Porque o Cristianismo não é socialista

Marcelo Lemos
I

Não muito tempo atrás publiquei aqui um artigo a respeito da incompatibilidade do socialismo com a Religião Cristã (Leia +). Recebi comentários e e-mails a respeito do artigo. Uns favoráveis, outros contrários a minha opinião. Hoje quero responder a algumas criticas e questionamentos que me foram enviados por alguns leitores. Os comentários originais podem ser lidos no artigo linkado acima. 

Quando e porque a igreja saiu da via marginal e passou a caminhar na via expressa do sistema?!!!”

Esta questão-objeção é interessante, pois ela parte do pressuposto que o socialismo não é, ele mesmo, “um sistema”. E a objeção, do modo como está colocada, faz sentido ao insinuar que é errado fazer partedo sistema”. Ora, sendo o socialismo também umsistema”, a objeção não tem nenhuma razão de ser.

Dito isto vamos a correção necessária, pois nos parece que o irmão não compreendeu o meu artigo. Eu não recusei o socialismo em troca de um outro sistema humano, mas em troca do sistema bíblicoque não é socialista! A resposta bíblica para a economia não é o socialismo, nem qualquer outro sistema elaborado na mesa de um economista ou filósofo, mas sim a Teonomia. É estesistemaque eu defendo, ou seja, a Lei de Deus. Enquanto a humanidade desprezar a Lei de Deus continuaremos a merce das tolices humanas, sendo que o Socialismo é uma das pioresque os socialistas de Hitler, ou da Cortina de Ferro não me deixem mentir.

Se os membros da igreja primitiva partilhavam tudo o que tinham, para que ninguém padecesse necessidade, porque isso mudou e quando mudou?!!!”

Novamente estamos diante de um problema de pressuposto errado. O autor da objeção imagina que o fato dos Cristãos primitivos partilharem o que tinham significa que eles eram Socialistas. Ora, como demonstrei no artigo anterior o Socialismo não está baseado na partilha e na filantropiao Socialismo baseia-se no roubo! porque é o Governo quem rouba o cidadão que produz não deixa de ser roubo. Além disso, também demonstrei que as altas taxas tributárias é, aos olhos de Deus, um sinal de maldição, de Juízo, e não de benção. Assim, o Socialismo quer chamar a maldição debençãoe os ladrões de salvadores!

Mas os cristãos primitivos compartilhavam seus bens. Isto é certo. Mas não é Socialismo. O fato de alguns associarem o que acontecia na Igreja primitiva ao Socialismo se deve ao fato de não compreenderem nenhuma coisa nem outra. Os cristãos tinham liberdade de compartilhar, e tinham liberdade deretero quanto desejassem para si mesmoé o que diz S. Pedro ao casal Ananias e Safira: Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder?” (Atos 5.4). Ao contrário do que muitos dizem, o erro do casal não foi não querer partilhar, mas sim, mentirem sobre o valor da venda.

Isso não é Socialismo. O Socialismo parte da ideia de um Estado forte, ingerente e paternalista. Onde encontramos tais preceitos recomendados das Escrituras? O cristão deve fazer o bem ao próximo? Sim, mas de modo voluntário, guiado pelo Espírito Santo, e não sob a espada do Governo (II Cor. 9.7).

O dizimo no AT era destinado para que se tivesse um estoque no intuito de sustentar viúvas, órfaos, estrangeiros e os levitas que não tinham como se manter, certo?!! Hoje o dízimo é uma espécie de tributação também e pelo menos nas igrejas por onde eu passei, não vi ninguém sendo ajudado, porque isso acontece?!!! É mais louvável manter a conta de água do templo em dia do que comprar um prato de comida para um mendigo?!!! Ou isso é tarefa do Estado "sócio-capitalista"?!!!”

Aqui uma confusão danada. Primeiro que, sim, a Igreja tem dever de ajudar as pessoas, especialmente aos irmãos: Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da (Galátas 6.10). Observemos, então, que o Socialismo inverte e corrompe o Evangelho. Além de tornar a boa obra um ação compulsória, ele diz que a Igreja, ou o cristão, deve ajudar a todos igualmente. Ora, isso pode parecer politicamente correto, mas não é biblicamente corretoainda que devamos o bem a todos, a primazia pertence aos da . Não estou dizendo isto comocapitalista”, mas sim como alguém que acabou de ler na própria Escritura!

