Perdemos o Messias!
Por Rev. Julio Zamparetti Fernandes
“Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguido Jesus. Ele achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o Messias” (João 1.40-41).
Talvez a euforia de André não fosse a mesma nos dias de hoje. Alguns indícios levam-nos a crer que se o mesmo André estivesse entre nós, vendo no que se tornou a igreja que se diz de Cristo, ele certamente diria: Pedrão, meu querido irmão, perdemos o Messias!
A verdadeira religião não oprime, não domina, não tende a ser um império, não impõe sua vontade como faz normalmente o mundo da política e dos negócios. Ao contrário, tal qual ensinou Jesus Cristo em seu próprio modo de vida (que logo ao nascer recebeu a adoração de astrólogos pagãos), a verdadeira religião liberta, respeita as diferenças culturais, religiosas e sociais, defende o direito alheio, serve ao próximo e ama sem esperar retorno. Entre os próprios discípulos de Cristo podemos ver que a presença de Cristo torna possível a convivência de pessoas diferentes em suas culturas, como no caso de Lucas, um médico e Pedro, um pescador; ou diferentes religiões, como Simão, um zelote e Filipe, um místico helenista; também de diferentes temperamentos, como Tiago menor, melancólico e Mateus, colérico. O verdadeiro religare nos torna tão unidos quanto livres, pois a ação de Cristo é fundamentada no amor que, entre outras coisas, tudo suporta, não procura seus próprios interesses e nem arde em ciúmes. Diante do fato de vivermos uma religiosidade que nem de longe reflete esse preceito, só nos resta reconhecer que perdemos o Messias!
Em nome de Deus, os defensores da “santa da fé” mataram viuvas macumbeiras, velhas feiticeiras, pregadores hereges, curandeiros ocultistas, mágicos satanistas, pessoas que por mais que eu tente usar adjetivos que denigram suas imagens não deixarão de ser pessoas, vidas por quem Cristo amou e se doou, mas que nós insistimos em focarmos os maus adjetivos que lhes damos em vez de vermos as pessoas que realmente elas são. Fato natural para nós que perdemos o Messias!
Diante da necessidade de reformas na igreja e diante do protesto do século XVI, o alto clero se posicionou irredutível e intensificou os processos inquisitórios a fim de não perder o domínio e os lucros advindos das cobranças de indulgências. Mantiveram os lucros... Mas perderam o Messias!
Perdeu a igreja de Roma e perderam também os fiéis separados, tendo feito cada um a si mesmo por seu próprio Papa. E esta é a causa de termos, hoje, tantas igrejas nas quais seus líderes não têm o mínimo de conhecimento histórico, cultural e bíblico do que é o cristianismo. A maioria destas igrejas acaba contrariando os próprios princípios da reforma protestante, pois desconhece sua raíz, sua história e sua própria fé. Libertara-se do domínio papal e tornara-se escrava de seu próprio papismo. Diante desse pressuposto, não nos resta dúvida de que além de perdermos a unidade da igreja e a fé genuína, obviamente, perdemos o Messias!
Max Weber, no século XIX, já dizia que a ética protestante havia fundamentado o capitalismo, motivando os crentes a se voltarem ao trabalho com afinco egoísta, considerando que as riquezas eram sinais da graça de Deus sobre suas vidas. Weber estava certo em criticá-los. Pena que sua crítica foi absolutamente ineficaz, de forma que os protestantes de hoje evoluíram ao ponto de não exercerem mais a fé, senão em função do enriquecimento próprio. Nesse viés, as aglomerações ganharam status de igrejas e as igrejas tornaram-se impérios, ou, no mínimo, empresas com fins muito lucrativos. Como igreja (ou será empresa?), ganhamos status, ganhamos fama, mas... Perdemos o Messias!
Agora, depois de tantos descaminhos, temos nos ocupado demasiadamente com nossos conceitos apologéticos, discutindo incansavelmente, cada um com o mesmo fim de concluir que “eu estou certo e que o outro é o herege”. Todos pobres miseráveis buscando o andar correto no prédio errado. Ser ortodoxo ou herege a essa altura da caminhada já não faz diferença, pois... Perdemos o Messias!
Publicado originalmente em Julio Zamparetti. e divulgado por Olhar Reformado.
“Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João e seguido Jesus. Ele achou primeiro o seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o Messias” (João 1.40-41).
Talvez a euforia de André não fosse a mesma nos dias de hoje. Alguns indícios levam-nos a crer que se o mesmo André estivesse entre nós, vendo no que se tornou a igreja que se diz de Cristo, ele certamente diria: Pedrão, meu querido irmão, perdemos o Messias!
