O que estou lendo - dicas de leituras teológicas!






Por Marcelo Lemos

Atendendo pedidos, estaremos publicando aqui no Olhar Reformado alguns textos tratando de boa literatura, a fim de, quem sabe, incentivar outras pessoas a entregarem-se ao prazer da leitura. Ao irmão Diego, nossos agradecimentos pela sugestão.

A idéia é disponibilizar aos nossos leitores dicas de leituras que venham ser úteis em sua formação intelectual, especialmente na Teologia, mas não se limitando a ela. Aliás, isso seria um feito impossível, já que um teólogo não é composto apenas de Santo Agostinho e Calvino, mas também das mais variadas ciências humanas. Apesar de hoje, devido ao preconceito pós-moderno contra a fé, relutarmos em dar a Teologia o status de ciência, o fato é que ela já foi – com muita justiça – considerada a “mãe de todas as ciências”. Com efeito, a civilização ocidental que conhecemos só foi possível devido a Teologia Cristã.

Neste primeiro artigo, quero compartilhar com vocês os livros que estão em minha cabeceira atualmente. Estes livros não são novidades para mim, releio-os devido a uma pesquisa que estou fazendo, e que almejo, com a Graça de Deus, transformar em livro. Minha pesquisa é obrigatória para a obtenção do título de Mestre em Teologia Sistemática, que exige tese relacionada. Se transformada em livro, com as necessárias adaptações, poderá se chamar “Introdução a Religião Cristã”. Até lá, muitas leituras nos esperam...

Institutas da Religião Cristã

Eis um livro clássico e obrigatório para todo teólogo evangélico, especialmente aos herdeiros da tradição reformada. Apenas lendo a obra para compreender a afirmação de que nenhum outro livro, a não ser a própria Escritura, exerceu tanta influência na Reforma Protestante – nem mesmo os escritos de Lutero atingiram este feito. A Institutio christianae religionis é tanto um manual de introdução à fé cristã evangélica (reformada), quanto uma apaixonante apologia. Dominando uma lógica clara, fervorosa, e às vezes provocante, Calvino simplesmente desmonta todas as objeções que em seus dias se levantavam contra os ideais da Reforma.

A importância da obra para minha pesquisa atual é interesse que nutro por aquilo que chamo “catolicidade da fé”, que penso estar bem presente no pensamento de Calvino. Não posso ir muito além dessa afirmativa inicial, pois ainda estou recolhendo tais informações nos dois volumes da obra, mas adianto que Calvino pode se mostrar muito eficiente em nos mostrar, por exemplo, como os princípios reformados podem ser encontrados nos “Pais”. Atualmente, este é meu principal interesse nele.

A obra pode ser adquirida na Editora Cultura Cristã, ou baixada gratuitamente no site da Fundação Felire (clique aqui), em espanhol.


Introdução ao Cristianismo

O Cardeal Jeseph Ratzinger é um escritor primoroso, portador de um conhecimento teológico de primeira grandeza, uma leitura muito útil. Confesso que só vim conhecer o escritor em primeira mão após sua eleição a Cátedra de São Pedro, quando passou a se chamar Papa Bento XVI. Meu interesse por ele adquire cada dia maior proporção, devido, mas não só, a atual crise interna da Igreja Romana, provocada até onde vejo pelas reformas propostas no Concílio Vaticano II.

Quando de sua eleição a Papa, Ratzinger foi apresentado ao grande público como uma “ameaça de retrocesso” na Igreja, imagino que por sua forte tendência a valorizar o Rito Tridentino, por exemplo. Neste sentido, Ratzinger é para mim um teólogo complexo: os tradicionalistas o acusam de introduzir o modernismo na Igreja, pela via do Concilio Vaticano II, e a ala progressista o acusa de “retrógrado e reacionário” (Leonardo Boff, por exemplo, chegou a compará-lo a um juiz da Inquisição).

Meu interesse em sua teologia reside justamente em tal complexidade: vejo no Vaticano II um grande passo da Igreja de Roma rumo a alguns ideais protestantes, e daí eu compreender o ressentimento dos tradicionalistas, que afirmam ser a Nova Missa “protestante”. Para nós - que estamos do lado de cá -, a Nova Missa não chega a tanto, mas para um católico tradicionalista parece o ruir de sua antiga religião... No meio da encruzilhada nos encontramos com Bento XVI, numa tentativa hercúlea de unir passado e futuro, o de sempre com o novo.

O objetivo do Concílio Vaticano II, nas palavras do então cardeal Ratzinger: “O problema dos anos 60 era adquirir os melhores valores resultantes dos séculos de cultura ‘liberal’. Efetivamente são valores que mesmo nascidos fora da Igreja, podem encontrar seu lugar, purificados e corrigidos, em sua visão do mundo. É o que foi feito” (Em entrevista concedida à revista “Jesus”, novembro de 1984).

Introdução ao Cristianismo é de interesse para mima pesquisa, pois se trata de um breve, mas consistente, tratado teológico sobre o Credo Apostólico, que não pertence exclusivamente a Igreja de Roma, mas a toda a Cristandade. O livro pode ser adquirido em livrarias católicas, ou pelo site da Editora Loyola.

Esboços de Teologia

A. A. Hodge é leitura obrigatória quando o assunto é Teologia Sistemática, e sua mais importante obra, “Esboços de Teologia”, pode ser adquirida no site da Editora PES. Tanto Hodge quanto Grudem são livros obrigatórios na biblioteca de todo seminarista, teólogo, pregador ou professor de EBD. Em minhas andanças, tenho visto uma multidão de obreiros cuja leitura em Teologia Sistemática nunca foi além de Myer Pearlman, e obras semelhantes, úteis pelo seu caráter introdutório. O estudante que procura aperfeiçoar tais conhecimentos, é fundamental que leia Hodge, Grudem, e claro, Strong.

Evidentemente, outras obras irão aos poucos sendo acrescidas a biblioteca do teólogo, mas se o leitor estiver indeciso sobre onde gastar seu rico dinheirinho, é melhor que comece investindo em obras que terminará considerando fundamentais. Evidente também, que escrevo tendo em mente que, assim como eu, maior parte dos nossos leitores não é muito dada a autores ‘liberais’ – estes, talvez, prefiram Paul Tillich como leitura fundamental.

Minhas atuais leituras em Esboços de Teologia estão concentradas nas observações de Hodge sobre os Credos, no capítulo 7, e em suas observações sobre as doutrinas fundamentais do cristianismo. Por “doutrinas fundamentais” estou falando daqueles pressupostos que encontramos no Credo Apostólico, que é alvo principal da minha pesquisa. De modo que, apesar de gostar muito do que ele escreve sobre calvinismo, por exemplo, minha atual pesquisa passa por alto de tais observações.

De la insígnia cristiana

Acabamos de falar do filho, falemos do pai. De la insígnia cristiana, de Charles Hodge que li a alguns anos, me foi muito útil quando eu não conseguia compreender adequadamente a Teologia do Batismo, e entendia menos ainda as razões que levavam os cristãos reformados a manterem a prática do batismo infantil. A leitura desta obra me foi muito útil no passado, e ainda é, especialmente agora que estou a escrever sobre os fundamentos da nossa sublime religião. Honestamente, não sei dizer a vocês se existe uma tradução para o português dessa obra de Hodge – a que sempre li é em espanhol, e poder ser encontrada gratuitamente clicando aqui.

Estou lendo também umas duas obras sobre política, mas para não fugir do foco deste artigo, é melhor deixar para comentá-las futuramente. Espero que as leituras sugeridas hoje sirvam para alguns de vocês.

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