A Homilética da Frescura!


Rev. Marcelo lemos

Recentemente publiquei um texto sobre o Cristo “revolucionário” do ex-padre Beto. Não fosse bastante enfrentarmos a oposição daqueles que, abertamente, são contra Cristo, também a enfrentamos de quem, supostamente, acredita n'Ele. Agora tenho em mente uma nota publicada não por um ex-padre, mas por uma Diocese Católica Romana, de Adelaide, Austrália. Essa diocese resolveu retirar de sua liturgia o Credo Niceno, já que o Novo Missal Romano autoriza sua substituição pelo Credo Apostólico em algumas situações. Mas, qual a situação alegada por esses, supostos, cristãos?

“Nós utilizamos o Credo Apostólico como pratica comum em nossa arquidiocese porque a última tradução do Credo de Niceia ainda usa uma linguagem exclusiva - “por nós homens” - afim de referir-se a toda a humanidade... Por uma questão de inclusão, a nossa arquidiocese foi, portanto, direcionada a usar o Credo dos Apóstolos, em vez do Credo Niceno como prática regular”.

Santos Deus! Quantos padres “Beto” há de ter em tal diocese? Observem que tudo isso é mera ideologia humanista, sem qualquer respaldo na Teologia e na História da Igreja. É a homilética da frescura. Se o menino de Sexto Sentido via “gente morta” o tempo todo, o que nós encontramos a cada esquina é “gente fresca”. Quem não se lembra, por exemplo, de quando o Pr. Malafaia afirmou que a Igreja de Roma deveria “descer o pau” nos militantes gayzistas (que desrespeitaram a Constituição), e rapidamente uma tuba de “gente fresca” o acusou de promover a violência, quando na verdade ele estava sugerindo que os supostos gurus da tolerância fossem levados aos Tribunais? Eu vejo gente fresca o tempo todo.

Os frescos lá da diocese romana de são do mesmo tipo. Todo mundo sabe que “homens” é uma forma generalizada da Tradição Cristã, e mesmo a Sagrada Escritura, constantemente se referir a humanidade como um todo, mesmo assim, eles acham que o Credo Niceno é sexista, enquanto eles, os iluminados pela idolatria humanistas, possuem a capacidade de revisá-lo, e torná-lo melhor do que foram capazes os heróis da fé de séculos atrás. Nada garante que, daqui mais uns anos, esses mesmos iluminados advoguem colocar ao lado de Cristo os nomes de Buda e Maomé, pois a salvação exclusivamente em Cristo é, certamente, crença de gente reacionária e fascista.

Mas, mesmo entre os mais bem-intencionados podemos encontrar certa dose de frescura. Por exemplo os cristãos reformados que citam o Credo dos Apóstolos, mas em vez de confessarem pertença a “Igreja Católica”, confessam crença na “Igreja Universal”. Seria injusto comparar estes com aqueles católicos romanos de Sidney, mas a frescura é bem semelhante. E agora que Edir Macedo se apropriou do adjetivo “universal” vão substitui-lo pelo que? Acredito que houvesse sério trabalho de catequese, não se fariam necessárias tais manobras tolas de revisionismo histórico e confessional.

O fato é que se todo mundo de repente se acha no direito de alterar o Credo por conta própria, terminaremos cada um com sua própria versão, e seu próprio Cristianismo. Não custa nada lembrar que a primeira divisão formal da Igreja se deu justamente por causa disso – quando a Igreja latina resolveu incluir o “Filioque” no Credo Niceno, ofendendo a sensibilidade dos cristãos orientais. Se hoje, graças a grandes esforços ecumênicos, essa questão está melhor resolvida, e já se sugere que o problema é mais cultural e linguístico que doutrinário, infelizmente somos atacados pela homilética da frescura. E eu posso até compreender que a unidade da Igreja seja ameaçada por questões de doutrina e moral, mas por causa de frescuras, é o cúmulo da nossa pecaminosidade.

Nós, anglicanos, fazemos questão de manter diante dos olhos a famosa fórmula estabelecida por Lancelot Andrews, a respeito dos padrões doutrinários da Igreja da Inglaterra:

“Um canon, definido e escrito pelo próprio Deus; dois Testamentos; três Credos; quatro Concílios ecumênicos; e cinco Séculos...”.


Em linhas gerais, essa tem sido a postura das Igrejas de tradição reformada, e não apenas da Igreja da Inglaterra, e daquelas que se identificam com o ethos anglicano. Certamente não foi intenção dos primeiros reformadores – old protestants – destruir uma Catedral e edificar outra em seu lugar, mas sim, reformá-la, retirando o excesso de entulho e de sujeira, segundo entendiam. Hoje, parece ser necessária uma nova Reforma, e dentre o que precisa ser jogado no lixo, provavelmente encontraremos uma boa dose de frescura.

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