta proibição de julgarmos a doutrina alheia. Exatamente como afirma Pink, Satanás conseguiu convencer os professos cristãos que o Evangelho não veio “trazer a espada” (Mateus 10.34).

Paz e bem.

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