Pregação Expositiva VII: Segredos de Uma Boa Introdução

Pregação Expositiva


Parte VII

Os Segredos Para Uma Boa Introdução (01)

Já escrevi aqui no blog que prefiro escrever todo o sermão, porém, nem todos pensam assim; a maioria dos pregadores fica satisfeita levando consigo apenas um bom esboço. De qualquer modo penso que há duas partes da mensagem que precisam ser previamente escritas: a introdução e a conclusão. No artigo de hoje, na série Pregação Expositiva, falaremos sobre as diferentes formas de se elaborar uma introdução.

O valor de conhecer e dominar estas diferentes formas é poder fugir da mesmice, ou seja, evitar que todo sermão seja introduzido da mesma forma. Não pretendemos exaurir todo o assunto, mas cremos que há ao menos seis formas diferentes de se elaborar a introdução da sua mensagem:

  1. Ilustração - Exemplificação
  2. Demonstração da Importância do Tema
  3. Referencia ao Ambiente
  4. Apresentação uma Definição
  5. Apresentação de Problema
  6. Explicando o Contexto da Passagem

1. Introduzindo com uma Ilustração (ou exemplificação).

A ilustração é uma das mais poderosas ferramentas da comunicação, seja oral ou escrita. Contar e ouvir histórias, provavelmente, as coisas mais prazerosas da vida, e uma das mais eficientes em se transmitir conhecimento. Assim nos ensina a vasta literatura mundial com seus contos, romances, fábulas, mitos... O pregador poderá se valer de tal ferramenta em seu ministério de pregação. Num texto recentemente publicado aqui no blog, ‘A Estratégia da Sedução’, Rev. Carlos Eduardo Brandão Calvani, temos um exemplo maravilhoso disso! No texto, nosso irmão utiliza-se de um conto infantil (O Pequeno Príncipe) para ilustrar um ponto que ele considera relevante sobre missiologia e evangelização.

Confira o texto clicando aqui.

Gosto do exemplo acima, pois ele me fala de algo muito importante: a criatividade do pregador. Já li o texto de Saint-Exupéry inúmeras vezes - foi um dos primeiros livros, de tantos que me seduziram; contudo, jamais vi na cena da raposa qualquer elemento ‘missiologico’. Calvani viu, e ao utilizá-lo de forma tão mestral, transformou sua predica (artigo?) em algo novo, original, profundo.

Alguns professores de homilética costumam definir a ilustração como sendo a ‘janela do sermão’. De fato, observem que no exemplo acima, Calvani não diz nada de novo quanto ao conteúdo da mensagem sobre evangelismo; porém, nós dificilmente nos esqueceremos dela, pelo simples fato de que ele viu na raposa e no Pequeno Príncipe, algo que antes de Calvani, não conseguimos ver! O uso da ilustração transformou sua prédica em algo magistral.

Iniciar um novo sermão não é tarefa fácil. Se você tiver tendência para a timidez, como é o meu caso, provavelmente você se sentirá bastante acuado, inseguro. Mesmo com o passar dos anos a sensação continua presente, principalmente diante de um auditório desconhecido. E é justamente na Introdução, momento de maior tensão para o pregador, que a mensagem deve despertar o interesse da congregação. Evidentemente que o uso de uma boa ilustração trará um bom resultado.

Charles Spurgeon, em seu sermão ‘A Chama Eficaz’, introduz sua exposição valendo-se de duas técnicas muito eficientes, uma delas, a ilustração. Com efeito, todo o seu sermão transforma-se numa exposição da história de Zaqueu (o que não é recomendado para a maioria das ilustrações, especialmente, extra-biblicas). Ao valer-se dos eventos ocorridos na vida de Zaqueu, Spurgeon desperta imediatamente o interesse de seus ouvintes...
“Vou usa o caso de Zaqueu como uma grande ilustração da doutrina do chamamento eficaz. Vocês se lembram da história. Zaqueu tinha curiosidade de ver Jesus Cristo, o qual estava virando o mundo de cabeça para baixo, e causando uma enorme excitação na mente dos homens (...) Porém, dois obstáculos se interpunham em seu caminho: o primeiro, havia uma grande multidão de pessoas que o impossibilitava de aproximar-se de Cristo; e segundo, era tão baixo em estatura que não tinha a menor esperança de poder vê-Lo por cima das cabeças das outras pessoas...” – Charles Spurgeon, ‘A Chamada Eficaz’, pregado em 30 de Março de 1856, na capela New Park Street, Southwark, Londres.

