Pregação Expositiva - Parte II

Pregação Expositiva

Parte II

 Por Marcelo Lemos                                                                                                                            


No primeiro artigo desta série, nós falamos sobre as desculpas comumente usadas contra a pregação expositiva. Neste, estaremos abordando o tema por um ângulo mais prático. Pergunte-se, o pregador, sobre a facilidade ou não para escolher um tema para cada culto da semana. Uma tarefa difícil; seria a minha resposta. Uma pergunta que sempre me fiz foi: “Como os pregadores estrelas encontram seus temas?”. Quando comecei a me dar conta do método deles, achei melhor nem saber mais... Felizmente, conheci uma metodologia melhor. E é justamente sobre ela que falaremos neste artigo e no próximo.

Mas, tudo que falaremos aqui, pode ser apropriadamente resumido em uma única frase: a pregação expositiva é um manancial inesgotável de temas! 

“Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus!” – Atos 20.27. 
Iniciei-me no ministério da pregação relativamente cedo: aos 17 anos, quando entrei para o Seminário. Aos poucos, Deus foi abrindo diante de mim as portas para esta vocação. Nestes quase dez anos de pregação, errei muito e aprendi um pouco. Um dos erros que cometi e gostaria de compartilhar com vocês hoje, diz respeito à escolha de temas para os sermões. 

Claro que no Seminário, e nos diversos livros sobre a matéria que devorei, se ensinavam vários princípios para a escolha de temas. Não é meu objetivo aqui criticá-los, mas sim, demonstrar suas limitações práticas para o pregador que tem uma Igreja sob a sua responsabilidade. 

Assim, quero primeiramente citar e comentar alguns destes princípios largamente ensinados; em seguida, pretendo falar sobre suas limitações, para finalmente, mostrar uma alternativa melhor: a pregação expositiva

No artigo de hoje, o segundo da série, estaremos abordando especialmente a dificuldade de se escolher temas para nossos sermões; no próximo artigo, demonstraremos o uso prático da exposição bíblica na escolha de temas. 

Como Escolher um Tema? – As orientações mais comuns que encontramos: 

Referência a uma data especial. O tema do sermão pode ser motivado por datas cívicas e religiosas. Por exemplo, o natal, a páscoa, o dia de finados, dentre outras, podem ser propulsoras de bons sermões temáticos e textuais. Nestes casos o pregador precisa apenas de “criatividade” para redigir um tema interessante e relevante, contudo, o mesmo já esta auto-justificado. 

Se você pertence a uma igreja litúrgica, como a Anglicana, por exemplo; só precisa seguir o calendário presente no Livro de Oração Comum. Porém, esta ‘facilidade’ não está disponível para todos nós, pregadores. 

Referência a um evento eclesiástico especial. Existem diversos eventos na Igreja, que por si mesmos, já nos sugerem o tema do sermão, ou pelo menos, qual o objetivo do mesmo. Claro que o pregador não pode prescindir do uso criativo do mesmo. A meu ver, estes eventos devem ser levados em consideração na redação do tema, em diversas ocasiões. É o caso de eventos litúrgicos como: A Ceia do Senhor; Batismos; Funerais; Consagrações; etc. 

Referência a uma necessidade particular identificada. Aqui estamos em um campo perigoso. Um obreiro sensível à voz do Espírito certamente identificara necessidades espirituais na vida da Igreja, ou de algum grupo ou membro. O bom senso e a experiência ministerial poderão lhe dizer a melhor forma de se tratar o caso: em publico ou em particular. 

Estas necessidades espirituais identificadas justificam a escolha de um tema? Pode ser que sim, e muitos manuais de homilética assim o ensina. Contudo, não podemos nos esquecer das desvantagens e dos perigos que acompanham este procedimento. 

