E Daí o Papa Veio...
Por
Bispo Josep Rossello
Não
tinha intenção alguma
de escrever sobre a visita do Papa ao Brasil, mas depois de ler o
excelente artigo que o Reverendo Marcelo Lemos publicou,
“O Papa veio! E daí?”, resolvi fazê-lo.
O Rev. Marcelo Lemos, em seu artigo, faz uma pergunta muito válida para os dias de hoje,
'ainda
temos razão para existir, ou Lutero pregaria suas 95 Teses na testa
dos nossos pregadores?'
A partir desta pergunta, decidi escrever esta breve resposta que é
uma reflexão aberta. Ele escreveu tendo em mente declarações feitas por movimentos laicistas e
igrejas ‘gospel’ brasileiras, e desejando advertir-nos de certos comportamentos errôneos e atitudes
equivocadas. Eu, porém, vou escrever pensando na Cristandade.
Será
que existem razões de existir das igrejas evangélicas hoje?
Eu
acredito que sim.
Permitam-me
algum tempo para explanar minha resposta. Se observo a Igreja de Roma
de perto, percebo que, na verdade, essencialmente nada mudou desde a
Reforma Protestante. Discordo, de fato, com todos os dogmas que tem
sido aprovados desde a Reforma até os dias de hoje, tais como a
Infalibilidade Papal, a Imaculada Conceição
e a Assunção aos Céus de Maria, entre outros.
Entendo a
atração que alguns evangélicos sentem pelo Papa atual. Já que,
nos dias de hoje, existe um evidente vazio de liderança cristã,
tanto internacionalmente como no Brasil. A Reforma Protestante
impediu que houvesse uma figura que representasse a voz do povo de
Deus, como o apóstolo Pedro foi o porta-voz dos apóstolos em Atos.
Isto faz que busquemos um líder que represente nossas insatisfações
e plasme nossos desejos. Também pode explicar o atrativo que
Francisco I tem sobre os jovens insatisfeitos.
A
insatisfação que os jovens cristãos brasileiros sentem, tem razão
de ser no presente. Inclusive, acredito ser saudável que os jovens
desejem um futuro melhor, contudo assisto com certa preocupação
certos círculos evangélicos, os quais vem sendo verdadeiras rodas
de escarnecedores (Salmo 1). Dedicam o tempo todo a ver os erros dos
outros, e não fazem nada com sua vida e sua fé, somente criticam os
demais cristãos. Eu sei como é isso, porque já esteve no mesmo
lugar. Isto não é saudável, e precisamos evitar a todo custo, já
que nos termina matando espiritualmente.
Sou
consciente dos problemas que existem nas igrejas evangélicas. Eu
conheço os escândalos e heresias nas igrejas (neo)pentecostais
brasileiras, como também entre as igrejas apostólicas e comunidades
evangélicas no Brasil. Não estou negando este fato. O que afirmo é
que a solução não é simplesmente criticar e rir dos erros dos
outros, sem dar uma alternativa válida, e vivendo de acordo ao
exemplo de Cristo.
Eu
acredito que nada, infelizmente, tem mudado em Roma. Bem, "nada,
nada" não, já que temos um
novo Papa que está tentando mudar a Igreja de Roma. Agora, não sei
se fazer uma limpeza profunda da Casa (o Vaticano), vai resolver os
problemas dela. Em outras palavras, eu acredito que a Casa do Papa
precisa mais que uma limpeza, por muito profunda que esta seja.
Porque
acredito nisto? Porque o problema continua aí, já que os
fundamentos estão podres, as paredes estão gretadas e o telhado
está quebrado. Se limpa a Casa, mas logo, logo, estará suja
novamente, chegará o verão e virá a chuva para molhar tudo
novamente, o vento e a poeira vai facilmente entrarão pelas frestas,
e a Casa continuará edificada sobre pilares que não aguentam a
estrutura mesma... Sendo assim, o Bispo de Roma vai precisar ir além
de uma limpeza, e deverá aceitar que precisa empreender uma Reforma
que precisará ser mais profunda que a Reforma Protestante do século
16.
Não nos
enganemos, a realidade da Igreja de Roma não é diferente daquela
época. Só precisamos fazer uma visita nos seminários católicos
romanos, ou ao Santuário de Aparecida, ou a vida privada do Padres,
sem falar dos escândalos sexuais, as lutas de poder internas e a
cobiça pelo dinheiro. As vezes esquecemos o ditado inglês que diz,
“a grama do vizinho sempre parece mais verde,” mas não é.
