Falando Sobre Homilética... (Parte I)

Falando Sobre Homilética...


Por Marcelo Lemos



Refletindo sobre homilética...Meus queridos irmãos, hoje quero começar a compartilhar com você algumas reflexões sobre homilética. Minha intenção é publicar tais reflexões em dois artigos. Tomarei como base de minhas reflexões, algumas declarações extraídas do pensamento de grandes mestres na matéria. Já afirmei em outras ocasiões que possuirmos uma teologia correta a respeito da pregação, constitui-se num passo fundamental para transformarmos a cultura anti-intelecutal e utilitarista que domina os pulpitos brasileiros.


Antes, porém, de comentarmos em cima do que outros pensadores escreveram, gostaria de comentar sobre aquelas famosas definições clássicas sobre homilética, que podem ser encontradas em praticamente todo bom manual sobre o assunto. Ou seja, primeiramente refletiremos sobre o que é a homilética... As reflexões com base na declaração dos mestres da matéria, ficarão para um segundo artigo, ok?

Passemos, então, as duas mais importantes definições clássicas.
A palavra grega Homilia significa conversação, discurso familiar. O mesmo vale para o termo em latim, Sermo; do qual temos “sermão”.

Paremos um pouco, e meditemos sobre esta definição. Sendo a homilia um tipo de conversação, quão distante nossos pulpitos estão de tal definição? Pense nisso! Não é verdade que o mais comum é vermos pessoas utilizando o Altar como palco para demonstrações de habilidades, ou virtudes pessoais?

O pregador é aquele que conversa com a Igreja sobre alguma coisa, um tema; e não aquele que é capaz de transmitir carisma, poder, vibração pessoal! Quando você prega, estás a conversar com seus ouvintes?

Gosto especialmente de Spurgeon por tal caracteristica, que tenho como marcante em seus sermões. Observe alguns exemplos de como ele se dirige a Igreja;
Spurgeon, pregando em Surrey Music Hall
Spurgeon, pregando em Surrey Music Hall
Antes de entrar nosso texto, permitam que eu lhes diga o que creio ser o significao de pregar a Cristo crucificado. Meus amigos, eu não creio que pregar a Cristo crucificado seja dar ao nosso povo uma boa dose de filosofia cada domingo pela manhã, ou pela noite...


E eu tenho uma opinão pessoal, de que não se pode pregar a Cristo crucificado a menos que se pregue o que hoje em dia se convencionou chamar de Calvinismo... – Charles Spurgeon; “Cristo Crucificado”, sermão pregado na Capela de New Park Street, na manhã de 11 de Fevereiro, 1855.

Um segundo exemplo;
Meus irmãos, dirijo-me a vossas almas: Não é verdade que Deus os convenceu do pecado, e dias idos? Não veio o Espírito Santo e lhes mostrou que você eram culpáveis, mesmo que nenhum pregador tivesse podido lhes fazer larga sua justiça própria? Não prevaleceu a justiça de Cristo? Não é verdade que ela chegou e lhes disse que suas obras eram como trapo de imundicia? E, quando já quase estavam decididos por não escutar Sua voz, não é certo que Deus fez soar os tambores do Inferno, bem pertinho dos seus ouvidos, e ainda lhes pediu que olhassem para a eternidade? O trono estabelecido, os livros abertos, a espada sendo desembanhada, o Inferno ardendo,... Não foi assim que Ele lhes convenceu do juízo vindouro? Ele, pois, é um eficiente advogado quando deseja convencer a alma acerca do pecado, da justiça e do juízo!

(...)

Tendo lhes explicado, assim, o oficio do Espírito Santo como nosso professor e advogado, chegamos então na parte onde explicaremos o termo que se encontra em nossa tradução “O Consolador!”. E aqui, aboraderei o assunto sob três perspectivas: Em primeiro lugar, falarei sobre o Consolador; em segundo lugar, sobre o consolo; e em terceiro lugar, falarei sobre os consolados... – Charles Spurgeon; “O Consolador”; sermão pregado na Capela de New Park Street; na noite de 21 de Janeiro, 1855.

Lendo estas linhas, não é verdade que dá até vontade corrermos para a Igreja, só para ouvirmos um sermão? Quando você começa a pensar na pregação como uma conversa sobre a Bíblia, começa também a se colocar no lugar de seus ouvintes. Um exemplo simples: quando você for falar sobre a Justificação, terá o cuidado de ser tão erudito, que até o mais renomado teologo visitando a congregação, se daria por satisfeito; mas também explicará a doutrina com tamanha facilidade, que a velhinha analfabeta, que se senta lá no cantinho da Igreja, voltará para casa edificada!

