O que é ser espiritual

Passado este pequeno recesso de fim de ano, durante o qual nos afastamos por uns dias, estamos retornando ao blog. Foi um período interessante, do qual destaco breve conversa entre amigos, na qual nos questionávamos sobre o significado de ser um crente espiritual.

Levando em conta tratar-se de tema de suprema necessidade, era de se esperar respostas seguras, o que nem sempre acontece. Infelizmente, parece que o termo “espiritual”, quando aplicado a vida cristã, é muito pouco compreendido em seu sentido bíblico.

Estamos, em grande grau, contaminados por uma compreensão popular que herdamos de alguns movimentos avivalistas. Refiro-me a ideia de que “vida espiritual” esteja associada a experiencias místicas. Ainda que o crente espiritual possa encontrar-se com eventos sensoriais, não são tais experiencias que o classificam, do ponto de vista bíblico, como um crente espiritual.

Erro semelhante é cometido por muitos que duvidam de experiencias carismáticas: em sua defesa do culto racional, tendem a cultuar o racionalismo, menosprezando, ou até demonizando, o aspecto sensorial e místico da religião cristã, magistralmente eternizado em seus ritos liturgicos.

Uma vida espiritual não se avalia nas experiencias, tampouco na ausência delas, mas sim, pelo Juízo prescrito na Palavra de Deus. Compreender este ponto é de extrema necessidade: a experiencia não é o fundamento da fé. Nossas experiencias, por melhores que sejam, não são seguras, pois baseiam-se em nossos sentimentos. Trata-se de um campo onde impera a subjetividade.

Estou convencido de que aqui reside a razão da vida cristã de muitos ser uma constante de altos e baixos – eles avaliam-se por meio de experiencias e sentimentos. Num dia, tomando como satisfatório algum sentimento, sentem-se cristãos vitoriosos, abençoados, e santos. Mas, se no dia seguinte, acordam mal humorados, e não conseguem orar ou falar em línguas, acabam consumidos pela culpa.

Se sentimentos e experiencias forem o seu padrão de “vida cristã espiritual”, então, lamento dizer, você é um escravo do perfeccionismo religioso. Para você, o único meio de encontrar “paz com Deus” não é Cristo, mas sua perfeição pessoal que, admita!, é impossível de ser alcançada. Milhões de pessoas estão em semelhante escravidão, e procuram constantemente por novas e mais “poderosas” experiencias místicas com Deus.

Acredito que muitos ficariam surpresos ao descobrir que a Bíblia jamais apresenta as experiencias religiosas como sendo o alvo da vida cristã; de fato, o alvo da vida cristã é Cristo mesmo. Não quero com isso sugerir que as experiencias não estejam disponíveis, mas sim que Cristo é o único alvo a ser alcançado:

“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho!” (Fil. 1.21).

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim!” (Gal. 2.20).

Buscar Cristo é tão central no Evangelho, que até mesmo os dons espirituais são apontados como auxílios para nos achegarmos a Jesus. Tem gente que dom é para dar status, cargos de liderança, aumentar a arrecadação da Igreja, ou ganhar Ibope na televisão... Quem faz tal uso dos dons é mercenário, e em nada difere dos vendilhões que Cristo expulsou do Templo. O alvo dos dons é um só: nos conduzir a Cristo!

“Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do Ministério, para edificação do Corpo de Cristo; até que todos cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, a medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes...” (Efésios 4.11-14a).

Se você tem feito uso das experiencias para alicerçar a sua fé em sentimentos, então você está indo na contramão do Evangelho. Segundo o Evangelho, o objetivo dos dons não é nos colocar sobre a areia movediça das emoções e dos sentimentos; mas sim, nos consolidar na fé, nos moldar no conhecimento e no caráter de Cristo, para que possamos deixar de ser meninos inconstantes.

De modo que, sem surpresa, descobrimos que “crente espiritual”, é aquele que vive a obediência cristã, manifestando em sua vida o “fruto do Espírito”. O homem espiritual não é aquele que vive com a cabeça nas nuvens, num mundo mistico quase inatingível; antes, é aquele que optou pelo caminha da fidelidade, que consiste em combater o “bom combate”, cumprir a “carreira”, e “guardar a fé” (II Tim. 4.7-8).

Que Cristo nos conceda, neste novo ano, a graça de viver para Si.

Um comentário :

  1. estou de pleno acordo. Entretanto, gostaria de acrescentar que a manifestação dos dons são usados para aquilo que for útil a igreja.
    1 Coríntios 12:7
    Quanto a ser espiritual,ele discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.
    1 Coríntios 2:15 OBRIGADO: César

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