Legalista é a vovozinha...

Marcelo Lemos

Quando descobrem que sou Teonomista, algumas ficam surpresas. Parece-lhes contraproducente que um defensor da Graça seja também um defensor da Lei. Para muitos críticos, ser um “teonomista” equivale a ser “legalista”. Uma radialista norte-americana , ao criticar a postura ortodoxa perante o Homossexualismo, leu o seguinte texto: “O pessoal legalista (que condena tatuagem, vídeo games, música secular e acrescentam outras regras além das regras que Deus deu na religião cristã) e teonomista (praticamente a mesma coisa dos legalistas, só que mais acadêmico, fazem leitura seletiva da Bíblia e acham que a Torah deve ser imposta como padrão de leis civis”.


Legalismo e Teonomismo é a mesma coisa? É o que parece pelo que diz a interpretação acima citada. Mas não é assim. Por legalismo compreendemos o desejo e/ou esforço humano de se fazer agradável a Deus por meio da obediência estrita a Lei (seja essa Lei revelada nas Escrituras, ou acrescida com preceitos humanos). É verdade que um Teonomista pode ser um legalista, mas não é preciso ser Teonomista para ser legalista. Todo o necessário para nos transformar em legalistas é o cultivo de uma salvação meritória.

Isso se comprova num fato facilmente observado: a maioria dos movimentos legalistas a nossa volta não são Teonomistas. O pentecostalismo não é Teonomista, mesmo assim, nenhum outro movimento difundiu tanto o legalismo na mentalidade cristã atual. As Testemunhas de Jeová também são legalistas, mas sua literatura está repleta de afirmações anti-nomistas. Estes grupos estão propensos ao legalismo mesmo rejeitando a doutrina Teonomista. E a explicação é muito simples: estão contaminados por uma visão meritória da salvação.

Além dessa diferença fundamental, há outro abismo entre uma e outra coisa. O Teonomista defende a validade da Lei de Deus, entendida exclusivamente como aquilo que está prescrito na Lei de Deus, ou seja, na Escritura. O legalista por sua vez, assume um padrão de moralidade mais amplo, não limitando sua obediência aos preceitos da Escritura, mas assumindo preceitos humanos - em sua maioria ditados por alguma tradição religiosa específica. Por exemplo, um legalista costuma condenar o álcool e o tabaco, ainda que tais proibições sejam estranhas a Escritura. Por outro lado, eu, mesmo sendo Teonomista, não tenho  qualquer crise de consciência apreciando um bom vinho, uma boa cerveja (existe cerveja boa?), ou tabaco. Mesmo assim, numa visão populista e rasa do tema, o legalista sou eu... E estou me limitando a temas mais polêmicos, contudo, o mesmo debate já teve haver com marca de sabão, chiclete, pasta de amendoim, enfeite de cabelo, cor de gravata...

Assim, já vimos duas diferenças essenciais. Primeiro, que legalismo é um sentimento ímpio, não regenerado, um anseio de mostrar a Deus “veja como seu bonzinho e mereço ser salvo”. Segundo, que é uma moralidade que extrapola os preceitos bíblicos, podendo aceitar que tradições humanas se transformem em Doutrina. O legalista se pergunta: “Que preceitos devo cumprir para ser salvo?”, enquanto o teonomista questiona: “O que um salvo deve fazer para Deus?”. Como teonomista não passo meus dias tentando descobrir o que preciso fazer para alcançar a salvação, simplesmente desejo saber se minha conduta condiz com o padrão divino.

Outra diferença abismal entre as duas posturas é que o Legalista, via de regra, é paranoico, enquanto o Teonomista é um Reconstrucionista. Um legalista pode, por exemplo, proibir o cinema, a televisão, a internet, a música e o teatro; enquanto o Teonomista vai querer usar todas estas coisas para o enfrentamento cultural. Por isso, é praticamente impossível ser um Teonomista de fato e não ser Pós-milenista, ou pelo menos, um Amilenista positivo. Não sem razão sermos conhecidos como defensores de uma Teologia do Domínio.

