Anglicanismo: seu passado e promessa



Por Rev. Baocum, ministro anglicano da ACNA.
Lutero foi uma vez questionado sobre como ele começou a Reforma. No seu estilo característico ornamentado, Lutero respondeu: “Eu não comecei a reforma. Tudo que fiz foi pregar a palavra de Deus e beber cerveja. A Palavra de Deus fez a reforma.”
Da mesma forma, o Dr. Otto Piper do Seminário de Princeton, uma vez admoestou seus alunos da seguinte forma: “Cometemos um erro quando pensamos que Lutero e Calvino produziram a Reforma. O que produziu a Reforma foi que Lutero estudou a Palavra de Deus. E como ele estudou, ela começou a explodir dentro dele. E quando ela começou a explodir dentro dele, ele simplesmente a deixou livre na Alemanha. O mesmo aconteceu com Calvino.
“A tragédia da Reforma foi que, quando Lutero e Calvino morreram, Melanchthon e Beza editaram suas obras. E assim todos os luteranos começaram a ler a Bíblia para encontrar Lutero e todos os calvinistas a ler a Bíblia para encontrar Calvino. E a grande corrupção estava no seu caminho. Você sabe que há bastantes verdades desconhecidas na Bíblia para produzir uma Reforma e um despertamento evangélicos em cada geração, se nós só nos expormos a Palavra até que exploda em nós e a deixarmos livre?”
O Anglicanismo comparte este grande movimento de reforma. Começou como um movimento local de reforma no século 15 e 16 que foi deixado livre por Latimer, Ridley, e Cranmer, mas foi cooptado por um Rei oportunista politicamente (algo que, é claro, que nunca acontece em nossa época.).
Apesar deste início de xadrez, o Anglicanismo continua sendo um movimento de Reforma dentro do maior corpo da Cristandade Ocidental. Nos séculos subsequentes, gerou movimentos reformadores menores, como o avivamento Wesleyano no século 18, o movimento evangélico no século 19 e, mais recentemente, o movimento carismático no século 20 e o movimento Alpha no final dos anos 20 e início do século 21.
Cada um destes movimentos de renovação Anglicano tem três ênfases doutrinárias definidas que, juntas, constituem o poder pleno da salvação cristã: pecado original (todos necessitam um Salvador, não só um treinador), graça justificadora (este Salvador e Sua salvação foi dada a nós sem nosso mérito) e graça santificadora (a salvação que nos é oferecida é transformadora, não meramente transacional. Ou seja, ela deve ser pessoalmente e continuamente vivida). As diferencas entre o Metodismo, os Evangélicos, os Carismáticos e o Alpha não pode obscurecer este DNA compartido das doutrinas Anglicanas.
Como os outros reformadores Protestantes, o Arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer, era um católico que ansiava ver a igreja medieval reformada de acordo com estas três ênfases. A Igreja da Inglaterra, como as igrejas da Reforma na Europa, foi simplesmente uma tentativa de re-cristianizar a cristandade, reintroduzindo à Igreja o poder da salvação cristã.
O objetivo do reformador era fazer novos cristãos, não Cranmerianos, nem luteranos ou calvinistas. Onde as varias Igrejas Reformadas se diferenciaram foi na estratégia e nas táticas que empregaram para atingir esse objetivo comum de re-Cristianização.
Em algum outro lugar, expliquei a relação entre Anglicanismo e as Igrejas da Reforma:
Anglicanismo foi um movimento de reforma local que compartilhava muitas características da reforma Continental: a liberdade do evangelho, conhecimento bíblico e o governo por concilio. Em seus estágios iniciais, a reforma foi uma síntese da estratégia de Erasmo de aprendizagem e a preocupação de Bucer da disciplina baseada na paroquia; os quais foram incorporados à redescoberta de Lutero sobre a justificação pela fé como a transação entre Deus e os seres humanos. Esta descoberta de Lutero deveu-se, em parte, a sua redescoberta da doutrina Agostiniana da graça … Uma variedade de acadêmicos foram estimulados a uma nova percepção de Agostinho pela primeira edição impressa acadêmica da sua obra que começou a aparecer no final do século XV. O impacto desta descoberta não pode ser subestimada.
Este patrimônio comum em Agostinho é uma parte essencial da nossa identidade eclesial. Em sua defesa do Anglicanismo de 1562, “Apologia da Igreja da Inglaterra”, John Jewel dependeu amplamente dos Pais da Igreja, mas citou Agostinho, muito mais do que qualquer outro Pai da Igreja para desenvolver o seu texto. Nós Anglicanos amamos muito a Bíblia como a Palavra de Deus, a norma da fé cristã, mas nós Anglicanos também sabemos que a Bíblia não pode ser lida em um vácuo.
Todos lemos a Bíblia a partir de alguns pontos de vista ou tradição. Anglicanos reconhecem, na frente, que lemos a Bíblia através das lentes da Igreja primitiva. E Agostinho foi o epítome da Igreja primitiva. Não é exagero dizer que os Anglicanos são essencialmente Agostinianos reformados, mantendo o pecado original, graça e santificação como os fundamentos integrantes de nossa doutrina da salvação.
Este caráter reformista do Anglicanismo (definido por sua interação agostiniana do pecado original, graça e santificação) não só descreve as nossas origens históricas, mas também ilumina como o Anglicanismo moderno “ficou fora dos trilhos” na América do Norte (e no Brasil).
A Igreja Episcopal gerou dois movimentos quase-teológicos nos últimos dois séculos: O liberalismo no século 19 e o anglo-catolicismo no século 20. Infelizmente, nem o liberalismo nem a renovação Carismática alternam inteiramente em torno deste universo teológico anglicano.
O liberalismo apoia a graça, mas negligencia (e muitas vezes nega totalmente) o pecado original e santificação. Os Anglo-Católicos apoiam o pecado original e santificação, mas frequentemente negligenciam graça (especialmente em quanto a justificação só pela fé). Cada um gera sua própria constelação de estrelas cadentes teológicas, mas nenhum deles ilumina todo o poder da salvação. Assim, nem são evangelisticamente frutíferos.
A Cristandade Americana não foi re-cristianizada pela Igreja Episcopal. Acredito que a nova Província Anglicana deve apropriar-se da herança teológica descrita acima, a fim de cumprir o seu potencial redentor. A Cristandade Americana deve voltar a ser cristianizada. No nosso melhor, nós Anglicanos somos um movimento de reforma e de reforma dos Cristãos Católicos, dedicado à fé histórica e prática da igreja primitiva.
Nós possuímos simultaneamente uma forma (cristianismo sacramental) e significado (o cristianismo evangélico) que fala da anomia na alma pós-moderna americana. Agora é hora de retomar pensativamente a Palavra de Deus até que a Palavra exploda em nós e nós simplesmente “a deixemos livre” na América do Norte. Se fizermos isso, eu não ficaria surpreso de ver o próximo Grande Despertar emergindo de dentro da nossa comunhão de Igrejas.
Originalmente publicado no portal da Igreja Anglicana Reformada, e divulgado no Olhar Reformado.

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