Antídoto contra arminianismo - Parte II

Antídoto contra arminianismo - Parte II


Por Marcelo Lemos, editor
Demonstramos em nosso primeiro estudo que o Arminianismo possui um conceito contraditório a respeito da Soberania de Deus. Nos estudos seguintes, pretendemos demonstrar que “contradições” é algo muito comum no sistema arminiano, mais do que a maioria de nossos irmãos arminianos parece perceber. Como esta seção de nosso estudo ficou muito longa, decidimos publicá-la por partes.
Contextualizando o Debate
Os arminianos se queixam de incompreensão. Segundo afirmam, ocorre que seus oponentes falsificam sua teologia, ou a compreendem equivocadamente. Por exemplo, se alguém diz: “o arminianismo implica em uma salvação pelas obras”, eles prontamente se defenderão dizendo: “isso nunca, jamais afirmamos tal coisa”; ou então, se alguém diz: “os arminianos negam a depravação total da natureza humana”, se poderá ouvir: “negativo, Arminus nunca negou esta doutrina da Reforma”.
Leandro Silva, defendor do Arminianismo, e leitor de nosso blog, escreveu como replica a um artigo por nós publicado:
“Armínio nunca ensinou em seus livros que a salvação é produzida pela vontade da carne ou pelas as obras da carne. Ele ensinou corretamente, como fizeram os reformadores antes dele, que a salvação era obra do Espírito Santo através da pregação do evangelho de Jesus Cristo (Tito 3:5-7). Armínio acreditava, assim como Martinho Lutero e João Calvino, que a salvação era pela graça soberana de Deus dada a nós em Jesus Cristo e recebida pela fé (Efésios 2:8-9; 2 Timóteo 1:9-10)”. (1)
A confissão de fé sobre a Graça feita acima é linda, e profundamente bíblica. De fato, é uma confissão de fé tão boa que somos forçados a questionar: Se os arminianos acreditam exatamente assim, então, por qual motivos eles são arminianos? Em outras palavras, se é verdade que os arminianos possuem o mesmo conceito de Graça mantido pelos Reformadores, então, qual o motivo de protestarem contra a Soterologia Reformada?
Um pouco de Histórica talvez nos seja de grande utilidade aqui. É comum as pessoas imaginarem que os Arminianos sejam contra os famosos Cinco Pontos do Calvinismo. E o são. Porém, é preciso evitar um erro de cronologia nesta constatação. O fato é que após a morte de Jacob Hermann (ou Jacob Arminius, em latim), alguns de seus discípulos redigiram um documento, ao qual deram o nome de Remonstrance (ou, o protesto). Neste documento, eles questionavam doutrinas da Fé Reformada, e estabeleciam sua própria interpretação para elas. O documento foi dividido em cinco partes, cada uma abordando uma doutrina arminiana; por isso, passou a ser conhecido como Os Cinco Pontos do Arminianismo.
Tal documento teve grande repercursão na Igreja, e logo um concílio seria convocado para abordar sua teologia. Estamos falando do Sínodo de Dort, onde a Igreja nacional da Holanda reuniu-se para debater o assunto. Depois de 154 calorosas sessões, que consumiram sete meses, Os Cinco Pontos do Arminianismo foram considerados contrários ao ensino das Escrituras e declarados heréticos. Ao mesmo tempo, os teólogos reafirmaram a posição sustentada pelos Reformadores Protestantes como consistente com as Escrituras, e formularam aquilo que é hoje conhecido como Os Cinco Pontos do Calvinismo (em honra do grande teólogo francês, João Calvino). (2)
Heresia. Esta foi a sentença contra o Protesto do partido Arminiano. Mas, quais eram as doutrinas por eles defendidas? Para compreendermos melhor o assunto faremos o seguinte: apresentaremos resumidamente os Cinco Pontos do Calvinismo , e comentaremos qual era a proposta dos arminianos, e demonstraremos a irracionalidade de suas teses, revelando suas berrantes contradições.
Compreendendo o Debate
Se é verdade que Arminus nunca negou os pontos centrais de Soterologia Reformada, então, por quais motivos eles protestam contra a Fé Reformada? O fato é que eles não apenas negam estes pontos centrais, como alteram o sentido dos termos teológicos envolvidos, dando nascimento a um sistema de teologia completamente insustentável racionalmente. É o que passaremos a demonstrar.
