Você Escreve Seus Sermões (Parte II)

Por Marcelo Lemos

Parte 2


Retomaremos no artigo de hoje o tema que abordamos no primeiro artigo desta série. Queremos crer que aquela nossa primeira conversa tenha te incentivado a iniciar a escrita de seus sermões, e te ajudado a abandonar qualquer conceito romântico sobre a arte de escrever. No artigo de hoje desejamos propor um roteiro básico para a escrita dos seus sermões.
É aconselhável que você já tenha em mente o que é, e como funciona a Estrutura Homilética do sermão. Você pode encontrar uma explicação detalhada sobre este assunto na série Pregação Expositiva, e no livro ‘Homilética: Breve Introdução a Arte de Pregar’, ambos publicados e disponíveis gratuitamente aqui no nosso site.
Ao utilizar o roteiro que agora propomos para a redação da suas mensagens, alie a ele os conceitos bacios da Estrutura Homilética, a fim de que o seu sermão possa ser enriquecido tecnicamente. Faça algumas experimentações a avalie as possibilidades de tal estudo. Esteja certo de que todo ganho nesta área acrescentará valor a seu ministério pessoal.


Vamos propor que ao iniciar a escrita dos seus sermões, o pregador o visualize como um texto dissertativo. Não se assunte antes da hora, ok? A dissertação não é nenhum bicho de sete cabeças, como a maioria dos estudantes imagina. Apenas não tenha preguiça e nem medo, invista em alguns minutos de estudo e, pronto, você estará apto a desenvolver um texto dissertativo sem maiores complicações.


A roteiro básico para um texto dissertativo é como se segue. Procure compreender a funcionalidade de cada parte, e exercite-se na aplicação das mesmas no seu dia-a-dia. Por enquanto, não se preocupe com a organização de parágrafos, com subordinação e coordenação, etc. Abordaremos estes assuntos futuramente.


Roteiro Para Texto Dissertativo
  1. Assunto


  1. Tema


  1. Tese


  1. Desenvolvimento da tese (o corpo da redação)


  1. Conclusão



  1. Título





Explicando o roteiro


ASSUNTO: quando vamos escrever uma redação, ou um sermão, precisamos saber qual o assunto que desejamos abordar. Os assuntos são praticamente infindáveis: família, sexo, amor, dinheiro, estudo, violência, guerra, desemprego, política, senado, corrupção, igreja, fé, ateísmo, enfim.





TEMA: todo assunto pode ser e deve ser restringido a um tema específico. Se você faz “família” o tema de seu texto, provavelmente não vai conseguir atingir um alvo especifico, pois dentro do assunto “família” existem muitos teses a serem tratados. Alguns exemplos:  a violência na família, a violência e a família, amor e família, família sem amor, Deus e família, fé e família, e assim por diante. O que se precisa entender aqui é que cada assunto pode ser analisado sob a ótica restrita de inúmeros temas.


TESE. Assim como todo assunto pode ser limitado a um tema específico, o tema por sua vez também pode e deve ser restringido a uma tese ou proposição. Analise os exemplos a seguir.


Assunto: Família


Tema: Deus e a família


Tese: A ausência de Deus na família é prejudicial.


Assunto: Família


Tema: A família e a Igreja


Tese: A família é a célula fundamental da comunidade cristã.


O que aconteceu em cada um destes exemplos? Algo muito simples e útil para o escritor: ele restringiu assunto e tema a uma tese (idéia) que ele pretende provar. É exatamente isso a tese: uma idéia que será provada durante o restante do texto, ou da pregação. O que você quer provar sobre Deus e a família? O que você quer provar sobre a família e a Igreja? Aquilo que você pretende provar é a sua tese.





DESENVOLVIMENTO DA TESE (Corpo da Redação)


Se você lança uma tese, como por exemplo, “A família é a célula fundamental da comunidade cristã”; exige-se que você tenha argumentos para demonstrar ao leitor, ou ao ouvinte, a veracidade de sua afirmação. Os seus argumentos são o Corpo da Redação, onde o escritor desenvolve (prova, demonstra) o valor de sua proposição.


Assunto: Salvação


Tema: A Salvação e Jesus


Tese: Jesus é o único caminho para a salvação!


[Desenvolvimento, comprovação da tese]


I – NÃO EXISTE SALVAÇÃO NAS OBRAS HUMANAS


II – NAS EXISTE SALVAÇÃO NA ESPIRITUALIDADE HUMANA


III – CRISTO REVELOU-SE COMO CAMINHO, VERDADE E VIDA!


Assunto: Salvação


Tema: A Salvação e o Espírito Santo


Tese: A ação do Espírito Santo é fundamental na conversão do pecador.


