Arminianos Contra Romanos 9 (Parte 2)

Arminianismo VS Romanos 9


= Segunda Parte =


Marcelo Lemos

Conversando sobre as Doutrinas da Graça, quase sempre escuto a seguinte pré-defesa: “Por favor, não me venha com Romanos 9 – pois sabemos o que mesmo se refere apenas a nação de Israel”. Claro, quando isso ocorre, meu interlocutor possui algum grau de treinamente teologico (ou pelo menos, pensa que tem). Acho compreensível que tentem se esquivar do texto Bíblico. Uma vez provada que o mesmo faça menção a Israel, a pagãos, e indivíduos; o arminianismo não pode mais ser uma opção para a mente que deseja ser fiel a Palavra de Deus.

Uma outra objeção muito comum; e, ao que me parece, mais utilizada por aqueles sem tanto treinamente teológico, alega que o texto fale simplesmente de uma “eleição ministerial”, sem muito a ver com “salvação”. Sobre esta aberração exegética falaremos em outra oportunidade, se Deus nos permitir.


Como sabem, estamos analisando o artigo “A Interpretação de Romanos 9 à Luz da Ortodoxia”; de autoria do diácono Ebenezer José de Oliveira; e publicado pelo site arminianismo.com. Caso seja seu primeiro contato com esta série, aconselho que leias o primeiro artigo-resposta que publicamos aqui:
Fala Romanos 9 que Deus escolhe homens, independentemente de sua origem etnica; ou diz apenas que Deus pode escolher, e rejeitar homens apenas dentro da nação de Israel? Responderemos esta questão no artigo-resposta de hoje. Como o artigo do irmão Ebenezer é dividido em seis partes, contendo, cada uma, um argumento; tentaremos seguir o mesmo cronograma. Falaremos hoje sobre o primeiro argumento arminiano sobre o texto bíblico em estudo.
PRIMEIRO ARGUMENTO:

O TEMA NÃO É ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO GERAL, MAS DE ISRAEL


Quanto ao capítulo 9 nem mesmo Calvino pôde negar que seu tema estava intrinsecamente ligado à reprovação dos judeus, ou mesmo, a rejeição de uma parte da nação de Israel. Vejamos o que Calvino comentou:

“1. Digo a verdade em Cristo – uma vez suposto pela maioria que Paulo se declarara inimigo de sua própria nação, de maneira que de alguma forma se fizera suspeito – até mesmo para os próprios domésticos da fé – de ensiná-los a apostatarem de Moisés, então ele prepara a mente de seus leitores, à guisa de preâmbulo, antes de entrar na discussão do seu tema proposto. Neste preâmbulo, ele se desvencilha da falsa suspeita de ser hostil para com os judeus. Visto que o tema carecia de apoio de juramento...”. “2. Que tenho grande tristeza. É bastante habilidosa a interrupção que o apóstolo faz de seu discurso antes de declarar o tema. Não era ainda oportuno mencionar abertamente a destruição da nação judaica.” (João Calvino, Romanos. Edições Paracletos, p. 322, 323).

Reparem que o argumento do autor visa passar a idéia de que os calvinistas neguem (ou, ao menos, a idéia de que precisem negar) que tal texto refira se a Israel: “nem mesmo Calvino pôde negar!” – regozija-se o autor. Porém, nenhum calvinista nega que o texto fala especialmente da eleição de Israel. Não negamos, e nem precisamos negar o fato, pois é sobre ele mesmo que estabelecemos a doutrina bíblica. (Risos!!)

O autor conclui seu pensamento alegando que: “O tema proposto por Paulo, tão melindroso de Paulo falar pros judeus, no comentário de Calvino era “a destruição da nação judaica”. Portanto, a análise desse discurso de Paulo no capítulo 9 de Romanos, baseando-se nas fontes calvinistas, epígrafes da Bíblia de Genebra e comentário de Calvino, infere, necessariamente, que o tema principal desse capítulo fala da rejeição de uma parte da nação de Israel, ou da reprovação de alguns judeus na carne, e não da humanidade ou dos homens em geral. Sendo assim, é absolutamente infundado e absurdo o argumento que Romanos 9 trata da eleição e reprovação absolutista individual de todos os homens em geral.Sendo assim, é absolutamente infundado e absurdo o argumento que Romanos 9 trata da eleição e reprovação absolutista individual de todos os homens em geral”.

Mas, eu pergunto: porque é absurdo que o texto implique na eleição individual de cada ser humano? O tema central do argumento de Paulo é a eleição de Israel, até porque Paulo esta falando com eles! Todavia, ela é também forçosamente individual e aplicável a toda a humanidade, pois do contrário não seria aplicável a ninguém, nem mesmo aos judeus. Quando Deus escolheu Jacó, ele odiou a Esaú (v. 13). Deus poderia ter amado os dois, afinal, o amor e o ódio de Deus foram aplicados “não tendo eles ainda nascido, nem feito bem ou mal, para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por causa daquele que chama” (9. 11). Deus não quis amar aos dois: a um amou, a outro odiou. Por qual razão? Porque Ele quis assim! Este é o argumento de Paulo! E odiou mesmo, e não apenas ‘amou menos’ como tantas vezes sugerem os arminianos (cf. grego “miseo”: Mt. 5. 43,44; 6.24; 24.10; Lc. 1.71; 6.22; 6.27; 14.26; 16.13; etc).

Para que o argumento pudesse se sustentar, no mínimo seria preciso que Paulo afirmasse que Deus usou de um artificio não utilizado em outras ocasiões, ou em outros povos. Todavia, é justamente o contrário a tese de Paulo, como veremos adiante. Com efeito, o argumento de Paulo é que Deus pode dispor dos indivíduos que fazem parte do Israel carnal, da mesma forma como dispões do indivíduos que não fazem parte do Israel carnal. Com isso, cai por terra este argumento tão pouco engenhoso!

A salvação de Israel, de modo especial e seletivo, implicou no abandono do restante da humanidade, entregue ao paganismo. Deus recusou-se a dar a Esaú o mesmo amor que dispensou ao povo do Pacto! O Povo do Pacto recebeu as promessas, os mandamentos, a orientações – o mesmo cuidado não foi dispensado aos demais, ainda que Deus os condene por seus pecados. Com isso, os descendentes de Esaú, bem como a maior parte da humanidade antiga, seguiu o curso do seu próprio pecado, sem nenhuma luz no fim do túnel. Tentar negar este fato é uma loucura sem tamanho, pois implica negar a eleição da própria nação de Israel! A eleição de um povo é a ‘não eleição’ dos demais! O favorecimento de um povo implica no ‘não favorecimento’ dos outros povos. Do contrário, nenhum deles foi eleito.

