Uma crônica anglicana no Metrô da Sé

Marcelo Lemos

Estamos planejando o lançamento de mais uma edição da Revista Anglicanos, um projeto da Igreja Anglicana Reformada do Brasil. A publicação, que poderá ser lida online ou baixada para o computador, tem como objetivo divulgar o trabalho dos anglicanos reformados, e a própria tradição anglicana em nosso País. ‘Igreja Anglicana’ é algo quase completamente estranho para o povo brasileiro, e poderíamos citar dezenas de exemplos comprobatórios – abaixo, algo que me aconteceu recentemente no Metrô da Sê, em São Paulo.


“Eu sei que você é casado, mesmo que não me tenha dito nada. Você tem curiosidade de saber como isso é possível?. Eu não apenas não queria saber, como estava bem pouco interessado em abandonar meu jogo de xadrez – no celular – por causa da intromissão do estranho. Mesmo assim respondi, já imaginando o rumo que ele desejava dar a conversa. “Eu sei como você sabe que eu sou casado, afinal é para isso que eu uso aliança!.

“Meu jovem, você tem a mente muito fechada, mas, deixa estar, um dia desses Ogum aparece para você, e tudo muda. Sim, meu filho, eu sou de Ogum… Toda sexta eu sacrifico para Ogum… animais, sabe?… É por isso que eu sei que agora tua esposa está em casa, esperando por você…”

“Errado”, interrompi impaciente – “Minha esposa não está em casa; estou aqui justamente esperando por ela, a fim de irmos os dois para casa! Se você duvida espere mais alguns minutos e verá…”. Devo ter feito uma cara zombeteira, ou qualquer outra coisa assim, pois o jovem respondeu algo como. “Filho, eu não gosto de você, e se você soubesse do que sou capaz, dos poderes de Ogum,,,”.

“Nâo tenho medo de Ogum!”.

“Você tem cara de Evangélico”.

“Honestamente, preferia ter cara de cristão”.

“De que Igreja você é?”.

“Eu sou anglicano”.

“Que porcaria é essa”.

“Hum… O termo anglicano significa Igreja da Inglaterra”.

“Realmente eu não gosto de você. Além de ser chato, ainda vem com essa Igreja onde só entra rico”.

Eu não sou rico”.

“O que você faz numa igreja de rico então?

“Foi você quem disse que somos uma igreja de ricos, não eu!”

“Hã… Que você pregam?

“Que Cristo veio ao mundo salvar os pecadores”

“Crente se acha melhor que os outros!”

“Eu não, é por isso que sou cristão: sei que sou pecador, e que apenas em Cristo encontro salvação para minha alma”.

Não gosto de vocês; ficam dizendo para eu parar de tomar minha ceveza, e largar meu cigarro, como se isso fosse me fazer uma pessoa melhor”.

“Eu não disse nada disso. E não é verdade que qualquer dessas coisas possa te fazer uma pessoa melhor. Não podemos fazer nada para nos tornarmos melhores, e é por isso que precisamos de Jesus”.

“Muita gente disse...”.

“Eu não disse”.

“Mas a maioria diz!”.

“E que culpa eu tenho?A maioria dos bebados é gente chata; eu poderia te julgar pela maioria, mas até que nossa conversa tá legal. Mesmo assim, você está me julgando pelos outros crentes que você conheceu por ai,..”

“Fiquei bêbado com meu dinheiro, que você tem com isso?

“Não estou reclamando”.

“Cara, eu gostei de você, gostei mesmo, mas não gosto muito... Sabe, se um dia eu tiver um amigo evangélico que me aceite como eu sou, que não fique se fazendo de melhor que eu, viro crente na hora!”

“Serve eu?

“Ah, mas você não é meu amigo. TCHAU!”

Bem, oro para que nossa revista seja não apenas um canal que comunique anglicanismo, mas também, e principalmente, o Evangelho. Pois se Igreja Anglicana é algo estranho aos ouvidos do povo brasileiro, a mensagem simples, graciosa e doce do Evangelho também é. E essa oração deve ecoar no coração não apenas de nós, os anglicanos, mas de todos os cristãos brasileiros. As vezes, quando preciso aguardar minha esposa, olho para a multidão de rostos da Sé a procura daquele quase amigo que fiz, e me lembro que a maioria dos rostos que vejo poderia ser ele...

3 comentários :

  1. Po, tinha que pagar um gelada para ele.. Ele virava seu amigo na hora. Deu mole.kkkk!!

    Infelizmente as maiores igrejas são pentecostais e neo, e eles criam essas bizarrices e pagamos a conta..

    Precisamos pelomenos tentar mudar esta triste realidade..

    Abs.

    Fábio Lopes.
    Igreja Anglicana do Salvador - Rio de Janeiro

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  2. Pena que o Fábio Lopes que começou tão bem com o comentário da gelada tenha demonstrado preconceito com irmãos pentecostais e colocado na vala comum os que pensam diferente!! Parabéns pelo relato Marcelo!!

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  3. Oí Pastor,
    Bem legal este post do seu diálogo. Bem natural, sem presepada de 'crente'... Acho que precisamos de exemplos assim no meio, mentores ou guias espirituais que sejam sóbrios e naturais no viver para gente perceber e assimilar que a gente é terráqueo (vive no planeta terra plantado com os pés no chão) e não quer ser uma caricatura evangélica... um tolo "abestado" ou abestalhado, porque como disse o comentário anterior a bizarrice é o mais comum e crente com sobriedade não é a regra... Eu não creio que dá para mudar esta realidade desde que cristiaNISMO é cristiaNISMO, e o que pode acontecer é uma dicotomia mais acirrada de quem quer seguir a bizarrice e os que estão se desintoxicando dela ou os muito poucos que passam ao largo dela, processam o Cristo e o Evangelho de modo natural e real e não mítico ou místico caricato... Muitos vão perceber e dizer: "você é crente mesmo? Mas não parece um bizarro!" E aí nesta naturalidade, aproveitar a deixa para falar do Evangelho que não é de 'outro mundo'.

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