A verdadeira religião não oprime, não domina, não tende a ser um império, não impõe sua vontade como faz normalmente o mundo da política e dos negócios. Ao contrário, tal qual ensinou Jesus Cristo em seu próprio modo de vida (que logo ao nascer recebeu a adoração de astrólogos pagãos), a verdadeira religião liberta, respeita as diferenças culturais, religiosas e sociais, defende o direito alheio, serve ao próximo e ama sem esperar retorno. Entre os próprios discípulos de Cristo podemos ver que a presença de Cristo torna possível a convivência de pessoas diferentes em suas culturas, como no caso de Lucas, um médico e Pedro, um pescador; ou diferentes religiões, como Simão, um zelote e Filipe, um místico helenista; também de diferentes temperamentos, como Tiago menor, melancólico e Mateus, colérico. O verdadeiro religare nos torna tão unidos quanto livres, pois a ação de Cristo é fundamentada no amor que, entre outras coisas, tudo suporta, não procura seus próprios interesses e nem arde em ciúmes. Diante do fato de vivermos uma religiosidade que nem de longe reflete esse preceito, só nos resta reconhecer que perdemos o Messias!
Em nome de Deus, os defensores da “santa da fé” mataram viuvas macumbeiras, velhas feiticeiras, pregadores hereges, curandeiros ocultistas, mágicos satanistas, pessoas que por mais que eu tente usar adjetivos que denigram suas imagens não deixarão de ser pessoas, vidas por quem Cristo amou e se doou, mas que nós insistimos em focarmos os maus adjetivos que lhes damos em vez de vermos as pessoas que realmente elas são. Fato natural para nós que perdemos o Messias!
Diante da necessidade de reformas na igreja e diante do protesto do século XVI, o alto clero se posicionou irredutível e intensificou os processos inquisitórios a fim de não perder o domínio e os lucros advindos das cobranças de indulgências. Mantiveram os lucros... Mas perderam o Messias!
Perdeu a igreja de Roma e perderam também os fiéis separados, tendo feito cada um a si mesmo por seu próprio Papa. E esta é a causa de termos, hoje, tantas igrejas nas quais seus líderes não têm o mínimo de conhecimento histórico, cultural e bíblico do que é o cristianismo. A maioria destas igrejas acaba contrariando os próprios princípios da reforma protestante, pois desconhece sua raíz, sua história e sua própria fé. Libertara-se do domínio papal e tornara-se escrava de seu próprio papismo. Diante desse pressuposto, não nos resta dúvida de que além de perdermos a unidade da igreja e a fé genuína, obviamente, perdemos o Messias!
Max Weber, no século XIX, já dizia que a ética protestante havia fundamentado o capitalismo, motivando os crentes a se voltarem ao trabalho com afinco egoísta, considerando que as riquezas eram sinais da graça de Deus sobre suas vidas. Weber estava certo em criticá-los. Pena que sua crítica foi absolutamente ineficaz, de forma que os protestantes de hoje evoluíram ao ponto de não exercerem mais a fé, senão em função do enriquecimento próprio. Nesse viés, as aglomerações ganharam status de igrejas e as igrejas tornaram-se impérios, ou, no mínimo, empresas com fins muito lucrativos. Como igreja (ou será empresa?), ganhamos status, ganhamos fama, mas... Perdemos o Messias!
Agora, depois de tantos descaminhos, temos nos ocupado demasiadamente com nossos conceitos apologéticos, discutindo incansavelmente, cada um com o mesmo fim de concluir que “eu estou certo e que o outro é o herege”. Todos pobres miseráveis buscando o andar correto no prédio errado. Ser ortodoxo ou herege a essa altura da caminhada já não faz diferença, pois... Perdemos o Messias!
Publicado originalmente em Julio Zamparetti. e divulgado por Olhar Reformado.
Sobre o editor: Marcelo Lemos Gonçalves é Bacharel em Teologia, pastor,apaixonado por pregação, liturgia, anglicanismo e escola dominical. Casado, com Meirelene Gonçalves, é pai de dois filhos, Yago e Yuri; e nas horas nada vagas, atua como blogueiro. De vez em quando, acha que sabe fritar pastéis, fazer churrasco e escrever artigos.
0 comentários :
Comente e faça um blogueiro sorrir!
Reservamos o direito de não publicar comentários que violem a Lei ou contenham linguagem obscena.