Sobre o caráter 'genocida' da Lei de Deus

Marcelo Lemos

Meus queridos irmãos, recentemente anunciamos aqui no nosso desejo de paralisar o blog. Não o faremos. Com todas as nossas limitações daremos prosseguimento, até quando o Senhor nos permitir, e Ele tem permitido. Quero agradecer a todos os que tem manifestado seu apoio a nós nos últimos dias. Que Deus os abençoe. O mesmo Deus e Pai das Luzes (Tiago 1.17) que tem abençoado este pequeno ministério online que dirigimos a três anos.

Não podemos parar. Primeiro que não estamos no mundo para fazer a nossa própria vontade, e como alguém nos disse: “nosso descanso ainda não chegou”. Segundo, que o amor de Cristo, testemunhado a nós pelo carinho dos irmãos deste projeto, nos constrange. E terceiro, que a luta em defesa da fé ainda não terminou. São tempos difíceis. O mundo pretende destruir a cosmovisão cristã, rejeitando a submeter-se a Lei de Cristo, tentando substituí-la por sua própria “lei”, sempre relativa e mutável.


Mesmo não atualizando o blog por um algum tempo temos lutado contra alguns inimigos do Cristo nestas redes virtuais. Um deles, que se julga na missão de me convencer da inexistência de Deus, insiste desesperadamente que a Lei de Deus não tem nenhum valor moral para o homem moderno. Muito pelo contrário, ele diz, trata-se de um Deus perverso e imoral, que dentre outras coisas, transformou o povo de Israel em “genocida”. Obviamente a referencia é aos relatos de conflitos sangrentos entre Israel e povos vizinhos, como os cananeus.

Trata-se de uma tolice sem tamanho. Uma tolice já calada, e que insiste em continuar gritando apenas devido a incapacidade do homem morto em delitos e pecados enxergar alguma coisa além de seu ódio contra Deus (o mesmo que diz não existir). Para ilustrar isso, quero trazer um texto de Santo Agostinho, Bispo de Hipona, intitulado “Deus governa o coração dos maus”. Leiam atentamente, e em seguida eu retorno com alguns comentários, e refutando a ideia de a Lei de Deus teria criado um povo “genocida”.


"O esmerado estudo da Escritura mostra que Deus não somente dirige para as boas ações e para a vida as boas vontades dos homens, que ele torna boas, embora sejam más, como também mantém sob o seu poder todas as vontades em geral. Ele as inclina como quer e quando quer, seja para prestar favores a uns, seja para infligir castigos a outros, de acordo com Sua vontade, obedecendo a desígnios que são certamente ocultos, mas sempre justos.


Deparamos, por exemplo, com alguns pecados que são castigados de outros pecados, como os vasos de ira, prontos para a perdição, como diz Paulo (Romanos 9.22). Assim foi o endurecimento do Faraó, cuja razão foi a necessidade de o Senhor manifestar-lhe seu poder (Êxodo 7.3; 10.1). Assim foi a fuga dos israelitas na presença de seus inimigos da cidade de Hai; foram tomados pelo medo e fugiram. Isto lhes aconteceu como vingança do pecado com as circunstâncias com que merecia ser vingado. Refletem o fato as palavras do Senhor a Josué: Israel não poderá ter-se diante de seus inimigos (Josué 7.4-12). O que significa: não poderá ter-se? Por que não puderam resistir pela força do livre-arbítrio e, com a vontade enfraquecida, fugiram tomados de medo? Não seria porque Deus domina até as vontades humanas e deixa serem invadidos pelo temor aqueles que Ele assim quer quando cheio de ira? Os inimigos de Israel não lutaram por vontade própria contra o povo de Deus conduzido por Josué? No entanto, diz a Escritura: Porque tinha sido desígnio do Senhor que os seus corações se endurecessem e combatessem contra Israel, e que fossem derrotados (Josué 11.28).