Além disso, a universalidade da Eleição, bem como sua individualidade, é comprovada ainda pela ilustração utilizada por Paulo no versículo que citaremos agora:
“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” – Romanos 9.17, 18.

Qual é o mesmo o tema central do Capítulo? Isso mesmo! – a eleição de Israel! Ora, vemos aqui um argumento que não diz respeito a Israel! Paulo diz aos judeus que Deus tinha total liberdade sobre eles, assim como tinha total liberdade sobre Faraó. Eu vou repetir a afirmação acima, pois imagino que alguns nunca pararam para refletir sobre ela: Paulo diz aos judeus que Deus tinha total liberdade sobre eles, assim como tinha total liberdade sobre Faraó!

Ou seja, Paulo apresenta aos judeus o caso de Faraó para mostrar que Deus dispunha dos indivíduos pagãos como bem entendida, e que o mesmo princípio se aplicava aos indivíduos que pertenciam, pela circuncisão da carne, a Nação do Pacto! Deus endureceu o coração de Faraó! Deus o fez oprimir a Nação do Pacto! Deus o fez ‘dar ouvidos’ as desculpas dos magos egípcios! Deus o fez perseguir o povo! Deus o fez estúpido o suficiente para entrar no Mar Vermelho, mesmo depois de uma dúzia de pragas! Em outros termos, Deus endureceu o coração de Faraó; e por qual motivo? “Para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (v. 17).

Para o judeu, Deus podia fazer o que bem entendesse com individuos fora de Israel, mas não com eles! ‘Nós somos especais’; eles diriam! Nós temos a circuncisão da nossa carne como prova de que somos especiais! ‘Negativo’; responde Paulo, Deus pode agir como vocês exatamente como agiu com Faraó: livre e soberanamente! Nós, quer judeus, quer gentios, somos o que Sua Vontade determinar!

Mas, como pode isso? Paulo esta falando do direito que Deus, como Oleiro, tem de fazer o que bem quiser com os indivíduos que fazem parte da nação de Israel, e para ilustrar este fato, ele fala de um individuo pagão, que não faz parte da nação de Israel! Querem mais nítida prova de universalidade que esta? Se não fosse a eleição igualmente aplicada a todos os homens, e a todas as nações, teria Paulo usado o direito que Deus tem sobre um rei pagão, e inimigo Numero Um dos judeus, para ilustrar o direito que Deus tem sobre os indivíduos que pertencem a nação do pacto? Portanto, temos aqui estabelecida tanto a individualidade quanto a universalidade da eleição.

Outro detalhe exegético que não podemos deixar passar, é o fato de que a eleição discutida em todo o texto por Paulo refere-se ABERTAMENTE a indivíduos, e não a uma coletividade abstrata como querem os arminianos. Paulo é bem claro ao dizer que Deus não rejeitou a Nação de Israel: “Porventura rejeitou Deus seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim” (Romanos 11.1). Indivíduos que pertencem a Nação do Pacto foram rejeitados, por livre e soberana vontade de Deus, SEM BASE NAS OBRAS, mas apenas por obra da GRAÇA:
“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal.



Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos” - Romanos 11. 2-7.

Sim! Evidentemente o argumento de Paulo é sobre os judeus, e fala aos judeus. Porém, seu argumento sustenta-se em que Deus faz com os "Israelitas na carne", o mesmo que faz com os indivíduos pagãos: escolhe aqueles que quer, e endurece aqueles que quer. Ele faz isso não apenas entre os gentios, mas também, entre os filhos de Abraão! Ora, a tese arminiana aqui analisada quer tirar da pena de Paulo a base de sua argumentação! E porque faz isso? Simples: como vimos no primeiro artigo, seu autor pretende encaixar a interpretação do texto a dogmas pré-estabelecidos; por isso, que tamanha liberdade em "não ver" a base do argumento de Paulo!

Agora, pensando novamente na acusação velada que o autor faz contra os interpretes calvinistas, por qual razão (que se me mostre apenas uma!), os cristãos e exegetas reformados iriam tentar negar que Paulo esteja falando da Eleição dos israelitas, se é justamente a eleição deles, que Deus operou de forma livre e soberana, uma das maiores provas bíblicas da realidade da nossa doutrina? Todavia, é sugestivo verificarmos que este primeiro argumento do irmão Ebenezer, fecha os olhos para a base do argumento de Paulo: a soberania de todos sobre todos os homens, quer sejam judeus, quer sejam gentios!

De modo que, concluímos esta seção afirmando que a primeira objeção proposta pelo irmão Ebenezer não se sustenta, pois,
  • A eleição descrita neste texto se estende a todos os povos, não apenas a Israel, apesar de Paulo estar falando diretamente a eles;

  • A eleição descrita neste texto aplica-se individualmente aos homens, judeus ou gentios, por livre e soberana escolha de Deus, de forma que as obras não influenciam na Escolha Divina: Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)” (9. 11). “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (9. 16). “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (9. 18). Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (11. 5,6).

Estes fatos, depoem contra a tese de que Romanos 9 fale apenas de algum tipo de eleição da qual foi alvo o povo de Israel. Isso é falso. O texto fala da eleição de povos: como Israel e povos pagãos; e também nos fala do livre direito de Deus em escolher e reprovar indíviduos, segundo Sua Vontade.

29 comentários :

  1. Marcelo Lemos,

    Continua muito relevante o assunto exposto.

    Continuarei acompanhando...


    Um forte abraço!


    Marcos Sampaio


    P.S. Eu respondi seu email dando as maiores informações sobre o CONVITE. Confira!

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  2. Pastor, graça e paz. Eu mandei um imail contendo um texto extraido do site Arminianismo sobre o texto Biblico de João 6 para você. Se for possivel, eu peço uma analise sua, similar a este texto de Romanos 9, que esta muito bom, assim como a refutação ao artigo do Pr. Ciro.
    Vou aproveitar como Vinicius, rsrsr.
    Aguardo ansiosamente.
    Desde grato.

