A Lei e o Evangelho - Diferenças Fundamentais

A Lei e o Evangelho

= Algumas Diferenças Fundamentais =


lei-evangelho-diferenças

Marcelo Lemos

Desejamos iniciar algumas reflexões sobre dois temas que parecem tão opostos entre si: a Lei e o Evangelho. Sim, parecem realmente muito distantes um do outro, tanto que “A Lei” pode se tornar sinônimo de “morte”, e o “Evangelho”, sinônimo de “vida”. E, de fato, tal diferenciação nos parece válida, apesar de recusarmos o erro daqueles que imaginam que o Evangelho tenha jogado a Lei na lata do lixo – o que, aliás, não é o tema da nossa meditação hoje.


Sim, existem diversas diferenças essenciais entre uma e outra coisa. A Lei e o Evangelho são duas coisas distintas, apesar de perfeitamente complementares. Como os dois lados da moeda, são perfeitamente distinguíveis, apesar de formarem uma coisa só – o que novamente nos faz contemplar o equivoco dos antinomistas; dos quais, repito, não falaremos ainda.

Que diferenças essenciais são estas? Falaremos sobre apenas duas delas. E isto faremos sem qualquer pretensão de originalidade (graças a Deus!): baseamos nossas meditações em comentários de Zacharias Ursinus (1534-1583), o principal autor do Catecismo de Heidelberg.

A Lei e o Evangelho diferem quanto a seu modo de revelação.

A Lei de Deus é gravada no coração do homem, desde o dia da sua criação. Trata-se de uma Revelação Natural, disponível a todos os seres humanos. Tal conhecimento da Vontade de Deus está arraigado no coração de cada ser humano, do mais culto ao selvagem mais isolado que já se tenha encontrado. Apesar do vírus do pecado, o homem sempre mantém uma chama que lhe diz qual o caminho certo a seguir, mesmo quando ele erra tentando segui-la, ou tentando se esquivar dela.
“Os quais mostram a obra da Lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” – Romanos 2.15.
Eis aqui, querido internauta, o calcanhar de Aquiles de todas as teorias ateístas e agnósticas que o homem já produziu. Sem tal chama da Lei de Deus em seu coração, nenhum homem jamais poderia encontrar qualquer justificação racional para qualquer padrão de bem, ou de verdade. Quando o homem diz “não há Deus”, ele faz a si mesmo um “tolo”, um estúpido de marca maior – um ser completamente irracional, que não pode justificar nenhum de seus atos, e nenhum de seus padrões éticos e morais.

Por mais que se esforcem tentando fazer parecer que a irracionalidade pertence aos crédulos cristãos, o fato é que os incrédulos se afundam na areia movediça do subjetivismo e do relativismo.
“Disse o néscio em seu coração: Não há Deus! Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não ninguém que faça o bem” – Salmos 14.1.

O Evangelho, por sua vez, não é algo que pode ser conhecido ‘naturalmente’ pelo homem – faz-se necessária uma Revelação Especial. Um selvagem isolado em algum recanto do Amazonas jamais poderá conhecer o Evangelho de Cristo, a menos que seja alcançado pela pregação do mesmo. Pense nos milhões de pessoas que já passaram por este mundo sem nunca terem encontrado um único crente em Cristo. Nenhuma destas pessoas conheceu o Evangelho. Nenhuma destas pessoas conheceu a Salvação em Jesus Cristo.

Sim, todos eles conheceram a Lei de Deus. Mas nenhum deles conheceu o Evangelho. Conheceram a lei, mas não conheceram a Graça.

A única forma de se conhecer o Evangelho é por meio de Cristo, revelação especial dada a Igreja de Cristo. Todo ser humano tem conhecimento do pecado, e de sua própria pecaminosidade. Mas nenhum ser humano poderia conhecer o fato de que Cristo se fez nossa justiça, sacrificando-se em nosso favor, caso tal conhecimento não fosse especialmente revelado, através das Escrituras – que foram dadas ao povo de Deus, a Igreja no Antigo e no Novo Testamento.
“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” – Mateus 11. 27.
“E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está no céus” – Mateus 16.17.
“Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mo deste, e guardaram a tua palavra. Agora já tem conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; porque lhe dei as palavras que tu me deste; e eles a receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste” – João 17. 6-8.

A Lei e o Evangelho diferem quanto ao seu conteúdo.

A Lei de Deus ensina aos homens o que Deus exige de cada um de nós. A Lei de Deus ensina aos homens o que deveríamos ser, e por conseguinte, aquilo que somos incapazes de ser: força-nos a contemplamos nossa própria pecaminosidade estampada como que num auto-retrato. Mas, ao contrário do que ocorre com o Evangelho, a Lei nada nos diz sobre como é possível atingir a perfeição exigida por ela, e também não é capaz de nos habilitar a realizar suas exigências.

O Evangelho faz isso. Ele nos diz como fazer, e nos capacita a fazer. Como se dá isso? Em resumo, nos apresenta a Graça, com a promessa da retidão de Cristo imputada a nós por meio da fé em Jesus. Nas palavras de Ursinus, enquanto a lei diz “faze isso e viverás” (Lucas 10. 28), o Evangelho apenas diz “Não temas, crê somente” (Marcos 5.36).

Lei e Evangelho não são inimigos. São complementares. A Lei sem Evangelho é sentença de morte. O Evangelho sem a Lei não teria razão de ser. Com efeito, a Lei nos revela o pecado, e a nossa pecaminosidade, além de nos apontar a Ira de Deus que paira sobre as cabeças, de nós todos, incapazes de atingirmos a perfeição por ela exigida. Então, entra em cena o Evangelho.

O Evangelho, termo grego que se poderia traduzir como “boas noticias”, vem nos contar da Maravilhosa Graça de Deus, que apesar de nossa total falta de méritos, e por motivos ocultos em si mesmo, nos escolhe, chama e capacita a vivermos diante da sua presença. Quantos nos dias de hoje saberiam definir com alguma exatidão o termo “evangelho”?
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” – Efésios 2.1.
“Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e vos vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer” – João 5.21.
A Lei é o padrão de Deus, padrão que o homem jamais poderá atingir. Por isso, não é possível ser salvo pela Lei. Neste sentido, a Lei, sem estar acompanhada pelo Evangelho, é uma terrível sentença de morte.
Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: ‘Não cobiçarás’. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado. E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri – Romanos 7.7-9.
O Evangelho, ao contrário do que muitos pensam, não anula a Lei, antes a estabelece, conforme diz Paulo em Romanos 3.31. Como o Evangelho estabelece a Lei? Em primeiro lugar, por confirmar o seu valor, já que se a Lei estivesse errada, o Evangelho não teria razão de ser. A verdade do Evangelho está intimamente ligada a verdade da Lei de Deus. Em segundo lugar, por dar ao homem a habilidade de viver segundo a vontade de Deus, vontade esta revelada em sua Lei.

Paz e bem.

0 comentários :

Comente e faça um blogueiro sorrir!

Reservamos o direito de não publicar comentários que violem a Lei ou contenham linguagem obscena.