Resposta ao Antinomismo: A Lei ou o Evangelho?

Por Marcelo Lemos

Sempre que a fé evangélica histórica estabece o marco de sua adesão aos preceitos morais revelados por Deus em Sua Palavra, surge uma ou outra voz a questionar: você segue o Evangelho da Graça ou um evangelho da Lei?

Vamos parar e meditar mais detalhadamente nos pressupostos por trás da questão acima proposta. O autor da questão pressupõe, primeiramente, que a fé evangélica histórica entenda a Lei como sendo um meio de justificação. Ele imagina que ensinamos que o homem para ser justificado precisa cumprir este e aquele requisito proposto pela Lei. Em outras palavras, ele imagina que estamos pregando um evangelho baseado em obras, uma salvação meritória. Na mente deles, nós somos como os judaizantes do primeiro século, contra os quais os apóstolos debatiam; os mesmos ensinavam sobre apegar-se a Lei, incluindo seus preceitos cerimoniais, como um requisito para a justificação.


Contudo, se tem algo mais singular na doutrina evangélica é a negação da justificação por obras. A enfase evangélica na justificação exclusivamente pela fé é tamanha, que o debate com os católicos romanos já dura meio milênio. Isso porque há uma diferença fundamental entre as duas doutrinas. Para a fé evangélica, segundo as Escrituras as boas obras não são a causa da nossa justificação, mas resultado dela.

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.8-10).

Neste, que pode ser o texto áureo da justificação pela fé, as boas obras não são descartadas, são colocadas em seu devido lugar: no resultado, e não na causa.

Outro pressuposto presente na questão é a heresia antinomista. O Antinomismo supõe que a Lei de Deus foi abolida por Cristo, no Calvário. Essa posição é antibilica, e irracional. Podemos demonstrar isso facilmente, por exemplo, usando os próprios antinomistas para ilustrar. Nem um antinomista, se cristão, pretende viver uma vida dissoluta. Apesar de ensinar que a Lei de Deus foi abolida no Calvário, ainda assim o antinomista prega e procura viver de acordo com os mandamentos revelados por Deus em sua Palavra. Ele diz que a Lei foi abolida, mas continua acreditando que adultério, falso testemunho, homossexualismo, assassinato, sequestro, escravidão, dentre outras mazelas, são pecados, e sempre serão.

O antinomista, se cristão, poderá até mesmo alegar que segue um padrão “maior e mais elevado” do que a Lei Moral, e que tal padrão está gravado diretamente em seu coração; contudo, ele seguirá valendo-se das Escrituras, pregando-a, expondo-a, baseando-se nela para extrair valores e princípios para o viver diário para com Deus, e para com o próximo. O antinomismo aniquila-se a si mesmo.

A Lei de Deus não foi abolida. No entanto, alguns elementos da Lei eram transitórios, e apontavam para Cristo. Aqui se enquadram aqueles preceitos que chamamos de “cerimoniais”. Contudo, mesmo aqui é preciso tomar certo cuidado. Deus estabelece que o pecado só pode ser expiado através de sangue - “sem derramamento de sangue não há remissao” (Hebreus 9.22). Isso era verdade no Antigo Testamento, que por falta do Deus Encarnado, se improvisava um expiação temporária por meio do sacrifício de animais. E continua sendo verdade no Novo Testamento; porém, o Deus Encarnado já veio, e seu sacrificio, de valor eterno, foi aceito para todo o sempre. Não há mudança de padrão, alterou-se apenas o modo de adminstrá-lo. Ainda hoje, todo aquele que ousar se apresentar a Deus sem sangue, será condenado – e como apenas o sangue de Cristo é aceito na Nova Aliança, implica que todos os não cristãos se perderão eternamente.

Um terceiro pressuposto é um engano muito difundido nos dias de hoje, e que muitas pessoas herdaram do Dispensacionalismo tradicional. Não que todo antinomista seja dispensacionalista, ou que cada dispensacionalista seja antinomista. Mas o Dispensacinalismo nos é últil, como ilustração. Vou explicar: o dispensacionalismo, ao rejeitar a Teologia do Pacto, passou a ensinar que Deus atuou no mundo, salvificamente, por meio de diferentes “dispensações”. Há grande constraste entre duas delas: a Lei e a Graça. Sob a Lei, o homem seria salvo pelas obras, enquanto que sob a Graça, somos salvos exclusivamente pela fé.

