Teonomia: Conversão ou Coerção?


Rev. Marcelo Lemos

Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos” - Zacarias 4.6.

Alguns dizem que nós odiamos as pessoas. Dizem que nós queremos a morte dos homossexuais. Dizem que nossa pregação é uma pregação de ódio. Dizem que nossos porta-vozes são assassinos e legalistas. Qual o nosso crime? Acreditamos que a Lei de Deus fornece o padrão moral para nós, e para a sociedade.

Chalcedon Repor1, um dos maiores porta-vozes da reconstrução cristã, respondendo se uma sociedade cristã se dará pela força, conclui: “A solução para o pecado e apostasia generalizada não é coerção generalizada, mas sim conversão generalizada2. Outro ministério cristão dedicado ao tema, esclarece: “O modo moralmente correto dos cristãos corrigirem os males sociais... é por meio de iniciativas voluntárias e caritativas, a disciplina no lar, na Igreja e no mercado; porque o método apropriado de se mudar a ordem política e o direito civil não é a revolução violenta, mas na dependência da Regeneração, reeducação e reforma legal paulatina”3.


Até mesmo cristãos reformados, não comprometidos com a causa pós-milenista e teonômica, admitem o caráter evangelizador e não revolucionário da Teonomia. Solano Portela, ministro presbiteriano, em artigo dedicado exclusivamente ao tema, diz que a Teonomia ensina que “a tarefa dos cristãos seria reconstruir uma sociedade formada à luz da Lei de Deus, pela pregação do Evangelho e por esforço de pressão e persuasão junto ao governo e legisladores. Daí serem chamados... reconstrucionistas”4. Será que os teonomistas mordem? Estão querendo matar as pessoas por incredulidade? Estão buscando um meio de impor uma ditadura religiosa em suas cidades, estados e federações? 

Talvez a afirmação de Portela sobre os teonomistas fazerem pressão sobre governantes e legisladores assuste algumas pessoas. Por puro desconhecimento imaginam que os reconstrucionistas pretendem obrigar as pessoas a confessarem a fé cristã. Todavia, essas pressões visam exatamente impedir que, cada vez mais, os valores cristãos sejam marginalizados pelo Estado. Uma pressão tão legítima, que até mesmo pessoas que negam a Teonomia fazem o mesmo: por exemplo, os              protestos evangélicos e pentecostais contra o casamento gay, a liberação do aborto, ou contra a legalização da poligamia e a tributação sobre as igrejas. Os secularistas alegam que os cristãos não deveriam se meter na vida de quem não é cristão, ao que os cristãos respondem que a legislação tem o dever de respeitar os valores assumidos pela maioria da população.

Exceto pelos cristãos liberais, ou aqueles mais alinhados com as esquerdas, praticamente todos os cristãos concordam com essa pressão sobre políticos e Estados. Em nosso País temos a famosa “Bancada Evangélica”, que apesar de suas mazelas, tem conseguido alguns resultados positivos em prol dos valores cristãos:

  • A Lei das Palmadas. Essa lei que tinha como objetivo criminalizar pais que corrigem seus filhos vai diretamente contra os valores cristãos. Felizmente, a pressão dos evangélicos a impediu de ser votada recentemente5.

  • Homossexualismo e Psicologia. Recentemente o governo de esquerda tentou colocar uma mordaça nos profissionais de saúde, impedindo que eles sequer manifestassem opinião sobre o homossexualismo. Os evangélicos fizeram um lobby poderoso, e conseguiram impedir o autoritarismo esquerdista. Mesmo quando a mídia tentou ridicularizar a posição cristã chamando-a de “cura gay”, ainda assim os cristãos mantiveram firme sua posição, e pressionaram o governo6.

  • Casamento Gay. Essa tem sido uma das maiores bandeiras dos últimos anos. Cristãos de todas as confissões fazem pressão contra, ainda que nunca tenham escutado sobre Teonomia. Silas Malafaia7, pastor assembleiano, é uma das vozes mais criticas projetos de leis semelhantes. Outro nome forte nessa pressão é o do blogueiro Julio Severo8.
Antes de prosseguir a leitura, assista Entrevista com Bispo Josep Rossello, sobre a Pós-Modernidade!



Não estamos sugerindo que esses irmãos apoiam a causa teonomista, apenas demonstramos que, ainda não sendo teonomistas, todos eles concordam que é papel da Igreja influenciar a sociedade, e proteger os valores morais ensinados pela Religião Cristã. Os teonomistas fazem a mesma coisa, mas possuem uma esperança maior. Para nós, além de proteger os valores cristãos hoje, a pregação do Evangelho irá produzir uma avivamento mundial, e quando isso acontecer, a sociedade voltará a ser regida pela Lei de Deus. Infelizmente, somos interpretados por alguns como ensinando a Lei para transformar as pessoas, quando pregamos justamento o contrário: O Evangelho transforma, e o Espírito nos conduz à obediência a vontade do Senhor.