E não nos
esquecemos dos grupos de interesse dentro do Vaticano. Tem muitos que
a simples ideia de limpar a Casa, já está incomodando. Eles estão
acostumados a viver em meio a bagunça, o lixo e a sujeira. Imaginei
a resposta deles, se o Papa decide fazer a Reforma que a Casa
precisa.
Se o Papa
Francisco I é serio sobre mudar as coisas na Igreja de Roma, então
deve reconhecer que o principal problema dela é a figura do Papa.
Qualquer Papa que deseja mudar verdadeiramente a Igreja Católica
Romana, precisa começar reconhecendo que o Papa é somente o Bispo
de Roma, e não o Vicário de Cristo na Terra, nem tem poder
universal, pleno e supremo sobre toda a igreja (Catecismo 882). Uma
vez feito isto, precisa convocar um Concílio universal, onde todos
os bispos da Cristandade (católicos, anglicanos, ortodoxos,
luteranos, reformados, entre outros) estejam representados para
buscar formas de superar as diferenças e trabalhar juntos em favor
do Reino de Deus, e a promoção da sã doutrina cristã. Do
contrário, simplesmente estará limpando a casa, e nada mais. E, se
é verdade que sempre é uma boa notícia que o vizinho limpe sua
casa, o problema continuará por lá, se não se colocam novos
fundamentos, se não restaura as paredes e se troca o telhado. Do
contrário, segue sendo perigoso caminhar perto dessa casa ou, ainda
mais, morar nela.
Falando de
reformas, devo afirmar que não é somente a Igreja Católica Romana
quem está precisando de uma Reforma. Existem outras “igrejas”
que também precisam de uma grande reforma e, inclusive, tem aquelas
que precisam ser demolidas e construídas de novo.
Mas,
não sou contra o Bispo de Roma, nem me importo que venha ao Brasil.
Nem sou contra os eventos públicos dos católicos romanos. Ficou
feliz que tenham esta liberdade de culto. Inclusive, gostei muito do
que o Papa tinha a dizer, principalmente, porque venho dizendo a
mesma coisa. Apenas não gostei que fosse usado dinheiro público
para pagar tal visita. Acredito que é responsabilidade dos fiéis da
Igreja de Roma cobrir as despesas da Jornada Mundial da Juventude,
como também acredito que a responsabilidade pelos gastos da Marcha
para Jesus, ou a Parada Gay, é dos responsáveis por tais eventos.
Tem se dito
que o Papa é um chefe de estado, assim as visitas dos Chefes de
Estado são responsabilidade do país que recebe os mesmos. É
verdade que o Papa é, também, um chefe de estado, mas ele não é
somente um chefe de estado, como outro qualquer. Concordo que ele
deve ser tratado como Chefe de Estado; discordo que a visita do Papa
fosse uma visita de Estado ao Brasil - sua visita tinha em mente a
JMJ. Uma visita, portanto, por motivos particulares, da sua Igreja, e
não por motivos de estado. Nenhum Chefe de Estado, organiza
manifestações multitudinárias publicas quando vem ao Brasil. Tenho
visto sim, Chefes de Estado sendo convidados para dar palestras em
universidades, ou conferências em simpósios, os quais tiveram todo
pago pelos organizadores de tais eventos.
Novamente,
desejo recomendar a leitura do artigo do Rev Marcelo Lemos, se não
tem lido ainda. Se por um lado concordo com muitos dos pontos que o
artigo levantou, do outro acredito que o mesmo não responde todas as
questões que devem ser consideradas ao refletir sobre as palavras do
Papa e o significado estratégico de tal visita ao Brasil para a
própria Igreja Católica Romana.
Finalmente,
como anglicano convicto, reafirmou minha total subscrição aos
Artigos da Religião, os quais dizem no Artigo 37, “O Bispo
de Roma não tem autoridade em esta Republica".
A Deus seja
dada toda a glória, agora e eternamente. Amém.
Josep Rossello, Bispo Diocesano da Igreja Anglicana Reformada, autor do blog Café Com o Bispo.
Sim concordo Bispo com esse documentário do Marcelo Lemos sem dizer no que ele diz o "Papa" a respeito de que muitas igrejas tem feito do seu culto a Deus uma festa de carnaval, no meio também do protestante.
ResponderExcluirApenas corrigindo o bispo..... é papa Francisco e não Francisco I. Será que existem problemas apenas na igreja católica meu caro irmão em Cristo? Se Lutero ou Calvino vivessem em pleno século XXI, estaria ele satisfeito com a situação da maioria das igrejas protestantes? Lembrando-o quando Lutero realizou seu rompimento com a igreja de Roma ela não se deu apenas por motivos religiosos, contudo políticos, basta lembrar que as igrejas luteranas lembram em muito a sé romana.. Em Cristo Jesus, Douglas Carneiro.
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