Não espalhem, mas sou anglicano!
Por Marcelo Lemos
Não espalhem, mas sou anglicano. Minha opção por caminhar pela via anglicana tem me rendido reações diversas.
Algumas pessoas simplesmente desconhecem o que significa “Igreja Anglicana”. Não deixa de ser curioso, especialmente em vista de o anglicanismo brasileiro ter comemorado recentemente 200 anos no Brasil. Outras agremiações cristãs mais jovens em nosso País, como Pentecostalismo, são unanimidade entre a população e ainda estão se preparando para comemorar seu primeiro Centenário.
Existem aqueles que enxergam o anglicanismo como um ramo apóstata da Reforma. Para estes somos um bando de cristãos sem coragem de ir para Roma, e sem brio para fincar o pé em Genebra... Trata-se de um equivoco compreensível, já que o evangelicalismo brasileiro sempre optou em abrir mão de qualquer coisa que remotamente pudesse associá-lo ao Romanismo. Em nosso País é rara a agremiação protestantes que faça uso de Calendário Litúrgico e paramentos clericais. No imenso Brasil, ainda que sem o apoio do Clero Romano, houve muitos casos de perseguição aos protestantes. As perseguições iam desde os apelidos dados, como os “bíblias”, “os bodes”, os “nova seita”, até aos atentados de morte, queimas de Bíblias, apedrejamentos, destruição de templos, proibições para casamentos e sepultamentos e cemitérios católicos e a atitude de desprezo aos crentes (ARAÚJO, João Dias de; Inquisição Sem Fogueiras; Instituto Superior de Estudos da Religião). Tudo isso gerou e perpetuou na alma protestante brasileira um imenso anti-catolicismo, de modo que qualquer coisa que pareça com Romanismo – ainda que não seja – é rejeitado de modo automático.
Uma terceira classe de dificuldades que encontro tem haver com o Liberalismo Teológico, infelizmente bem arraigado na mais tradicional das Igrejas Anglicanas do Brasil. De modo que, temos no Brasil milhões de pessoas que nada sabem sobre anglicanismo, e entre a pequena parcela que nos conhece somos vistos, aos olhos da maioria, como tendo abandonado a ortodoxia cristã – inclusive no que diz respeito à ética sexual cristã.
Ser anglicano é um desafio hoje, e talvez sempre o tenha sido. Somos uma tradição cristã onde o antigo e o novo se juntam para construir o futuro. Não abrimos mão de ser uma Igreja histórica, conectada com a universalidade da fé cristã, e não deixamos de ouvir a voz do Espírito sempre a nos conduzir nas veredas da ecclesia reformata et semper reformanda. Mas, é realmente possível ser um cristão e teólogo reformado e unir-se ao anglicanismo? Porventura há algo bom na Igreja Anglicana? Quando Natanael perguntou se poderia vir algo de bom de Nazaré, a resposta que ouviu foi: “Vem e vê!” (S. João 1.46).
Num artigo publicado há alguns meses (Cuidado com o anglicanismo!), que me fez receber algumas mensagens “desesperadas”, expliquei que no momento ainda não havia me alinhado a qualquer denominação anglicana; o artigo de hoje vem corrigir isso, ou melhor, informar que tal decisão já tem sido tomada, com muita oração, diálogos e um grande interesse em servir ao Senhor nessa nova caminhada. Estamos prestes a iniciar uma comunidade missionária ligada a Igreja Anglicana Reformada (IAR), um movimento missionário anglicano no Brasil. Tornar-se anglicano não é romper com a fé evangélica e reformada, mas sim, alargar os horizontes. Ao que duvidam, meu conselho é “Vem e vê!”.
Aqueles que imaginam que nos os anglicanos somos um meio-termo entre protestantismo e romanismo fariam bem ler o livro “Richard Hooker e a Autoridade das Escrituras, Tradição e Razão”, escrito por Nigel Atkinson. Hooker é tido pelos próprios anglicanos como um de seus mais importantes teólogos. O livro de Atkinson demonstra que Richard Hooker estava tão convencido dos princípios da fé reformada quanto os seus oponentes Puritanos. De fato, apesar de algumas divergências litúrgicas bem visíveis, anglicanos e puritanos mantinham basicamente os mesmos princípios da Fé Reformada. Robin G. Jordan escreveu um artigo introdutório sobre o assunto que merece ser lido.
De fato, Richard Hooker defendia abertamente a Fé Reformada em oposição às corrupções feitas pela Igreja de Roma. Em Learne Discourse on Justification o teólogo anglicano escreve: “Você vê, então, que a Igreja de Roma, ensinando a justificação pela graça inerente, tem pervertido a Verdade de Cristo”. Não faz, portanto, parte da identidade anglicana rejeitar a Fé Reformada para assemelhar-se, ou aproximar-se da Igreja de Roma.