Quando introduzimos o tema do nosso sermão por meio de uma ‘ilustração’ ou ‘exemplificação’, tornamos o assunto da mensagem algo mais prático e mais palpável aos ouvintes, despertando-lhes o interesse pelo que temos a dizer. Desnecessário lembrar que a ilustração dele ter ligação direta com o tema a ser exposto; ou seja, deve contribuir com o sermão, afinal, o pregador não é contador de histórias...

Uma ilustração nem sempre é uma ‘história’. Os pregadores adventistas, por exemplo, costuma utilizar slides em suas pregações. Não sei se lhes é prática comum; apenas constato a prática em seus grandes eventos. Em tais slides o expositor apresenta fotos históricas, geográficas, ilustrações, gráficos, etc. Eu, de bom grado, classificaria tais recursos como ‘ilustrações’.

Em seu sermão ‘Está Consumado’, Spurgeon ilustra a sobriedade das ultimas palavras de Cristo, descrevendo a seus ouvintes o estado mental mais comum aos moribundos. Notem que ele não se vale de uma ‘história’, mas de forma criativa, exemplifica a situação, e demonstra sua relação com o que ele tem a dizer na pregação:
Irmão meus, eu gostaria que vocês observassem com atenção a singular sobriedade, o poder e a vivacidade da mente do Salvador, em suas ultimas agonias da morte. Quando dores e gemidos acompanham a última hora, freqüentemente tem o efeito de descompor a mente, de tal forma que nos é possível ao moribundo organizar seus pensamentos, ou havendo lhes organizado, consiga expressá-los de forma que os ouvintes compreendam. Jamais podemos esperar do homem a ponto de expirar, um notável exercício da memória, ou um juízo profundo sobre temas complexos. Porém, os últimos atos do Redentor estavam cheios de sabedoria e prudência, ainda que seus sofrimentos fossem terríveis, acima de qualquer medida... Observe como ele claramente discernia cada coisa! Quão claramente conseguiu ler, com seus olhos agonizantes, os símbolos divinos que os olhos dos anjos apenas contemplavam anelantes! Ele viu que os segredos que haviam surpreendido os sábios e assombrado os videntes, se cumpriam em seu próprio corpo!

Não devemos deixar de notar o poder e o alcance de Seu entendimento acerca da corrente que ligava o passado de sombras tipológicas, como o presente iluminado pelo Sol. Não devemos deixar de ver o brilhantismo dessa inteligência que discernia todas as cerimônias e sacrifícios em um único pensamento, e considerava todas as profecias como uma grandiosa e única revelação... “Está Consumado!” – Charles Spurgeon; ‘Está Consumado’, 01 de Dezembro de 1861; pregado no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

O pregador pode retirar suas ilustrações de diversas fontes: o telejornal, um filme, um livro, uma reportagem de revista, uma história em quadrinho, uma ‘tirinha’ de jornal, um testemunho, um biografia, uma conversa, um dado cientifico, um dado histórico, um blog, um site, uma novela... Alguns pregadores, inclusive, têm o habito de ‘colecionar’ ilustrações; apesar de pessoalmente não o fazer, tal prática parece ser bem útil. Todavia, acho desnecessário, e arriscado, fazer uso de livros de ilustrações. E isto pelos motivos mais óbvios que você possa imaginar: não há criatividade sua nela; inúmeras pessoas já a conhecem; o risco de forçar uma introdução apenas com o desejo de encaixar aquela ‘genial’ ilustração.

Em todo o caso, penso que para o pregador, principalmente aos que não se acham muito hábeis a ‘cavarem’ ilustrações, o melhor caminho é se valer das próprias Escrituras como fonte de ilustração. Imagine, por exemplo, que você o seu sermão do próximo domingo irá falar sobre a Eternidade do Nome de Cristo. Na sua introdução você poderá optar por contrastar a eternidade do nome de Cristo, com a fragilidade e temporalidade das realizações humanas, por maiores que fossem. A Bíblia pode te ajudar a ilustra isso! Veja o exemplo abaixo:
Os homens têm afirmado acerca de muitas de suas obras: “Permaneceram para sempre!”. Porém, quantos têm sido desiludidos! No período posterior ao Dilúvio, os homens construíram tijolos, pegaram a ‘massa’, e quando estavam construindo a antiga torre de Babel, disseram “permanecerá para sempre!”. Porém, Deus confundiu sua língua; não conseguiram terminá-la. Com seus raios a destruiu, deixando-a  como um monumento a insensatez dos homens.

