Uma apostólica Sexta-Feira 13...

Uma apostólica Sexta-Feira 13...

Por Marcelo Lemos

Oh, meu Deus! O que...?!!”. Ele meio que pulou do sofá, um tanto desequilibrado pelo susto, deixando cair o telefone. Que estava acontecendo, afinal? O Jotinha sempre fora uma pessoa calma e equilibrada, o tipo de homem que parece não se deixar abalar por nada no mundo. Ele enxugou o suor frio da testa, pensativo. Será que o Jotinha enlouqueceu? Isso nunca; pensou. Que era então?

Ele tentava pensar rápido, decidindo o que fazer. Sentiu o pulso pular descontroladamente. Era medo. Começou a pensar no pior, e enfrentar a guerra. O que estava acontecendo? Ele não sabia. Mas era algo ameaçador, pois nunca vira o Jotinha tão descontrolado. “O senhor precisa vir aqui agora!”. Havia pânico na voz do seu discípulo – um pânico palpável, amedrontador, e inacreditável na voz daquele jovem. “O senhor precisa vir aqui agora... tudo... tudo mesmo... tudo se foi.... tudo se destruiu... Agora!... o senhor precisa vir, agora! Tudo se foi...”.

Tudo? Que aquilo significava? Não conseguiu afastar a lembrança de um amigo seu, pastor lusitano, que tivera – semanas antes – sua Igreja invadia por um homem que dirigia uma retroescavadeira. Que está havendo, Jotinha? Será que algum lunático invadira o Grande Templo Apostólico, onde seu discípulo, desempregado, improvisava moradia? “Oh, meu Deus! O que...?!!”. Teriam agredido Jotinha? Teriam roubado o caríssimo sistema de som, recentemente instalado? “Oh, não!” – pensou aterrorizado; “eles querem a Arca!”.

Sim, era isso! Pois que outra coisa teria Jotinha em mente ao dizer que “tudo se foi”? Nenhuma outra coisa no Grande Templo Apostólico era mais valioso que ela. A Arca era seu principal atrativo espiritual. Nem mesmo se alguém ousasse construir uma replica do Templo de Salomão, conseguiria se igualar a ter em suas mãos a posse dela! Eles levaram a Arca; ou então, a destruíram. Neste último caso, pensou, certamente é gente ligada aos fanáticos religiosos da SAHE.

Apesar de precariamente organizada, nenhuma outra organização criminosa conseguia impor tanto medo no coração de gente como ele. Auto-intitulados Sociedade de Amigos para Higenizah o Evangelicalismo, não poupavam esforços e recursos para destruir aquilo que se tinha levado anos e anos para edificar. Certamente, concluiu, arrombaram as portas, invadiram o Grande Templo Apostólico, e destruíram nossa Arca!

Quando finalmente estacionou frente ao Grande Templo, notou que não havia sinal de movimentação de populares nas portas. Não havia cartazes de protestos, nem gente carregando faixas pedindo para se interromper o $how. Aproximando-se da porta, percebeu aliviado, que não havia qualquer indício de arrombamento. Respirou fundo, sentiu o pulso diminuir. “O Jotinha deve ter tido um pesadelo”.

Ele deslizou para dentro do Templo, silenciosamente, e tropeçou em algumas cadeiras empilhadas, caindo no chão. Quando, irritado, apoio-se na parede para se erguer foi que ele viu...

O que era aquilo? Percebeu que... A Arca estava intacta, no centro do caríssimo Púlpito que ele encomendara. Mas, as paredes... Tinha algo estranho ali. Nem se lembrou de socorrer o Jotinha, que ainda com o celular nas mãos, agarrava-se desesperado a uma Bíblia semi-destruída, sentado ali perto, desolado.

Movido pela curiosidade, ascendeu as luzes e inspecionou as paredes. Sentiu, naquele momento, um cheiro de morte. Mas, não era algo demoníaco, muito pelo contrário. Ele soube num instante, aquelas paredes estavam lhe falando acerca de sua própria morte. Caiu no chão, de joelhos. Era inacreditável. Como ele não vira aquilo antes? “Como pude me esquecer destas coisas?”; pensou aterrorizado!

- Eu quis negar; foi dizendo Jotinha, aproximando-se do Apóstolo, que se ajoelhava. Percebi que era o fim do que estávamos construindo. Eu lutei; juro para o senhor que eu lutei. Fiquei fora de mim, e comecei a arrancar as páginas. Então, colei uma a uma nas paredes, a fim de olhá-las nos olhos e desafia-las.

Desafiar? Como?

Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré. Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas impetuosas do mar, que escumam as suas mesmas abominações; estrelas errantes, para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas. E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele” Judas 11-15.

E, ouvindo-o todo o povo, disse Jesus aos seus discípulos: Guardai-vos dos escribas, que querem andar com vestes compridas; e amam as saudações nas praças, e as principais cadeiras nas sinagogas, e os primeiros lugares nos banquetes; que devoram as casas das viúvas, fazendo, por pretexto, longas orações. Estes receberão maior condenação”S. Lucas 20. 45-47.

Ouvi agora vós, chefes da casa de Jacó, e príncipes da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito, edificando a Sião com sangue, e a Jerusalém com iniqüidade. Os seus chefes dão as sentenças por suborno, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao SENHOR, dizendo: Não está o SENHOR no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa como os altos de um bosque” Miquéias 3. 9-12.

Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes não me exalarão bom cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cánticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso”Amós 5. 21-24.

Ele olhou para as páginas coladas nas paredes do Grande Templo Apostólico, e pensou: “É o fim!”.

Marcelo Lemos, para ‘Olhar Reformado’.
13 de Agosto, Sexta-Feira.

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