Tamanha tolice ignora que nunca foi objetivo da Lei salvar ou justificar o homem – Paulo diz que tal coisa era impossível a Lei. O objetivo da Lei sempre foi revelar a vontade de Deus, e nos conduzir a Cristo. A Lei nos mostra como o padrão de Deus é justo e perfeito, e expõe todo o nosso pecado e incapacidade de agradar a Deus, conduzindo-nos, então, desesperados, para os pés da Cruz.

Não sendo, pois, o propósito da Lei salvar, implica que se houve salvação no Antigo Testamento – e sabemos que sim -, ela se deu por Graça, e não pela Lei. Então, vejamos: mesmo sob a Antiga Aliança, quando até mesmo todo o ritual da Lei se mantinha de pé e em pleno vigor, a salvação se estabelecia como sendo por Graça, e não pela Lei. Por isso o Salmista Davia exclama: “Bem-aventurado aquele cuja transgresão é perdoada, e cujo pecado é coberto” (Salmos 32.1).


Você segue o Evangelho da Graça ou um evangelho da Lei?

A questão, como se pode ver, não apresenta nenhuma objeção a nossa fé – a não ser que o objetor, deliberadamente, ou por falta de conhecimento, deturpe grosseiramente o que ensinamos. Neste caso ele tem uma objeção, mas não contra a nossa fé, antes, contra a falsidade que ele mesmo criou.

Por fim, vamos aproveitar o tema e concluir com um caso típico do Novo Testamento. Quando o Apóstolo S. Paulo escreve sua censura a igreja de Corínto, por ter se visto obrigado a abrir mão do sustento pastoral a que tinha direito, a fim de não causar escandâlos, ele aproveita para argumentar em favor do sustento pastoral. Vamos analisar o argumento do apóstolo, tendo em mente a heresia antinomista – segundo a qual, os preceitos morais da Lei de Deus não são mais aplicáveis.


“Ou apenas eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apacesta o gado e não come do leite do gado?

Digo eu isso segundo os homens? Ou não diz a Lei também o mesmo? Porque na Lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura, tem Deus cuidado dos bois? Ou não diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança, e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante” (II Coríntios 9.6-10).

Ora, meu amigo antinomista, se a Lei de Deus tivesse perdido seu valor, bastaria aos inimigos que Paulo tinha de sobra naquela Igreja responderem: e daí o que diz a Lei? Ela já não serve para nada, querido Paulo!

  • Você pode estudar mais sobre o assunto, acessando A Lei de Deus.

7 comentários :

  1. POIEMA pergunta:
    Pastor Marcelo. Acabei de ler o seu texto e pergunto: Spurgeon era antinomista ou não?

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  2. Não, não era. Observe como ele trata do assunto em seu catecismo.

    O que Deus revelou ao homem como regra de obediência?

    Resposta: A primeira regra que Deus revelou ao homem foi a lei moral (Deuteronômio 10:4; Mateus 19:17), que deve ser obedecida e que está resumidamente compreendida nos dez mandamentos.

    Em seguida ele passa a expor todos os Dez Mandamentos.

    Abraços querido.

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  3. Olá marcelo! Infelizmente muitos cristãos fazem uma grande confusão entre as leis cerimoniais com as leis morais. Por isso, muitos se perdem no entendimento da palavra sobre este assunto tão claro nas escrituras.

    Que Deus continue abençoando vc.
    Um abraço!

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  4. "Este é o Caminho andai por ele". Parabéns pelo artigo! De fato a lei de Deus não foi abolida e a sua finalidade continua vigente. "De modo que a lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados". Gálatas 3:24

    Que Deus abençoe a todos!

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  5. QUE CONFUSÃO ! !

