Apologia Para Dentro do Corpo...

Apologia Para Dentro do Corpo




apologia-corpo

Marcelo Lemos

Já que estamos falando sobre apologistas e métodos, eu gostaria de tecer alguns comentários para a apreciação e correção dos irmãos (*):

Quando se fala em apologia deve-se ter em mente que ela, em certo sentido, possui duas faces importantes: a primeira é apologia para fora do Corpo de Cristo; ou seja, a defesa da fé cristã diante dos ataques dos incrédulos [não-cristãos em geral]. A sua segunda face é a apologia para  dentro do Corpo de Cristo; isto é, a defesa da pureza doutrinária da Igreja.

Na primeira, penso que o maior erro é a ênfase demasiada no evidencialismo, ou pior ainda, a ênfase colocada sobre o pragmatismo. Na segunda, penso que o grande perigo é perdermos de vista o fato da catolicidade da fé.


O primeiro erro existe desde sempre e, na sua versão piorada, o pragmatismo, tem sido ainda mais prejudicado pela excessiva ênfase ‘gospel’ nas ‘intuições’. O segundo erro, por sua vez, é herança que recebemos de um erro do puritanismo.

Evidentemente que quando fazemos apologia para “dentro do Corpo” o erro do evidencialismo também pode estar presente. Por exemplo, eu como assembleiano posso receber a seguinte replica de outro pentecostal: “Você diz que esse ‘re-te-te’ não é bíblico; porém eu fui curado num deles!”. No entanto, como em tese, todo que professa a fé cristã, assume o pressuposto de que a Bíblia é sua autoridade final, o problema pode ser mais facilmente contornado. Neste caso, devemos cuidar para que nós mesmos não passemos a argumentar – contra o objetor - assumindo como base o ‘evidencialismo’ (empirismo) por ele invocado. E ao mesmo tempo argumentar levando seu pragmatismo até suas conseqüências óbvias que, certamente, lhe conduzira a uma posição auto-contraditória, irracional.

Para o meu confrade pentecostal acima eu responderia algo como:  “Pessoas são curadas nas mais diversas religiões e seitas, e nem por isso você defende que elas sejam bíblicas e verdadeiras. E é exatamente por isso que Jesus nos alerta que os seus serão conhecidos pelos frutos, e não pelos sinais”.

Nos desvencilhando deste primeiro obstáculo a uma eficiente defesa da fé [o evidencialismo, e seus filhos]; devemos tomar o cuidado, então, com o segundo perigo que já citei: a tentação de negar a catolicidade da fé cristã. [Isso quando estamos fazendo apologia “para dentro do Corpo” – já que ‘lá fora’ não existe ‘fé’.]

Permita-me explicar: vocês já notaram que praticamente todos nós cristãos agimos, pensamos [e defendemos a fé] como se fossemos uma seita? Mesmo quando nós fazemos apologia para dentro do Corpo, nós pensamos em termos de “eles” x “nós”. É um erro comum a todos nós: a vocês e a mim. Parece um vírus que está no sangue!

Este ‘vírus’ não me deixa satisfeito em apenas criticar o erro que vejo no pentecostalismo, ele me incita a considerar todos os pentecostais como um filho da perdição! Ele não me permite apenas criticar o cessacionismo, o pré-milenismo, o pré-tribulacionismo, etc.; ele me conduz a idéia que eu sou “cristão verdadeiro” e os demais não o são!

Todavia, esta postura [que eu chamo de sectária], não obstante ser tão comum entre nós chega a ser virtualmente estranha ao pensamento de grandes Reformadores, como por exemplo, João Calvino. Se vocês lerem as Institutas da Religião Cristã, irão perceber quanto afastamo-nos de seu pensamento em direção a postura segregacionista dos puritanos.

Para Calvino, uma Igreja deveria ser identificada pelos seus elementos essências. Para ele, isso queria dizer inclusive a correta administração dos Sacramentos [batismo e ceia]. Tendo os elementos essências da confissão de fé crista [tbm os credos], não importa que outra pureza eu nela identifique, temos ali uma ‘verdadeira’ Igreja de Jesus.

Não que isso signifique que Calvino não pregasse e escrevesse ferinamente contra todos os erros que identificava. Muito pelo contrário. Significa apenas que ele não cometia a loucura comum em todos nós: matar a ovelha quando o alvo é o carrapato.

Paz e bem

(*) Texto originalmente escrito e publicano na Comunidade Apologética Cristã Evangélica, Orkut.

0 comentários :

Comente e faça um blogueiro sorrir!

Reservamos o direito de não publicar comentários que violem a Lei ou contenham linguagem obscena.