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  3. Acabei de ler o mesmo e, em tempo oportuno, estarei postando aqui uma resposta bíblica.

    Obrigado pela contribuição; paz e bem!

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  4. Marcelo,

    Parabéns pela refutação. Fica claro que o Ebenézer tentou fazer uma cortina de fumaça, para desviar a atenção do leitor para o fato: Deus é soberano e elege quem quer!

    Em Cristo,

    Clóvis

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  5. Irmão Paulo Cesar;

    Fico feliz com sua participação aqui. Seu texto, porém, pode ser refutado facilmente. Primeiro, você fala de eleição coletiva; já o texto de Romanos fala do poder eletivo de Deus sobre indivíduos, como já demonstrei. Segundo, você fala de que o texto mostre uma eleição para serviço; já o texto de Romanos fala de eleição e reprovação final de indivíduos. Simples assim.

    Paz e bem

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  6. Seu argumento do "ódio incondicional" falha miseravelmente aqui.

    Primeiro, os judeus não tinham um vocabulário muito rico. Nem preciso ir muito longe: círculo e esfera são a mesma palavra em hebraico.
    Do mesmo modo, miseo significa quase todas as formas de "odiar" - incluso "amar os que te odeiam" e "rejeitar" ou mesmo "se afastar".
    Ainda que o NT seja escrito em Koine, esta característica se mantém devido à cultura da época - talvez não existissem tais palavras.

    E caso você insista nesta ideia de que miseo é o mesmo que o odiar da língua portuguesa, ou venha com o papo de que eu não li os versículos acima, te deixo esta:

    Lucas 14:26 King James:
    If any man come to me, and hate not his father, and mother, and wife, and children, and brethren, and sisters, yea, and his own life also, he cannot be my disciple.

    Odiar pai e mãe? Vindo daquele que apoiava a Santa Escritura que diz "Honrar pai e mãe"? Será? Será?

    Ah, confere no Textus Receptus, also. É o mesmo miseo! Pode confiar!

    Pra acabar: os versos de Paulo estão a séculos de distância um do outro:
    O mais velho servirá o mais moço - Gênesis
    Amei Jacó, odiei Esaú - Oseias

    Pena que o espaço é minúsculo aqui...

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  7. DOUTOR;

    Depois de todas as colocações que você fez, "odiar" continuou sendo "odiar". A não ser que você ache que ser "rejeitado" por Deus, ou "mantido longe" por Deus, seja algo melhor, menos terrível. O sentido do texto é claro: a um Deus amou, escolheu, bem quis, ao outro não. Os objetores podem dar volta ao mundo, com ou sem balão, e o texto vai continuar dizendo o que sempre disse: Deus salva uns, e condena outros, segundo Sua soberana e livre vontade.

    Abraços

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  8. Desculpe, mas quem deu voltas aqui foi você.
    1 - Eu afirmei que a conotação de odiar em português não é necessariamente a mesma de miseo em grego. E o dicionário Strong concorda comigo :P
    Logo o argumento de *ódio caprichoso divino* ("E odiou mesmo, e não apenas ‘amou menos’") é completamente destroçado por aquela passagem de Lucas (ou cê acha que eu odeio meus pais incrédulos?). Só isto destrói a retórica.

    2 - A outra parte é mais complicada: concordo plenamente que um foi aceito e o outro rejeitado, estando ainda em estágio embrionário. Mas, eles foram aceitos&rejeitados para o que, exatamente?

    3 - Por acaso você tem alguma informação se Esaú está no céu ou no inferno?

    Acho que é o suficiente para começar alguma investigação cética...

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  9. Querido DOUTOR,


    “Como está escrito: amei a Jacó (AGAPE) mas a Jacó odiei (MISEO)”.

    Veja, para interpretar um texto você não precisa somente de um diconário. Além de um dicionário você precisa também de um CONTEXTO. Em Romanos Deus diz que AMOU UM HOMEM e que ODIOU outro homem. Veja o contraste: uma ação positiva, AMOR, e uma ação negativa, contrária a amar. STRONG, dicionário que você mesmo cita, nos diz que o termo implica em DETESTAR, ODIAR. O CONTEXTO, nos dá um contraste é entre dois termos gregos: AGAPE [X] MISÊO: detestar, odiar, rejeitar, etc.

    De modo que tanto o DICIONÁRIO, quanto o CONTEXTO, atestam que “MISEO” significa DETESTAR, ABORRECER, ODIAR. The NAS New Testament Greek Lexicon define o termo como significando: odiar, perseguir com ódio, detestar, ser odiado, ser detestado.

    Agora, a objeção levantada por você, com base no texto de Lucas, não é de fato uma objeção. Segundo você, quando Deus diz que o cristão deve, se necessário, odiar os próprios pais, ou odiar sua própria vida, para poder segui-lo, estaria contradizendo o mandamento de “honrar pai e mãe”. O problema com tua objeção é que você não tem nada melhor para por no lugar. Se você trocar “odiar” por “desprezar”, ou “destestar”, fica tudo na mesma, pois qualquer leitor continuará com a impressão de todos estes termos, autorizados pelo dicionário, contrariam o referido mandamento. Para resolver a questão não vamos ao dicionário, mais ao contexto, que é a Parábola da Festa, e entendemos que trata-se de prioridades.

    Nos dois casos, o sentido do texto é perfeitamente esclarecido pelo CONTEXTO, e não apenas pelo dicionário. É o contexto quem decide a interpretação (a tradução pode ser a mesma, e é bom que seja). Vejamos este exemplo significativo:

    “Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque, ou há de odiar (MISEO) um e amar (AGAPE) o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mammon” (Lucas 16.13).

    Sua terceira objeção é que Deus “destetou” Esaú, mas que isso, na sua opinião, não teve haver com a salvação de sua alma. Tal objeção também não se sustenta de modo algum, já que o tema de Paulo, ao citar o caso de Esaú, é demonstrar quem é e quem não é Filho de Deus. Por acaso o senhor defende que um homem possa ser salvo SEM SER FILHO DE DEUS? Esaú, diz o texto, FOI REJEITADO POR DEUS COMO FILHO.

    “Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos, pois? Que há injustiça em Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecerme-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misercicórdia... Ou não tem o oleiro poder sobre barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? ... Vasos da IRA, preparados PARA A PERDIÇÃO!” (9.13-22).

