Passo-a-passo na montagem de um sermão



Por Marcelo Lemos

Ainda me lembro da primeira vez que tive a responsabilidade de pregar um sermão. Eu era bem jovem naquele tempo, não tendo mais que 17 anos... Foi um sufoco danado! Fiquei tão“despesperado” por encontrar um bom tema, que comprei um certo livro com mais de mil esboços bíblicos – só para descobrir que a maioria deles não parecia fazer muito sentido. Até hoje não consegui dar um fim muito proveitoso a tal livro; apesar de reconhecer alguns méritos do mesmo.

Lamento que naquela época eu não tenha tido acesso a orientações práticas sobre o assunto, mas sei que em todas as coisas Deus tem os seus propósitos para nós. Sem muito preparo, subi ao pulpito com um texto, um tema, e algumas divisões principais. Não foi uma experiencia ruim, mas também não posso dizer que o resultado foi lá dos melhores.

Talvez você esteja passando por um desafio semelhante, e eu gostaria de compartilhar com você alguns passos básicos para a formulação de uma mensagem bíblica, que poderá ser utilizada no pulpito, ou numa sala dominical. Não entraremos em detalhes e pormenores, todavia, pretendemos lhe passar uma visão geral, e prática, sobre o assunto.

Antes de tudo, creio que você já estará plenamente convencido de que uma vida espiritual saudável é extremante importante para aquele que se dedica a pregação do Evangelho. Spurgeon, o maior dos pregadores, declarou:

Caso alguém me pergunte: como posso escolher [para o sermão] o texto mais apropriado? Eu lhe responderia: Pedindo a Deus!


Harrington Evans, um grande mestre na matéria, também fazia questão de colocar como a primeira regra da homilética, aquela que diz: “Peça a Deus em oração!”.

Vida espiritual. Se você realmente deseja ser um servo bom e fiel, não se esqueça jamais deste requisito indispensável.

Agora que já comentamos sobre este ponto fundamental, e obvio, passaremos a listar alguns passos importantes na hora de preparar o seu sermão; ainda que ele seja o seu primeiro sermão.
I
ESCOLHA UM TEXTO

Para pregar você precisa de um texto. Isto é verdade para aqueles que desejam pregar a Bíblia. Recentemente vi um pregador falar quase uma hora sobre [supostamente] o tema “Missões”, sem que ele lesse qualquer versículo bíblico. Não estranhei o fato de ele falar tanto sobre vitória, ser “grande na terra dos viventes”, e “amarrar o inimigo”. Falou, falou, falou... pregar que é bom... nada! Não entre por este caminho!

Escolha um texto bíblico. Qual? Impossível dar uma receita sobre este ponto. Mas, no meu caso, procuro sempre manter um cronograma de estudos bíblicos pessoais; de modo que nunca preciso “escolher” um texto aleatoriamente, já que estou sempre com algum no coração. Penso que é uma boa política, e aconselho que você procure sempre fazer algo semelhante.
Existem alguns casos nos quais o texto é automático. Por exemplo, num congresso onde há um tema baseado em um versículo. 

Outro exemplo, num culto de Ceia, é normal que escolhamos textos que falem da expiação, da eleição, da redenção, da Paixão do Senhor, enfim. Em casos assim, inovar é algo arriscado, principalmente para o iniciante. Fique sempre com o mais simples. Pregadores extravagantes é o que não falta.

O importante aqui é: tenha em mãos um texto! Não se atreva, jamais!, a subir ao altar sem que tenhas no coração uma mensagem vinda de Deus, por meio das Escrituras. O pregador sempre deverá poder dizer: “Assim diz o Senhor!”. Se você tem menos que isso, não pregue!
A título de ilustração, vamos escolher I Timóteo 1.15;

Está é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.
II
COMPREENDA O TEXTO

O que este texto está dizendo? Qual o significado? Deveria ser evidente que para se poder pregar um texto bíblico, o pregador precisa compreender o que o autor inspirado estava dizendo. Infelizmente, nem sempre acontece assim. Há pregadores que simplesmente mutilam completamente o que o texto diz, criando uma teoria completamente alheia as Escrituras.
Sobre este perigo, leia o artigo “Eisegeses Famosas”, que publicamos recentemente aqui no Olhar Reformado.

O texto que escolhemos é de fácil compreensão. Poderiamos resumir o seu significado da seguinte forma: há uma boa noticia, que é verdadeira, e que deve ser aceita pelo pecador. E está notícia, boa e verdadeira, é que Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, mesmo o pior deles!
III
ELABORE UM TEMA, COM BASE NO TEXTO

Uma vez que compreendemos o significado do texto, podemos conseguir elaborar vários temas a partir dele. No caso de I Timóteo 1.15, poderiamos abordar um tema mais “devocional”, e apropriado para um culto de Santa Ceia, por exemplo. Como também podemos mudar um pouco o foco, e elaborarmos um tema mais voltado para o evangelismo. Note, por gentileza, que não se trata de mudar o significado do texto (só existe um!), mas sim, focalizar o significado de acordo com o alvo que temos em mente.