Exemplificando: imagine que um membro identifique a mensagem como sendo direcionada a ele! Ou então, que se suspeite que o pregador esteja tornando publico algo que lhe foi confiado em particular! E nem perdermos tempo falando daqueles que deliberadamente usam o púlpito da Igreja para ataques pessoais... Também não podemos aprovar aqueles que, fazendo uso da tribuna, vivem a enviar “recados” a desafetos. Não façamos do púlpito um castelo para os covardes! 

Referência a algum evento contemporâneo. Alguém sugeriu que o cristão deva ler a Bíblia e o jornal ao mesmo tempo. Existe certa verdade neste conselho. Estou certo de que os eventos que ocorrem no mundo estão sob o Governo Providencial de Deus e, portanto, podemos aprender verdades espirituais a partir de sua observação. Também é verdade que tais eventos podem gerar temas úteis para a pregação. 

O perigo aqui é tornar a experiência mais autoritativa do que as Escrituras. O cristão pode sim ler a Bíblia e o jornal ao mesmo tempo, porém, jamais deve se esquecer que apenas a Bíblia é a verdade divina! O pregador pode até estar convencido de que o aquecimento global é apenas uma desculpa para o surgimento do Anticristo, no entanto, tal certeza lhe deve vir das Escrituras e não dos jornais! Infelizmente, alguns pregadores são mais dados a fazerem exegese de jornal, do que da Bíblia... 

Citaremos apenas mais uma possível fonte de temas: aquilo que vem ao pregador em seus estudos pessoais das Escrituras. A meu ver, este é a metodologia mais recomendada e segura; contudo, ela será ainda melhor se acompanhada de um plano sistemático de exposição de “todo o conselho de Deus”. Sobre isso falaremos na ultima parte deste artigo. 

Como Escolher um Tema? – Analisando as limitações dos métodos acima: 

Como eu disse, existe sim algum valor em tais métodos e não é meu objetivo sugerir que sejam abandonados. Não obstante isso ser verdade, gostaria de falar sobre as limitações intrínsecas aos mesmos. 

Em minhas primeiras pregações eu me sentia confortável as regras acima. No máximo, eu era ‘obrigado’ a pregar uma ou duas vezes no mês; assim, eu achava que tinha temas na manga para ‘dar e vender’. Contudo, à medida que mais oportunidades de pregar surgiam, mais eu percebia a limitação dos meus temas e dos meus recursos para produzi-los rapidamente. Também comecei a observar grandes pregadores “televisivos”, e notar que os mesmos, normalmente, apenas repetem as mesmas coisas, ainda que usem textos totalmente diferentes!... 

A minha frustração chegou ao topo quando recebi a responsabilidade de pastorear uma pequena congregação. Agora, eu era ‘obrigado’ a pregar duas, ou três vezes, numa única semana, o que me fazia carregar o peso de no mínimo, doze sermões por mês – isso pregando apenas nos três cultos regulares da semana! 

Mas, como é possível pregar doze sermões em um único mês, para as mesmas pessoas, e mesmo assim, manter um ministério frutífero, interessante e variado? Isso pode ser fácil para pregadores itinerantes; afinal, num mesmo dia eles podem pregar a mesma mensagem em dois ou mais lugares e ninguém vai se dar conta! 

Estas necessidades ministeriais me fizeram perceber que minha longa lista de “temas” não era minha salvaguarda para um ministério da palavra variado e frutífero, mas sim, o meu calcanhar de Aquiles... 

Felizmente, eu estava iniciando também meu contato com a exposição bíblica. Iniciava neste período a minha leitura de Calvino; Baxter; Gill; Pink; Barnes; Henry e tantos outros. A descoberta dos tesouros deixados por tais homens me levou a uma outra revelação: a exposição bíblica me livra da tarefa de procurar temas bíblicos aleatoriamente. Se eu mantenho a prática de estudar e expor “todo o conselho de Deus”, os temas me virão de forma natural; restando-me apenas a tarefa de redigi-lo de forma criativa. 