    Por isso, repito, mesmo que você prefira “amar menos”, em nada muda o sentido do texto: que a Salvação é obra exclusiva da Graça, e é distribuída de modo Soberano e Incondicional entre os homens.

    Paz e bem

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  10. Again (sim, pode falar, eu sou chato mermo! :P):
    1 - Segundo você, no texto original, MISEO é exatamente "ódio figadal", a mais forte conotação possível. E eu te falei que este singelo argumento não se sustenta - e o que você fez foi justamente confirmar minha teoria! Aliás, citando a minha cópia do Strong:

    3404 miseo mis-eh'-o from a primary misos (hatred); to detest (especially to persecute); by extension, *to love less*:--hate(-ful).

    *Love Less* - amar menos. Um pouco mais suave do que o português. Mas esta questão está mais que fechada.

    Ao mostrar pelo menos uma condição na qual MISEO é menos que "odiar do fundo da alma", eu anulo a sua retórica. Eu não preciso demonstrar que o "amar menos" se aplica a Esaú, apenas preciso te obrigar a fundamentar melhor a contra-premissa. Coisa que eu já consegui (e no fim das contas, o fato de eu concordar com a sua análise de Lucas é um ponto a meu favor).

    2 - Pois bem: ainda tenho mais três análises sobre este trecho polêmico da Missiva de Paulo aos Romanos, e elas são bem mais 'animadoras' que a tradicional calvinista/reformada. Elas são relativamente fáceis de se achar: Wesley, SEA e Fé-Racional.
    Sendo uma delas feita por um filósofo e teólogo formado (mas não reformado :P), eu prefiro apelar para a autoridade delas. Depois eu posto um resumo (mas será meramente chover no molhado)...

    3 - Pois bem: se estamos falando de Esaú e Jacó, que tal os documentos primários acerca deles, e não o documento secundário?

    Na paz do Primogênito dos Mortos, até outra hora!

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  11. Caro DOUTOR;

    1.Não sei o que é “odio figada”, nunca ouvi tal expressão, e nunca a utilizei. Mas, parece que você me vê colocando em Deus, palavras tuas, um “odio do fundo da alma”. Tolice. Sim, defendo que Deus odiou Esaú – o texto bíblico diz isso -, mas nunca disse que Deus teve ódio como acontece nas paixões humanas. A escolha divina é racional, não emotiva. Deus ODEIA, Deus derrama SUA IRA. São termos bíblicos, não podem ser negados. Agora, a Bíblia nunca fala de um Deus ranzinha, babando de raiva feito um “Coronel Lula de Holanda” (Fogo Morto, Jose Lins do Rego). Novamente, DOUTOR, é uma questão de contexto. Obseve, por exemplo, que MISEO é usado para dizer que O MUNDO NOS ODIOU. Ora, o ódio do mundo contra a Igreja é do fundo da alma, como era do fundo da alma o ódio de Nero, Dioclesano, e dos radicais islamitas de hoje! Assim, COMO EU JÁ DEMONSTREI, não lhe basta um léxico nas mãos, você precisa ATENTAR PARA O CONTEXTO. Texto, sem contexto, pretexto para falar bobagens. Lembre-se desta regra básica da interpretação bíblica.

    2.STRONG, realmente, diz que “por extensão” pode ser interpretado como “amar menos”. Observe que este não é o significado do termo, mas uma possibilidade de interpretação, a luz de cada contexto. Por isso, OS DICIONÁRIOS NORMALMENTE trazem apenas o significado do termo: odiar, perseguir, detestar, aborrecer, etc.

    3. Além disso, COMO DEMONSTREI, trocar "odio" por qualquer outra possibilidade, não muda em nada o sentido do texto, a saber, que Deus escolhe salvar uns e condenar outros. Quando eu critico aqueles que, contra a doutrina Reformada, saem apregoando "amar menos", é justamente por causa deste fato. Vocês dizem isso como se tal coisa mudasse o sentido do texto. Pura tolice! Podem colocar a tradução que quiserem, e nada mudara. Tente!

    4. Você concordar com a minha interpretação de Lucas não é ponto a seu favor, apenas comprova, como eu disse, que os termos de um texto bíblico devem ser interpretados a luz do CONTEXTO. Um mesmo termo, em contexto diferente, pode ter esta ou aquela conotação. Deus tem paixões humanas? Não. Assim, não é um “ódio figada”, seja lá o que for isso. Os homens odeiam (MISEO) a Igreja do fundo de sua natureza corrompida”, “do fundo de suas almas”? Certamente! Então, neste caso, MISEO pode ser aplicado a um sentimento infame da natureza humana. Observe, UMA VEZ MAIS, que junto com o léxico deve caminha o CONTEXTO. É assim que se faz teologia.

    5.Sobre Esaú, eu citei o texto de Paulo. Ora, Romanos não é um texto secundário. Sua autoridade canonica é a mesma de todos os demais livros da Bíblia Sagrada. Desmerecer o texto de Paulo não favorece a sua tese, apenas te coloca contra a Escritura.

    6.Desmerecer o texto de Paulo também demonstra isto: que você não pode refutar minha afirmação de que, o contexto está falando DE SALVAÇÃO, e que, Esaú é tomado como exemplo de REPROVAÇÃO. Simples assim.

    Abraços.

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  12. Bem, vou ter que explicar algumas das minhas colocações aqui:
    0 - "Ódio figadal" é uma expressão antiga, da época em que as pessoas acreditavam que o fígado era o reservatório da raiva de uma pessoa. Por isso a expressão "ódio figadal" - um ódio vindo das entranhas.

    1 - Pra sepultar de vez o problema do verbo odiar: quando eu citei inicialmente a passagem de Lucas, eu quis mostrar que a tradução literal não era adequada naquele trecho. E portanto, deveríamos ir com mais cautela ante a tradução literal em qualquer trecho.
    E sim, toda a sua argumentação - exibir as várias formas de ódio apenas enfatizam esta afirmação - apenas confirma o ponto comum, de que devemos olhar o contexto.
    Para "salvar" a sua argumentação, você teria que especificar de que grau de ódio o contexto fala acerca de Deus e Esaú. Bem, isto tu o fizeste, mas tenho lá meus contras, e tentarei exibir aqui.