(...)

Onde está Nínive, e onde está Babilônia? Onde estão as cidades da Pérsia? Onde estão os lugares altos de Edom? Onde está Moab, e onde estão os príncipes de Amom? Onde estão os templos e os heróis da Grécia? Onde estão os milhões que passaram pelas portas de Tebas? Por acaso não desapareceram todas? – Charles Spurgeon; ‘O Nome Eterno’; 27 de Maio de 1855, pregado em Exeter Hall, Strand, Londres.

No caso acima, contudo, vemos não apenas um bom exemplo de como extrair das Escrituras ilustrações para a sua Introdução (bem como para corpo da mensagem), mas também um exemplo do que deve ser evitado. Observem que na frase que destacamos em negrito há uma afirmação não confirmada pelas Escrituras: “Com seus raios a destruiu...”. Como sabemos, tal afirmação não pode ser comprovada na Bíblia Sagrada. Pode ser ter acontecido, ou não. Melhor seria dizer: “Não sabemos se Deus veio contra a Torre, ou se ele apenas a deixou abandonada. Quem sabe, porém, se Ele mesmo não enviou contra ela seus raios e a destruiu!”.

Este detalhe é importante: ao se valer de ilustrações bíblicas, tenha o cuidado de não ir além do que está escrito, ou de deixar claro aos ouvintes o fato de que você está lançando mão de uma conjectura. Também é desnecessário dizer que tal ‘conjectura’ deve possuir duas qualidades fundamentais: a) lógica; b) e ortodoxia bíblica e teológica.

Recentemente ouvimos famoso pregador assembleiano afirmando que Deus, ao soprar o fôlego de vida nas narinas de Adão, precisou ‘ficar de joelhos’ diante do homem. Isso parece possuir alguma lógica, mas não possui qualquer lógica, além de ser uma blasfêmia grave!

2. Introduzindo com uma Demonstração da Importância do Tema.

Ouvir é uma das coisas mais difíceis para o homem moderno. Preferimos ver, e ver elementos audiovisuais como a televisão, o cinema e o vídeo. Não há nada de errado com tais coisas por si só. Porém, cremos na primazia da pregação como meio da graça e, portanto, ouvir a exposição das Escrituras é algo que não pode ser dispensado.

O pregador precisa admitir, porém, que não viemos em condições ideais. É comum presenciarmos pregadores reclamando, até em cima do púlpito, da indisposição da Igreja em ouvir a exposição das Escrituras. Certamente trata-se um grave pecado, porém, a congregação não pode ser responsabilizada sozinha. Por que a culpa não recai também sobre a própria liderança que enfatiza mais o ‘show’ no culto, ou as manifestações sobrenaturais? Se a liderança assim a educa, como exigir algo melhor dela? Além disso, como reclamar de algum possível falta de interesse em ouvir a pregação, quando os pregadores não se dão ao trabalho de cuidar de seu trabalho?

Por qual motivo a maioria de nós não gosta de matemática? Simplesmente porque nossos educadores foram incapazes de nos mostrar a importância da matéria que nos ensinava; de modo que decoramos alguns princípios apenas por obrigação. O mesmo me parece aplicável a boa parte das mensagens que escutamos no culto. A menos que o pregador seja um imbecil que diverte a platéia com gritarias, demonstrações místicas questionáveis, e outras coisas do tipo, ele precisar despertar o interesse da Igreja pelo tema que será abordado. Uma das formas eficientes para tal efeito é a demonstração da utilidade e importância do tema para a vida da congregação.

Em outras palavras, o pregador pode iniciar a mensagem colocando-se no lugar de seus ouvintes: “O que isso tem haver com minha vida?”, “Porque eu prestaria atenção nesta mensagem?”, “Como isso se relaciona com as minhas dificuldades espirituais?”; e assim por diante.

Talvez você queira falar sobre algum tema doutrinário que, por algum motivo, pareça estar ‘batido’. Quem sabe seu tema seja a salvação apenas por Cristo. Ora, temos aqui um tema, aos olhos de muitos, ‘batido’. É bem possível que alguns de seus ouvintes pensem: “Nossa, isso eu já sei desde criança!”. Todavia, para nós que confiamos em Cristo, nunca nos cansamos de falar e ouvir a mesma coisa: “Salvação apenas por Cristo!”. Seria possível despertar o interesse de tal mensagem para aquele dia, aquela ocasião específica?

