Pregação Expositiva - Parte IV

Pregação Expositiva

Parte IV
Por Marcelo Lemos

Como prometido anteriormente, hoje estaremos abordando um tema de grande importância: “Descobrindo o Telos: da narrativa ao sermão”. Um assunto que já introduzimos no artigo anterior, no qual falamos sobre a pregação de temas doutrinários.

A esta altura é provável que o leitor já tenha uma noção mais exata do que vem a ser o “telos” de uma passagem, tendo em vista o que foi dito terceiro artigo desta série. Recapitulando, “telos” é o tema ou objetivo central do autor do texto. Ou seja, é a resposta que encontramos para a obrigatória pergunta: “O que ele quer ensinar com isto?”.
Com essa pergunta em mãos o pregador é capaz de descobrir a intenção do autor. Para lograr êxito é preciso entender que o texto foi escrito para alguém, lá no passado, e não diretamente a nós. Para que possamos saber o que determinado texto tem a nos ensinar hoje, faz-se absolutamente indispensável descobrir o que ele ensinava aos seus leitores originais.
Todo este cuidado, que para muitos pode parecer mero academicismo frio, brota de uma sincera preocupação em se manter fiel as Escrituras. O pregador é a boca de Deus falando ao povo, mas isso apenas enquanto se mantém fiel ao que o Senhor, de fato, está dizendo através de Sua Palavra.

Não são poucos os exemplos onde claramente podemos identificar uma má compreensão do objetivo original do autor; em alguns casos, como no nosso primeiro exemplo, é praticamente impossível não suspeitar de má fé.
“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o senhor constituiu sobre a sua casa, para dar sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o seu senhor, quando vier, achar servindo assim!” (Mateus 24.45,46).

Pode não parecer, mas este é um texto-chave para as famosas Testemunhas de Jeová. Segundo elas esta parábola refere-se ao Corpo de Governantes, a turma que controla todos os passos da Organização. Na interpretação da seita os doze homens que dirigem o Corpo de Governantes é o “escravo fiel e prudente” responsável por nutrir o alimento espiritual da casa de Jeová. Com tal interpretação não é difícil entender o que levam os féis da seita a uma obediência cega ao que é ditado pela turma de New York. Por mais absurdo que isso soe aos nossos ouvidos é exatamente assim que eles ensinam:
“O Deus Jeová também nos deu sua organização visível, seu “escravo fiel e discreto”, formado por aqueles que são ungidos pelo espírito para ajudar cristãos em todas as nações a compreender e aplicar a Bíblia de maneira apropriada em suas vidas. A menos que estejamos em contato com este canal de comunicação que Deus está usando, nós não alcançaremos progresso na estrada para a vida, não importa o quanto leiamos a Bíblia” – A Sentinela; 1 de Dezembro; 1981.

Ainda que não entremos em controvérsias escatológicas, facilmente se percebe que nada disso tem haver com a intenção de Mateus nesta passagem. Qualquer interprete honesto deste texto, seja ele preterista ou futurista, perceberá que Jesus usa um exemplo da vida diária para ilustrar a responsabilidade individual de todos os discípulos. Nenhum outro significado é possível ao texto. Os interpretes da Torre de Vigia não conhecem, ou deliberadamente desprezam, o ‘telos’ da passagem em questão.
“Então mandou Faraó chamar a José, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó!” – Gênesis 41.14.

Não sei se o leitor percebeu, porém, o fato é que este texto nos ensina que um homem cristão não pode usar barba. Incrível? De fato, no entanto tal interpretação ‘corre solta’ em alguns círculos pentecostais... Neste exemplo estamos diante do mesmo desconhecimento, ou desonestidade intelectual, que vimos no exemplo anterior. Um pentecostal que faz tal uso das Escrituras a está deturpando tanto quanto uma Testemunha de Jeová faz. José tomou banho; fez a barba e passou perfume... Grande coisa! Ele não fez mais que a obrigação, afinal, ele havia estado apodrecendo num cárcere! Moisés não escreveu este pequeno detalhe da vida de José para ensinar seus leitores a como se apresentarem perante Deus, antes, o fez para montar um quadro mais amplo, no qual relata a virada que aconteceu na vida deste servo do Senhor.