    2 - Quanto a eu chamar Romanos de texto secundário, não é nenhuma tentativa de negar inspiração à Sagrada Escritura - longe de mim esta heresia!
    É apenas um jargão comum à pesquisa historiográfica. Explico:
    Documento primário é o documento que atesta em primeira mão um fato. Por exemplo, uma filmagem crua de uma cena de guerra, o depoimento de uma testemunha, uma foto tirada no ato, um diário...
    Já um documento secundário é aquele que se apóia em outros documentos e opcionalmente em argumentos próprios, mas não fala de fatos novos.
    Neste caso, o relato de Paulo sobre Jacó e Esaú/Israel e Edom é um documento secundário - os documentos primários são o Livro de Gênesis e o Livro de Oseias.
    Então, já que Paulo se utiliza da Tanakh, temos que analisar também em que contexto estão as citações e não apenas o contexto local.

    3 - Enfim, este é o ponto onde a discussão realmente toma um rumo: em algum ponto da Tanakh vemos Deus odiando incondicionalmente e sem motivo algum ("odiei porque quis") a pessoa de Esaú?

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  13. Tenho a leve impressão que já postei aqui... Mas se eu estiver repetindo o post, mil perdões, basta apagá-lo. (deu blecaute estes dias, tanto na energia elétrica quanto nas minha sinapses cerebrais, hehe!)

    0 - "Ódio figadal" é uma expressão antiga. Há muito tempo se pensava que o fígado, mais especificamente a bílis, era o reservatório da raiva. Assim, ódio figadal significa aquilo que tu deduziste - ódio que vem das entranhas. Mais uma para o dicionário de cultura inútil!
    1 - Sepultando o miseo: o que eu estou colocando em pauta é que você usou versículos com a palavra grega miseo como evidência cumulativa de que neste verso ele também se aplicaria. Eu precisei mostrar apenas um verso no qual a a palavra "miseo" não significa "ódio", mas apenas "menos amor". Feliz ou infelizmente isto é ponto pacífico - ambos concordamos e podemos passar pra frente.
    1.1 - Assim sendo, fica a pergunta: que "miseo" Paulo está usando? Aqui você argumentou - com alguma coerência, é verdade - que é ódio mesmo. Assim sendo, me resta duvidar e fundamentar minha dúvida acerca disto - o que farei a seguir...
    2 - Quanto ao você afirmar que eu fiz pouco caso da Escritura, creio ser uma acusação muito da grave. Mas é mais pelo vocabulário utilizado - um jargão na pesquisa historiográfica.
    Explico: documento primário é aquele mais próximo de um fato ocorrido. Por exemplo, a foto de um acidente, um documento assinado pelo rei aprovando uma lei, um depoimento de um soldado de guerra...
    Já documento secundário é aquele que recorre a outros documentos para seu intento. Por exemplo, uma notícia de jornal coletando depoimentos, editando fotos e depois lançando nas bancas, este jornal é um documento secundário.
    Portanto, quando eu afirmo que Romanos é um texto secundário, longe de mim afirmar que o seu texto não é canônico. Estou apenas afirmando que Paulo se utiliza de outros documentos para formular seu raciocínio - diversas vezes ele fala "como está escrito". Eu sequer estou questionando o caráter inspirado de suas palavras, muito pelo contrário, ele se utiliza da Sagrada Tanakh parta dar peso a seu argumento.

    Mas enfim, explicado isto, vamos retornar à pergunta: o que podemos conclui acerca dos documentos primários (cabe a você citar quais são eles) que Paulo se utiliza, para compor tão polêmica carta?

    Por aquele que amou o mundo, até outra hora!

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  14. Ué, parou a discussão? Agora que tava boa! (e que eu tinha me lembrado dos posts...) Depois de falas empoladas de um lado e raciocínio sagaz do outro, queria ver: aonde é que está escrito inequivocamente que Jacó foi pro céu e Esaú foi pro inferno, e que tal fato fora irrevogavelmente decidido antes mesmo de eles nascerem?

    Mas já é de se esperar de um voluntarista que tem como paixão esculachar os outros.

    P.S.: esses dias minha mãe, mesmo sem instrução teológica alguma, destruiu o argumento calvinista! "É óbvio que Paulo fala de Jacó e Esaú que brigavam no ventre. Não tem nada de céu e inferno aqui!" Sábias palavras, mamys! Hahaha!

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  15. Como todo respeito, sua mãe cometeu um erro crasso na exegese que fez: ignorou o contexto. Analisar o contexto é requisito do qual o estudante das Escrituras jamais pode prescindir. Dentro do contexto o assunto é exatamente isto: a salvação e a perdição. E o autor usa vários exemplos para demonstrar que Deus faz o que quer com os homens, para salva-los ou codena-los segundo sua Vontade Soberana. Esau, Jaco, Faraó e os judeus são exemplos que Paulo cita para ilustrar a verdade teológica por ele defendida.

    Abraços

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  16. Até o momento você nem demonstrou suas assertivas, dado que a referência ao AT é forte e muda todo o panorama. Mas, vamos à sua tentativa:

    Como todo respeito, sua mãe cometeu um erro crasso na exegese que fez: ignorou o contexto.
    Errado. Quando Paulo fala 'O mais velho servirá o mais moço', ele cita a passagem de Genesis na qual Deus fala claramente (e minha mãe citou de cor): 'Há duas nações em seu ventre, e dois povos se dividirão; um povo mais forte que outro, o mais velho servirá o mais moço'.

    Dentro do ventre de Rebeca, estavam os patriarcas de dois povos. Deus afirmou coisas acerca dos povos, Israel e Edom, e não dos indivíduos. Tanto é, que eu poderia fazer uma pergunta: me aponte um único momento em que Jacó, em vida, mandou em Esaú. Pelo contrário, ele fugiu como um covarde, e voltou bem humilde, só pra enterrar o pai. E mesmo nesse momento ele se ajoelha e pede perdão ao irmão mais velho, com direito a um rebanho para aplacar a ira do irmão mais velho.
    Profecia FAIL??

    E quando Paulo cita Malaquias (amei Jacó, odiei Esaú), se refere novamente às nações. Até porque, Jacó e Esaú nunca se referem aos indivíduos exceto no livro de Genesis (pelo menos eu nunca achei)...