Veja como Spurgeon se saiu em determinada ocasião:
Apesar de estamos convictos que vocês, de modo geral, estão bem instruídos nas doutrinas do Evangelho eterno. Contudo, em nossas conversas com novos convertidos nos damos conta de quão absolutamente necessário é repassar nossas primeiras lições, e afirmar e demonstrar repetidamente essas doutrinas, que se encontram na base de nossa santa religião – Charles Spurgeon, ‘A Chamada Eficaz’, pregado em 30 de Março de 1856, na capela New Park Street, Southwark, Londres.

Um outro exemplo de demonstração da importância do tema:
Nesta tarde pretendo animá-los para que busquem o caminho do céu. Terei que expressar também algumas coisas severas acerca do fim dos homens, aqueles que se perdem no abismo do Inferno. Estaremos pregando sobre estes dois temas, com a ajuda de Deus. Porém lhes suplico, por amor de suas almas, que discirnam entre o que é verdadeiro e o que não é; comprovem se o que hoje lhes digo é a Verdade de Deus. Se não for, recusem totalmente; porém, se for verdadeiro e o recusarem, será para em seu próprio prejuízo; pois como terão de responder perante Deus, o grandioso Juiz dos céus e da terra, não lhes irá bem se depreciam as palavras deste servo e de Sua Escritura! – Charles Spurgeon; ‘O Céu e o Inferno’; 04 de Setembro de 1855; pregado ao ar livre em King Edward’s Road, Hackney.

Ao lemos a introdução acima tendo em mente o contexto no qual foi pregado, conseguimos apreciar melhor a habilidade que Spurgeon tinha em despertar o interesse de seus ouvintes para a importância urgente do tema que tinha para expor.

Um outro exemplo da genialidade de Spurgeon pode ser encontrado no próximo exemplo. No próximo sermão, Spurgeon pretende demonstrar que Deus é o autor da Salvação, por isso, o sugestivo título da mensagem: ‘Por que são salvos os homens?’. Apreciemos a forma como o ‘príncipe dos pregadores’ introduziu este grande sermão:
Ao considerar as obras de Deus na Criação, há duas perguntas que surgem de imediato a mente atenta, e que devem ser respondidas antes de podermos obter a chave para a filosofia e a ciência da própria criação. A primeira pergunta é a pergunta da autoria: “Quem fez todas estas coisas?”. E a segunda pergunta é a do objetivo: “Com qual propósito foram criadas todas elas?”. A primeira pergunta pode ser facilmente respondida por qualquer pessoa que tenha uma consciência honesta e uma mente sã, pois quando eleva seus olhos ao alto para ler as estrelas, verá que elas escrevem com letras de outro esta palavra: Deus.

(...)

A segunda pergunta, sobre o propósito da criação, não é tão fácil de responder fora das Escrituras; todavia quando lemos a Bíblia descobrimos este fato: assim como a resposta a primeira pergunta é Deus, então, a resposta para a segunda é a mesma. Para que foram criadas todas estas coisas? A resposta é: para a glória de Deus, para Sua honra, e para os eu prazer.

(...)

Agora, isto que é válido para as obras da criação, é igualmente válido para as obras da salvação...” – Charles Spurgeon; “Porque os Homens são Salvos”; 01 de Fevereiro de 1857; pregado no Music Hall, Royal Surrey Gardens, Londres.

A introdução acima é extremamente elaborada, uma vez fazer um paralelo entre a Criação natural, e a nova criação, a espiritual. Porém, assim como as anteriormente citadas, ele tem um objetivo básico: demonstrar a importância do que vai ser dito. É como se Spurgeon estivesse perguntando a cada um de seus ouvintes: Você sabe porque você foi salvo? Ora, temos em mãos uma pergunta que todo crente sincero almeja não responder equivocadamente!