Procure fazer a seguinte conta comigo: se você for um assembleiano, como eu, sob sua responsabilidade podem estar três cultos semanais. Em quantos deles você prega? Vamos às contas: 

(a) Pregando apenas uma vez na semana. Apenas a título de ilustração vamos imaginar que todos os meses possuem quatro domingos. Uma vez que temos doze meses no ano, você precisará pregar 48 sermões em 2009. 

(b) Pregando duas vezes na semana. Vamos supor que além do domingo, você precisa proclamar o Evangelho também as terças-feiras; dia no qual, normalmente as Assembléias de Deus reservam como “Culto de Doutrina”; ou “Culto de Ensinamento”. Neste caso, supondo também que o ano tenha 48 ‘terças’; você precisará de 98 temas para o ano de 2009. 

(c) Pregando três vezes na semana. Quem sabe você precise pregar as terças; quintas e domingos! Nem sempre o obreiro precisará pregar tantas vezes numa única semana; pelo menos, não na realidade assembleiana; contudo, vamos às contas: 146 sermões lhe serão necessários em 2009! 

Isso nos leva diretamente ao encontro da maior limitação dos métodos listados acima sobre “criação de temas”. Imagine sentar-se 146 vezes para escolher 146 textos diferentes e dar a cada um deles 146 temas distintos, atraentes e poderosos! Acredite-me, já passei por isso e digo que é tarefa extremamente desgastante. Não é a toa que muitos pregadores que conheço acabam se ‘viciando’ em livrinhos de esboços; isso, quando suas pregações não se limitam a generosas doses de frases de efeito! 

Dito isto, imagine o peso nos ombros daquele pastor que já está a 10 anos pastoreando a mesma Igreja! 1460 temas! Ufa! 

Como Escolher um Tema? – A naturalidade e variedade do tema na pregação expositiva. 

 Foi nesta fase de planejamento que pude experimentar pessoalmente a validade da afirmação de Karl Lachler:
“a pregação expositiva baseada em livros da Bíblia livra-nos da tarefa dúbia de inventar temas para a pregação a cada domingo. A invenção de temas é um trabalho que consome tempo e devora nossa energia. E quem pode ter certeza de que o tema selecionado é a escolha de Deus? Mesmo esta sombra de dúvida mina nossa convicção espiritual necessária para pregarmos estes temas. A pessoa que prepara sermões a partir de um livro da Bíblia já tem um tema geral dado par Deus, ao lado de outros temas de apoio nos parágrafos de pregação. Nada disso depende da invenção humana. Com um recurso rico como este, o pregador não precisa esgotar suas energias para provar sua capacidade de inventar. Ele fica livre para estudar o parágrafo da pregação na qualidade de Palavra de Deus. Ele tem liberdade para decifrar o tema divinamente inspirado e pregá-lo com bastante convicção. Tal convicção é exatamente o oposto das dúvidas incômodas que muitas vezes acompanham temas arquitetados pelo homem” – Prega a Palavra; Ed. Vida. 

Sei que para muitos, tais observações podem parecer supérfluas; afinal, podem dizer, “todo que o pregador precisa é berrar bem alto receeeeeeeeeeeebaaaaaaa!”. Mas, permita-me lhes recordar do que afirmamos no primeiro artigo desta série: 

“O pregador não é um animador de platéia, tampouco é um prestidigitador cuja missão é impactar a mente da audiência com sinais e prodígios. O mensageiro de Deus é um Arauto do Senhor; um profeta enviado pelo Altíssimo com uma mensagem; portanto, sua principal responsabilidade é ter uma mensagem. Sem uma mensagem clara, fiel e viva, nenhum homem tem o direito de se colocar diante do rebanho do Senhor como um mensageiro”. Para ler todo o artigo, clique aqui. 

Como saber se o tema que você escolheu para o próximo domingo é à vontade de Deus para a sua Igreja? Para subir no púlpito não basta ter me mãos um tema bonitinho ou impactante. Não precisa ser bonito e nem impactante, precisa apenas ser bíblico! 

