Eu acredito na Igreja!


Por Marcelo Lemos

Hoje cheguei em casa com algumas missões bem específicas. Reviso um livro sobre homilética, que o Bispo Rossello aguarda para publicar, termino a tradução de outro texto, a pedido do mesmo Rossello, e ainda tenho algumas pesquisas a fazer para um segundo livro que inicio... Não esperava parar para fazer qualquer outra coisa, não hoje. Contudo, encontro nos comentários do Olhar Reformado um pergunta que me obriga a parar o carrossel, e descer. Uma pergunta inevitável, e muito desafiadora. Talvez eu devesse ignorá-la, mas isso seria covardia, e não o farei.

A pergunta vem de Louise Marrie, do Rio de Janeiro. Ao ler meu artigo Você é Evangélico? Pense de novo, enviou-nos o seguinte questionamento:


Tenho procurado uma igreja, ou um grupo de pessoas que tenham este olhar para o "ser cristão", para o que é Jesus no contato conosco e outras reflexões que nos/me ajude a entender e crer de dentro pra fora e incondicionalmente. Me sugere alguma coisa além da busca individual?

Não conheço a história de Marrie, mas minha primeira observação é sobre sua sobriedade. Tenho visto muita coisa ruim na Internet no meio que pretende fazer frente ao status quo do “mundo evangélico”. De boas intenções, diz o ditado, certo lugar está cheio... Infelizmente, tenho visto gente que no desejo de combater os males que afligem a Igreja terminam combatendo a própria Igreja. Cresce em muito a quantidade de “cristãos” desigrejados. Um homem fora da Igreja pode ser qualquer coisa, menos um cristão.

Não abro mão da Igreja. “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia” (Hebreus 10: 24-25). Cristãos isolados? Cristãos sem Igreja? Não existe tamanho disparate em lugar algum das Escrituras! Não foram os homens, mas Deus mesmo quem instituiu a Igreja, e até mesmo sua hierarquia essencial. Talvez possamos discordar da nomenclatura, mas Cristo colocou pastores sobre seu rebanho, que no Cristianismo histórico – e no Novo Testamento – recebem nomes como Bispos e Presbíteros. Além disso, Deus também instituiu os Diáconos.  

Uma coisa é o combate ao erro, ao abuso, a heresia; outra bem diferente é combater a Igreja, e a forma como Cristo a instituiu nas Escrituras. Com esta segunda missão não tenho qualquer compromisso.

O Novo Testamento acredita na Igreja. Cristo acredita na Igreja, “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (S. Mateus 16:18). O Cristianismo histórico acredita na Igreja, como vemos nas palavras do Credo Apóstólico:

Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição do corpo,
e na vida eterna. 

“Não deixando a nossa congregação”. “Creio... na santa Igreja”. Uma Igreja que é católica, pois universal é a sua natureza. O Novo Testamento não te obriga a ser da minha denominação, mas te obriga a fazer parte de uma congregação local; se isso não acontece, você não é parte da Igreja. E se você é parte da Igreja, através de uma congregação local, pertence a uma família que não tem barreiras nacionais e culturais, então, você pode confessar o credo cristão “Creio... na santa Igreja católica”. Se não pode confessá-lo, não é cristão. Muitos fazem parte de congregações, mas limitam a graça de Deus ao seu reduto, a sua tradição. É assim a mentalidade de grupos como, só para dar um exemplo, as testemunhas de Jeová. Elas não aceitam a catolicidade da fé cristã. Daí as chamarmos de ‘exclusivistas’ e ‘sectários’. Não são cristãos, ainda que estejam dentro uma [suposta] congregação.

Querida Marrie, incentivo e oro por sua busca. Que o Espírito Santo te ilumine, e que seu exemplo possa motivar outros a uma busca semelhante. Dito isto, vamos a parte mais complicada do seu questionamento.