Aquele malvado filho de Jêmini não maldizia o rei Davi por sua própria vontade? Contudo, o que disse Davi, cheio de verdadeira, sublime e piedosa sabedoria? Que importa a mim e a vós, filhos de Sárvia? Deixai que amaldiçoe, porque o Senhor lhe permitiu que amaldiçoasse Davi, e quem se atreverá a dizer: Por que ele fez assim? Em seguida, a Escritura, elogiando o sentimento do rei e como que repetindo desde o princípio, diz: E o rei disse a Abisaí e a todos os seus servos: eis que meu filho, que eu gerei das minhas entranhas, procura tirar-me a vida; quanto mais agora um filho de Benjamin! Deixai-o maldizer, conforme a permissão do Senhor; talvez o Senhor olhe para a minha aflição, e me dê bens pelas maldições deste dia (2 Samuel 16.5-12).


Qual a pessoa inteligente que chegue a entender como o Senhor disse a esse homem que amaldiçoasse Davi? Não o disse mandando, caso em que deveríamos louvar-lhe a obediência. Mas porque Deus, por um desígnio oculto e justo inclinou Sua vontade já dotada de maldade, está escrito: O Senhor lhe permitiu. Se Deus tivesse mandado e ele tivesse obedecido, mereceria louvor e não castigo, o qual, conforme sabemos, sobreveio-lhe posteriormente. E sabemos também a causa de o Senhor que maldicesse Davi, isto é, a causa de tê-lo feito cair nesse pecado: Talvez o Senhor olhe para a minha aflição e me dê bens pelas maldições desse dia.


O episódio revela que Deus se serve dos corações dos maus para louvor e ajuda aos bons. Assim procedeu ao servir-se de Judas para trair a Cristo, e dos judeus, para a sua crucificação. Quantos bens proporcionou desse modo aos povos fiéis! E se utiliza também do próprio demônio, mas para o bem, a fim de exercitar e provar a fé e a piedade dos bons. Esse proceder em nada favorece o Senhor, que tudo conhece de antemão, mas a nós necessitados de que essas coisas aconteçam.


Absalão não escolheu livremente o conselho que não o favoreceu? Mas ele o fez porque o Senhor ouvira a oração de seu pai, que assim suplicara. Por isso diz a Escritura: Por disposição do Senhor foi abandonado o útil conselho de Aquitofel, para que o Senhor fizesse cair o mal sobre Absalão (2 Samuel 17.14). Disse conselho útil, porque no momento favorecia a causa, ou seja, a luta contra o pai, contra o qual se rebelara. Seguindo o conselho de Aquitofel, conseguiria exterminar o pai, se Deus não o tivesse inutilizado, atuando no coração de Absalão para rejeitar tal conselho e preferisse outro que não o favorecia" *

Voltei.

Este texto de Agostinho nos mostra de modo bem simples a doutrina da Total Soberania de Deus. Não uma soberania apenas de “planos”, mas uma soberania absoluta, que estende suas mãos sobre cada evento da história, incluindo a vontade humana. Tal doutrina arrasa com qualquer objeção contra a cosmovisão cristã, incluindo a que diz da Lei de Deus ter criado um povo genocida: Israel. Na verdade, nem se trata de uma objeção, já o contradizente primeiro deveria nos explicar o motivo do genocídio ser errado, e se ele mantém qualquer tipo de moral relativa e subjetivista, tal tarefa lhe será absolutamente impossível.

Mas, vamos supor que houvesse uma objeção. Ela nos diz que a Lei de Deus gerou uma nação genocida, e como prova, nos apresenta este ou aquele conflito onde Israel destruiu seus inimigos. O objetor nos diz tratar-se de genocídio. O criador do termo “genocídio”, o judeu Raphael Lemkin, elaborou a seguinte definição para o termo: “um plano coordenado, com ações de vários tipos, que objetiva à destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais com o objetivo de aniquilá-los”. Se isso é certo, então o Holocausto foi um política genocida, mas as bombas nucleares sobre o Japão não foram. Os anti-americanos podem querer me linchar por isso, mas, de fato, as bombas sobre o Japão nunca tiveram qualquer intenção de “aniquilar” a raça japonesa, mas sim, barrar a sandice de seu Imperador; uma vez que tal objetivo foi alcançado, o povo japonês foi deixado em paz.

