Razões para você não se tornar anglicano!

Por Marcelo Lemos


Dia desses ouvi uma frase, referindo-se a minha pessoa e teologia, que me surpreendeu e, ao mesmo tempo, satisfez. “Você é o discípulo mais maluco que já tive, mas, seja como for, vejo que muitas coisas que você fala faz muito sentido, e eu aprecio”. O autor da frase é um pastor assembleiano – que não cito o nome apenas por não ter lhe pedido permissão – que, dentre outras coisas, tem sido como um pai adotivo para mim. Seu filho e eu, carinhosamente, o apelidamos de “Dinossauro”; uma referencia ao fato de ele ser um “assembleiano das antigas”, e pouco dado a inovações. Certamente por isso sua declaração me surpreendeu e alegrou sobremaneira.

Abro um parêntese: Nem sempre é assim. Sair do meio pentecostal pode gerar alguns conflitos. Constantemente recebo mensagens de pessoas que passam pelo mesmo processo que passei. Algumas são excluídas, humilhadas, afastadas, ou simplesmente isoladas – como se fossem leprosas. Não digo isso com rancor, e também não sou um anti-pentecostal. Muito pelo contrário. Aprecio, admiro e procuro seguir o exemplo de muita coisa boa que vivi e presenciei no pentecostalismo tradiconal. Se saí dali, não foi por desafetos, ou para me inscrever numa cruzada anti-Azuza, mas antes, por sentir que Deus estava me chamando para dar um passo além em minha experiência com a Igreja. Parêntese fechado.

Assim como a mais de uma década me reformei (ou me tornei um calvinista, numa linguagem mais popular e simplista); ultimamente tenho descoberto alegremente o valor daquilo que chamo catolicidade da fé cristã. E essa experiência maravilhosa me tem sido proporcionada pelo Anglicanismo. Tenho para mim que o anglicanismo baseia-ne num tripé existencial: passado, presente e futuro. E isso tem muito haver com essa “catolicidade” a que me refiro. Ser anglicano, saibam, é reconhecer as dádivas e os erros do passado; é identificar os perigos e as oportunidades do presente; é viver o hoje para construir o amanhã.

Por isso, ainda que me seja possível transformar este artigo em uma apologia ao Anglicanismo, meu objetivo é um pouco diferente. Pois, como em qualquer outra tradição cristã, há, dentro daquilo que nominalmente se diz anglicanismo, vários elementos que ameaçam a simplicidade do Evangelho, e afrontam a teologia evangélica histórica. Não é por ter me tornado anglicano que irei agir como se tudo fosse um mar de rosas. Se o querido leitor está pensando, ou já pensou, em seguir o mesmo caminho que escolhi, vou apresentar algumas razões pelas quais não deve fazê-lo. Sim, lembram-se daquele pastor que disse me considerar meio “maluco”? Um dos motivos pode bem ser o anglicanismo, que toda vez que sai na mídia, o faz pelos motivos errados! Aliás, assim que me declarei publicamente anglicano, minha caixa de e-mail foi entupida com notícias de episcopais gays, transformistas, agnósticos, benzedores de cachorros e gatos, e outras patacoadas mil.

Quer conhecer o anglicanismo? Em primeiro lugar, não se torne anglicano se ainda não aprendeu a importância de ser católico. Não peguem em pedras ainda, pois eu julgo poder explicar. Não há mal algum em ser católico, ainda que exista um caminhão de motivos para um evangélico não ser Católico Romano. Na Teologia Reformada, ser católico significa que Deus não está preso a minha região demográfica, a minha denominação cristã, ou mesmo a minha tradição teológica. Deus não é pentecostal, romano, presbiteriano, congregracional, e nem mesmo anglicano. O Cristo, e a salvação por ele 'ofertada', está acima de tudo e todos. Neste sentido, ser católico é ser universal – não confundir com Universalismo; é reconhecer que o Espírito Santo sopra onde quer, e que há uma fé comum que une os cristãos, independente de diferenças mais superficiais. Vejam: eu disse 'diferenças superciais', e não heresias. Há, então, uma diferença crucial entre ser católico e ser católico romano: para o segundo a salvação está apenas em Roma, enquanto que para o primeiro, ela está onde quer que Cristo crucificado se faça presente.