Para alcançarmos tal objetivo nos guiaremos por cinco questões fundamentais, e que são a espinha dorsal deste debate centenário:
1ª) O homem é completamente depravado?
2º) A salvação é por mérito?
3º) Jesus está tentando salvar cada ser humano?
4º) A Graça de Deus é soberana?
5º) A Salvação é segura?
Tentaremos, em cada uma destas perguntas, apresentar a visão arminiana da forma mais fiel possível, a fim de podermos analisar seus postulados de forma adequada.


I
O homem é completamente depravado?
Aqui estamos diante da questão do “livre arbítrio”. Para a teologia reformada, que hoje conhecemos simplesmente como “calvinismo”, o homem não possui “livre arbitrio”; antes, é o homem um ser “morto em delitos e pecados”, como descreve o apóstolo S. Paulo. Em outras palavras, afirmamos que o homem é um ser completamente depravado, e conseqüentemente, sem qualquer habilidade de fazer a vontade de Deus, em qualquer grau que seja.
Ao manifestar-se sobre esta doutrina, o Sínodo de Dort declarou:
“Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de qualquer ação que o salve, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça do Espírito Santo regenerador nem desejam nem tampouco podem retornar a Deus, corrigir suas naturezas corrompidas ou ao menos estar dispostos para esta correção” (Capítulos II,IV; Artigo 3)
Os arminianos acreditam na mesma coisa? Jacob Arminius escreveu: “Confesso que a mente de um homem natural e carnal é obscura e sombria, que suas afeições são corruptas e desordenadas, que sua vontade é obstinada e desobediente, e que o próprio homem está morto em pecados”. Tal afirmação é completamente bíblica. Realmente, olhando apenas esta declaração poderia se concluir que os arminianos não modificaram a doutrina sobre a corrupção da natureza humana.
Porém, o mesmo Jacob Arminus escreveu que: “O Livre arbítrio é incapaz de fazer ou aperfeiçoar qualquer bem espiritual genuíno sem a graça… Afirmo, portanto, que a graça é simples e absolutamente necessária para a iluminação da mente, para o devido controle das emoções, e para a inclinação da vontade ao que é bom”.
Na declaração acima podemos identificar dois problemas fundamentais na teologia de Arminus. O primeiro, é que ele sutilmente modificou a teologia reformada sobre a natureza do homem. O segundo, é que criou um sistema de teologia absolutamente irracional, contraditório.
Apesar de sutil, a modificação de Arminus foi tão grave que o Sínodo de Dort a classificou como “heresia”. Mas, que modificação é esta? Para a teologia evangélica original, a corrupção da natureza humana é absoluta, a ponto deste homem não poder realizar nenhum bem salvífico. Assim, se o homem se converte a Cristo, isto se dá somente depois de a Graça de Deus ter operado nele com poder regenerador . Todavia, o arminianismo afirma algo completamente diferente, pois apesar de também afirmar que o homem é completamente incapaz de fazer a vontade de Deus, alega que bastaria a Graça de Deus iluminar a mente deste homem para que ele possa fazer o bem. Segundo a teologia reformada, para fazer a vontade de Deus o homem precisa de Novo Nascimento , já para a teologia arminiana tudo o que o homem precisa é de iluminação .
Com efeito, na Teologia Reformada o homem faz a vontade de Deus porque nasceu de novo; na teologia arminiana o homem faz a vontade de Deus porque, tendo sido iluminado, usou sua ‘livre vontade’ para escolher o certo – sendo, então, recompensado com o Novo Nascimento. O primeiro sistema de teologia é chamado de Monergismo; o segundo, de Sinergismo.