O mesmo vale para a objeção que tolamente se lança contra as Escrituras. E com muito maior propriedade. A Lei de Deus jamais ordenou qualquer genocídio, aliás, ela prescrevia medidas que protegiam até mesmo os estrangeiros que viviam em Israel. Quanto as guerras relatadas, jamais tiveram a intenção de “aniquilar” uma raça ou povo, mas sempre punir o pecado das nações que transbordavam em pecado, independentemente de raça – aliás, assim como Deus usava Israel para punir os vizinhos, também usava os vizinhos para punir Israel. Isto, por si só, destrói completamente a acusação de “genocídio”.

Além disso, a Bíblia também desmente a ideia de que Israel teria subjugado povos indefesos. E Agostinho nos mostra isto muito bem no texto acima. “Os inimigos de Israel não lutaram por vontade própria contra o povo de Deus conduzido por Josué? No entanto, diz a Escritura: Porque tinha sido desígnio do Senhor que os seus corações se endurecessem e combatessem contra Israel, e que fossem derrotados (Josué 11.20)”. Vamos ler o texto bíblico:

“Não houve cidade que fizesse paz com os filhos de Israel, senão os heveus, moradores de Gibão; por meio de guerra, as tomaram todas. Porque do SENHOR vinha o endurecimento do seu coração para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem totalmente destruídos e não lograssem piedade alguma; antes, fossem de todo destruídos, como o SENHOR tinha ordenado a Moisés” (Josué 11.19-21).

Israel subjugou povos sanguinários. Povos que não poderiam despertar no coração dos homens “piedade alguma”. E o próprio Deus assegurou tal coisa, endurecendo-lhes o coração, e impedindo-lhes de fazerem qualquer acordo de paz. Isso desfaz aquela ideia de um Israel genocida aniquilando povos indefesos a sua volta! Até mesmo quando caiu o último homem, este caiu como um homem sanguinário e irredutível. Isso não se enquadra em qualquer definição de genocídio! Genocídio seria, como já dissemos, o ódio de um povo a outro, a ponto de se coordenar ações das mais variadas a fim de aniquilar o outro completamente. Mas o que vemos na Bíblia é Deus tornando alguns povos tão obstinados e sanguinários, que não restava a Israel senão a opção de destruí-los até o último homem – e mesmo assim, o juízo divino não tinha a mesma severidade contra todos (Josué 11.22,23), o que confirma ainda mais a cegueira dos inimigos da Lei de Cristo.

Enquanto isso, aqueles que ousam desafiar a Lei de Deus, chamando-a pelos nomes da maiores atrocidades, seguem seu curso de destruição moral e física. Estes mesmos senhores da bondade e da moral, sempre relativa e mutável, são os mesmos responsáveis pelo assassinato de milhares de crianças todos os dias nos ventres de suas mães. O que nos faz lembrar do diagnóstico divino: “Julgando-se sábios, tornaram-se loucos!” (Romanos 1.22).

* Texto de St. Agostinho publicado no portal Monergismo.

4 comentários :

  1. Ufa, que bom!!!
    Deus te sustente...
    MCA

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  2. Muito bom saber que continua nesta batalha.

    Que Deus continue lhe dando forças e te ajude em todo o tempo.

    Deus lhe abençoe!

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  3. Que bom que você vai continuar, Marcelo!

    Louvo muito a Deus por ter te usado para escrever este texto. Um dos melhores que já li sobre o assunto, já vou avisando que vouusá-lo como referência para uma futura postagem no meu blog!
    Abraços, Paz de Cristo.

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  4. Graça e paz do SENHOR aso irmãos do blog...

    ALELUIA! GLÓRIA AO SENHOR! As nossas orações foram ouvidas! Meu irmão, Deus te um dom (ou talvez vários). Jamais permita que as tribulações da vida ofusquem-nos!

    "Voltei"... e deu para ver que com força total!

    Deus o abençoe e preserve!

    "... eis que vivemos como castigados, porém não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; não tendo nada, mas possuindo tudo." (2a Coríntios 9:10)

    escravosdecristo.blogspot.com

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