A Teonomia também vai além por admitir que a Bíblia não contém apenas as respostas para os problemas espirituais do homem, mas sim, para todos os problemas do homem. Isso inclui, por exemplo, a Educação e a Economia. Não é atoa que dos teonomistas nascem os melhores projetos de educação domiciliar, que tem revolucionado a educação americana. Gary North, economista de formação, e teólogo reconstrucionista, não apenas é autoridade reconhecida em seu campo, como é provavelmente o maior comentarista sobre economia bíblica, tendo já integrado o staff do Instituto Mises, mantido por economistas da Escola Austríaca. No Brasil, este Instituto já traduziu mais de 40 artigos de North9.

Em suma, defender a Teonomia é ir contra a mentalidade derrotista que predomina na escatologia moderna. Em linhas gerais, os cristãos de nosso tempo parecem admitir que o destino da Igreja no mundo é se tornar cada vez mais perseguida, a ponto de, em algum momento, nos vermos cercados pelo mais absurdo paganismo e relativismo moral, até que Cristo venha nos arrebatar. Neste sentido é como se a Igreja de nossa geração olhasse para a perseguição como um fim, e não com um meio. Ou seja, o ideal cristão não está em vencer, mas em ser perseguido.

Felizmente, as profecias bíblicas apontam para Cristo governando todos os reinos da terra. Felizmente, a história da Igreja primitiva, perseguida cruelmente pelo Império Romano, nos mostra que aqueles cristãos mutilados pela fúria da Besta, ainda que encarassem as perseguições de cabeça erguida, confiavam na Vitória de seu Cristo sobre os domínios do mal. Um livro publicado pela CPAD, “História Eclesiástica”, nos conta isso nas palavras de uma testemunha ocular dos fatos, Eusébio de Cesareia:

Esta era a situação ao longo da perseguição, que com a ajuda da graça de Deus, no décimo ano já estava terminada, ainda que de fato tenham começado a ceder depois do oitavo. Efetivamente, assim que a graça divina e celestial começou a mostrar uma preocupação benévola e propícia para conosco, também nossos governantes, aqueles mesmos que nos haviam feito a guerra, mudaram milagrosamente de pensamento e cantaram a palinódia, extinguindo mediante editos favoráveis e ordens cheias de suavidade a fogueira da perseguição, que havia alcançado tal amplidão”10.

Outra testemunha daqueles dias, o apologista cristão Tertuliano, zombava dos perseguidores: “Somos de ontem, e já enchemos as vossas cidades, as vossas ilhas e até os campos e o palácio e o senado e o foro; e só vos deixamos os vossos templos11. Segundo o profeta Daniel, uma pequena pedra lançada contra os pés de Roma, derrubaria todo o sistema pagão, e sua poeira encheria a terra... E foi justamente isso que sucedeu. E é nisso que acreditamos (Mt.16:18; Ap.6:2; 17:14; 19:11-16; Mt.13:31-33; Dn.2:35, 44-45; Rm.16:25-26; Col.1:6.).

Naturalmente, a medida que uma sociedade adquire novos valores, sua legislação acompanhará essa tendencia. Por qual razão a Europa de hoje, que um dia já foi Cristã, começa aprovar leis que protegem valores islâmicos? Isso se dá pelo obvio motivo de estar cada vez mais difícil ignorar o crescimento dessa religião entre eles. Se os ateus se tornam maioria, as leis passarão a proteger os valores destes. É evidente que, Deus operando um avivamento em uma Nação, de forma natural essa sociedade irá criar leis santas, tendo como base a Lei de Deus. Com isso, não se defende que os cristãos tomem o poder, e imponham uma nova moralidade a força, mas que através da pregação do Evangelho, transforem a sociedade.

Saiba mais sobre Teonomia e Escatologia da Vitória nos links abaixo:


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(11) (7) ROMAO, Frei Dagoberto; Compêndio de História da Igreja, Volume I; pg. 61.


4 comentários :

  1. Olá Marcelo! Graça e paz de Cristo! Que bom que seu blog está reformulado. Que Deus continue abençoando sua vida e ministério. A propósito, o texto ficou excelente! simples e profundo.

    quando puder faça uma visita lá no café! rsrs.

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    1. Obrigado pela visita. A gente, de fato, teve alguns problemas tecnicos, mas estamos tentando seguir em frente.

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  2. Apesar de não compartilhar a visão teonomista em sua totalidade, vejo a necessidade de cada vez mais nós cristãos influenciarmos a sociedade em que vivemos. Sempre admirei suas colocações bíblicas e ponderadas, diferente de alguns colegas reformados que parecem aceitar todo raciocínio teórico liberal e rejeitam posições sensatas ditas pelos "atrasados e legalistas" pentecostais. Que o Senhor continue abençoando o seu trabalho!
    visite nosso blog:http://historiacomcristo.blogspot.com.br/

    * Obs: sei que você é articulista no Genizah, por isso se puder nos diga que rumos estão seguindo este excelente blog? Parece que, a meu ver, perdeu a direção que outrora seguia. Me ajude nesta visão.

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    1. Jefferson, obrigado por suas palavras de incentivo. Eu pretendia hoje publicar mais um artigo sobre Teonomia, que será uma série abordando várias questões. Mas, antes vou publicar um sobre a questão do Genizah, especialmente sobre as acusações que Julio Severo me tem feito a mais de um ano...

      Estarei visitando seu blog. Obrigado por participar!

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