Ficaremos com a segunda opção: evangelismo.

IV
ELABORE UMA TESE

Tese” é o que tomaremos a liberdade de definir como “uma verdade a ser provada com as escrituras”. Em outras palavras, você compreendeu o assunto abordado no texto, e escolheu um tema que está ligado ao assunto do texto. Certamente você terá, então, encontrado uma, ou mais verdades que podem ser aprendidas a partir do texto que é alvo de seus estudos.

No caso do nosso texto, escolhemos defender a tese de que: “O evangelho é a melhor notícia que o pecador pode receber!”. Veja que aqui temos duas ligações: a primeira, com o assunto do texto em análise: como vimos, ele fala do valor da mensagem do Evangelho. A segunda, tem haver com o tema que escolhemos: evangelismo. Assim, dentro do assunto, resolvemos abordar uma questão voltada para o Evangelismo.

Poderiamos ter escolhido uma outra tese, mais devocional, como: “O Evangelho é a única razão de estarmos aqui!”. Uma tese assim, seria mais apropriada para um Culto de Santa Ceia, por exemplo. Neste caso, porém, nosso alvo-tema já não seria o evangelismo, mais a edificação espiritual da Igreja.

Perceba, portanto, como estes passos homiléticos tão simples, podem ser de grande ajuda para o pregador!

V
ELABORE UMA FRASE DE TRANSIÇÃO COM “PALAVRA-CHAVE”

Aqui temos uma dica muito interessante, e útil também. Quando você anunciar a sua tese perante a Congregação, na mente dos seus ouvintes haverá automaticamente uma pergunta, ainda que não seja conscientemente formulada: “porque?”, “como?”, “onde?”, e assim por diante.

Se você diz: “O Evangelho é a melhor notícia que o pecador pode receber!”; você também deverá apresentar as razões que provam que sua afirmação é biblicamente verdadeira. Não basta apenas afirmar algo, é preciso provar tal coisa, a luz da Palavra de Cristo.
Continuando com nosso exemplo, você dirá: “O Evangelho é melhor notícia que o pecador pode receber”. E, em seguida, devidamente preparado, acrescentará algo como;

Quero, com a Graça de Deus, lhes apresentar as razões pelas quais não existe, para o pecador, melhor notícia que o Evangelho. A primeira razão que desejo compartilhar com vocês, é que...


Por qual razão chamaos esta frase de “frase de transição”? O motivo é muito simples: ela liga a introdução do sermão, e a apresentação do tema-tese, ao restante do discurso. O pregador introduz o tema, e com esta frase prepara a Igreja para seguir o seu raciocinio, e chegar a mesma conclusão que ele chegou ao estudar o assunto. Por isso, denominamos a mesma de “frase de transição”.

Além disso, há um outro detalhe que devemos compreender: a frase de transição deve contar com uma “palavra-chave”. No exemplo acima, a nossa palavra-chave é “razões”. Entender isso é muito importante. Quando o pregador diz que vai falar sobre as “razoes” que provam a veracidade de sua tese, ele não poderá falar sobre causas, consequencias, efeitos, motivações, alegrias, erros, enfim. Toda a sua mensagem deverá girar em torno das “razões” que provam que sua tese está biblicamente correta. Isso dará UNIDADE ao discurso do pregador.

Outra vantagem importante do uso de palavras-chave, é o fato de que este recurso possibilita uma grande variação no pulpito. Por exemplo, observe o tema a seguir.

Nada é impossível para o Deus que nós servimos!”


Imagine que alguém te desafie a pregar três mensagens, semana após semana, sem sair deste tema; porém, com o dever de não repetir a mesma pregação! Seria tal coisa possível? Provavelmente, a resposta é “sim” – desde que você compreenda, e faça uso correto das palavras-chave.

Vamos tentar ilustrar isso;
  • Primeiro Domingo
Tese: “Nada é impossível para o Deus que nós servimos!”
Frase de transição: “Hoje, quero mostrar as razões que nos levam a confiar plenamente no poder de Deus. Você pode acreditar no poder de Deus? Você pode acreditar que nada é impossível para o nosso Deus? Hoje, veremos que temos muitas razões para crermos exatamente assim!”.
  • Segundo Domingo
Tese: “Nada é impossível para o Deus que nós servimos!”
Frase de transição: “Na mensagem de hoje, quero te convidar a conhecer alguns exemplos bíblicos que comprovam a nossa tese. Alguns provavelmente estão sendo assolados por dúvidas. Hoje, te convido a fazer uma viagem pelas páginas das Escrituras, atráves de milagres e incriveis desafios de fé; exemplos bíblicosque comprovaram que para o Deus que nós servimos, não existe nada impossível!”
  • Terceiro Domingo
Tese: “Nada é impossível para o Deus que nós servimos!”
Frase de transição: “Na primeira mensagem conhecemos as razões que nos permitem crer no poder de Deus. Depois, no domingo passado, conhecemos diversos exemplos bíblicos que edificaram a nossa fé no poder de Deus. No sermão desta noite, quero convidar você a descobrir os efeitos práticos que nossa fé no poder de Deus trarão para o nosso viver!”