Abram de Graaf, da Igreja Reformada no Brasil, utiliza-se deste método de forma magistral ao introduzir um sermão em defesa do pedobatismo. Não peço que nossos irmãos ‘imercionistas’ aprovem a tese de Graaf, apenas que apreciem a forma hábil com a qual ele desperta o interesse de seus ouvintes:
Quero perguntar uma coisa. Por que batizamos os filhos dos membros de nossa Igreja? Porque eles NÃO têm pecado? Não! As crianças não são batizadas porque elas são consideradas SEM PECADOS. Então, qual é o motivo? Porque eles têm fé? As crianças são batizadas por causa da fé delas, conforme as palavras do Senhor (Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será Salvo”)? Não, irmãos, não por causa disso, pois uma criança não tem fé, mas apesar disso, elas devem ser batizadas. Por que? Sobre isso quero falar agora. O nosso texto, I Corintios 7.14, é muito importante neste ponto... – Abram de Graaf; Igreja Cristã Reformada no Brasil.

Com palavras simples e rápidas, Graaf vasculha a mente de seus ouvintes a procura de alguma objeção que os esteja incomodando, ou alguma semente plantada por um mestre que discorda de sua confecionalidade. Mesmo que o ouvinte não concorde com a tese do pregador, certamente o ouvirá com atenção redobrada, pois, em ultima análise Graaf está dizendo: você quer saber porque ‘cargas d’água’ esse pessoal reformado batiza as crianças. Muito bem, hoje eu vou responder a sua pergunta.

3. Introduzindo com uma Referencia ao Ambiente.

Em alguns casos, principalmente diante de um auditório desconhecido, pode ser interessante iniciar a pregação fazendo algum referencia ao lugar onde se esta, a ocasião do evento, ou a liturgia da data.

Existem casos fácies para se fazer tais alusões, como, para dar alguns exemplos: a Ceia do Senhor, o Batismo, a Profissão de Fé, a Páscoa, o Natal, o Domingo de Ramos, etc. Todas estas ocasiões litúrgicas podem aconselhar algum tipo de referencia ao contexto em que ocorre a pregação, enfim.

No contexto pentecostal, especialmente assembleiano, é comum receber convites para se pregar em Congressos, enquanto que nos círculos reformados, pode haver convites para Conferências. Guardadas as definas diferenças entre estes dois tipos de eventos, ambos também podem facilitar alguma introdução na qual se faça referencia ao ambiente (lugar, ocasião, propósito, liturgia, tema, etc).

Uma advertência importante aqui é quanto a confusão que alguns fazem entre ‘quebra-gelo’ e ‘introdução’. São elementos oratórios relacionados, mas distinguíveis. Quase toda fala pública exige algum tipo de ‘quebra-gelo’, mas ele vem antes da introdução propriamente. Assim, a maioria das alusões ambientais que fazemos no inicio de nossa fala são uma forma de quebrar o gelo entre orador e auditório, mas não é, necessariamente, uma parte essencial da introdução da mensagem.

As alusões ambientais se tornam parte da Introdução apenas quando se relacionam diretamente com o tema que vamos abordar no corpo da mensagem. Do contrário, deveriam, penso eu, ser classificadas como ‘quebra gelo’.

No já citado sermão “O Céu e o Inferno”; Spurgeon, que pregava ao ar livre, iniciou sua fala com a seguinte referencia ambiental:
Em nossa terra é permitido falar abertamente, e nossa gente está sempre atenta a prestara atenção a qualquer que lhe possa dizer algo digno de atenção. Por isso tenho a certeza de que disporemos de um auditório atento, pois não há nenhuma razão para se supor outra coisa. Este campo, como estão todos conscientes, é de propriedade privada. E eu gostaria de sugerir àqueles que saem a pregar ao ar livre, que é muito melhor ir ao campo ou a um terreno desprovido de edifícios... - Charles Spurgeon; ‘O Céu e o Inferno’; 04 de Setembro de 1855; pregado ao ar livre em King Edward’s Road, Hackney.

Spurgeon, eu diria, está introduzindo sua fala, mas não o seu sermão. Porém, observem, que mesmo o ‘quebra gelo’ pode ser usado, em determinadas ocasiões, para o orador conquistar a simpatia do público. Em outras ocasiões pode ser necessário fazer algum agradecimento, algum elogio, etc. São coisas que devem ficar a critério do bom senso do pregador, e de forma algum, deveriam tomar o precioso tempo da exposição. Quando usado de forma criativa e sensata, o ‘quebra gelo’ pode ser grande utilidade para: a) deixar o pregador mais a vontade; b) predispor os ouvintes a escutar o que virá a seguir.

