Teonomia: insensatez ou verdade?

Por Luciano

Resposta ao blog do irmão Ricardo Mendes

O irmão Ricardo criticou em seu Blog a posição teológica teonomista* de maneira dura. Gostaria de interagir com o que ele analisou. Quero antes de tudo dizer que os demais colaboradores do MCA não tem compromisso comigo nesse assunto, pelo menos nenhum ainda se manifestou contra. Nota do blog Olhar Reformado: o autor deste artigo, nosso amigo Luciano do MCA, não é Pós-Milenista, e neste ponto, discordamos dele.

No início da postagem o irmão Ricardo disse que ‘nunca leu um autor Teonomista’, mas se que sabia muito bem o que é, baseado nas ‘discussões pessoais com aqueles que são’. Acho que isso depõe contra ele. Seria bom, antes de postar uma crítica a uma posição teológica de irmãos reformados, pelo menos interagir com os que são reconhecidos como autoridade no assunto. Além disso, ele disse que nunca foi refutado.

O irmão se arriscou muito mesmo quando disse, e reconheceu isso: “Se a lei é "boa" - e é , pelo menos sob o ponto de vista ético e moral - daí a instituí-la como força coercitiva estatal demanda hermenêutica completamente torta e tortuosa. Logo, teimo em contradizer os defensores da tal teonomia acusando-os de superficiais em sua "interpretação" (sei que estou correndo enorme risco ao fazer tal afirmação).

Se merece uma refutação ao que ele disse é muito simples.

No Brasil a proibição de homicídio baseada na Bíblia, é uma ação coerciva?

O que Paulo disse sobre a Lei em I Tm 1.8-11 é um exemplo claro que a lei poderia e pode reger uma nação. Isso é uma boa hermenêutica?(Ele mesmo citou essa passagem, mas não atentou ao fato que Paulo disse ‘se promulga lei para...’)
O irmão Ricardo indica uma incongruência nos Teonomistas, 'pois nunca, nem ninguém obedecerá a Lei de Deus, nem mesmo os Cristãos!'

Ora, não é o que eu devo fazer, mas o que o Espírito faz em mim e por mim.  A Bíblia é contra a colocação do irmão, quando ela nos diz: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.”

No Espírito, a Lei de Deus é cumprida em mim! Todo cristão tem essa promessa, desde que seja cristão nascido de novo, e não carnal, que sempre fala do pecado que pratica e nunca da nova vida que tem!

Ele faz uma caricatura, constrói um monstro de palha, que na verdade nem merece refutação, mas indignação diante de uma conclusão distorcida (não acho que seja propositalmente, mas é em decorrência da ânsia de refutar aquilo que ele não aceita).
 
Ele disse:

“A raciocinar com os teonomistas, a Lei, então trazida para a esfera estatal institucionalmente, forçará justos e justificados, ímpios e crentes, eleitos e réprobos. Novamente será estabelecida a velha aliança e voltaremos aos rituais e aos holocaustos; verteremos sangue de bois e ovelhas nos novos altares sacrificiais.”
(?????????????????????????????????????????????????????????????????????????)

A próxima parte é um vai e volta. Ele sabe da resposta, mas inventa uma refutação, observe: “por que a sanha em restabelecer a Lei quando se tem a graça? Ora, se o maior bem que o cristão possui é a salvação, trazida pela graça, qual a necessidade da Lei? Os teonomistas responderiam que a Lei traria "equilíbrio" à sociedade, que seria " a Lei de Deus" aplicada ao homem, etc, etc. Tantos outros argumentos surgiriam e se materializariam, e ainda assim eu os refutaria dizendo que a "Lei", mesmo sendo boa e justa, não se aplica a justificados através do sangue de Cristo vertido na cruz do calvário.”

Irmão, difícil entender o que você disse, se foi um motejo ou não. A Bíblia no NT tem várias vezes proibições aos Cristãos. Essas são reflexos da lei de Deus. Quando a Bíblia diz ‘não mintais uns aos outros’ (Cl 3.9). Isso é uma lei? Para quem?