    A eleição incondicional não encontra nem mesmo brecha aqui, exceto se for pressuposta ou sugerida 'de antemão'.

    Analisar o contexto é requisito do qual o estudante das Escrituras jamais pode prescindir.
    Coisa que você não fez, e minha mãe fez em dois segundos! Perdoe a franqueza...

    Dentro do contexto o assunto é exatamente isto: a salvação e a perdição.
    Errado.
    É a escolha de Deus mediante a fé, em oposição às obras da Lei e à 'ascendência real' - e não uma escolha secreta, fatalista e fixada desde a fundação do mundo (uma coisa que, depois de muitas vezes notar, vejo que calvinistas inserem quase que inconscientemente).

    E o autor usa vários exemplos para demonstrar que Deus faz o que quer com os homens, para salva-los ou codena-los segundo sua Vontade Soberana.
    Errado de novo.
    Deus se utiliza dos humanos parta Seus propósitos, mas isto não acarreta que Ele precise sobrescrever a vontade de cada um deles. Até porque, do pouco que eu li sobre divine hardening, Deus não pega pessoas boas e as transforma em más (ou por acaso Faraó era um cara legal que iria liberar os israelitas na primeira pedida do maninho Moisés?).

    Esau, Jaco, Faraó e os judeus são exemplos que Paulo cita para ilustrar a verdade teológica por ele defendida.
    Que é a eleição mediante a fé, contra a expectativa judaica de ser em relação à ascendência real. E não uma 'loteria divina'.

    Aliás, te falta provar que Esaú está no gehenna agora - isto, utilizando o AT (já que Paulo na verdade cita o AT).

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  17. Acho que posso comentar trechos do texto, já que não toquei nele.

    Mas, eu pergunto: porque é absurdo que o texto implique na eleição individual de cada ser humano?
    Em si, nada. Ate porque sua frase é ambígua e deveria ser escrita assim, de acordo com sua pressuposição calvinista:
    "...na eleição INCONDICIONAL INDIVIDUAL..."
    Neste caso, realmente o texto sequer se aproxima disso.

    O tema central do argumento de Paulo é a eleição de Israel, até porque Paulo esta falando com eles!
    Com eles e com os goyim que também liam a carta. Mas sem desviar, se Paulo fala com os judeus, ele fala com pessoas que conhecem bem a Tanakh, e isto você praticamente ignora. Muitas coisas ali são típicas da cultura judaica.

    Todavia, ela é também forçosamente individual e aplicável a toda a humanidade, pois do contrário não seria aplicável a ninguém, nem mesmo aos judeus.
    Um argumento muito nonsense e sem nenhuma prova. Parece só uma tentativa de desviar a atenção.


    Quando Deus escolheu Jacó, ele odiou a Esaú (v. 13).
    Novamente, a citação de Malaquias se refere às nações e não aos territórios.

    Deus poderia ter amado os dois, afinal, o amor e o ódio de Deus foram aplicados “não tendo eles ainda nascido, nem feito bem ou mal, para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por causa daquele que chama” (9. 11).

    Muitas pressuposições em rajada. Primeiro: o amor&ódio é relativo à escolha para uma tarefa, um propósito, e não para a salvação ou perdição. O ônus da prova é seu.
    Segundo: a tua interpretação é basicamente trocar os versos de lugar: "Amei Jacó e odiei Esaú antes mesmo de eles terem nascido". O texto não está escrito dessa forma.

    Deus não quis amar aos dois: a um amou, a outro odiou. Por qual razão? Porque Ele quis assim! Este é o argumento de Paulo!
    Se encararmos como uma escolha para o serviço e não para a salvação propriamente dita, tem lógica: Deus pode usar quem Ele bem entender para ser a nação da aliança.

    E odiou mesmo, e não apenas ‘amou menos’ como tantas vezes sugerem os arminianos (cf. grego “miseo”: Mt. 5. 43,44; 6.24; 24.10; Lc. 1.71; 6.22; 6.27; 14.26; 16.13; etc).

    Este seu argumento indutivo vai pro saco somente com aquele exemplo de Jesus mandando odiar pai e mãe. E pior ainda, porque você cita textos em grego, e não em hebraico. Tudo bem, não é pouco provável que Paulo usasse uma cópia da LXX, então dá até pra deixar esta questão linguística passar.

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  18. Para que o argumento pudesse se sustentar, no mínimo seria preciso que Paulo afirmasse que Deus usou de um artificio não utilizado em outras ocasiões, ou em outros povos.
    Errado. O argumento de Paulo é que Deus sempre tratou Seu povo na base de fé e arrependimento, e não de ascendência real ou obras da lei mosaica. Isto sempre foi usado.

    Todavia, é justamente o contrário a tese de Paulo, como veremos adiante. Com efeito, o argumento de Paulo é que Deus pode dispor dos indivíduos que fazem parte do Israel carnal, da mesma forma como dispões do indivíduos que não fazem parte do Israel carnal. Com isso, cai por terra este argumento tão pouco engenhoso!
    Será?

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  19. A salvação de Israel, de modo especial e seletivo, implicou no abandono do restante da humanidade, entregue ao paganismo.
    Esta merece uma foto! Eu não li esta pérola!

    Primeiro, ou você não revisou, ou TODA A NAÇÃO DE ISRAEL foi salva! Pior ainda, você precisa demonstrar por A+B que nunca existiram salvos fora de Israel (e, bem, Raabe, Rute, os ninivitas e creio que alguns que conheceram Daniel, o profeta, vão se opor veementemente a você). Aliás, pior ainda: Israel se rendeu ao paganismo, e 'fizeram coisas piores que os povos que foram expulsos'. Com direito a churrasquinho de crianças!

    Deus recusou-se a dar a Esaú o mesmo amor que dispensou ao povo do Pacto! O Povo do Pacto recebeu as promessas, os mandamentos, a orientações – o mesmo cuidado não foi dispensado aos demais, ainda que Deus os condene por seus pecados.
    Pode até ser, mas tem um problema a mais: o povo do pacto não consistia somente de descendentes físicos. Tanto é que Moisés cita que um misto de gente fugiu do Egito, e Deus dá instruções para não-circuncidados (portanto, pessoas que não conheciam as tradições dos abraâmicos) possam partilhar da Páscoa.