A barba de José, infelizmente, é muito mal compreendida por muitos pentecostais devido à incompetência de muitos que pretendem interpretá-la. A primeira demonstração de incompetência aqui é tentar ver a frase “barbeou-se” aos olhos da cultura atual. Uma pessoa barbeada hoje normalmente significa alguém que não usa barba. Este conceito é errado, tanto hoje como ontem. “Barbear-se” significa apenas “fazer a barba”, que por sua vez, pode indicar alguém que tirou a barba completamente, como também alguém que a desenhou. O significado real da expressão só pode ser definido pelo contexto da frase, ou das circunstâncias. É justamente neste ponto que encontramos o segundo erro destes interpretes.

Além de pensarem que o texto foi escrito para os nossos dias, a incompetência de tais exegetas se esquece de analisar o contexto. José estava preste a se apresentar perante um rei Egípcio. Uma rápida pesquisa informa ao interprete que os egípcios eram o único povo que gostava de “fazer a barba”; ou seja, eles rapam boa parte destes pêlos, fazendo um desenho muito fino no rosto. Portanto, é improvável que José tenha rapado completamente sua face. Sendo o seu objetivo estar apresentável ao rei certamente ele não faria tal coisa. Além disso, vale lembrar que futuramente Deus daria um mandamento que proibia os sacerdotes judeus de fazerem isso: “... não raparão as extremidades da sua barba...” (Lev. 21.5). Em outras palavras, para aqueles que se apresentavam diante de Deus o costume correto era usar a barba completa - sem jamais desenhá-la. Tal proibição se dá exatamente por ser um costume dos povos pagãos que cercavam os Israelitas, inclusive, o povo de Faraó! Portanto, nada justifica a exegese legalista que alguns pretendem, na verdade, a barba de Josué nos ensina exatamente o oposto!

Além do risco de falar bobagem, desconhecer o objetivo original do autor também nos torna incapazes de pregar o texto de forma eficaz. É possível ter uma saudável exegese do texto e, mesmo assim, não ter uma boa pregação.

Quando o pregador não tem domínio sobre o ‘telos’ do texto que está a expor, seu discurso poderá ser uma excelente aula sobre o mesmo, porém, dificilmente será uma pregação. Alguns autores, aliás, classificam a pregação expositiva como sendo uma “aula de Bíblia”. Em certo sentido é verdade. Todavia precisamos ter cuidado com tal definição. Uma aula, ou uma palestra, não é essencialmente uma pregação; logo, ainda que o sermão expositivo tenha a profundidade bíblico-teológica de uma aula, ele sempre dará um passo a mais - que é impossível de ser alcançado sem a idéia clara de qual o ‘telos’ do texto.

O que é o Telos da passagem? Telos é o objetivo central de um texto; é a lição que o autor pretendeu passar. Quando alguém escreve um texto, independentemente do estilo literário, ele pretende ensinar algo. Quando o leitor descobre o que o autor quis ensinar, ele descobre o ‘telos’ do texto que leu.

Duas coisas são importantes aqui. A primeira delas é que o ‘telos’ só pode ser descoberto por meio de uma sóbria exegese do texto, pois eu só entendo o que um autor quis dizer quando compreendo o contexto do autor, do texto e dos leitores originais. Nestes estudos estamos priorizando a homilética sem a menor intenção de minimizar o valor da exegese. Uma segunda coisa importante é que o ‘telos’ de uma passagem pode ser aplicado a qualquer contexto, mesmo só podendo ser descoberto a luz de seu contexto original. Simplificando, eu não posso descobrir o telos de I Coríntios 14 analisando os problemas da minha Igreja aqui em São Paulo, porém, uma vez que o tenha descoberto, ele pode ser aplicado eficazmente a estes problemas. Isto se dá porque o telos sempre se apresentará como uma verdade bíblica universal.

Assumindo que o pregador já terá efetuado a devida exegese do texto, estabeleceremos dois passos fundamentais para o uso homilético do telos de uma passagem; a saber: a) descobrir princípios teológicos; b) escolher um tema homilético.

I-DESCOBRINDO PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS

A título de ilustração tomaremos como base o texto de Josué 3, onde lemos sobre a Travessia do Rio Jordão. Escolhemos este texto devido sua popularidade e também por ser ele o texto oficial do 1º Concurso Nacional de Homilética, promovido pelo projeto “Olhar Reformado”. Confira as regras do CNH e participe!

Quais princípios teológicos podem ser extraídos do capítulo 3 de Josué? Se já temos feito a exegese do texto, resta-nos apenas procurar por verdades universais que o texto nos apresenta.

Num primeiro momento podemos redigir tais princípios teológicos a semelhança de uma teológica sistemática; ou seja, com uma linguagem mais técnica. Por exemplo:
  • Deus dirige e guia seu povo.