É claro que a Teonomia pode conduzir ao legalismo, caso a pessoa não tenha bem claro que a salvação é por Graça exclusivamente. E eu temo que, de fato, alguns Teonomistas não compreendem isso. Certamente considero qualquer postura anti-nomista como sendo intelectualmente indefensável, porém, jamais coloco a Teonomia como condição para a salvação de alguém. Isso, porque não somos salvos pela nossa correção intelectual, mas por nossa fé no Cristo Bíblico. Os gnósticos criam numa salvação baseada no conhecimento, nós acreditamos numa salvação pela fé. Ainda que a fé implique algum conhecimento, o conhecimento não é substituto seu.

Recentemente alguém que acompanha meus textos na internet disse, ao me conhecer pessoalmente: “Nunca pensei que você respeitasse assim quem pensa diferente de você”. Quanto questionei o motivo de tal impressão, ouvi: “Seus textos são muito duros”. Bem, isso é verdade. E é fato que, as vezes, o modo como falamos pode afastas as pessoas, ao invés de persuadi-las. Não pretendo fugir da minha responsabilidade e culpa aqui. No entanto, penso ser coisa de criança confundir ideias com pessoas. E, já que ideias não são pessoas, e não são ideias adequadas que nos trazem Salvação, por qual motivo eu me atreveria a ir além do campo das ideias? Isso seria, não Teonomismo, mas puro e simples... legalismo.

Por essas e outras, minha resposta ao texto lido pela radialista americana, e a tantos outros críticos é: legalista é a vovozinha!

4 comentários :

  1. É bem verdade que argumentos que se utilizam hoje para desaprovar certas coisas se resumem a pura ignorância.
    Mas infelizmente eu tenho observado que o povo, ele gosta de viver sobre cabrestro, ou seja, eles querem que seus lideres digam o que eles devem ou não fazer. Você pode olhar que você é o que o seu líder é, é um ditado que aprendi que a igreja é a cara do pastor.
    Isso tem um pouco de realidade, pois se observe as igrejas, os que são da universal se eles não acreditam nessa macumba evangélica? Os de Valdomiro se tudo que falam e procuram é cura e etc. como o líder pouco se prega a palavra, a igreja é pobre de conhecimento, um exemplo também o pastor Cesino Bernardino do gideões se a igreja não se interessa tanto por missões como o seu líder, e assim vai.
    Eu ensino os meus irmãos que não praticamos boas obras para ser salvo, e praticamos boas obras porque somos salvos, é algo da nova criatura que nasce quando você renuncia a si mesmo. Pois a salvação é pela fé, e também a fé sem obras é morta, então praticamos boas obras por ter fé que somos salvos, e não pra ser salvos. Vivemos como salvos pela fé, pois aqueles que guardarem a fé de ser salvo receberão a coroa. Muitos trabalham na obra para serem vistos pelos homens, sabemos que há muitos sinceros, que fazem porque sabem que essa vida é passageira e que o tempo é curto e devemos fazer algo para o Senhor.
    Sou totalmente contra a imposição de regras de condutas, mas prego a vida vivida através de princípios; não deixei de jogar vídeo game porque o pastor ou minha igreja AD me impõe tal coisa, mas sei do conteúdo dos jogos pois sou considerado viciado, digo de toda verdade que conheço mais de jogos (atualizado até 2009) que da bíblia não porque eu amo mais vídeo games do que a bíblia mas porque foi uma vida de jogos desde a Nintendo, SNES, PLAY 1, 2 e etc.
    Não quer dizer que dito uma regra crente NÃO PODE jogar vídeo game, mas ensino através de princípios e estudos, os malefícios que eles causam, o tempo que você poderia gastar com algo que edifica (jogo edifica?), sempre por instrução de causa e prioridade. Mas parece que o povo quer ouvir: quem joga vídeo game vai pro inferno, vídeo game não é de Deus, etc.
    Porque não consumo vinho ou outra bebida? Eu me levo pelas experiências, princípios. Me prove que beneficio ou o porquê de se tomar vinho ou outra bebida; comemoração, ou o vinho faz bem a saúde? Sei que o vinho é benéfico a saúde, mas você pode trocar o suco de uva fermentado por um não fermentado; um suco de uva armazenado desde 1970 por um de poupa pronta comprado no supermercado. Cerveja! Qual o propósito? Meu pai esta posto contra a parede ou a bebida ou a vida.
    As pessoas não crentes não enxergam um crente que consome bebida alcoólica, não porque a igreja moldou esse tipo de visão nas pessoas, mas porque eles querem que nós sejamos diferentes deles.
    Esta no período de carnaval agora, o daqui é bem famoso na região, sei quantas vidas são destruídas pela bebida, quantas mortes de colegas ao volante, até o governo enxerga o malefício dela, veja a lei seca. Para o meu pai três latas de cerveja está bêbado.
    Então dentro de tudo, isso fora os estudos que são bem mais profundos, me mostra algo proveitoso para o consumo de bebida alcoólica.
    Vejo isso sempre como falta de renuncia a si mesmo. Como lanna holder fez, entre outros.
    Cada tem a sua particularidade do que renunciar, por isso que é a si mesmo.
    Tabaco! Tenho nojo. Tenho problemas respiratórios porque meu pai e minha mãe fumavam perto de mim desde a infância.
    Então se me opuser a essas praticas pelas minhas experiências de vida e pelo que vejo na sociedade, é legalismo? Então o sou. Mas quando você conseguir me provar algum proveito pra tais praticas me avisa, para avisar ao meu pai que ele contribuiu com alguma coisa para a vida dele.