Qual é o seu conceito pessoal sobre o estado espiritual do homem? Arminianismo ou calvinismo depende de sua resposta a esta questão, bem como as demais questões que abordaremos ao longo destes estudos. Se você vê o homem como carecendo apenas de iluminação espiritual, a fim de que possa fazer a vontade de Deus, e crer em Jesus Cristo, recebendo, então, a regeneração por recompensa da boa escolha, não se sentira ofendido com os Cinco Pontos do Arminianismo. Você é um Sinergista, ou seja, você acredita que Deus e o homem trabalham juntos para efeturarem a salvação. Por outro lado, se você acredita que o homem é um ser “morto em delitos e pecado”, e portanto, que nele não reside bem algum, nem parte alguma que não tenha sido mortalmente afetada pelo pecado; então, você abraçará o Calvinismo. Sendo este o caso, você é um Monergista, ou seja, acredita que Deus opera,livre e soberanamente, o milagre do Novo Nascimento no homem, capacitando-o a viver em novidade de vida.
Segundo as Escrituras, a corrupção da nossa natureza é tão grave que mesmo já tendo sido regenerados ainda permacemos sujeitos aos seus ditames:“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço” (Romanos 7.18,19). Espiritualmente, todo o ser do homem é completamente inútil, sem nada que se aproveite, antes da Regeneração: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Romanos 3.10-12).
Como pode ser, então, que o homem esteja carente apenas de iluminação para que possa fazer a vontade de Deus e crer em Jesus? Não é bíblico afirmar que para operar algum bem, como a fé em Cristo, o homem precise, antes, receber a Graça do Novo Nascimento? Não é exatamente assim que ensina o apóstolo S. Paulo?
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus(Efésios 2.1-8).
Observe que este texto, sem qualquer cerimônia, destrói completamente quaisquer pretensões teológicas e filosóficas do arminianismo. Segundo Paulo, o cristão deixou de andar como antes não por ter sido iluminado pelo Espírito Santo, mas sim, por ter sido “vivificado” por Ele. Para Paulo, se não fosse pela Regeneração, o cristão ainda estaria, como os demais homens, seguindo “o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar”, operando alegremente os “desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”. Mas, diz Paulo, alguma coisa interrompeu este curso de morte na vida do Cristão. Que teria sido? Ele explica: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortosem nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo...”.
Concluímos, portanto, que o arminianismo modificou gravemente a Soterologia Reformada, e com isso, afastou-se de ensino claro das Escrituras concernente a corrupção da natureza humana.
Além disso, resta-nos ainda falar das contradições do sistema arminiano. Se o leitor ainda não se deu conta da contradição está precisando de mais treinamento em lógica. Ora, a expressão “livre arbitrio” singifica “livre escolha”, ou “opção livre”; portanto, onde está o livre arbitrio onde existe uma Graça fundamental que iluminacontrola inclina? Ora, onde está o livre arbítrio numa mente que, segundo Arminus confessa, é “obscura e sombria”, repleta de afeições “corruptas e desordenadas”? O problema fundamental é Arminus ter afirmado um “livre arbitrio incapaz”; todavia, livre arbitrio incapaz é uma impossibilidade lógica, uma contradição de termos: se ele é incapaz, então, ele não é livre !
A resposta arminiana é que existiria uma graça prévia no processo da Salvação. Que isso quer dizer? Afirmam que o livre arbitrio é completamente incapaz de ajudar o homem no processo da salvação; mas isso, só até antes de Deus iluminar a mente deste homem para as verdades do Evangelho. Deus, por sua Graça, ilumina a mente do homem e, então, seu livre arbitrio está livre para decidir crer ou rejeitar a mensagem da Cruz. Apartir deste momento, o livre arbitrio, (que agora está ‘livre’ pela Graça), será a arma utilizada pelo homem para decidir o seu futuro eterno.
Trata-se de uma explicação interessante, mas completamente incapaz de livrar o sistema arminiano da contradição conceitual em que se meteu. Pela lógica, antes da iluminação, o homem não pode possuir livre arbitrio – uma vez que o próprio arminianismo reconheçe que a vontade deste homem está subjulgada ao pecado. De igual modo, não pode haver livre arbitrio após a iluminação, pois a Graça está inclinando o homem para o bem, conforme declara o mesmo arminismo.
Seja como for, segue-se que o conceito arminino de “livre arbitrio” é dogma que não podem sustentar racionalmente, e isso é demonstrado pelas consequencias lógicas de seu próprio sistema de teologia.
Na próxima parte deste artigo abordaremos a seguinte questão: a salvação é por mérito?
Até nosso próximo estudo, querendo Deus.
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1) Comentário em artigo de nosso antigo portal.

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