  • Deus dá mandamentos ao seu povo.

  • Os mandamentos vêm antes da vitória final.

A importância desta redação técnica é a possibilidade de compará-lo com outros textos bíblicos, a fim de descobrir alguma discrepância, ou até mesmo alguma eventual contradição. Porém, dificilmente se consegue pregar de forma tão técnica; por isso, podemos dar um passo a mais. Podemos, então, redigir estes mesmos princípios teológicos num formato mais prático, pensando mais em ensinar as pessoas que estarão a nos ouvir. Eles poderiam, por exemplo, ficam assim:
  • direção em estar submisso ao Senhor.

  • mandamentos em estar submisso ao Senhor.

  • Há mandamentos que antecedem a vitória final.

Tente o seguinte exercício: primeiro, retire de Josué 3 mais alguns princípios teológicos; redigindo-os de forma técnica e de forma prática.

Redação Técnica:
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Redação Prática:
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Tendo feito isso estamos pronto para começar a pensar homiléticamente.

II – ESCOLHENDO A TEMÁTICA DO SERMÃO



Se já temos descoberto as verdades teológicas contidas no texto que pretendemos expor, temos material suficiente para escolher a temática do nosso sermão. Na maioria dos casos seria impossível pregar todas as verdades teológicas que encontramos em um texto num único sermão; por isso, é aconselhável que o pregador selecione aquela que lhe pareça ser a central e pregue-a. Porém, nada impede que o pregador pregue sobre uma verdade que pareça secundária no texto, afinal, todos estes princípios estão ali por alguma razão. Mas, sendo possível, que se pregue todo o possível.

Como a passagem que selecionamos é uma narrativa, tomaremos a liberdade de dar uma dica ao pregador. Os textos narrativos são os melhores de serem abordados de ângulos diferentes, dependo do princípio teológico que desejamos abordar. O cuidado a ser tomado é recontar a história enfatizando a aplicação do princípio teológico. Por exemplo, imagine que você queria enfatizar uma verdade que se relacione com a fragilidade do personagem; neste caso, você deve enfatizar os detalhes que realçam a fragilidade dele e poder do inimigo. Se você começar falar sobre as belezas naturais da região, provavelmente sua mensagem ficará sem nexo.

No texto onde encontramos um povo que acabava de sair de uma crise existencial, devido à morte de Moisés, e se prepara para uma grande vitória; resolvemos enfatizar a importância que o texto dá para a obediência do povo aos mandamentos do Senhor. Deste modo o pregador tem em mãos uma interessante questão: as promessas já são reais para o povo, contudo, existe algo que antecede sua realização. Que seria? A obediência.

É interessante que o pregador pense neste principio na forma de tese; melhor ainda, ele deve redigi-lo como uma tese homilética: Hoje, iremos descobrir que a obediência nos permite viver os milagres do Deus”. Chamo de ‘tese homilética’ porque uma tese comum simplesmente diria: “A obediência nos permite viver os milagres de Deus”. O problema é isto já foi feito no passo anterior; agora nós precisamos pregar este princípio; portanto, precisamos falar ao povo qual é a tese central do sermão, ou seja, qual lição tem o texto a lhe ensinar.

Esta tese, evidentemente, deve estar encaixada, da forma mais natural possível, dentro de uma introdução apropriada à exposição que pretendemos fazer. Foi isso que tentamos fazer no exemplo que se segue, em uma introdução que busca levar os ouvintes a compreenderem o contexto da situação vivida pelo povo:

"Nosso texto hoje: Josué 3.1-17

Às vezes nos sentimos desprovidos da capacidade de avançarmos, de atingirmos nossos ideais e metas. São momentos nos quais necessitamos da mesma injeção de animo que Deus deu ao jovem Josué no capítulo primeiro:"

NOTA: De ‘cara’ já se buscou ‘fisgar’ o ouvinte fazendo referencia a importância prática daquilo que se vai pregar durante o restante do sermão.

“E sucedeu depois da morte de Moisés, servo do SENHOR, que o SENHOR falou a Josué, filho de Num, servo de Moisés, dizendo: Moisés, meu servo, é morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés. Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo.  Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria!” (Josué 1. 1-6).



NOTA: Por ter julgado importante explicar o contexto da passagem, o pregador usará um bom tempo da introdução para este fim. Todavia, tal exposição do contexto não é aleatória; observe que o pregador visa conduzir a mente do ouvinte a um ponto central: a incapacidade do povo; o grande poder de Deus e o que se deve fazer para desfrutar das promessas feitas por este grande Deus!

