Dispensacionalismo: Esse meu desconhecido!

Dispensacionalismo: Esse meu desconhecido! 

 Por Marcelo Lemos, editor

O querido leitor certamente há de saber o que é Dispensacionalismo; todavia, a título de facilitar a leitura desta dissertação, quero iniciar definindo o termo. Segundo uma famosa enciclopédia eletrônica, o Dispensacionalismo pode ser definido como o sistema teológico que afirma que, 
a Bíblia está organizada em sete dispensações: Inocência (Gênesis 1:1- 3-7), Consciência (Gênesis 3:8- 8:22), Governo Humano (Gênesis 9:1 – 11:32), Promessa (Gênesis 12:1 – Êxodo 19:25), Lei (Êxodo 20:1 – Atos 2:4), Graça (Atos 2:4 – Apocalipse 20:3) e o Reino Milenar (Apocalipse 20:4 – 20:6). Mais uma vez, estas dispensações não são caminhos para a salvação, mas maneiras pelas quais Deus interage com o homem. O Dispensacionalismo, como um sistema, resulta em uma interpretação pré-milenar da Segunda Vinda de Cristo, e geralmente uma interpretação pré-tribulacional do Arrebatamento A palavra “dispensação” deriva-se de um termo latino que significa “administração” ou “gerência”, e se refere ao método divino de lidar com a humanidade e de administrar a verdade em diferentes períodos de tempo”  - Wikipédia

Incontestavelmente, esta escola de interpretação profética é a mais popular nos dias de hoje. Grandes denominações cristãs, como a nossa Assembléia de Deus, a estabelecem como parte de sua confissão de fé. Nos artigos de fé que conhecemos como “Nosso Credo”, as Assembléias de Deus no Brasil (CGADB) afirmam crer, 
Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases distintas. Primeira – invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda – visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16. 17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5 e Jd 14)” (Artigo de Fé, nº 11). 
Apesar do termo “dispensacionalismo” não aparecer neste artigo de fé, sua linguagem é explicitamente dispensacionalista.  

A favor da popularidade das teses dispensacionalistas, além da adesão de grandes denominações cristãs, também podemos citar a vasta obra de literatura ficcional que se baseia em suas premissas. Um dos maiores sucessos da ficção evangélica dos últimos tempos, a série de livros “Deixados Para Trás”, é abertamente uma defesa da visão escatológica acima definida. A série fez tanto sucesso que foi transformada em filmes; todavia, não se trata exatamente de uma novidade para o dispensacionalismo. Outros grandes sucessos como “O Arrebatamento” e “Ladrão na Noite” também aderem às mesmas interpretações. Se você é assembleiano [ou batista], provavelmente é também um dispensacionalista. Os termos são quase sinônimos. Talvez por isso, algumas pessoas tomem um choque quando descobrem que, nem todos os cristãos, são dispensacionalistas. 

Eu não sou mais dispensacionalista. Deixei de ser a muitos anos, quando não mais conseguia conciliar diversos aspectos da doutrina com o claro ensino da Palavra de Deus. E, a cada dia que estudo o tema, percebo que apesar de já o ter defendidoum dia, a verdade é que eu não o conhecida de fato. Ainda que tenha escrito apostilas sobre ele e o ensinado no Seminário, eu não o conhecia. Daí eu estar falando hoje sobre o meu desconhecido dispensacionalismo… 

Por isso, gostaria de compartilhar com você, leitor, alguns detalhes sobre esta doutrina que eu desconhecia outrora. Estou consciênte do fato de estar, provavelmente, causando desconforto a alguém que pense diferente de mim; porém, peço apenas que você leia e julgue por si mesmo. 

I – TRATA-SE DE UMA NOVA DOUTRINA 

Historicamente falando, o dispensacionalismo é uma inovação teológica. Ninguém havia ensinado tal doutrina até por volta do ano de 1800. É verdade que alguns dizem poder rastrear algumas doutrinas dispensacionalistas ao longo das eras, como, por exemplo, o conceito de um reino pré-milenar. No entanto, o dispensacionalismo em si, é admitidamente uma nova doutrina

Alguém alegará que isso não implique que ela seja uma falsa doutrina; entretanto, este dado deve tranqüilizar aqueles  que, indecisos de sua veracidade, possam imaginar que negá-la seja uma heresia de perdição. Na verdade, o dispensacionalismo é que existe como uma negação do credo existente no restante da comunhão cristã. 

Infelizmente, não são poucos os que a pretendem como um divisor de águas entre “salvos” e “não-salvos”, ou entre “ortodoxos” e “liberais”. Negar a tese dispensacionalista não tem nada haver com incredulidade ou liberalismo teológico! Negá-la é manter-se fiel à interpretação ortodoxa da fé cristã e à clareza da interpretação das Escrituras. 

II – TRATA-SE DE UMA DOUTRINA COM HISTÓRICO EXTRANHO…

 Uma pergunta que eu nunca me fiz quando era dispensacionalista: como surgiu esta escola de interpretação? Hoje, sei que as doutrinas que formam a base de todo o emaranhado dispensacionalista tiveram origem com uma “revelação”. Surpreso? Eu também fiquei! Apesar desta não ter sido o que me levou a abandonar a teoria dispensacional, hoje, surpreendo-me só de pensar que um dia defendi uma tese cujos pressupostos tiveram origem em algo além da Bíblia! 