Na sua postagem o irmão coloca Jesus dizendo que deveríamos guardar tesouro nos céus... isso é piedoso e verdadeiro, mas o que está em jogo isso aqui? Olha, no sermão Jesus foi Teonomista e disse que Não veio para destruir a Lei.

Além disso, o exemplo de Jesus é interessante para os Teonomistas. Ele aceitava a lei como estando vigente (os dispensacionalistas também aceitam isso). Mas qual governo regia a nação de Judá? Roma! Estamos em situação similar. Cremos que a lei de Deus é suprema, mas lamentavelmente estamos debaixo de leis humanas, algumas boas, outras más*.

(*Por exemplo, caso a lei homofóbica entre em vigor, ou mesmo que o casamento seja vituperado nessa nação, ou mesmo o homicídio de crianças no ventre seja morto com garantias da lei.)

Os demais erros do irmão giram em torno de uma confusão entre o que pensamos sobre a Lei, como norma de regência estatal ou mesmo de princípio, com a justificação salvadora. As passagens que ele usa é a discussão da justificação pelas obras para salvação. Não acho que devo dizer algo contra tal asseveração do irmão, visto que está fora de propósito.

Insensatos Gálatas! Isso Paulo disse. Eles estavam se apegando nas leis cerimoniais, com o objetivo de serem aceitos por Deus. Eles já haviam sido aceitos em Cristo! Nem mesmo a lei moral podia conduzir eles a uma posição justificada, muito menos as intermináveis práticas litúrgicas. Eles caíram da graça, pois estavam buscando Deus não pela cruz de Cristo, mas pelas obras da lei!

Irmão, acho que R. C. Sproul tem um recado melhor para te dar: 

“A Confissão de Westminster nos convoca a adotar o que os teólogos na época chamavam de ‘equidade geral’ da lei. Isto é, embora haja princípios fundamentais da justiça de Deus em operação na instituição da lei civil do Antigo Testamento, talvez seja necessário dar os ajustes apropriados e levar em conta que o nosso contexto é diferente daquele. Um exemplo comum é o seguinte: no Israel do Antigo Testamento, os proprietários de imóveis tinham que ter cercas nos seus telhados. Tal lei faria pouco sentido nos nossos dias, pois não temos o hábito de passar o tempo em cima das nossas casas. A ‘equidade geral’ sugere que o objetivo desta regra é a segurança física dos familiares e dos eventuais hóspedes. Assim, pode-se dizer que os proprietários modernos deveriam ter ‘cercas’ nas suas piscinas. Uma medida para o seu nível de proximidade em relação à teonomia como ideologia é refletido na precisão da sua aplicação dessa ‘equidade geral’. 
Em segundo lugar, cuidado! Não dê ouvidos àqueles críticos que não entendem coisa alguma de teonomia ou de reconstrução. Aqueles de esquerda (teológica e politicamente) gostam de retratar os teonomistas e reconstrucionistas, herdeiros dos puritanos, como se fossem ‘jihadistas evangélicos’ do inferno que desejam impor um regime fascista calvinista sobre o resto do mundo. Isso é uma calúnia sem par! Os teonomistas, bem como o resto de nós cristãos, querem ver justiça no âmbito político. Eles querem ver as nações serem disciplinadas. Eles querem que o reino se manifeste. Eles querem ver todo joelho se dobrar e toda língua confessar que Jesus Cristo é Senhor. E quem é que, estando em Seu reino, poderia desejar outra coisa?”

Espero que tenha contribuído para nossa paz em Cristo.


POR FAVOR, QUEM QUISER LER ALGUMA REPRESENTAÇÃO TEONOMISTA CLICK AQUI

* Me tornei teonomista sem nunca saber o que isso era! Certa vez lendo Vincent Cheung, e percebendo como para esse autor a Bíblia é um pressuposto absoluto e final para qualquer afirmação, inseri isso na minha visão de que a Evangelização deveria dominar o mundo, e a obediência ao Senhorio de Cristo é uma ordem a todo homem e a toda nação. Outra coisa que pensava era que se a Bíblia tem leis, o que deveria impedir que uma nação se submetesse a essas leis para reger seus súditos? Se ela terá leis, qual motivo para não basear tais leis na Palavra infalível de Deus? Isso era um pensamento incipiente, somente depois que percebi que existia uma tal ‘teonomia’. No princípio achei que isso era um compromisso com o pós-milenismo, o que é quase regra. Depois percebi que não era necessário ser um pós-milenista para ser teonomista. Não sou pós-milenista.
Nota deste blog: saiba mais sobre o assunto, acessando nosso link sobre Teonomia.E para saber a diferença entre Teonomia e Legalismo, leia o artigo "Coisas que o crente não pode fazer!"

