A postura da Igreja frente aos desafios apologéticos
Por Lúcio, do Ministério Cristão Apologético (MCA)
Os irmãos observarão que lidar com o ateísmo (entre outros ramos da apologética) requer muito estudo e dedicação, não só à Bíblia, como também à filosofia, história, e as demais ciências. É certo que nem todos têm essa oportunidade e/ou têm dom para isso. O que pode ser feito então?
Primeiramente, não devemos nos esquecer dos apologistas e pensadores que nos precederam com o pretexto de piedade. Dizer que honrar, se lembrar com afeto e até agradecer a Deus por outros é errado é contrário às Escrituras (veja que em Filipenses. 2: 26-30, Paulo convoca os irmãos a honrarem, ter em estima os irmãos que batalham pela fé, dentre os quais o apologista pode ser enquadrado). Não estamos convocando-os para um culto idólatra, somente para o reconhecimento do que Deus fez na história. Estuda-se história para aprender com os erros e acertos do passado e entender a situação atual. Muitos desafios foram lançados à fé cristã no decorrer dos séculos. Esses desafios, na maioria das vezes, voltam à tona, porém, com uma roupagem diferente. Deus providenciou no decorrer de toda a história, respostas à altura e convincentes, a esses desafios. Desprezá-las, é desprezar os atos de providência de Deus. Portanto, convidamos os irmãos a conhecerem mais sobre os apologistas do passado e de hoje. Apesar de Robert Letham estar falando de outro assunto, o conselho vale para este:
"Se depreciarmos as dificuldades passadas da igreja, não estaríamos nós cheios de orgulho? Não seria talvez o caso de estarmos tão envolvidos com o que o Espírito Santo esteja nos mostrando agora que nós prestamos pouca atenção ao que ele mostrou a outros? Parte da razão pela qual a tecnologia tem avançado tanto hoje é porque ela possui uma base de um longo período para se apoiar. Ela não tem tentado reinventar a roda!"(LETHAM, 2007, p.18)
Outro aspecto interessante é saber apontar para o outro. Dar referência. Quando nós formos confrontados com uma idéia que não sabemos rebater, devemos indicar quem entende do assunto. Isso vale até mesmo para apologistas. Se lhe for questionado em cima da epistemologia, e sua área for cosmologia, ele será muito sensato em indicar outro apologista especialista na área. A analogia de corpo é, também, muito bem vinda entre os apologistas.
Há ainda outro aspecto que afastam os ateus de darem ouvidos aos cristãos: um viés manco do cristianismo vem pregando um anti-intelectualismo com aparência de piedoso, recorrendo por vezes ao misticismo e evadindo de sua responsabilidade apologética (1 Pedro 3:15; Tito 1:9). Quando o cético questiona alguém dessa laia, recebe respostas que o repudiam, o afastando do teísmo. Contra isso, Craig nos adverte:
"Se um incrédulo faz a objeção de que a Bíblia não é confiável porque é uma tradução de uma tradução de uma tradução, a resposta não está em dizer-lhe que se acerte com Deus. A resposta está em explicar que temos excelentes manuscritos da Bíblia nas línguas grega e hebraica _ e depois dizer-lhe que se acerte com Deus!" (CRAIG, 2004, p. 44).
Não se pede para que alguém creia em algo sem lhe dar uma real motivação para isso. Recorrer ao misticismo não é uma atitude respaldada na Bíblia. Devemos nos esforçar, estudar e buscar as respostas certas para as indagações, e isso, de joelhos no chão. Sproul se expressa da seguinte maneira:
"A tarefa da apologética é mostrar que a evidência sobre a qual o Novo Testamento chama as pessoas a entregarem suas vidas é evidência instigante e digna de todo o comprometimento. Isso geralmente demanda trabalho para o apologista. Às vezes preferiríamos esquivarmo-nos da responsabilidade de fazer nosso trabalho de casa, combater os problemas e responder às objeções e simplesmente dizer para as pessoas. [sic] ‘Olhe, você tem que ter fé’. Esse é o pretexto básico. [...] Devemos nos esforçar para fazer o nosso trabalho como o Espírito Santo faz, porque Ele não pede para as pessoas colocarem sua confiança, fé e sentimento no que é absurdo e sem sentido"(SPROUL, 2007, p. 20-21).
E C.S. Lewis reforça a ideia com a seguinte afirmação:
"É assim que vejo a natureza essencial da vida acadêmica. Hoje, entretanto, ela tem valores particularmente importantes. Se o mundo todo fosse cristão, não importaria se o mundo todo não tivesse formação escolar. Como as coisas são, no entanto, a vida cultural existirá fora da Igreja, quer exista dentro dela, quer não. Ser ignorantes e simples agora _ não estar aptos para enfrentar os inimigos em seu próprio campo _ seria abrir mão de nossas armas e trair nossos irmãos sem formação acadêmica, que, abaixo de Deus, não têm nenhuma defesa contra os ataques intelectuais dos pagãos, a não ser a defesa que lhes podemos oferecer. A boa filosofia deve existir. Se não por outra razão, porque a má filosofia precisa de resposta" (LEWIS, 2008, p.60-61).
Portanto devemos mostrar que o cristianismo não é suicídio intelectual, antes apresenta uma fé com ‘n’ motivos para ser considerada. Na verdade, nossa confissão deve ser que ela é a fé que deve ser abraçada, não porque é boa, mas porque é verdadeira! Ainda não falamos tudo sobre o testemunho cristão frente ao ateísmo. A questão não se limita a apresentar argumentos em prol do Cristianismo (do teísmo, nesse caso). O ateu, principalmente o neo-ateu, diz que a religião é algo pernicioso socialmente. Para que o ateu seja refutado, não bastam argumentos. Ele precisa ver em nós a antítese do que postulou. Além disso, o enfrentar dificuldades com bravura, a coerência moral e ética, o amor à Cristo deve levar o cético a nos interrogar sobre nossa fé (cf. 1Pedro 3:15).
Philip Kenneson diz:
"A tarefa apologética mais urgente da igreja hoje é viver no mundo de tal maneira que o mundo seja levado a nos perguntar acerca da esperança que temos. Enquanto isso não acontecer, temo que todas as teorias apologéticas existentes sejam em vão, e eu a verdade de que dizemos ser testemunhas seja tomada como sendo uma falsidade" ( KENNESON apud SALINAS; ESCOBAR, 2002, p. 45).
E ele está certo!
Originalmente publicado no MCA, e divulgado aqui no Olhar Reformado.
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