[Desenvolvimento, comprovação da tese]


I – O NÃO-REGENERADO NÃO É CAPAZ DE COMPREENDER O EVANGELHO


II – O CRISTÃO NÃO É CAPAZ DE PRODUZIR SALVAÇÃO NO NÃO-REGENERADO


III – O ESPÍRITO É QUEM ILUMINA A MENTE DO HOMEM


Assunto: A Escritura Sagrada


Tema: A necessidade das Escrituras


Tese: A Escritura Sagrada é indispensável para a vida espiritual do homem.


I – A REVELAÇÃO GERAL DEMONSTRA A GRANDEZA E A SABEDORIA DE DEUS


II – A REVELAÇÃO GERAL TORNA TODOS OS HOMENS INDESCULPÁVEIS


III – A REVELAÇÃO GERAL NÃO É CAPAZ DE MOSTRAR AO HOMEM O CAMINHO DA VIDA EM CRISTO


IV – DEUS, ENTÃO, REVELA-SE DE MODO ESPECIAL AO SEU POVO!


Apesar de não desejarmos entrar na técnica dos parágrafos, já podemos adiantar aquilo que deve ser óbvio. Cada um dos pontos acima (I, II, etc), os quais chamamos de Divisões Principais na homilética, pode perfeitamente funcionar como guia para o desenvolvimento dos parágrafos. Neste caso, com os três pontos acima já temos garantido três parágrafos no texto final. Se for o caso de se usar subdivisões – lembre-se da Estrutura Homilética -, cada um destes parágrafos poderá vir acompanhado de outros.  O importante é que em cada um deste pontos (I, II, III, etc), existe forçosamente um avanço no desenvolvimento da tese.


CONCLUSÃO: em outra ocasião entraremos com mais detalhes sobre as formas mais comuns de conclusão; no momento recomendamos, uma vez mais, que se tenha em mente a Estrutura Homilética, e os demais artigos da nossa seção de homilética. Falando por alto, a conclusão pode se dar por meio de uma ilustração, um apelo, uma aplicação, uma recapitulação de tudo que foi dito, e assim por diante.


TÍTULO: deixamos para falar por ultimo sobre este quesito por um motivo facilmente justificável: as pessoas confundem “assunto”, “tema”, “tese” e “título” com muita facilidade. O que é, afinal, o título de uma redação, ou de uma mensagem?


O título nada mais é que o nome que daremos ao nosso texto, ou sermão. É verdade que algumas vezes o título pode ser a própria tese da mensagem, mas nem sempre precisará ser assim. Daremos alguns exemplos:


Título: “Jesus é Sua Salvação?”


Assunto: Salvação


Tema: A Salvação e Jesus


Tese: Jesus é o único caminho para a salvação!


[Desenvolvimento, comprovação da tese]


I – NÃO EXISTE SALVAÇÃO NAS OBRAS HUMANAS


II – NAS EXISTE SALVAÇÃO NA ESPIRITUALIDADE HUMANA


III – CRISTO REVELOU-SE COMO CAMINHO, VERDADE E VIDA!


Título: “Espírito Santo e Salvação – Qual a Importância?”


Assunto: Salvação


Tema: A Salvação e o Espírito Santo


Tese: A ação do Espírito Santo é fundamental na conversão do pecador.


[Desenvolvimento, comprovação da tese]


I – O NÃO-REGENERADO NÃO É CAPAZ DE COMPREENDER O EVANGELHO


II – O CRISTÃO NÃO É CAPAZ DE PRODUZIR SALVAÇÃO NO NÃO-REGENERADO


III – O ESPÍRITO É QUEM ILUMINA A MENTE DO HOMEM


Título: “Alimento Para a Alma”


Assunto: A Escritura Sagrada


Tema: A necessidade das Escrituras


Tese: A Escritura Sagrada é indispensável para a vida espiritual do homem.


I – A REVELAÇÃO GERAL DEMONSTRA A GRANDEZA E A SABEDORIA DE DEUS


II – A REVELAÇÃO GERAL TORNA TODOS OS HOMENS INDESCULPÁVEIS


III – A REVELAÇÃO GERAL NÃO É CAPAZ DE MOSTRAR AO HOMEM O CAMINHO DA VIDA EM CRISTO


IV – DEUS, ENTÃO, REVELA-SE DE MODO ESPECIAL AO SEU POVO!


Fica mais fácil compreender o que é o título do sermão, ou do texto, quando pensamos nele como uma espécie de “propaganda” da mensagem. Em outras palavras, procure pensar no título como um convite capaz de despertar o interesse dos ouvintes pelo assunto que será abordado, mas sem entregar o bolo antes da festa!


Como, normalmente, não temos o costume de anunciar a liturgia dos cultos antecipadamente, acaba ocorrendo do título não ter muita utilidade para muitos pregadores e igrejas. Mesmo assim, devemos exercitar a arte de escrever títulos e, sempre que possível, anunciá-los e, quem sabe, até mesmo registrá-los.


No próximo artigo selecionaremos um dos esboços acima para demonstrar o uso prático dos mesmos na escrita da mensagem.


Paz e bem.

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