A Bíblia Dake e Outras...

A Bíblia Dake & Outras...


Marcelo Lemos

Entendes o que lês?
Recentemente vivenciamos uma grande controvérsia envolvendo a publicação de Bíblias de Estudo no Brasil (1). O foco principal da polêmica era a Bíblia de Estudo Dake, apresentada pela CPAD ao público brasileiro como sendo uma das melhores já publicadas no Brasil. Nem todos concordaram. Devido ao fato de que Fine Dake apoiar conceitos teológicos contrários a ortodoxia assembleia na, especialmente em áreas que fomentaram o nascimento da Teologia da Prosperidade, houve uma severa campanha contra sua publicação, já que a casa editora em questão é uma entidade confessional.


Mas, não quero falar, neste pequeno artigo, especificamente sobre a Dake, que aliás, foi forçada a se retirar do mercado editorial por causa da controvérsia. Meu objetivo é traçar comentários gerais sobre qualquer Bíblia de estudo que o leitor tenha em mãos, ou que deseja comprar. Esboçarei apenas alguns princípios gerais, que se observados, servirão de grande ajuda para o estudante sério da Palavra de Deus.

1º - Bíblias de Estudo X A Bíblia


Eu não gosto de Bíblias de estudo. Mas também não sou inimigo delas, apenas não sou muito chegado delas. Nem mesmo a Bíblia de Estudo de Genebra, que amei, tem o privilégio de me acompanhar em minhas andanças diárias. Qual o meu problema com Bíblias de estudo? Apenas um: nós somos todos preguiçosos, e amaríamos receber tudo mastigadinho, e nos vermos livres da árdua tarefa de “manejar bem a palavra”(2.) Este comodismo faz parte da nossa natureza pecaminosa, e com a ajuda do Espírito Santo, precisamos lutar contra o mesmo.

O risco que se corre é nos tornarmos um expert na visão teológica da Bíblia de Batalha Espiritual e Vitória Financeira, e sequer compreendermos o que a Bíblia tem a dizer sobre os problemas econômicos de nossa era. E este é apenas um exemplo. Ao invés disso, devo priorizar conhecer a Bíblia, e talvez – só talvez – recorrer a alguma dessas publicações, e outros comentários, para expandir aquilo que descubro por meio da exegese.

Somos todos preguiçosos? Sim, somos. Comparemos, por exemplo, os números de vendas relacionados a Bíblia de Estudos, com todos os exemplares vendidos de todos os manuais de exegese já publicados no Brasil. Quem ficará com a preferência dos leitores brasileiros? Eu não tenho números precisos sobre a venda de manuais de exegese, mas sei que as Bíblias de Estudo alcançam vendagens comparáveis ao de Sidnei Sheldon.

2º – Bíblias de Estudo: seu real valor.


Bíblias de Estudo são ferramentas uteis, quando usadas com sabedoria e moderação. Recordo que quando a Central Gospel lançou a BBEVF, o pastor Altair Germano, das Assembleias de Deus, publicou uma interessante observação:

“As Bíblias de estudo são uma ferramenta de grande valor para os estudantes da Palavra de Deus. As notas introdutórias, as informações culturais, sociais, geográficas, políticas, econômicas e espirituais do mundo bíblico, as notas teológicas, os comentários de rodapé, todas estas coisas contribuem para facilitar a pesquisa e a investigação realizada no texto sagrado. Se faz necessário contudo, termos um certo cuidado no uso destas bíblias, como por exemplo, conhecer a linha teológica dos comentaristas, suas bases doutrinárias e seu nível de compromisso com a ortodoxia cristã”(3).

Concordo plenamente. Tomados os devidos cuidados, as Bíblias de Estudo – e o mesmo raciocínio vale paras os comentários bíblicos em geral – podem nos servir de grande auxílio, pois são capazes de nos fornecer valiosas informações sobre geografia, história, manuscritos, e elementos controvertidos no texto. O que não podemos permitir, em nosso estudo pessoal, é que o pensamento de outras pessoas moldem a nossa forma de pensar.

Uma pesquisa na Internet nos forneceu a seguinte definição para Bíblias de Estudo:
“Uma Bíblia de estudo é uma edição da Bíblia com recursos a mais (além do texto da Bíblia) buscando facilitar e direcionar os estudos daqueles que buscam aprofundar seus conhecimentos bíblicos” (4).

Facilitar e direcionar. O positivo e o negativo, lado a lado. Facilitar pode ser bom ou ruim, depende da postura do estudante diante das Escrituras. Direcionar também poder as duas coisas. Eu posso direcionar bem aqueles que são dedicados a estudos sérios; e posso direcionar mal aqueles que pensam que minhas palavras possuem mais autoridade do que a Palavra da Verdade.