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  2. Alderi; o irmão apresenta motivos de saúde para não fazer isso e aquilo, e não motivos religiosos. Até aqui não há legalismo. O legalismo começa se você faz isso buscando "ganhar salvação", ou quando não respeitar a liberdade que eu tenho de pensar e agir de modo diferente. Eu posso pensar diferente de voce nestes assuntos? POSSO! Posso, pois a Bíblia me dá tal liberdade. Não é uma questão de você julgar haver ou não beneficio em qualquer uma delas. A questão não é você, eu, ou a experiencia de quem quer que seja. A questão resume a liberdade dada pelas Escrituras.

    Abraços

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  3. A verdade na Lei de Deus, nunca, nunca,... procurou dar ao homem méritos para a salvação, ser Teonomista, estritamente falando, por si só renuncia o legalismo, pois faz de vc um conhecedor da Lei.

    Embora não seja mais um Teonomista,(( não que tenha algo contra na estrutura bíblica, sempre apreciei e aprecio o sistema )) mas sempre notei que Rm 8.4 deixa muito claro que a Graça de Deus, plenificada na nova dispensação, faz todos os cristãos serem cumpridores da Lei.

    Marcelo, vc tem algo que mostre, como comentou no MCA, que a escravidão que conhecemos seria uma contradição na 'escravização' bíblica???
    abraços

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  4. Olá, irmão Luciano, paz e bem

    Vou tentar ser bem breve na resposta, uma vez que estou com bem pouco tempo para a Internet esses dias (trabalho, faculdade, igreja). Mas podemos, claro, expandir o tema aos poucos, ok? Algumas observações iniciais.

    a) A “escravidão” na Bíblia tem mais haver com o que modernamente denominamos “trabalho forçado”. O trabalho forçado tem haver com dívida, enquanto a escravidão moderna tem haver com sequestro e/ou cárcere. Exemplo: um pai de família contraída uma divida impagável, e por isso, se submetia a servir seu credor por X anos até que a divida fosse paga.

    b) Além disso, há um preceito explicito na Lei de Deus que CONDENA A MORTE qualquer pessoa que sequestre um homem e o mantenha consigo para seu próprio benefício. E não foi exatamente isso que se fez com os índios e com o povo africano (dentre outros)?

    Essas duas observações já servem para apontar que há erro naqueles que tentam classificar a Lei de Deus como dando aval a prática escravagista que conhecemos/praticamos.

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