Em segundo lugar, não se torne anglicano se alimenta aquele preconceito de que somos apenas padres que podem se casar. Sim, pois na mente de muitas pessoas – talvez de uma maioria – o anglicanismo não passa de uma Igreja Catolico-Romana, só que mais liberal nos costumes. Isso está bem longe da verdade. Ser anglicano, anglicano de verdade, é ser evangélico, é ser reformado em teologia e prática. Há no Brasil, copiado de certa matriz americana, um anglicanismo não-evangélico, que reproduz exatamente isso: um romanismo liberal. Outro dia, ao assistir uma de suas missas – o culto realmente anglicano não é uma missa! - pela Internet, vi o pastor da Catedral Anglicana de São Paulo convocando a Igreja a orar pelos mortos. Isso passa muito longe da fé reformada. E é apenas um dos exemplos que poderiamos listar. Não somos padres que se casam; somos bispospresbiterosdiáconos e leigos que pregam e vivem a fé evangélica; somos uma tradição que deu ao mundo grandes heróis evangélicos como J.C. RyleJohn WesleyThomas CranmerGeorge WhiterfieldJohn Sttot, J.I. Packer, dentre outos. Uma vasta nuvem de testemunhas nos acompanha. Estes eram católicos romanos disfarçados de evangélicos? Claro que não! Um deles, Thomas Cranmer (foto a direita), a exemplo de muitos outros anglicanos, foi martirizado por não negar a fé evangélica! Quer se livrar de tal preconceito? A matéria do Genizah a respeito da recente morte de John Sttot, pode dar uma ideia da verdadeira face do anglicanismo oriundo da Reforma.

Em terceiro lugar, não se torne anglicano se você está apenas a procura de uma igreja moralmente relativista. Eu sei que muitos anglicanos, inclusive aqui no Brasil, parecem desejar uma Igreja assim, porém, novamente, isso não tem nada haver com o anglicanismo que surgiu na Reforma Protestante. Não estou dizendo que a história do anglicanismo esteja isenta de máculas, não está; assim como na própria saga dos heróis da fé, das Escrituras, temos nossas manchas - algumas terríveis. Todavia, a teologia anglicana é evangélica e reformada, sempre valorizando a autoridade das Escrituras como nossa regra de fé e prática. Teólogos questionando a existência de Jesus, a sexualidade de Paulo, validando o casamento homossexual, liderando passeatas de “orgulho gay”, e coisas do tipo, são aberrações modernas, e não anglicanismo!

O vídeo abaixo é um tanto chocante, e encontrei no blog do meu bispo, Josep Rossello. Trata-se de um retrado da loucura que estão fazendo alguns ramos do anglicanismo (felizmente uma minoria, pois mais de 80% no Anglicanismo somos de cristãos conservadores).



Diante de tal quadro, seria tolo imaginar que apenas em certos círculos neopentecostais se esconde perigosas ameaças à fé cristã. Que engano seria tal pensamento! O inimigo se infiltra em todo e qualquer lugar, e torçe para que nós, por desconhecimento ou corporativismo, não façamos nada a respeito. Que ilusão a dele! Cristo jamais desiste de lutar por sua Igreja. Sempre haverá uma e outra voz a se levantar contra a apostasia. “E as portas do Inferno não prevalecerão contra ela”, disse Jesus a respeito da sua Igreja.

Se, ao pensar em vir para o anglicanismo, ou mesmo que seu destino seja outro, nutrir qualquer das razões supra citadas, desista. Lembre-se: já tem muito lobo a solta por aí. Agora, se você deseja viver a fé evangélica e reformada, não precisa se tornar anglicano - isso pode ser feito aí mesmo onde você está. Contudo, se quiser vir conosco, seja bem-vindo; até por que, se você leu nas entrelinhas, descobriu as razões que me fezeram optar por essa tradição cristã.

4 comentários :

  1. Paz e Graça!!!

    Primeiramente, também sou ex-AD. Apesar de alguns quererem sustentar um "calvinismo pentecostal" (pentecostal + Cinco Pontos Calvinismo), tal idéia para mim é totalmente estranha. Resolvi sair de lá, pois não tinha nada a perder e estou congregando numa Igreja Presbiteriana.

    O que tenho lido na net é que o Anglicanismo tem várias correntes. Há a ala católica (muito focada na liturgia e na proximidade com Roma), a ala evangélica (muito focada nas Doutrinas da Graça) e a ala liberal (minoria).

    Como eu era ex-pentecostal, desde cedo ouvia "isso e aquilo" das diversas Igrejas, algumas coisas maiores que outras, como a Igreja Anglicana é uma Igreja Evangélica sem Reforma.
    Hoje, vejo que grande erro! Quando visualizo homens do caráter de J.C. Ryle e de George Whitefield, então eu sou compelido a ficar no mais profundo silencio, pois há uma remanescente (uma parte da congregação de Deus) entre eles. E quando leio os 39 artigos? Que benção!