Quando o pregador usar alguma referencia ao ambiente parte integrante do seu tema, aí, tal referencia passa a fazer parte da Introdução do sermão. É o que Spurgeon logrou ao introduzir ‘Melhor dos Melhores’, pregado em 19 de Maio de 1896, no Tabernáculo Metroplitano:
A estação das flores chegou, e como elas são, em algum grau, emblemas de nosso Senhor; deveríamos buscar aprender o que Ele deseja nos ensinar por meio delas. Se a natureza agora revela suas rosas e lírios, ou se prepara para assim fazer, permita-nos tentar, não apenas contemplá-las, mas contemplar também a Cristo que é ‘tipificado’ nelas: “Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos Vales” – Charles Spurgeon, ‘The Best of the Best’.

No desenvolvimento do sermão acima, Spurgeon dedica-se a analisar a grandeza do Salvador, comparando, e contrastando-os, com as flores...

Vejamos mais alguns exemplos:
Quando me lembro que a Sociedade Bíblica, como a própria Bíblia, tem mais a temer da fraqueza de seus amigos, do que no pode de seus inimigos, sou motivado a dar voz a sentimentos impossíveis de resistir, e difíceis de esconder... – John Angell James; em discurso proferido em 24 de Abril de 1812, por ocasião do aniversário da Birmingham Bible Society.

O assunto que selecionei para esta noite é de natureza completamente prática. A fim de que você perceba sabiamente, que a Christian Young Men’s Association, considera temas sobre moral e piedade como uma parte de seu objetivo... E vocês não precisam ser informados sobre a importância das artes, das ciências, e da literatura; religião e moralidade são bem mais importantes, e não apenas com respeito à felicidade no mundo porvir, mas também da vida presente. Portanto, meu objetivo esta noite é o Fundamento, a Construção e a Eternidade do Caráter! - John Angell James; em discurso proferido em 09 de Janeiro de 1852, numa palestra para a Young Men's Christian Association in Birmingham.

Estamos vivendo entre a Páscoa e o dia em que nos lembraremos da ascensão de Cristo. Nós estamos lembrando estes fatos porque são muito importantes para a Igreja de Cristo. Foram muito importantes para a fé dos alunos naquele momento, mas não só naquele momento. Cada geração deve saber o que aconteceu com Jesus Cristo. Cada geração deve saber que ele morreu na Cruz. Que ele foi sepultado e depois de três dias ressurgiu dos mortos. Isso aconteceu no dia de páscoa. Nós lembramos isso faz duas semanas. E depois? Depois da sua ressurreição? O que Cristo fez depois? Sim, ele subiu ao céu! Mas isso foi 40 dias depois da ressurreição. O que ele fez durante estes 40 dias? Lucas escreve sobre isso e diz em Atos 1.3: “Depois de ter padecido, ele...” – Abram Graaf; Igreja Reformada no Brasil.

Neste estilo de introdução não é necessário que o pregador atenha-se a fazer referencias a eventos ocorridos diretamente ao contexto da igreja em si, como a data litúrgica, por exemplo. O caso de Spurgeon fazendo referencia a ‘estação das flores’ é um exemplo de tal afirmação. Além disso, o pregador poderá fazer referencias a noticias ou eventos atuais e importantes. No caso do pregador utilizar uma noticia que tenha, de antemão, despertado o interesse dos ouvintes, será inda melhor.
Um programa nacional de rádio que usa o telefone para diálogo com os ouvintes, passou duas horas recentemente concentrando-se no livro do Apocalipse. O locutor trouxe as seguintes perguntas no ar: "Você acha que todas essas recentes calamidades são o juízo de Deus pelos pecados do país? Você acha que o livro do Apocalipse está sendo cumprido? Você acha que estamos no fim dos tempos?".

O surpreendente é que esse é um programa secular de rádio. E a maioria das ligações respondeu sim, eles achavam que a sociedade tinha se tornado tão corrupta e imoral, que Deus teria de intervir com atos. Os ouvintes estavam convencidos de que Deus está avisando a nossa sociedade por meio de todas essas recentes tempestades e calamidades.

Por onde se vá parece que ouvimos conversas sobre o Apocalipse e profecias. As pessoas estão dizendo, "Definitivamente alguma coisa está acontecendo. Será que Deus está falando através de tudo isso? Será que essas calamidades significam que Ele esteja julgando as nações?".