Neste fim de semana, recebi um interessante, e valioso comentário do irmão Clóvis, editor do blog Cinco Solas. Ele me escreveu que,
Não sou o que se pode chamar de pregador. Prefiro ministrar estudos e aulas em EBDs e cursos.

Nunca tive o prazer de ouvi-lo falar, mas fico imaginando como seria uma pregação, deste que não se considera um pregador... Reparem que ele define a si mesmo, ainda que indiretamente, como um professor, um discipulador de almas. Portanto, acho que posso imaginá-lo como um pregador didático. Certamente ele não se encaixa no esteriótipo popular sobre “pregador”, e por isso, compartinho de seu sentimento. Porém, do ponto de vista que estamos falando, é exatamente isso que um pregador é: um guia, um mestre, um professor, um discipulador.
A homilética é arte e a ciência de proclamar a Palavra de Deus.
Tive contato com esta interessante definição no meus primeiros dias de Seminário. Ela me pareceu, e ainda parece, muito esclarecedora. Quando pensamos na homilética como uma “arte”, somos levados a pensar no aspecto criativo da mesma. Já, pensando nela como “ciência”, somos lembrados de que ela possui regras e princípios que precisam ser seguidos.

E não é exatamente isso que a experiencia nos mostra? Observe dois ou três pregadores falarem sobre um mesmo texto, ou um mesmo assunto. Cada um deles possui sua própria criação, seu próprio estilo e vigor. Em cada um deles podemos aprender coisas novas, detalhes normalmente despercebidos, nuançes... Isso é criação. Algo constantemente esquecido pelos plagiadores – os famosos “pregadores papagaios”.

Que tipo de pregador é você?
Que tipo de pregador é você?

Comparando pregadores, também conseguimos perceber o valor da homilética enquanto ciência. Alguns possuem o pensamento claro; outros, são como nuvens em dia de chuva. Alguns possuem uma estrutura lógica, sequencia; enquanto outros, soam como um trem descarrilhado. Isso é presença, ou ausencia!, de tecnica, de conhecimento, de dedicação ao ensino, e ao estudo da Palavra de Deus, enfim.

No próximo artigo, estaremos refletindo sobre definições de gente famosa. Fiquem com Deus, e até nosso próximo encontro.

Paz e bem.

6 comentários :

  1. Sendo a homilia um tipo de conversação, quão distante nossos pulpitos estão de tal definição?

    Mas quem disse que devemos usar a homilia nos púlpitos?

    Não estou dizendo que é errado.

    Muito bom o artigo,estou esperando o próximo!

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  2. aCHEI MARAVILHOSO este site e o artigo sobre homilética,coisa rara nos nossos púlpitos historicos e neo penteca( nestes nem existe, que pena).Quero ler a 2º a segunda parte do referido artigo.Em Cristo. jader

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  3. " A apatia está por toda parte. Ninguém se preocupa em verificar se oque está sendo pregado é verdadeiro ou falso.
    Um sermão é um sermão não importa o assunto.
    Só que quanto mais curto, melhor !"
    (Spurgeon)

    Falando sobre o "engolir" tudo que é falado e sobre na verdade o desinteresse das pessoas pela palvra de Deus, a garnde maioria busca resolver seu problemas carnais...

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  4. Agradeço a todos pela visita, e pelos comentários. A segunda parte do artigo está a caminho.

    Paz e bem!

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  5. Gostei muito, pena que nem todos hoje em dia são tão humildes e ao mesmo tempo tão ousados para pregar a verdadeira palavra de Deus, fazendo com que pessoas se arrependam sem precisar de técnicas ou palavras sensibilizadoras, mas antes a pura, maravilhosa palavra extraída do livro da vida.

    Esperamos a segunda parte.

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  6. Eliete, a segunda parta já vem... Sou meio lento mesmo! Os leitores do Olhar Reformado já estão acostumados (he, he, he...).

    Ainda mais que estou de nenem novo (meu filhinho, Yuri, nasceu sexta-feira!). Estou em Minas, e hoje é a primeira vez que acesso a Net, nos ultimos dias.

    De qualquer forma, não deixe de conferir o nosso Link sobre Homilética, ok?

    Paz e bem; grato pela visita e pela participação!

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