    O GRANDE PROBLEMA COM ALGUMAS DENOMINAÇÕES , QUANDO PRETENDEM A GUARDAR A LEI DE DEUS, É QUE A LEI NÃO IMPLICA SÓ EM GUARDAR OS DEZ MANDAMENTOS. A LEI É UM TODO E ABRANGE OS CINCO LIVROS DE MOISÉS OU O PENTATEUCO COM 613 MANDAMENTOS, COMO LEMOS EM GL 3.10, “TODOS AQUELES, POIS QUE SÃO DAS OBRAS DA LEI ESTÃO DEBAIXO DA MALDIÇÃO; PORQUE ESCRITO ESTÁ: MALDITO TODO AQUELE QUE NÃO PERMANECER EM TODAS AS COISAS QUE ESTÃO ESCRITAS NO LIVRO DA LEI, PARA FAZÊ-LAS”.O TEXTO EM APREÇO NÃO AFIRMA QUE É MALDITO QUEM NÃO GUARDAR OS DEZ MANDAMENTOS, MAS QUE É MALDITO QUEM NÃO GUARDAR TUDO O QUE ESTÁ ESCRITO NO LIVRO DA LEI.

    DADA A IMPOSSIBILIDADE DE SE GUARDAR TODOS OS 613 MANDAMENTOS, A BÍBLIA DECLARA QUE A LEI NOS SERVIU DE AIO PARA NOS CONDUZIR A CRISTO E QUE DEPOIS QUE A FÉ VEIO JÁ NÃO ESTAMOS MAIS DEBAIXO DO AIO (OU DA LEI). MAS, ANTES QUE VIESSE A FÉ, ESTÁVAMOS SOB A TUTELA DA LEI E NELA ENCERRADOS, PARA ESSA FÉ QUE, DE FUTURO, HAVERIA DE REVELAR-SE. DE MANEIRA QUE A LEI NOS SERVIU DE AIO PARA NOS CONDUZIR A CRISTO, A FIM DE QUE FÔSSEMOS JUSTIFICADOS PELA FÉ. MAS, TENDO VINDO À FÉ, JÁ NÃO PERMANECEMOS SUBORDINADOS AO AIO.”(GL 3.23-25).

    “LEI MORAL” E “LEI CERIMONIAL” NÃO EXISTEM EM NENHUM LUGAR DA BÍBLIA; É INVENÇÃO DOS LEGALISTAS. O DECÁLOGO FOI ESCRITO EM TÁBUAS DE PEDRA E POSTO DENTRO DA ARCA, NÃO POR SER SUPOSTAMENTE SUPERIOR AO RESTANTE DA LEI, MAS APENAS PARA SERVIR DE TESTEMUNHA DA ANTIGA ALIANÇA ENTRE DEUS E ISRAEL. POR ISSO É QUE AS TÁBUAS DO DECÁLOGO ERAM CHAMADAS DE “TÁBUAS DO TESTEMUNHO” (ÊXODO 31:18; 32:15); A ARCA ONDE AS TÁBUAS ESTAVAM, ERA CHAMADA DE “ARCA DO TESTEMUNHO” (ÊXODO 25:6); O TABERNÁCULO ONDE A ARCA ERA GUARDADA ERA CHAMADO DE “TABERNÁCULO DO TESTEMUNHO” (ÊXODO 38:21). QUANTO AO LIVRO DA LEI, FOI POSTO AO LADO DA ARCA NÃO POR SER SUPOSTAMENTE INFERIOR AO DECÁLOGO, MAS APENAS PARA SERVIR DE TESTEMUNHA TAMBÉM (DEUTERON. 31:26). ASSIM HAVIA DUAS “TESTEMUNHAS” DA ANTIGA ALIANÇA: UMA DENTRO DA ARCA (AS TÁBUAS DO DECÁLOGO) E OUTRA FORA DA ARCA (O LIVRO DA LEI). É ISSO. VALE LEMBRAR QUE O DECÁLOGO ESTAVA ESCRITO NO LIVRO DA LEI TAMBÉM, JUNTO COM TODOS OS RITUAIS.
    PARA QUE O ERRO LEGALISTA FIQUE AINDA MAIS CLARO, O RITUAL DE PURIFICAÇÃO APÓS O PARTO (LEVÍT. 12:2,6,8), QUE OS LEGALISTAS CHAMAM DE “LEI CERIMONIAL”, LUCAS CHAMA DE “LEI DO SENHOR” (LUC.2:22-24); OS HOLOCAUSTOS, QUE OS LEGALISTAS CHAMAM DE “LEI CERIMONIAL”, CHAMA-SE NA VERDADE “LEI DO SENHOR” (II CRON.31:3).
    “LEI DO SENHOR, LEI MORAL, LEI DE MOISÉS E LEI CERIMONIAL” SÃO A MESMA LEI! PROVA DISSO SÃO OS VERSOS A SEGUIR, ONDE O MESMO LIVRO É CHAMADO DE “LEI DO SENHOR, LEI DE MOISÉS” E ETC: NEEMIAS 8:1,3,8,14,18; 9:13,14; 10:29,31-36.
    ESTA DIVISÃO DA LEI EM “LEI MORAL” E “LEI CERIMONIAL” NÃO EXISTE EM NENHUM LUGAR DA BÍBLIA! A LEI É UMA SÓ! PORTANTO, QUEM DIZ QUE O SÁBADO, DÍZIMOS E OUTRAS ORDENANÇAS DEVEM SER GUARDADO DEVE SE GUARDAR TAMBÉM TODA A LEI JUDAICA! TIAGO 2:10; GÁLATAS 3:10; LUCAS 2:22,24; II CRÔN.31:3, ÊXODO 34:21-23 E ETC, LEVIT. 16:29-34; 23:27-43 E ETC..