Repare que apesar do tema ser exatamente igual nos três exemplos, cada pregação é única, pois aborda um sub tema de cada vez. No primeiro sermão, você pregou sobre as razões que levam os cristãos a confiarem no poder de Deus; no segundo, você pregou citando exemplos bíblicos que comprovam o poder de Deus; na terceira mensagem, fechando a série, você apresenta efeitos práticos de tal confiança no poder de Deus para a vida de seus ouvintes.

Observe também que nos exemplos acima, a palavra-chave nem sempre é solitária, antes, é perfeitamente possível, e algumas vezes aconselhavel, que esteja acompanhada de outra – “efeitos práticos” é um bom exemplo. O mais importante é perceber como ela proporciona UNIDADE e também VARIEDADE para o ministério do pregador bíblico.

VI
ELABORE OS ARGUMENTOS PRINCIPAIS

Voltemos ao nosso exemplo principal;

Tese“O Evangelho é melhor notícia que o pecador pode receber”.
Frase de transição: “Quero, com a Graça de Deus, lhes apresentar as razões pelas quais não existe, para o pecador, melhor notícia que o Evangelho. A primeira razão que desejo compartilhar com vocês, é que...”.

É natural que tão logo você declare que apresentará “algumas razões”, os seus ouvintes automaticamente fiquem a espera de tais razões! Você aguçou a curiosidade deles, portanto, é bom que tenha, realmente, algumas razões para lhes apresentar, não é mesmo? He, he, he...

É aqui que entra aquilo que chamamos de Divisões Principais do sermão; que no exemplo acima, nada mais são que as tais ‘razões’, que provam a veracidade de sua tese. Observe como eu construiria o esboço pretendido;

Tese: “O Evangelho é melhor notícia que o pecador pode receber”.
Frase de transição: “Quero, com a Graça de Deus, lhes apresentar as razões pelas quais não existe, para o pecador, melhor notícia que o Evangelho".

I – A primeira razão, é que o Evangelho é uma “palavra fiel”, conforme diz Paulo no nosso versículo. A partir daqui, temos a primeira divisão principal do sermão. Nela, o pregador poderá, por exemplo, demonstar os motivos pelos quais a Palavra de Deus é “fiel”. Como? Por meio de ilustrações, exegese, exemplificações, enfim!

II – A segunda razão, é que o Evangelho é uma mensagem sobre “Graça”. Paulo diz que “Jesus veio ao mundo para salvar”A partir daqui, temos a segunda divisão principal do sermão. Nela, o pregador, poderá, por exemplo, demonstrar que a religião cristão é diferente de qualquer outra: ela fala de Deus um Deus que salva o pecador, livre e soberanamente.

III – A terceira razão é que o Evangelho é uma mensagem sobre “Graça Infinita”. Paulo diz: “Veio ao mundo salvar pecadores, dos quais, sou o principal”A partir daqui, temos a terceira divisão principal do sermão. Nela, o pregador, poderá usar o próximo exemplod a vida pregressa de Paulo, para demonstrar que Deus salva até mesmo aquele que se considera o pior dos pecadores. Não há limites que impeçam Deus de alcançar eficazmente qualquer de seus eleitos – nem mesmo o mais terrivel pecado!

Se você precisa de um sermão, por mais inesperiente que seja no pulpito, estamos convencidos de que conheçendo tais noções sobre a arte da homilética, você, com a Graça de Deus, poderá apresentar-se perante Deus, e Sua Igreja, com uma mensagem bíblica, simples, clara e eficiente.

Minha oração é que estes apontamentos possam ser de utilidade para você, querido companheiro de Seara!

Caso deseje, utilize este espaço para tirar suas dúvidas, compartilhar conhecimentos, fazer sugestões, ou apenas para fazer um bloguei feliz com o seu carinhoso, e sempre bem-vindo, "olá"!

Paz e bem!

6 comentários :

  1. Muito obrigado meu irmão. Que Deus te abençoe. Estava buscando inspirações no Espírito Santo para escrever um sermão, mas tava com um bloqueio que não estava ficando claro em minha mente a mensagem. Após algumas orações e por fim encontrei esse blog. Aleluia, com Jesus, Maranata, vem! valeu pela ajuda.

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  2. obrigado querido foi muito útil para mim essa dica obrigado que deus possa lhe abençoar muito essa minha oração fique na paz

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  3. muito obrigado querido por essa dica foi muito útil para mim que Deus abençoe muito sua vida essa é minha oração

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  4. Muito bom mesmo !!!!!!!!
    Estou começando a me preparar para evangelizar, e esse blog foi de
    grande valor, agregou muito no meu conhecimento!
    Que Deus continue abençoando o irmão.

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  5. Muito obrigado, continue assim amado irmão

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  6. Muito obrigado, continue assim amado irmão

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