O pai do dispensacionalismo, o inglês John Nelson Darby, era um estudante do jesuíta Francisco Ribeira. Este último era fervoroso futurista e dado a diversas ‘teorizações’ sobre o futuro; principalmente no tocante a Marca da Besta. Darby, o aluno, aceitou os ensinos futuristas de Ribeira. Dentre os fieis da igreja onde servia Derby, havia uma jovem de nome Margaret McDonald. Esta jovem, teria tido uma visão na qual viu que Jesus iria retornar ao mundo de forma “secreta” para levar consigo os cristãos fieis. Darby, por sua vez, entendeu que se tratava de uma visão realmente inspirada por Deus e foi grandemente tocado por esta profecia.  

Algum tempo depois, Darby levaria suas teses para os Estados Unidos, sem, contudo, grande sucesso. Os cristãos americanos, inicialmente, parecem ter considerado suas idéias muito inovadoras e estranhas. Mas, quando surge o comentário bíblico de C. I. Scofield, estas mesmas idéias seriam aceitas, e não só isso, passariam a ser uma das mais influentes correntes escatológicas dos últimos tempos.  

III – TRATA-SE DE UMA DOUTRINA QUE NEGA A INTERPRETAÇÃO PROFETICA DO NOVO TESTAMENTO! 

Esta afirmação pode parecer gratuita e desproporcional; mas é apenas fato. O leitor certamente saberá que o dispensacionalismo é a escola de interpretação que tem orgulho de ser a que interpreta a Bíblia literalmente. No site, solascriptura-tt, um dos maiores marcos do fundamentalismo dispensacionalista, encontramos a seguinte declaração: 

Quer seja a interpretação de profecia ou de algo que não é profecia, uma vez que literalidade é sacrificada, é como começar a escorregar para baixo numa íngreme rampa. A velocidade aumenta rápida e vertiginosamente à medida que se sucumbe à tentação de espiritualizar uma passagem após a outra. … Ademais, sob o método de espiritualização, não há nenhuma forma de um intérprete testar a validade das suas conclusões, salvo se comparar suas obras com a de um colega. Ao invés de ‘uma mais firme palavra de profecia’ (2 Ped. 1:19), intérpretes terminam chegando a uma palavra “insegura” e a caos nas fileiras do exército [dos seus seguidores].” (Paul Lee Tan, The Interpretation of Prophecy; citado por David Cloud.

 Nesta citação temos uma aberta defesa da exclusividade do literalismo na interpretação profética. O autor chega a afirmar que uma interpretação que não seja literal, certamente conduzirá o estudante à “escorregar numa íngreme rampa”. Todavia, não obstante a sincera convicção do autor, o fato é que tal literalidade não lhe coloca em tão boa posição. 

Citemos, a titulo de exemplo, as profecias que falam de um Templo no Milênio. Realmente é difícil entender qual a utilidade de um Templo Literal no Milênio, sendo que o próprio Templo se tornou inútil com a vinda de Cristo; e também se fizeram inúteis todos os seus serviços. Se a única forma de interpretar as Escrituras é a literal, como fica esta questão? Como devemos interpretar textos como Ezequiel 40 a 47? 

Esta porção das Escrituras é disputada pelos pré-milenistas como sendo relacionada ao Templo que existira durante o milênio. Na descrição que se faz dos serviços realizados no Templo durante o Milênio, encontramos detalhes interessantes: 

(a) Os sacerdotes do templo estarão, no Milênio, sob diversas ordenanças: as vestes sacerdotais de Arão; a proibição de se casar; a abstinência do vinho por ocasião do serviço no Templo; não rapar os cantos da barba; etc. Até aqui nada de mais, já que no Milênio pré-milenista nem todos terão corpos glorificados.

(b) Haverá coisa profana em Israel; e não só isso, também haverá contendas, e juízes:  “E a meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro. E, quando houver disputa, eles assistirão a ela para a julgarem” . Bem, levando em consideração que a maioria dos habitantes do [suposto] Milênio literal-futuro será composta de pessoas não “glorificadas”, tal descrição é bem compreensível.

(c) Mas infelizmente, para o dispensacionalismo, no Templo prometido, também haverá “oferta pelo pecado e a oferta pela culpa” (v.29). Isso sim é um baita problemão, considerando o fato de que o Novo Testamento estabelece que todos estes elementos terminaram em Cristo. 

Uma vez que a regra aura de hermenêutica dita que a Escritura deva ser interpretada pela Escritura, não é muito mais seguro nos atermos a interpretação que o próprio Novo Testamento faz de tais profecias? Trata-se, finalmente, de uma doutrina com grande capacidade imaginativa. Se Jesus irá, como profetizou a jovem MacDonald, raptar a sua Igreja de forma secreta, logo, cedo ou tarde, os perdidos irão percebem a falta de muita gente. Na verdade, o cenário será hollywoodiano: 

“O mercado está vazio, seu trabalho já parou
O martelo dos obreiros, seu barulho já cessou
Os ceifeiros lá no campo, terminaram seu labor
Toda Terra está em suspense, é a volta do Senhor
Os vagões de trens vazios, passam ruas e quarteirões
Aviões sem seus pilotos, voam para destruição
A cidade está deserta, sua agitação parou 
Sai a última notícia, Jesus Cristo já voltou!”.
[Letra do Hino “O Rei Está Voltando]

 No entanto, há uma tese dispensacionalista da qual jamais quero abrir mão: O Rei Está Voltado! 

“Vejo a multidão subindo, ouço o coro angelical
Todo o céu está se abrindo, em um bem vindo sem igual
Como o som, de muitas águas, nós ouvimos ecoar 
Aleluias ao cordeiro, nós chegamos para o lar”
 

Aleluia! Maranata; ora vem Senhor Jesus!

Um comentário :

  1. Eu só conheço a doutrina dispensacionalista (aprendi hj esse nome). E qual é a outra doutrina???, vc pode me mandar algum estudo a respeito???

    Caso tenha, favor entrar em contato, pois quero estudar: alex_escale@hotmail.com

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