Mas há um diferencial na Igreja Anglicana. Somos reformados sem abrir mão de estarmos conectados a Igreja histórica, ou seja, a Igreja de sempre. Assim como Lutero quis reformar a Igreja e não fundar uma nova, rejeitamos os erros papistas sem a pretensão de reinventarmos o cristianismo. Impossível? Vem e vê...
Quando vir, encontrará ainda uma Igreja que além de se bíblica é também, e por isso mesmo, aberta ao Espírito Santo. Como afirmamos no Pacto de Lausane, “cremos no poder do Espírito Santo. O pai enviou o seu Espírito para dar testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra ouça a Sua voz” (Pacto de Lausane, Artigo XIV).
Vem e vê!
Não estranhem se em nossos passos pode ser vista a marca do tempo - do passado é que herdamos alguns dos mais valiosos tesouros, como o sangue dos mártires, e a própria Escritura, nossa regra de fé e prática. Alegre-se conosco pelo sopro constante e renovador do Espírito Santo, que nos reforma, aviva, desperta para o trabalho e conduz para mais perto de Cristo.
sabe Marcelo, eu não gosto desse nome "Anglicano" gosto mais de chamar "Igreja da Inglaterra" rsrs
ResponderExcluirO Senhor o abençoe nessa caminhada: eu não creio que os puritanos tentaram reinventar o cristianismo, só se preocuparam em expurgar os adendos romanos a Igreja, mas no caso presente, no caso, desejo que você siga ao senhor de coração e consciência limpa na "Igreja da Inglaterra" do Bispo Ryle, hehe
Obrigado, irmão Armando!
ResponderExcluirBem, não posso dizer simplesmente "Igreja da Inglaterra" pois somos formados por igrejas autocefas, então, igreja da Inglaterra não é a mesma coisa que "anglicanismo". Espero poder explicar isso num artigo futuro.
Olha, quando eu tiver tempo de terminar a tradução daquele sermão, envio para vocês.
Que Deus te abençõe!
Que Deus abençoe muitos vcs anglicanos reformados nessa caminhada. Entendo que a fé reformada precisa de uma diversidade p se arraigar de forma relevante em nossa pátria.
ResponderExcluirQue o SENHOR JESUS o abençoe e conduza nesta nova (antiga) caminhada.
ResponderExcluirps: O cara da foto é você???
Vandim, muito obrigado.
ResponderExcluirComo um trabalho missionário da Igreja Anglicana nosso objetivo é alastrar a mensagem de Cristo por todo o Brasil, não através de grandes estruturas, mas com pequenas igrejas orgânicas (assista aos vídeos do Bispo Rossello). Com isso nosso desejo é dedicar o máximo ao discipulado individual, e evitar sermos engolidos por estruturas eclesiásticas.
Paz e bem
Luiz Felipe;
ResponderExcluirObrigado!
O irmão da foto do Bispo Francisco, presidente da IAR. Ele pastoreia uma comunidade em Bragança Paulista, SP.
Meu caro Marcelo,
ResponderExcluirHá tempos eu oro para essa decisão fosse tomada.
Seja bem-vindo e sinta-se em casa, como eu me sinto, tendo vindo da Igreja Metodista e voltado à “casa materna”, primeiro como leigo, depois como diácono e presbítero. Tenho muito orgulho de ser Católico (no sentido credal), Protestante, Evangélico e Anglicano, principalmente Anglicano.
Cremos que a Igreja não nasceu na Reforma do século XVI, mas nasceu no Pentecostes e, antes disso, nasceu na Cruz.
Deus te abençoe e conte com nosso apoio e orações.
Rev. Virgílio Torres
Com muito orgulho, presbítero da Igreja Anglicana Reformada e Reitor da Comunidade Anglicana do Salvador – Ribeirão Preto/SP
Deus te abençoe Marcelo, tenho um grande carinho por vc, vejo em suas palavras "sinceridade em encontra o meio termo, e seu amor pela verdade é fabuloso aprendi te admirar,mesmo que em alguns ponto discorde de vc, mas tenho aprendido e rever e a questinar aquilo em que creio, Deus abençoe sua vida... MenteSanta
ResponderExcluirO discursso teologico da IAR e de Igrejas Episcopais historicas como a Metodista são belos
ResponderExcluirinfelismente a pratica é outra, o clericalismo liberal está como num fio de navalha. A igreja anglicana é liberal sim e seus bispos/as homosexuais, e sua recente volta ao catolicismo com Bento XVI dizem ao comtrario do discusso e da declaração.
Eu sou brasileiro
ResponderExcluirTu és anglicano
Ele é Arminiano
Nós somos calvinistas
Vós sois metodistas
Eles são o que são. Uau! que conjugação legal!