Existe alguma Igreja que eu recomendo? Alguns leitores podem achar que eu não deveria publicar tal resposta. E eles podem ter bons motivos. Por exemplo, podem alegar que toda Igreja, quando entendida como uma organização institucional, é obra humana e passível de erro. Estão certos. Mesmo assim eu farei minha recomendação (que, na verdade, não é única). Pois se organizações humanas nunca serão perfeitas, existem aquelas que, quando comprometidas com a Palavra de Deus, estarão mais abertas a correção e a voz do Espírito que outras. Os erros humanos não devem nos fazer duvidar que o Espírito segue escrevendo a história, e que sempre haverá uma multidão que não se vende aos falsos ídolos.

Além disso, enfatizo que não vejo necessidade de concordância em tudo para que a comunhão seja possível. A concordância plena, em cada mínimo detalhe jamais aconteceu, nem mesmo na história primitiva do cristianismo – fato que pode facilmente ser demonstrado através da leitura da Patrística. E, olhem para as páginas do Novo Testamento, nem mesmo nos dias apostólicos havia homogeneidade total, como numa fabrica de biscoitos... Aliás, por isso a Igreja realiza concílios, o primeiro deles tendo sido registrado em Atos dos Apóstolos, capítulo 15.  

Conheço comunidades que enchem o coração da gente de alegria, e gostaria de abrir espaço para que os leitores compartilhem suas próprias experiências. Não temos receio de vir a público e criticar as coisas ruins que acontecem na Igreja, mas, e quanto às coisas boas? Você já teve uma boa experiência? Que tal usar os comentários para compartilhar? Eu, por exemplo, poderia citar gente como o Pastor João Batista, hoje na Assembleia de Deus Ministério de Santos, em Praia Grande. Também conheci denominações que aprendi a admirar, ainda que não faça parte delas, e talvez divirja em este ou aquele posicionamento. Alguns exemplos: a Reina, a Comunidade de Nova Vida, a Diocese Anglicana do Recife; além de muitas e muitas comunidades da IBP, da IPI, e da Luterana! E minha lista é extremamente injusta!

Todavia, um bom nome de Igreja, por mais tradição tenha, não significa muito por si só. Até mesmo os batistas vão reconhecer que nem tudo que se diz batista é, de fato batista. Talvez seja o caso de a maioria não ser batista, apesar no nome gravado na placa. Na hora de procurar uma comunidade batista, a placa é o que menos importa. O mesmo vale para presbiterianos, congregacionais, metodistas, assembleianos, anglicanos. Aliás, que tal umas duas linhas sobre anglicanos? Tem anglicano, que mesmo dentro da Comunhão Anglicana, está longe da fé reformada e cristã, apoiam abominações como o sincretismo  religioso e o homossexualismo... Um bom nome não é necessariamente uma garantia.

Quanto a mim, minha busca por uma comunidade que fosse reformada e aberta ao Espírito Santo (refiro-me aos dons), conduziu-me a IgrejaAnglicana Reformada - na qual sou hoje um pastor comissionado (sem as Sagradas Ordens). Temos problemas? Sim, os temos. Mas creio ser uma das melhores opções para a eclesiologia brasileira, e a cada dia, o Espírito Santo tem agregado a nossa família pensadores e líderes comprometidos com o Evangelho, a cultura, a liderança, a apologia, e todo o mais que precisamos para construir uma nação realmente cristã.

Por qual razão somos uma boa opção? Posso citar várias. Primeiro, somos Reformados. Levados os princípios da Reforma a sério. Não pactuamos com aquilo que esteja contra a Escritura, e assim caminha a nossa teologia. Segundo, somos uma Igreja histórica, e mais do que isso, que mantém o governo episcopal por sucessão apostólica. Tal pensamento é estranho a maioria dos nossos evangélicos, certo? E o que tem de bom nisso? Basicamente, que não jogamos a história do cristianismo fora, nem pensamos que nossos fundadores e mestres foram os que inventaram a fé cristã. Estamos felizes em fazer parte da Igreja de sempre. Reformada, sim. Reinventada, não.