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  6. CONTINUAÇÃO...

    VISTO QUE A LEI É UNA E INDIVISIVÉL, FICA ENTÃO DIFICIL DE SE ENTENDER , QUANDO ENCONTRA SE NAS ESCRITURAS CITAÇÕES DE QUE ESTAMOS LIVRE DA LEI , A LEI FOI CRAVADA NA CRUZ , O MINISTERIO DA MORTE ESCRITO EM TABUAS DE PEDRA FOI TRANSITÓRIO , O FIM DA LEI É CRISTO, A LEI NADA APERFEIÇOOU , ENFIM TEM VARIOS TEXTOS QUE NOS DEIXA CLARO , A LEI DADA NO SINAI PERDEU SEU VIGOR E QUE OS HOMENS CONVERTIDOS A DEUS NÃO ESTÃO MAIS OBRIGADO A GUARDA-LA .

    Não cuideis que vim abolir a LEI ou os PROFETAS: não vim ab-rogar, mas cumprir.
    (Mateus 5:17)
    Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, SEM QUE TUDO SEJA CUMPRIDO.
    (Mateus 5:18)

    ESTE TEXTO FICA FACIL DE SE ENTENDER COM AS PROPRIAS PALAVRAS DE JESUS ...
    E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se CUMPRISSE TUDO o que de mim estava escrito na LEI de Moisés, e nos PROFETAS e nos Salmos.
    (Lucas 24:44)
    Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras
    (Lucas 24:45)
    E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos,
    Lucas 24:46

    ELE É O CUMPRIMENTO DE TODA A LEI (TORÁ , OU OS CINCO PRIMEIROS LIVRO DAS ESCRITURAS),OU SEJA TUDO SE CUMPRIU NELE !

    DEPOIS QUE SEU SANGUE FOI DERRAMADO NA CRUZ , DEU SE ENTÃO INICIO A UM NOVO TESTAMENTO QUE SUBSTITUIU O ANTIGO !

    OU SEJA , PELO ESPIRITO SANTO QUE FOI DERRAMADO NO HOMEM CONVERTIDO E VIVIFICADO , O SEU CARATER MORAL É MANIFESTADO DE FORMA NATURAL E VOLUNTARIA E ISSO É EVIDENCIADO EM FORMA DE FRUTOS ...
    Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.
    (Gálatas 5:23)

    QUANDO DAMOS ESSES FRUTOS , ESTAMOS REFLETINDO O CARATER MORAL DE DEUS .

    FINALIZANDO...

    É COMPLICADO ESSE ASSUNTO SOBRE A LEI DE DEUS , BOM , PELO MENOS PRA MIM , POR QUE DE FATO VEJO TB QUE O APOSTOLO PAULO EM ALGUNS MOMENTOS ELE DEFENDE O VIGOR DA LEI , TALVES EM 2°CO.9-6,10 ELE ACHOU CONVENIENTE USAR ESSA REFERENCIA PRA TIRAR UNS TROCADOS DOS IRMÃO , KKK ... ZUEIRA ! E OS PASTORES DA ATUALIDADE EMBARCOU NESSA . RSRSRSSS

    ZÉ REIS DE OUROVILLE !

    PAZ E BEM

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  7. 1 Coríntios 7:19
    João Ferreira de Almeida Atualizada (AA)
    19A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus.

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