"Provavelmente os Israelitas, e também Josué, encontravam-se abatidos e desanimados com a notícia da morte de Moisés. O homem que lhes havia libertado das garras de Faraó estava morto. Quem sabe tenham imaginado que com Moisés havia morrido também a esperança de habitarem a terra de Canaã.

Mas os planos de Deus não estavam presos a Moisés, muito menos ao passado. Por isso, Deus fala diretamente a Josué, da mesma forma que fazia com Moisés. E a mensagem de Deus a Josué é clara, simples e poderosa: “Moisés está morto, mas minha promessa continua de pé. Assim como eu fui com meu servo Moisés, serei também contigo, Josué. Anime-se e vá a luta, pois vou lhe mostrar que o Deus de ontem é também o Deus de hoje!”.

Estou certo de que todos vocês estão familiarizados com o contexto desta narrativa, porém, não será perda de tempo relembrarmos rapidamente alguns dados sobre a história que é pano de fundo do texto sobre o qual vamos meditar.

O Capítulo primeiro nos mostra Deus dando esta injeção de animo a Josué, e também nos mostra as primeiras instruções que foram dadas ao povo;

No segundo Capítulo temos a interessante e instrutiva história dos espias que foram enviados a terra de Canaã, em busca de notícias sobre a terra. Josué desejava preparar uma estratégia militar para invadir a terra.

E aqui, no terceiro Capítulo, encontramos o povo diante de um beco sem saída, muito parecido com aquele que havia enfrentado diante do Mar Vermelho, enquanto fugia do exército de Faraó. Era o momento de Deus ensinar a Josué que, de fato, ele é o Deus de ontem e de hoje".

NOTA: Tendo explicado o contexto, o pregador passa a criar uma transição entre a introdução e o corpo do sermão. Dentro desta transição o ouvinte atento poderá identificar dois elementos fundamentais: a tese 1 e a frase de transição 2 contendo uma PALAVRA-CHAVE 3, as quais aparecem grifadas, pela ordem.

"As possibilidades de Josué terminavam ali. Nos dois primeiros versos do capítulo lemos que o povo chegou à beira do Rio Jordão e ficou acampando ali por três dias. Alguns exegetas sustentam que o povo precisou atravessar o Jordão justamente na época da cheia, assim, a menos que Deus operasse um milagre, nada mais poderiam fazer. O povo estava com o grito de ‘gol’ preso na garganta, todavia, restava-lhe apenas aguardar a orientação do Senhor.

Deus, por sua vez, não tardaria a dar suas ordens ao povo. Hoje, iremos descobrir que a obediência nos permite viver os milagres do Deus que é ontem, hoje e eternamente! Você que não tem conseguido desfrutar das promessas do Evangelho, já parou para pensar que a obediência é um elemento fundamental no nosso relacionamento com Deus? Observe algunsDADOS sobre esta narrativa:"

NOTAS:



1. A tese, como já vimos, é a verdade central do texto; é a lição que o pregador pretende ensinar aos seus ouvintes. Neste exemplo é identificada na frase: “Hoje, iremos descobrir que a obediência nos permite viver os milagres...”.

2. A frase de transição, nesta parte do sermão, é facilmente detectada no ultimo grifo: “Observe alguns dados sobre esta narrativa”. A chamamos de frase de transição, pois ela prepara o ouvinte para o que vem a seguir.

3. Uma boa frase de transição estará acompanhada de alguma PALAVRA-CHAVE, No nosso exemplo, a palavra-chave é “dados”, uma vez que se pretende destacar dados importantes encontramos no texto. Uso de palavras-chave ajuda o pregador a manter a UNIDADE do sermão. Uma vez que eu prometo falar sobre os “dados” do texto, não posso falar sobre as “qualidades” de Josué; etc. Uma outra vantagem é auxiliar os ouvintes a reterem a mensagem por mais tempo. São muitas opções de palavras-chave: lições; valores, dados, exemplos, princípios, verdades, mentiras, descobertas, alegrias, tristezas, desejos, conquistas, perdas, perigos, benefícios... A escolha da mais apropriada depende do que o pregador pretende ensinar]

* Tendo prometido falar sobre alguns ‘dados’ importantes sobre o texto em estudo, seus ouvintes esperam que você lhes mostre. Quais seriam estes ‘dados’? Na seqüência a seguir, observe que o pregador cita tais ‘dados’ recontando praticamente a história da travessia, sempre enfatizando detalhes que se refiram a disposição do povo em obedecer a Deus:

"Deus ordena que o povo siga os passos da Arca (Josué 3.2-4). Em pouco tempo, milhões de pessoas enfrentariam um caminho que desconheciam. No entanto, não estavam sozinhos. A Arca, símbolo da presença de Deus, caminharia na frente, guiando o povo que a seguiria. Por isso, o povo só deveria levantar o acampamento quando a Arca começasse a andar: “Quando virdes a arca da aliança do SENHOR vosso Deus, e que os sacerdotes levitas a levam, partireis vós também do vosso lugar, e seguireis!” (v. 3).