Mas, e se esta ou aquela Igreja não ajuda aos seus necessitados? Isto frequentemente acontece, especialmente em nosso país, onde as muitasigrejassão controladas por lobos devoradores. Porém, o meu pecado não invalida o preceito bíblico. O meu pecado não autoriza que eu busque um preceito diferente daquele que a Escritura estabeleceu. É loucura pensar assim!

Quanto aos mendigos, ou quaisquer outras necessidades desta natureza, simplesmente não existiriam em uma sociedade governada pela Lei de Cristo. A medida que o Reino avança se elimina as condições desumanas, que tanto o liberalismo quanto o socialismo produzem aos montes, mas jamais deixaria de haver o pobreDt. 15:11. E por falar em Deuteronômio 15.11, toda vez que se dizestamos erradicando a pobreza”, ocorre apenas de estarem chamando Deus de mentiroso!

As duas seguinte objeções, deste mesmo autor, estão respondidas acima:

Os pilares da igreja de hoje ainda são fundadas na afirmação de Pedro, ou suas bases estão apoiadas no sistema polítoco-financeiro?”

Como se o Socialismo não fosse umsistema político e financeiro”...

 É idiotice minha tentar enxergar a igreja como era a dois mil anos atrás?!!! Porque?!”

Como se a Igreja de 2000 anos tivesse pregado o Socialismo...

II

A próxima objeção é mais complicada. E vem de um amigo muito querido, e deixo bem claro que estamos apenas num debate de ideias. Segundo ele, quando eu falo da Rússia, da China, de Hitler ou de Cuba, estou representando muito mal o sistema Socialista, pois, palavras dele “(isto) não é o "Socialismo" de Marx e Angel ou de tantos outros...”. Escuto esta desculpa a muitos anos, tempo demais para saber que ela não é verdadeira. E é muito fácil demonstrá-lo.

Primeiro, que a própria objeção destrói o argumento. Se é dito que eu estou descrevendo erroneamente o Socialismo, então implica que o objetor afirma que ele é diferente. Sei que é óbvio, mas é importante deixar registrado. Assim, se minha tese é o Socialismo como defensor de um Estado forte, a objeção afirma que o Socialismo não se baseia em um Estado forte. Além disso, ela assume que Marx e Angel também não defendiam um Estado forte. É algo que precisamos verificar, já que a objeção a afirmou sem demonstrar.

Antes porém há mais a dizer da nulidade da objeção; se o Socialismoverdadeironão prega um Estado Forte, ingerente e paternalista, então nada do que conhecemos comoSocialismoésocialismo verdadeiro”. Nada do que já foi proposto é “socialismo verdadeiro”, e nada do que hoje se propõe é “socialismo verdadeiro”. Neste caso, nem que eu quisesse poderia me tornar um Socialista, que overdadeiro socialismonão existe em lugar algum. Isso me parece irracional, pois todo Socialismo que conhecemos baseia-se naquele Estado que eu descrevi, e se ele não é o socialismo verdadeiro, porque estou sendo repreendido por criticá-lo?

Mas pode acontece de estarmo retratando a tese de Marx e Engels erroneamente? Vamos analisar algumas princípios que eles estabeleceram, dentre eles o Estado forte, a violência como meio de transformação, e o roubo institucionalizado:

As medidas principais, tal como decorrem, já agora, como consequência necessária, das condições existentes, são as seguintes:


  1. Restrição da propriedade privada por meio de impostos progressivos, altos impostos sobre heranças, abolição da herança por parte das linhas colaterais (irmãos, sobrinhos, etc.), empréstimos forçados, etc.

  1. Expropriação gradual dos latifundiários, fabricantes, proprietários de caminhos-de-ferro e armadores de navios, em parte pela concorrência da indústria estatizada, em parte, directamente, contra indemnização em papéis do Estado.

  1. Confiscação dos bens de todos os emigrantes e rebeldes contra a maioria do povo.

  1. Organização do trabalho ou ocupação dos proletários em herdades nacionais, fábricas e oficinas, pela qual se elimina a concorrência dos operários entre si e os fabricantes são obrigados, enquanto ainda subsistirem, a pagar o mesmo salário elevado que o Estado.