Poderia citar outras qualidades, mas preciso terminar com aquela que talvez seja a mais importante. Quando estava procurando em encaixar em uma Igreja Reformada fui imediatamente atraído pela missão publicada pela IAR: “alcançar para Cristos 169 milhões de brasileiros”. Apesar de amar meus irmãos reformados, o fato é que se podemos encontrar uma Igreja pentecostal em cada esquina, o mesmo não se dá com as igrejas reformadas. Criticamos tudo e todo, mas estamos isolados, muitas vezes, em nossos bairros chiques, nos grandes centros, e no Facebook! Em alguns momentos tem-se a impressão de que evangelizar os perdidos, acreditar num verdadeiro avivamento em nossa não e no mundo é coisa de arminiano e neopentecostal. A Igreja Anglicana Reformada rejeita esse pessimismo! Somos uma igreja missionária!

Contudo, não sou eu quem deve escolher uma comunidade para Marrie, ou para qualquer outro cristão. Deus guia nossos passos, e neste texto ele certamente me usou para explicar algumas diretrizes. Mas posso, claro, deixar o meu convite: venha nos conhecer. Não somos loucos de posar como a última Coca-Cola da geladeira, mas acreditamos em nossa missão, e seria covardia, e falsa humildade, não compartilhar nossos ideais com o leitor. Como já escrevi outras vezes, não me exponho fazendo apologia por acreditar que tudo está perdido para a Igreja; ao contrário, denuncio o erro, os abusos e as heresias justamente por acreditar que há Esperança!

Quem desejar conhecer um pouco mais sobre nós, há bons materiais gratuitos publicados pela Latimer Press. Neste link é possível fazer download de folders e livros.  

5 comentários :

  1. Graça e paz irmão Marcelo Lemos.

    Excelente posicionamento e reflexão. Simples, mas preciso e profundo.

    Confesso que, cada vez mais, meu marido e eu "entravamos conversas" com pessoas que estão fora de alguma igreja local, ou porque estão decepcionadas, ou porque acreditam nessa nova "moda pós moderna - iniciada por um famoso pastor evangélico" que um cristão não necessitar congregar. Às vezes chega a ser desgastante, mas, graças ao bom Deus, temos visto Ele mesmo mudar alguns corações que amam a Ele com sinceridade e trazê-los à congregação novamente.

    Realmente, a Igreja como instituição humana é cheia de falhas, mas se ama a Deus e a Cristo, obviamente, o Espirito Santo a adverte e a corrige no transcurso da história. Por isso devemos acreditar nela, que está em Deus.

    Seu texto renovou meus argumentos, renovou meu espírito, renovou minhas esperanças.

    Abraços fraternos e Deus abençoe sempre.

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  2. Olá! Graça e paz!
    Eu peço que leia meus blogs www.cristaoreformado-cristaoreformado.blogspot.com e www.caririreformado.zip.net

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  3. Paz Marcelo,

    Texto muito bom e esclarecedor! Deus lhe abençõe sempre.

    Fica na paz

    htll//naverdadeenoamor.blogspot.com/

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  4. Como vai Marcelo, paz!

    Não conhecia o blog, vi seu texto hoje no Genizah e acabei caindo aqui - não deve ter sido atoa.

    NÃO ACREDITO!!! que para ser um cristão genuíno (igreja invisível) é necessário fazer parte de uma instituição local (igreja visível). O que dizer, por exemplo, de pessoas em países (ou uma localidade qualquer) que crê no Evangelho mas que nesses lugares não possuem qualquer denominação oficial (devido a diversos motivos)???

    A ideia de que sem igreja/instituição não há cristão implica diretamente que sem a mesma igreja/instituição não há salvação. E como todos nós sabemos muito bem quem salva não é a igreja/instituição mas Jesus Cristo! Glórias somente a Ele!!!

    Tentei escrever alguma coisa a respeito no nosso blog - inclusive alguns adendos sobre Hebreus 10.25 - a hora que o irmão tiver tempo gostaria que lesse e comentasse alguma coisa.

    Abraços
    Orlando
    souteologico.blogspot.com

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  5. Orlando; obrigado por enriquecer nosso blog com sua participação. Sobre sua pergunta tecerei algumas considerações assim que possível.

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