    Ademais, novamente, temos o argumento da lei natural - que é uma pequena luz de Deus, ainda que os homens a distorçam. E mais uma coisa: ao Deus mandar o Seu povo para Canaã, inevitavelmente eles se relacionariam com os vizinhos (e foi assim que Rute, moabita, se tornou ancestral do Messias).

    Com isso, os descendentes de Esaú, bem como a maior parte da humanidade antiga, seguiu o curso do seu próprio pecado, sem nenhuma luz no fim do túnel.
    Provas disso? Você bem que poderia dizer algo. Mas não pode: a Bíblia se silencia.
    E eu nem mesmo preciso defender algum tipo de inclusivismo aqui - quem tem que provar que Deus abandonou ao deus-dará é você. Detalhe: Raabe, Rute e os assírios deporão contra ti.

    Tentar negar este fato é uma loucura sem tamanho, pois implica negar a eleição da própria nação de Israel! A eleição de um povo é a ‘não eleição’ dos demais! O favorecimento de um povo implica no ‘não favorecimento’ dos outros povos. Do contrário, nenhum deles foi eleito.

    Novamente, o mesmo argumento nonsense acima. Acho que vou chamá-lo de 'argumento de um punhado ou nada'. Israel foi favorecida, mas ela fez bom uso deste favorecimento? Não. Raabe fez uso bem melhor!

    Aliás, você incorre no mesmo erro dos judeus com quem Paulo fala na carta: achar que Deus escolheu eles para salvação, e não mediante a fé.

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  20. Qual é o mesmo o tema central do Capítulo? Isso mesmo! – a eleição de Israel! Ora, vemos aqui um argumento que não diz respeito a Israel!
    E isto na verdade piora as coisas. Afinal, lembre-se: Paulo está escrevendo para judeus.

    Paulo diz aos judeus que Deus tinha total liberdade sobre eles, assim como tinha total liberdade sobre Faraó.
    Portanto, me diz que judeu iria se compadecer de Deus ter endurecido o coração de Faraó e ter assim enviado as pragas do Egito?

    Eu vou repetir a afirmação acima, pois imagino que alguns nunca pararam para refletir sobre ela: Paulo diz aos judeus que Deus tinha total liberdade sobre eles, assim como tinha total liberdade sobre Faraó!
    Pode até ser. Mas isto não acarreta que Deus pode violar Sua própria natureza.
    Ademais, o endurecimento de Faraó sequer se inclui no 'plano de salvação de seus escolhidos de maneira unilateral desde a fundação do mundo'.
    As regras de Deus foram claras: fé e arrependimento, e não seguir mecanicamente a Lei.

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  21. Ou seja, Paulo apresenta aos judeus o caso de Faraó para mostrar que Deus dispunha dos indivíduos pagãos como bem entendida, e que o mesmo princípio se aplicava aos indivíduos que pertenciam, pela circuncisão da carne, a Nação do Pacto!
    Mas é bem estranho que Paulo não diz um A acerca de Faraó ter parado ou não no inferno, né?

    Deus endureceu o coração de Faraó!
    O coração de Faraó era mole e temente a Deus? Quem sebe eu acreditaria nisso, se estivesse escrito...

    Deus o fez oprimir a Nação do Pacto!
    Mas em ponto nenhum se fala que Faraó foi uma marionete divina. E, dado que o AT não entra em muitos detalhes acerca de como Deus endurece, a melhor referência fica sendo a de Paulo: Deus abandonou Faraó aos desejos de Seu próprio coração, abandonando Faraó (algo merecido, dado que Faraó fez pouco de Deus).

    Deus o fez ‘dar ouvidos’ as desculpas dos magos egípcios! Deus o fez perseguir o povo! Deus o fez estúpido o suficiente para entrar no Mar Vermelho, mesmo depois de uma dúzia de pragas!
    Ou seja, como diria Cazuza, somos cobaias de Deus? Não, esta é a sua interpretação.

    Em outros termos, Deus endureceu o coração de Faraó; e por qual motivo? “Para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (v. 17).
    Pode até ser. Mas a bem da verdade vemos que Faraó, em sua maldade, contribuiu para o propósito de Deus de se fazer conhecido por toda a terra. E isto deu certo - lembra de Raabe?

    Para o judeu, Deus podia fazer o que bem entendesse com individuos fora de Israel, mas não com eles! ‘Nós somos especais’; eles diriam! Nós temos a circuncisão da nossa carne como prova de que somos especiais! ‘Negativo’; responde Paulo, Deus pode agir como vocês exatamente como agiu com Faraó: livre e soberanamente! Nós, quer judeus, quer gentios, somos o que Sua Vontade determinar!
    Ou seja, mesmo se eu clamar a Deus para ser salvo, Ele pode me dizer 'você não faz parte da minha lista VIP'?

    O que está em questão é que para ser alvo da misericórdia de Deus, tem que satisfazer as exigências de Deus - ou seja, fé.

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  22. Mas, como pode isso? Paulo esta falando do direito que Deus, como Oleiro, tem de fazer o que bem quiser com os indivíduos que fazem parte da nação de Israel, e para ilustrar este fato, ele fala de um individuo pagão, que não faz parte da nação de Israel!
    Mas a salvação incondicional nao está em alta neste texto - e este é o eterno pressuposto calvinista: ver algo que não está lá.

    Aliás, novamente Paulo usa uma analogia (barro-oleiro) que é própria do povo judeu. Quando Isaias usa a metáfora, ele fala de pessoas hipócritas, que guardavam a Lei e se achavam o máximo porque eram descendentes de Jacó - mas o seu coração estava longe de Deus. Pior que isto, Jeremias usa a metáfora e ela não coloca o barro como se fosse um ente passivo.


    Querem mais nítida prova de universalidade que esta? Se não fosse a eleição igualmente aplicada a todos os homens, e a todas as nações,
    Eleição para salvação? É, não vi uma única palavra...

    teria Paulo usado o direito que Deus tem sobre um rei pagão, e inimigo Numero Um dos judeus, para ilustrar o direito que Deus tem sobre os indivíduos que pertencem a nação do pacto?
    Engraçado: os calvinistas veem Romanos 9 como se Paulo fosse um calvinista de 500 pontos falando com um 'pelagiano'. Na verdade, Paulo está argumentando com um judeu. E isto explica muito melhor (e de maneira menos enviesada) a passagem.