Pense nas inúmeras tragédias que têm ocorrido nos últimos anos:

- O continente americano foi atacado pela primeira vez na história, com Nova York e Washington sendo os alvos do terrorismo.

- Furacões maciços atingiram a Florida causando estragos de mais de 20 bilhões de dólares, e deixando multidões sem teto.

- Tsunami atingindo a Ásia, matando centenas de milhares de pessoas, deixando milhões delas sem teto.

(...)

Lembre-se, não são os cristãos que estão lançando essas previsões sombrias. Elas vêem de cientistas, economistas, especialistas e escritores seculares.

Então, quero lhe perguntar: como cristão, o que você acha de todas estas coisas que estão vindo sobre a terra? Isso seria aquilo ao qual Jesus se referiu quando avisou, "haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das cousas que sobrevirão ao mundo"? – David Wilkerson; ‘A Reação dos Cristãos Diante das Calamidades’; 28 de Novembro de 2005.

Você pode não concordar com boa parte das conclusões escatológicas do nosso irmão Wilkerson, todavia, que isso não te impeça de apreciar de que forma magnífica ele introduz sua fala.

******


Restam-nos, ainda, falar sobre outras três formas de introduzir um sermão. Sobre as mesmas estaremos escrevendo futuramente. Aguardem.

Que Deus os abençoe ricamente, em Cristo Jesus.

Paz e bem!

Se estes apontamentos sobre homilética têm auxiliado seu ministério e pregação, auxilie-nos através da oração, indicando nosso site, e deixando o seu comentário. Sua participação é importante para nós. No caso de haver demora em nossas respostas, isto se deve ao nosso pouco tempo atual para a Internet.

9 comentários :

  1. Excelente como todos os outros, aguardo mais textos.
    Se um dia lançar um livro, eu já terei, pois estou copiando tudo, rs, se não se importar!

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  2. Oi Marcelo. gostaria de saber de onde vc compilou esses trechos dos sermões do Spurgeon
    abraços
    Armando Marcos
    BLOG: http://projetocharlesspurgeon.blogspot.com/

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  3. Grato pelo incentivo, irmão Diego! Fique a vontade!

    Graça e paz!

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  4. Olá, Armando! Olha, os sermão estão todos em www.spurgeon.org e www.spurgeon.com.mx

    Espero ter ajudado. Olha, ADOREI o seu projeto! Parabéns! Eu sempre quis algo assim no Brasil.

    Paz e bem a você!

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  5. jovem so da trabalho ninguem gosta muito de falar desse a sunto pois por isso que o nosso jovens estão se perdendo indo para o trafico prostituição jovem não da dizimo por isto e descartasdos fala se muito em grupo jovem mais cade este grupo tem que da trabalho para eles na igreja colocar para pregar fazendo evangelismo aaaa mais espera ai tenta fazer com eles um trabalho de despertamento espiritual para desenvolver suas atividade para o futuro de cada jovem na sua carreira espiritual muitos so quer cantar leva eles para o monte coloca para orar não deixa escapar saiba conversa pois muitos creceram ouvindo musica ou ouvindo a pai canta o fruto do amanha tem que ser regado e muito bem cuidado a ssim que o agricutor faz para que o alimento chega nas nossa mesas bem bonitinho

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  6. sandra de souza santos12 de novembro de 2009 às 21:05

    paz do senhor preciso de ajuda urgente,tenho que fazer um esboço para amanhã so bre a oração dominical ou seja o pai nosso e não consigo fazer uma introdução.

    sou seminaristae tenho uma avaliação de púlpito socorro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


    que Deus abençoe!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  7. Muito bom. Parabens. Minha oração é no sentido de que mais homens possam se interessar pela pregação reformada no intuito de alcançar almas e promover a glória de Deus. Pra isso é preciso reciclar e se preparar. Deus não quer tagarelas, ele deseja que sejamos fiéis ao que ele disse. No entanto, criatividade não é pecado. Paz.

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  8. Olá Marcelo
    Belo texto, muito claro e rico.
    Fico feliz sempre que vejo bom material na rede.
    Continue firme brother
    E que Deus o cubra de graça
    Abração!

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  9. Abração, Thiago; muito obrigado por sua visita e apoio. Sempre que puder, faça-nos uma visita. Olha, se você gosta de materiais relacionados a Homilética e Pregação, fique de olho das atualizações do nosso blog; em breve estaremos inaugurando aqui a Escola de Pregação...

    Paz e bem

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