O Barquinho e a Predestinação
Rev. Marcelo Lemos
Neste feriado encontrei novamente uma antiga analogia utilizada por arminianos - e sinergistas em geral - como explicação para a doutrina da eleição bíblica. Vou compartilhar exatamente como li numa comunidade do Facebook:
"No tocante à eleição e predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande navio viajando para o céu. Deus escolhe o navio (a igreja) para ser sua própria nau. Cristo é o Capitão e Piloto desse navio. Todos os que desejam estar nesse navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone o navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A predestinação concerne ao destino do navio e ao que Deus preparou para quem nele permanece. Deus convida todos a entrar a bordo do navio eleito mediante Jesus Cristo!"
Trata-se somente de uma analogia, algo sempre muito limitado, mesmo assim nos fala muita coisa sobre como muitas pessoas compreendem o mistério da salvação. O que essa analogia nos diz sobre a Eleição é bem simples: Deus não elegeu individualmente quem vai ser salvo, antes, elegeu uma agremiação, a Igreja. Significa que ninguém recebeu de Deus um "selo especial", mas sim, um convite para que se filiem a agremiação indicada por Ele, de modo que, ser salvo ou não depende, em ultima instância, da escolha de cada um.
A imagem do barco é bem apropriada aqui. Imagine que por algum motivo toda a humanidade se vê afogando nas águas do Atlântico, tendo ao seu lado várias embarcações que sugerem alguma esperança de salvação. Todas essas embarcações também naufragarão, exceto uma, a nau chamada Igreja, e capitaneada por Cristo. Exclusivamente esse barco foi Eleito por Deus e, quem escolher entrar nele, estará a salvo, aqueles que optarem pelas embarcações erradas, se afogarão, mais cedo ou mais tarde.
Os sinergistas não gostam da sugestão de que acreditam em uma salvação onde os méritos humanos decide o destino final das pessoas. E creio que são sinceros em sua reclamação. Porém, por mais que eu simpatize com muitos deles, e os considere irmãos em Cristo, não vejo como escapar de tal acusação. Porque se é verdade que Deus olhos para todos os náufragos, e deu a todos a mesma oportunidade, e a mesma medida de Graça, então não é Ele quem dá a palavra final para cada indivíduo. É cada um de nós que decide o que desejamos fazer. É cada um de nós que erra ou acerta sobre o que fazer com o Dom de Deus.
A analogia diz que se alguém abandonar o Barco de Cristo deixará de ser um eleito. Isso contradiz a própria analogia. Na verdade tal pessoa nunca foi um eleito, apenas estava dentro de um barco eleito - o que é muito diferente. Eleito é o barco, primeiro por Deus, depois pelos homens. Ou seja, Deus elegeu um barco que vai chegar ao outro lado do Jordão, e cabe a cada náufrago eleger acertadamente qual foi o barco escolhido por Deus. Muitos elegem o barco errado, e se perdem. A briga entre monergistas e sinergistas me parece estar centralizada justamente neste quesito: é Deus quem escolhe os homens, ou são os homens que escolhem Deus?
Deus escolhe os homens, ou não. Deus salva os homens, ou não. Alguém me escreveu que o Deus no qual nós cremos deixa que a maioria dos homens morra afogada, por mais desesperados estejam pela salvação. Nada mais falso. Porque a analogia é completamente falsa. Primeiro, que não existem náufragos lutando pela salvação, existem mortos que precisam ser ressuscitados. Os homens não carecem de um barco, eles carecem de Ressurreição espiritual. Em segundo lugar, ninguém que buscar o auxilio de Cristo será deixado para trás, porque não foram eles quem escolheram a Salvação, mas Deus quem os entregou a Cristo: "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" ( S. João 6.37).
Essa eterna eleição ou ordenação de Deus para a vida eterna não deve ser considerada no conselho secreto e inescrutável de Deus tão nuamente como se mais nada compreendesse, ou como se nada mais a ela pertencesse, e nada mais houvesse de ser considerado nela, senão isso que Deus previu quem e quantos deveriam ser salvos, quem e quantos deveriam ser condenados, ou que Deus apenas passou em revista assim: Este deve ser salvo; aquele não; este há de perseverar; aquele não.
ResponderExcluirPois disso muitos derivam e concebem pensamentos esquisitos, perigosos e perniciosos, que causam e fortalecem segurança e impenitência ou desalento e desespero... E tais pensamentos por certo que sobrevêm também a corações piedosos, conquanto pela graça de Deus tem arrependimento, fé e bom propósito. Chegam a pensar, especialmente quando reparam em sua fraqueza e no exemplo daqueles que não perseveraram, mas apostataram: Se não estás predestinado desde a eternidade para a salvação, tudo é inútil.