    Em Cristo,
    Sola Gratia!!!

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  2. Incrivelmente desonesto usarem o nome de uma denominação abrangente pra tomarem posição tão pessoal, como não só a tolerância mas o apoio (!) à passeata gay. Quem é o sujeito pra falar pela igreja anglicana? Que a igreja particular assuma o que diz, e não tente se aproveitar do nome de uma denominação abrangente. Digo isso porque o caso ali é realmente pessoal: até mesmo um gay pode ser contra a parada gay.

    Mas bom post, certamente como a maioria eu cheguei a imaginar que o conteúdo seria o contrário quando li o título. :)

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  3. Anônimo disse...

    Uma única razão para não ser protestante. Não é bíblico.

    Mas o catolicismo é bíblico ?

    Quem se obrigou ao "Só a Bíblia" foram os protestantes.

    Nós católicos não estamos obrigados ao "Só a Bíblia".

    Seguimos o magistério da Igreja, coluna e sustentáculo da verdade(Timóteo).

    São os protestantes que devem provar pelo critério que escolheram suas próprias teorias, teologias, crenças e costumes.

    Amarraram uma pedra ao pescoço e serão julgados pelos critérios que desejam impor aos demais.

    O protestantismo não é bíblico e assim os protestantes que dizem "Só a Bíblia" adotaram um critério anti-bíblico para justificarem suas aberrações teológicas.

    O protestante grita: "Só a Bíblia".

    O protestante diz que a Bíblia é suficiente.

    Então onde está na Bíblia que alguém pode reformar a Igreja Católica ?

    Onde está na Bíblia que Lutero seria levantado para reformar a Igreja Católica ?

    Onde está escrito na Bíblia que depois da "reforma" alguém pode discordar de Lutero e fundar outras denominações ?

    Quem está salvo ?

    Quem permaneceu com Lutero ou quem fundou uma nova denominação ?

    Onde está na Bíblia a orientação para que alguns permaneçam com Lutero e outros o deixem ?

    Onde está na Bíblia a orientação para que um crente abandone sua denominação ? Quem está salvo ? Aquele que ficou na denominação, aquele que dela saiu ou aquele que fundou uma nova seita ?

    Respondam pela Bíblia.

    Onde está na Bíblia que a própria Bíblia é a única fonte de revelação ? A Bíblia diz que a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade. Onde está na Bíblia que a Bíblia é a coluna e sustentáculo da verdade ?

    Ora, só existem duas possibilidades. Ou Lutero acertou ou Lutero errou.

    Se Lutero foi levantado por DEUS, o que faz o protestante que não permaneceu com ele ?

    Se Lutero foi levantado pelo diabo, onde está o protestante que não adere a Igreja Católica ?

    E como podem dizer os protestantes que a Igreja Católica foi fundada por Constantino e ao mesmo tempo aceitarem a reforma de Lutero a partir desta suposta Igreja de Constantino ?

    Respostas bíblicas. Nada além da Bíblia.

    Sem aqueles chavões de costume.

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  4. A verdade é que todas as ramificações protestantes originais tem valores morais interessantes e dessa maneira são um exemplo (mesmo que incompleto) do que é ser Cristão.

    Mas a grande pedra no sapato do Protestantismo são as milhares de seitas (inspiradas pelo nefasto dogma do somente as escrituras) que se separaram das 'igrejas' mães e que envergonham o Cristianismo na atualidade, pois levantam a bandeira do liberalismo onde tudo aquilo que as Igrejas Históricas pregavam seja ultrapassado.

    Exemplos disso são fáceis de dar: casamento entre homossexuais (seja entre leigos ou membros do clero), a bizarra teologia da prosperidade, a eterna fragmentação sob a inspiração de uma entidade espiritual e por ai vai.

    A cada ano que se passa os novos protestantes se afastam mais e mais do evangelho da salvação e dão lugar ao evangelho da comidade.

    Não rezo pela 'conversão' de cristãos a Ortodoxia, pois creio que o ato de abandonar uma dada denominação e adentrar a Igreja é revelação do próprio Espírito Santo uma vez que nossa prática ascética assusta os cristãos do ocidente; mas eu oro sempre para que eles pelo menos centralizem suas crenças na Salvação e não em modismos pentecostais/neo-pentecostais.

    O Cristianismo no ocidente vive um péssimo momento e cabe as denominações históricas reeducarem o povo a qual lhes foi confiado.

    Abraços fraternos em Cristo, Nosso Salvador.

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