  1. Igual obrigação de trabalho para todos os membros da sociedade até à completa abolição da propriedade privada Formação de exércitos industriais, sobretudo, para a agricultura.

  1. Centralização do sistema de crédito e da banca nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e repressão de todos os bancos privados e banqueiros.

  1. Multiplicação do número de fábricas, oficinas, caminhos-de-ferro e navios nacionais, cultivo de todas as terras e melhoramento das cultivadas, na mesma proporção em que se multiplicarem os capitais e os operários que se encontram à disposição da nação.

  1. Educação de todas as crianças, a partir do momento em que podem passar sem os cuidados maternos, em estabelecimentos nacionais e a expensas do Estado. Combinar a educação e o trabalho fabril.

  1. Construção de grandes palácios nas herdades nacionais para habitações colectivas das comunidades de cidadãos que se dedicam tanto à indústria como à agricultura, e que reúnam em si tanto as vantagens da vida citadina como as da rural, sem partilhar da unilateralidade e dos defeitos de ambos os modos de vida.

  1. Destruição de todas as habitações e bairros insalubres e mal construídos.

  1. Igualdade de direito de herança para os filhos ilegítimos e legítimos.

  1. Concentração de todo o sistema de transportes nas mãos da nação.

Talvez Engels, em seu ensaio “Princípios Básicos do Comunismo” também tenha retratado o comunismo de modo equivocado. Se assim for, reforça-se ainda mais a tese de que “nada do que conhecemos é o socialismo 'verdadeiro'! Ah, que algum iluminado nos conduza ao 'verdadeiro' pensamento de St. Karl Marx! Que os deuses proletários nos ajudem... Ops!... Sem deuses, S. Marx não gosta deles!

Não importa que deem a isto o pomposo e sofisticado nome de “socialismo cientifico”, os preceitos e os meios revolucionários não mudam, e são todos abomináveis a Lei de Deus. Infelizmente os cristãos parecem não ver qualquer problema em entregar o controle absoluto das nossas vidas nas mãos do Estado, mesmo quando este Estado, especialmente no caso Socialista, é declaradamente anticristão. E tudo isso em troca de uma salvação e uma paz que não existem ali, e só podem ser encontradas em submissão a Lei de Cristo. Mas este não é um discurso agradável; talvez alguns me acusem de legalista ou fariseu, por afirmar que a Lei de Deus deve reger nossa vida e nossa sociedade; contudo, a objeção assume a ideia de que submeter-se aos homens é melhor que submeter-se a Deus; ou então, que a lei dos homens é mais justa que a Lei da Bíblia. Honestamente, tal pensamento não me parece cristão, nem me parece condizendo com a firmação de cremos “apenas nas Escrituras” como regra infalível de prática e fé.

Um comentário :

  1. Graça e paz do SENHOR aos irmãos do blog...

    Parabéns pelo artigo, irmão Marcelo. Será que os críticos socialistas são mais inspirados que Moisés?

    "Guardai-os e observai-os, porque isso é a vossa sabedoria e o vosso entendimento à vista dos povos, que ouvirão todos estes, estatutos, e dirão: Esta grande nação é deveras povo sábio e entendido. [...] E que grande nação há que tenha estatutos e preceitos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?" (Deuteronômio 4: 6-8)

    Pior é ver um professor de teologia reformada fazendo essa declaração:

    "...os teonomistas têm muito a nos ensinar, mas não posso embarcar na visão anacrônica e não bíblica da aplicabilidade da lei judicial ou civil de Israel aos dias de hoje (quiçá da cerimonial), nem na visão de uma sociedade controlada e transformada pela lei, em vez de "salgada" e "iluminada" pelo evangelho (e, assim, na providência divina, preservada até o tempo do julgamento de Deus)

    (http://www.genizahvirtual.com/2011/07/os-teonomistas-mordem.html)

    Agora considerar a Lei de Deus válida para os dias de hoje é uma visão "ANACRÔNICA"?

    Que Deus nos abençoe e conduza sempre à uma compreensão sadia e reverente das suas Leis!

    escravosdecristo.blogspot.com

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