    Portanto, temos aqui estabelecida tanto a individualidade quanto a universalidade da eleição.
    Eleição incondicional para salvação? Nem perto disso.

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  23. Outro detalhe exegético que não podemos deixar passar, é o fato de que a eleição discutida em todo o texto por Paulo refere-se ABERTAMENTE a indivíduos,
    Vou falar de novo: eleição incondicional para salvação? Não.

    e não a uma coletividade abstrata como querem os arminianos.
    Ou como você acha que querem. Já ouviu falar em eleição corporativa?

    Paulo é bem claro ao dizer que Deus não rejeitou a Nação de Israel: “Porventura rejeitou Deus seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim” (Romanos 11.1).
    O que não seria novidade. Afinal, existe apenas um gentio que escreveu livros na Bíblia, o resto é tudo judeu! Paulo fala que Deus não recusa ou aceita alguém com base nas obras da lei mosaica ou na ascendência real, mas no arrependimento e fé. Ele se dá como exemplo de israelita que não foi rejeitado.

    Indivíduos que pertencem a Nação do Pacto foram rejeitados, por livre e soberana vontade de Deus, SEM BASE NAS OBRAS, mas apenas por obra da GRAÇA:
    Só tem um problema: qual foi a soberana e livre (aliás, soberano implica livre) vontade de Deus? Escolher as pessoas na base da fé e arrependimento, e não na base das obras da lei ou na ascendência real.
    Você vai longe demais ao afirmar que os desígnios de Deus são totalmente à parte do ser humano, ou que a eleição para salvação é uma 'loteria divina'.

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  24. Sim! Evidentemente o argumento de Paulo é sobre os judeus, e fala aos judeus.
    Engraçado, acho que os calvinistas aprenderam isso com Lutero contra Erasmo: concorde com seu adversário, e depois discorde violentamente. Isto deixa o debatedor confuso.

    Porém, seu argumento sustenta-se em que Deus faz com os "Israelitas na carne", o mesmo que faz com os indivíduos pagãos: escolhe aqueles que quer, e endurece aqueles que quer.
    Poderia 'dar a louca' em Deus e ele endurecer, sem mais nem menos, um de Seus 'escolhidos para a salvação'?

    Ele faz isso não apenas entre os gentios, mas também, entre os filhos de Abraão! Ora, a tese arminiana aqui analisada quer tirar da pena de Paulo a base de sua argumentação!
    Ou você tá vendo demais. Afinal, não há injustiça em Deus e o seu argumento de incondicionalidade acaba incorrendo na injustiça de que Paulo falou.

    E porque faz isso? Simples: como vimos no primeiro artigo, seu autor pretende encaixar a interpretação do texto a dogmas pré-estabelecidos; por isso, que tamanha liberdade em "não ver" a base do argumento de Paulo!

    Engraçado que isto se aplica aos calvinistas:
    os calvinistas pretendem encaixar a interpretação do texto a uma TULIP pré-estabelecida; por isso, que tamanha liberdade em "ver demais" na argumento de Paulo!

    Aliás, sobre ortodoxia, é interessante ver que antes da treta Agostinho VS Pelágio, o calvinismo nunca encontrou lugar entre os Pais da Igreja. Pior que isto, ela tinha muito entre os gnósticos! (do qual Agostinho já foi um)

    Sei que isto vai dar muito pano pras mangas, mas procurar pressupostos calvinistas é, como diria um amigo meu, gratificante!

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  25. Aliás, o título é tendencioso: 'Arminianos contra Romanos 9'. Já coloca o leitor como 'quem é que anda atacando a Bíblia'? Parece aquele sensacionalismo de tablóide...

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  26. Prezado irmão;

    Não tenho tempo para discorrer sobre todas as tua objeções de uma vez. Vou ater-me ao que diz respeito a questão de Jacó, e a exegese feita por tua mãe, além de aproveitar para tocar em alguns termos teológicos e filosoficos que o irmão falseou (não digo que o fez com intenção, apenas que o fez).

    Que dentro do ventre de Rebeca havia duas nações é obvio. Que uma nação seria mais poderosa que a outra também. Tão obvio que ninguém nega o fato, nem arminianos, nem calvinistas. Agora, porque uma nação seria mais forte que a outra? Porque um povo seria amado por Deus, e outro povo odiado por Deus? Por causa, responde Paulo, da Eleição, que não é baseada nas obras, mas exclusivamente na escolha soberana de Deus.

    Interessante que para questionar meu argumento, você alega que Deus não fala de “indivíduos”, mas de “povos”. Como se isso fizesse alguma diferença. Neste caso, significa apenas que ele não apenas rejeitou um “individuo” (singular), mas rejeitou uma nação inteira e seus “indivíduos” (plural). E voltamos ao ponto central: por qual razão? Porque ele quis! Sua escolha não foi baseada em obras, em escolhas humanas, mas em sua Vontade Livre e Soberana! Quando o texto diz que essa diferença de tratamento dispenda a Jacó e a Esaú não tem havem com obras, estabelece-se uma escolha INCONDIONAL, ou seja, não baseada em obras. Estou apenas dando ênfase, sem querer insinuar que o irmão desconhece o significado teológico de “incondicional”.

    Outro termo interessante aqui é “fatalismo”. Você tem razão, a Eleição, apesar de Incondicional, e Determinista, não tem nada haver com “fatalismo”. Mas, novamente, quero crer que o irmão saiba a diferença entre Determinismo e Fatalismo.

    Como eu disse, e você não pode refutar, POIS ESTÁ NO CONTEXTO DO CAPÍTULO EM QUESTÃO, S. Paulo usa todos esses exemplos de Deus agindo sobre os homens SEM BASEAR-SE NAS OBRAS DELES, ou seja, INCONDICIONALMENTE, para demonstrar que ele pode dispor dos homens como bem entender – inclusive quando o tema é salvação x perdição. O que não tem nada haver com “loteria divina”, como você acusa, já que uma loteria é aleatória, impessoal. Na “loteria” não há determinismo, nem mesmo fatalismo, mas apenas o “acaso”; de modo que, se o irmão não consegue diferenciar “acaso” de “determinismo”, quem dirá poderá diferenciar o Determinismo Bíblico do fatalismo, que é filosofia pagã. Não digo que não saiba, mas ficaria muito surpreso.

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