Os olhos do povo deveriam ficar fixados na Arca. Não poderiam se distrair com qualquer outra coisa, apesar dos preparativos necessários. Se a Arca caminhasse, eles caminhariam; enquanto ela estive repousada, eles permaneciam no mesmo lugar. Um outro detalhe interessante é que quando a Arca começasse a andar, o povo deveria manter uma certa distância dela: “Haja contudo, entre vós e ela, uma distância de dois mil côvados; e não vos chegueis a ela” (v.4). Qual a razão? A continuação do versículo explica: “para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir; porquanto por este caminho nunca passastes antes!”.

Dois mil côvados equivalem a algo perto de 1600 mts. A Arca caminharia na frente do povo, a fim de dar-lhe a direção correta. Lembre-se de que eles não conheciam o caminho. Todavia Deus conhecia o caminho como a palma de suas mãos. Alguns imaginam que a ordem para manter distância visa evitar que pessoas que não fossem sacerdotes tocassem na Arca; no entanto, a explicação que o próprio texto dá é a seguinte: “para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir”; ou seja, mantendo tal distancia, nenhuma das tribos perderia a Arca de vista. Caso milhões de pessoas seguissem a Arca de perto, aqueles que estivessem atrás perderiam a maravilhosa cena do Senhor os conduzindo.

Este mandamento do Senhor é muito semelhante ao que encontramos em Hebreus 12.1-2, no qual, o autor, logo após descrever a história dos heróis do Antigo Testamento, nos diz: “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus”.

Ontem e hoje, Deus permanece guiando o seu povo em meio aos desafios da vida.

Deus ordena que o povo se santifique (Josué 3.5). Santificar-se, no Antigo Testamento, referia-se a uma gama de ritos de purificação que o povo realizava. Este mesmo mandamento havia sido dado por Moisés, quando Deus apareceu ao povo no Monte Sinai: “Então Moisés desceu do monte ao povo, e santificou o povo; e lavaram as suas roupas!” (Êxodo 19.14). Diante do Jordão, o povo novamente aguarda uma manifestação poderosa do Senhor e, portanto, prontifica-se para contemplar a majestade de seu Senhor. Tente imaginar a cena. Milhões de pessoas purificando suas roupas e utensílios, sob o sol escaldante do deserto. Porque tanta dedicação? Por que eles desejam ver a glória de Deus sendo manifestada no meio deles!

Deus ordena que o povo dê ouvido à sua Palavra (Josué 3.9-13). Sabemos que o povo já conhecia a promessa sobre as maravilhas de Canaã. Apesar disso, dos versos 9 à 13, podemos ver que Josué anunciou-lhe novamente a Palavra do Senhor: “Então disse Josué aos filhos de Israel: Chegai-vos para cá, e ouvi as palavras do SENHOR vosso Deus” (v.9). Em sua pregação, Josué reforça a fé do povo.

Primeiro; ele os faz recordar de quem é o Deus de Israel: “Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós!” (v. 10 a). O povo de Israel, cercado por povos pagãos, mais uma vez teria a prova de servir ao único Deus verdadeiro!

Segundo; Josué lhe anuncia novamente a mensagem de sua esperança: conquistar Canaã: “e que certamente lançará de diante de vós aos cananeus,...” (v.10 b). Havia algum filho de Israel alimentando a dúvida ou o medo em seu coração? Algum dentre eles temia os desafios que se aproximavam? A Palavra de Deus veio lhes, mais esta vez, para lhes dar a certeza da fidelidade do Senhor.

Em terceiro lugar; Josué, em sua pregação, os faz ouvir, novamente, as orientações que precisavam seguir; ou seja, as ordens do Senhor. Todo pregador precisa ser repetitivo, vez ou outra. Isto ocorre devido a sermos tão tardios para ouvir e tão prontos a esquecer.