Seguindo com a dinâmica deste artigo, vamos continuar assumindo que você tenha 146 agendados para este ano! Onde, então, conseguir temas que sejam únicos, interessantes e bíblicos, para cada uma destas pregações? O meu conselho é: pregue a Bíblia expositivamente, preferencialmente, em seqüência. 

Começe ainda hoje o seguinte experimento: abra sua Bíblia no Livro de Genesis e conte quantos capítulos ele têm; em seguida, tente divídilos em pericopes, finalmente, tente imaginar quantos sermões são possiveis com a exposição apenas deste livro !...

Ficou animado? Esperamos que sim. Mas, estas questões, serão abordadas com mais detalhes no nosso próximo artigo.

Paz e bem!

6 comentários :

  1. Epahhh!!! Fiquei animado.

    Paz Marcelo,

    Isso ainda vai dar um livro.

    Mas gostaria de comentar uma pregação que ouvi no último "Culto Jovem" da congregação da qual faço parte, foi escalado um "auxiliar de trabalho" para entregar o sermão, ops! mensagem, em dado momento, não sei de onde ele tirou isso, ele disse que "os cientistas descobriram que o universo não é feito de matéria, mas é feito de cosmos.", detalhe isso não tinha nada relacionado a passagem lida, olhei para minha esposa e balancei a cebeça com um sorrizinho sem graça.

    Acho que está na hora de você visitar nossa igreja e dar um curso sobre pregação expositiva.

    Em Cristo,

    Ednaldo.

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  2. Olá, novamente, irmão Ednaldo ! Queira Deus, realmente, conseguirmos publicar um livro sobre tema!

    De fato, a idéia é que depois de publicada toda esta serie, a transformarmos em um arquivo PDF para ser baixada na nossa seção de Publicações.

    Sobre este pregador, acho que ele não entendeu a teoria de que o Universo pode ser apenas um holograma... O que há pior do que um pregador sem cultura? Um que ache que tenha...

    Mas, eu já vi coisa pior. Recentemente, um pregador falando sobre o aquecimento global soltou a melhor de todas as teorias: “Deus está acostumando o mundo com altas temperaturas, pois vai jogar todo mundo no lado de fogo! Sem o aquecimento global as pessoas seriam destruídas no Juízo Final!”.

    Ora, quanto falta Bíblia, sobra imaginação!

    Aliás, que tal se agente criasse uma seção com “pérolas” dos pregadores? Aí não teremos um livro, mas sim, uma enciclopédia...rsrsrs

    Marcelo Lemos
    S.B. do Campo-SP

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  3. excelente topico, aguardo outros e a disponibilidade para baixar, quanto ao "aquecimento global" é uma "perola" e tanto, nunca ouvi nada igual e olha que cada coisa!

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  4. marcelolemoseditor1 de maio de 2009 às 10:07

    Diego; obrigado por sua participação. Continue, sim, acompanhando a série. Estamos com alguns problemas de acesso a Net; mas, na medida do possível estarmos realizando as devidas atualizações.

    Paz

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  5. Oi Marcelo ,

    Fiquei muito feliz por descobrir esse espaço , com instruções tão relevantes .
    Iniciei no ministério Pastoral há apenas dois anos , no interior do Piauí , e tenho percebido a importância de apresentar uma mensagem , tal como você disse: clara , fiel e viva.

    Então , por favor , esteja me recebendo como aluna !

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  6. Oi, irmã Patrícia (talvez devo chama-la de pastora); obrigado pela sua participação, e por suas palavras de apoio. Espero em Deus poder sempre estar a disposição do Corpo de Cristo. Me alegra saber que alguém em um lugar tão distante, pode encotrar neste humilde projeto o auxilio do Senhor. Me perdoe, querida irmã, pela demora na resposta.

    Olha, sobre ser aluno, também me vejo como um: digo-o com toda honestidade. Não sou um grande pregador, nem um grande teólogo. Sou um apaixonado pelo Evangelho, e pela pregação do Evangelho.

    Paz e bem.

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