3º – Recursos que recomendo.


Você, sua Bíblia e um biscotitinho; deixe os comentaristas para depois...

Tem duas Bíblias de estudo que recomendo. A minha preferida é a clássica Bíblia Thompson (5). Faço uso constante dela, inclusive no púlpito, por um motivo bem simples: apesar de possuir muitos recursos uteis (mapas, referencias, dicionário, etc), ela não possui comentários de rodapé; ou seja, ela não interpreta o texto para nós! Minha segunda opção, é a Bíblia de Estudo Genebra (6). Que há de bom nela?
Para J. I. Packer, "quatro séculos atrás as notas da Bíblia de Genebra fizeram a erudição dos mestres da Escritura servir à causa de Deus, da verdade e da piedade, com toda a profundidade alcançada pela teologia da Reforma. A Bíblia de Estudo de Genebra faz o mesmo hoje. Creio que a sua extraordinária combinação de fidelidade com devoção coloca a Bíblia de Estudo de Genebra numa categoria à parte" (7).

Evidentemente, a orientação teológica desta última é calvinista, tendo entre seus comentaristas gente gabaritada como: Bruce Waltke, Edmund Clowney, J. I. Packer, James Boice, Roger Nicole, Leon Morris, R. Laird Harris, Moisés Silva, R. C. Sproul, Simon Kistemaker, Sinclair Ferguson, Wayne Grudem. Ou seja, ainda que ela também direcione e facilite o leitor das Escrituras, é uma ferramenta bem mais segura que qualquer outra, já que sua ortodoxia não pode ser facilmentequestionada por quem quer seja. Seus estudos não são fruto da mente de um homem, antes, foram compostos por mais de 50 eruditos, estando dentre eles batistas, anglicanos e presbiterianos (8).

Todavia, quando estou estudando um texto bíblico, a Genebra não é minha leitura inicial, justamente para evitar entrar diretamente em contato com seus comentários. Todavia, depois de julgar ter compreendido o coração da passagem, ela certamente fará parte das minhas pesquisas.

Creio que estes princípios podem ser de grande ajuda para o estudante sério das Escrituras, quer ele tenha em mãos uma obra ortodoxa como a Genebra, ou uma com conteúdo questionável – em alguns pontos – como a Dake, ou a Vitória Financeira.

Minha opinião é que não compensa gastar a absurda quantia de 100 ou 120 Reai$ com bíblias de teor questionável, quando pela metade do preço você pode ter em mãos recursos tão bons quanto, e ainda não favorecer a publicação de conteúdo duvidoso.

Paz e bem

Artigos Recomendados:

___________

(1) Alguns links para consulta: http://www.pulpitocristao.com/2009/12/as-heresias-da-biblia-de-estudo-dake.html; h ttp://pastorrobsonaguiar.nireblog.com/post/2009/09/19/biblia-anotada-dake-to-fora-parte-iihttp://pastorrobsonaguiar.nireblog.com/post/2009/09/29/vergonha-biblia-anotada-dake-lancada-pela-cpadhttp://pastorciroresponde.blogspot.com/2010/02/por-que-recomendo-biblia-de-estudo-dake.htmlhttp://olharreformado.wordpress.com/2009/12/29/revisora-da-biblia-dake-e-demitida-da-cpad/

(2) “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (II Tim. 2.15).

(3) http://www.altairgermano.net/2008/03/bblia-de-estudo-batalha-espiritual-e.html

(4) http://pt.wikipedia.org/wiki/Bíblia_de_estudo

(5) http://www.editoravida.com.br/loja/product_info.php?products_id=315

(6) http://www.editoravida.com.br/loja/product_info.php?products_id=315



(7) http://www.monergismo.com/textos/resenhas/biblia_genebra_franklin.htm

(8) Idem.

3 comentários :

  1. Minha ressalva é a tradução da Bíblia Thompson. Um de meus professores (Aldery Nelson Rocha) me aconselhou a não levá-la para a sala de aula. Para uma Bíblia mais simples, sem notas ou estudos, uso a da JUERP e da SBTB (Trinitariana) corrigida e fiel. Alguns textos na Thompson carecem de palavras, que foram omitidas na ARA.

    N´Ele, que aprendeu as escrituras e as sabia de cor.

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  2. Bem, o grande erro que muitos estudiosos cometem hoje (especialmente os que adotam a Trinitariana) colocando outras traduções como espúrias é a falta de conhecimento da crítica textual. O que fazem é comparar as versões e isto fica além da critica. Se há um meio de comparação deve ser por meio de variantes textuais, e diga-se de passagem, que são poucas de uma para outras versões a ponto de não influênciarem na mensagem inspirada por Deus. Penso que a questão esta mais no fato da preferência.

    Obrigado!

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