Observe o que aconteceu a este povo. Milhões de pessoas acampadas nas margens de um rio, incapazes de sozinhos avançarem mais um único passo que fosse. Mas Deus vem ao seu encontro, estende-lhe a Sua Mão, e povo passa o Jordão em terra seca".

NOTA: Tendo terminado de recontar a história da travessia do Jordão, o pregador só precisa aplicar sua mensagem a vida dos ouvintes e concluí-la. Observe:

"Quero chamar sua atenção especialmente para o tema da obediência. O povo acampado à beira do Jordão não estava com medo, nem procrastinando a travessia. Na verdade, demonstram um maravilhoso senso de obediência e submissão a Deus. Eles sabiam que atravessar o Jordão era necessário, contudo, esperavam pelas ordens do Senhor. Apenas Deus lhes diria quando e como atravessar aquele obstáculo.

Obediência é uma palavra-chave no dicionário do cristão. Algumas pessoas, a semelhança de Saul (I Samuel 15.22), acham que pelos seus muitos feitos, suas muitas realizações, poderão alcançar o favor de Deus. No entanto, a correção de Deus para Saul e para muitos hoje é: “Obedecer é melhor do que sacrificar!”.

Durante esta semana, ouvindo uma determinada rádio que se diz evangélica, escutei sobre um certo sacrifício que as pessoas estão fazendo para serem abençoadas. Algumas dão muito dinheiro; outras dão jóias e tem até aquelas que vendem o que possuem, com o objetivo de sacrificarem a Deus. Uma destas pessoas, em seu testemunho, afirmou que Deus é o “Deus do Sacrifício!”.

Percebo que o nome do culto desta tarde é “Tarde da Benção”. Um nome interessante, este. Espero, apenas, que você não tenha vindo atrás de um Deus de sacrifício. Espero, apenas, que você não tenha vindo atrás de um Deus que pode ser manipulado pelas boas obras humanas. Espero, apenas, que você não tenha a pretensão de que o seu dinheiro, ou o seu tempo, capaz seja de subornar a Deus. Espero, apenas, que você tenha pela convicção, de que aqui se serve a um Deus para quem “obedecer é melhor do que sacrificar!”.

Amados irmãos, percebam que no momento de conceder ao povo uma grande vitória, Deus convida o mesmo a submeter-se a Sua Vontade. Ele convida o povo a esperar n’Ele. Você tem esperado no Senhor? Ele convida o povo a confiar n’Ele. Você tem confiado no Senhor? Ele convida o povo dar ouvidos à Sua Palavra. Você tem dado ouvido à Palavra do Senhor? Será mesmo? Conheço alguns cristãos que possuem Bíblias mofando sobre alguma estante... O Senhor convida o povo a se santificar. Você tem dado valor a sua santificação “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14)?

Talvez eu esteja falando a alguém que esteja desanimado, temeroso perante as dificuldades da vida. Talvez eu esteja falando a alguém que precisa da mesma injeção de ânimo que o Deus de ontem e de hoje deu a Josué. Este mesmo Deus caminha com Seu povo nos dias de hoje. Porém, uma pergunta precisa ser respondida por você: estás disposto a viver em submissão à vontade do Senhor?".

No nosso próximo artigo eu quero falar sobre a Estrutura Homilética, uma ferramenta absolutamente útil e indispensável para todas as modalidades de pregação. Dominar a Estrutura Homilética é um passo fundamental para o pregador adquirir independência e segurança.

Ao comentar a Estrutura Homilética, o leitor irá perceber que o sermão acima transcrito não segue a risca todos os elementos considerados ‘tradicionais’ em um sermão; mais isto, cremos, apenas o ajudará a ver que as regras são para nos auxiliar, nos dar segurança e base para irmos além; jamais para nos tornar escravos delas.

Até nossa próxima aula, se Deus nos permitir.

Paz e bem.

2 comentários :

  1. Paz Marcelo,

    Ô rapaz, tu começa um concurso de homilética e dá o sermão pronto. (risos)

    Ótimo artigo, valeu.

    Ednaldo

    ResponderExcluir
  2. (Risos). Uma questão de didática. Quando fiz curso de roteiro começei a aprender, de fato, ao ler roteiros. O mesmo, penso, vale quando ensino homilética. É lendo, e compreendendo o que se lê, que o aprendizado vem. O mesmo vale para a escrita. Já reparou como os professores gostam de encher a paciencia da molecada com regrinhas gramaticais? Ora, elas são de grande valor, desde que o garoto aprenda a se expressar com elas, senão...

    Paz e bem.

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