A essa “fantasia” e pensamento errôneo deve contrapor-se este fundamento claro, que é certo e não pode falhar: “Toda Escritura inspirada por Deus” se destina a servir não para segurança e impenitência, mas “para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” 2 Tim 3:16., igualmente, visto que tudo na palavra de Deus nos foi prescrito não para que fôssemos com isso levados ao desespero, mas “a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” Rom 15:4...
Por conseguinte, se queremos pensar ou falar correta e proveitosamente da eterna eleição ou predestinação e ordenação dos filhos de Deus para a vida eterna, não devemos especular em torno da nua, secreta, oculta e inescrutável presciência de Deus, senão que devemos meditar no conselho, propósito e preordenação de Deus em Cristo Jesus... Com essa vontade revelada de Deus é que devemos ocupar-nos, para que sigamos e nela sejamos diligentes... Não devemos perscrutar o abismo da oculta presciência de Deus, como está escrito em Lc 13:, onde alguém pergunta: “Senhor, são poucos os que são salvos?” e Cristo responde: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Lutero diz assim: Segue a ordem na Epístola aos Romanos, ocupa-te primeiro com Cristo e seu evangelho, a fim de reconhecerdes teu pecado e a graça Dele, e em seguida lutares com o pecado, conforme Paulo ensina do primeiro capítulo ao oitavo. Depois, quando no oitavo capítulo entrares em tentação sob cruz e aflições, os capítulos nono, décimo e undécimo hão de ensinar-te quão consoladora é a predestinação. Essa a extensão em que o mistério da predestinação nos é revelado na palavra de Deus. E se a isso nos restringirmos e atermos, deveras é doutrina útil, salutar e confortadora; pois que mui poderosamente confirma o artigo de que somos justificados e salvos sem qualquer obra ou mérito nosso, exclusivamente de graça, só por causa de Cristo... E dessarte esta doutrina também dá o belo e glorioso consolo de que Deus se interessou tão profundamente na conversão, justiça e salvação de cada cristão e tamanha foi a respeito sua fidelidade de propósito, que, “antes da fundação do mundo” deliberou no tocante a isso em seu “propósito”, determinou de que modo me levaria até lá e como nisso me preservaria. Ainda que Ele quis acautelar minha salvação tão bem e seguramente, que, porquanto pela fraqueza e impiedade da nossa carne facilmente poderia escapar-nos das mãos, ou dela ser-nos arrancada e tomada pela astúcia e poder do diabo e do mundo, a ordenou em seu eterno propósito, que não pode falhar ou ser subvertido, e a colocou, para resguardo, na mão onipotente de nosso Salvador Jesus Cristo, da qual ninguém nos pode arrebatar (Jo 10:28)... Proporciona essa doutrina, outrossim, glorioso consolo em cruz e tentações, a saber, que Deus determinou e decretou, em seu conselho, antes do tempo do mundo, que vai nos assistir em todas as situações difíceis, conferir-nos paciência, dar-nos conforto, suscitar esperança e prover desfecho que nos seja para salvação... É preciso distinguir, porém, com especial diligência, entre o que é expressamente revelado a esse respeito na palavra de Deus e o que não é revelado... Deus ainda manteve em silêncio e oculto muitas coisas concernentes a esse mistério, tendo-as reservado exclusivamente para sua sabedoria e conhecimento. Não devemos investigar essas coisas, nem devemos seguir nisso os nossos pensamentos, nem tirar conclusões ou “parafusa”, senão que devemos ater-nos à palavra revelada. Essa advertência é muitíssimo necessária.
ResponderExcluirNossa impertinente curiosidade sempre é muito mais desejosa de cocupar-se com isso, porque não podemos harmonizá-lo, o que, não temos ordem de fazer, do que com aquilo que Deus nos revelou a respeito em sua palavra... Deve-se, de acordo com isso, considerar essa eterna eleição de Deus em Cristo, não fora de Cristo ou sem ele...
Extraído e adaptado. Livro de Concórdia. Declaração Sólida. XI. Da eterna presciência e eleição de Deus.
"Os sinergistas não gostam da sugestão de que acreditam em uma salvação onde os méritos humanos decide o destino final das pessoas. E creio que são sinceros em sua reclamação..."
ResponderExcluirDo mesmo modo como o Calvinismo, leva a entender que Deus é o autor do mal, e que força o homem a pecar.
01x01 próximo round...
Obrigado por sua participação, e Deus, de fato, É O AUTOR DO MAL, ainda que não precise levar o homem a pecar, pois o homem é escravo do pecado, e só saber fazer o mal.
Excluir02X00... proximo round em breve, em novos artigos, SE Deus PERMITIR escrevê-los.
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