8 comentários :

  1. Marcelo, também acredito que somos justificados por Deus em Cristo para as boas obras, as quais estão prescritas nas leis de Deus.E que essas leis são para todos cumprirem. Mas tenho sérias dúvidas com relação a mudar a constituição para ficar de acordo com a lei de Deus.

    Por exemplo, hoje nós vemos a luta dos homossexuais para calarem a boca de quem é contra suas práticas e isso é mesmo horrível, mas se a constituição brasileira resolvesse aplicar a lei mosaica eles seriam apedrejados, ou no mínimo presos, assim como adúlteros.

    É isso que os teonomistas defendem? Não adianta obrigar as pessoas a obedecerem a lei, isso não mudará em nada sua natureza pecaminosa, só a pregação do evangelho pode mudar a nossa sociedade: quando o pecador experimenta o novo nascimento e passa a viver conforme a palavra de Deus.

    Layssa

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  2. Irmã Layssa, sei que o Marcelo vai te responder. Mas só gostaria de lembrar que nem mesmo em Israel, a Lei mudava a natureza do homem enquanto ele não fosse regenerado. Nem mesmo os estrangeiros que viviam em Isarael, que nem Israelitas eram, podia desobedecer a Lei.
    E até os que eram nascidos de novo em Israel, acabavam em alguns momentos desobedencendo!
    Na postagem tem im link de um livro ou de vários post aqui no Olhar, estude-os.
    Deus te abençoe

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  3. Irmão Marcelo, muito obrigado por postar.
    Quanto ao pós, não tenho problema algum com a esperança e empenho de tal visão. Já fui classificado de 'pós' pois tenho esperança semelhante. Preferiria todos pós!
    A >única< dificuldade é o próprio texto de Ap 20.
    Abração

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  4. Até agora, o que já li sobre a Teonomia defendida pelo Tiago e outros nos seus sites é de assustar. O texto completo de RC Sproul é coerente, mas esse teonomismo defendido pelo Internautas Cristãos, MCA e outros blogs, onde se deve aplicar as leis cívis Mosaicas literalmente e obrigatoriamente á todos, é realenmte assuastador. Eu mesmo já teria sido apedrejado.
    Concordo literalmente com a Layssa e outros artigos e textos que já li.

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  5. Queridos, por se tratar de um assunto tao polemico e complexo, vou tomar a liberdade de responder atraves de um artigo. Aguardem.

    Abraços reformados.

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  6. irmão Diego, não acredito que tenha visto algo assustador no MCA ou aqui no Olhar, e mesmo que o IC seja tão duro nas afirmações, não acredito que seja 'assustador'.
    Assim indiquei acima, baixe o pdf do livro do Greg, leia-o, mas leia mesmo!!! caso não seja um argumento bom, (ninguem é perfeito),pode ficar do outro lado do debate.
    O que R. C. Sproul disse é o que é Teonomismo. Claro que em toda posição teológica, existe erros e exageros. Se nos der o crédito de tal realidade, não nos julgará pelos extremos.
    abraços
    Luciano
    MCA

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  7. Queridos, estou dando as pinceladas finais no artigo que prometi, querendo Deus, hoje publico para os irmãos avaliarem.

    Paz e bem

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  8. Luciano, lerei o livro em breve, prometo, no momento estou ocupado com outros livros.
    O pouco que li, pois tenho outras prioridades no momento, de ambos os lados, me mantém no "outro lado do debate". Pelo menos por enquanto.
    Mas prometo le-lo em breve.

    Graça e Paz.

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