Atos Proféticos ou Feitiçaria?
Por Rev. Marcelo Lemos
Hoje
abordaremos uma questão que nos
colocar
no centro da fúria
dos “evangélicos” de nosso tempo. Nosso leitor, André
Rodrigues, nos envia a seguinte questão:
“Olá. Gostaria de saber o que são, na verdade, os atos proféticos tão praticados atualmente nas igrejas, e quais as relações (se é que têm relação) com os atos proféticos do Velho Testamento...”.
André, vou responder de modo
curto e grosso, para depois expandir mais a resposta. Então, que os
“evangélicos” segurem o rojão:
O que são os atos proféticos
praticados em (muitas) igrejas evangélicas hoje? São
trabalhos de macumbaria, travestidos como mensagem do Evangelho, e
roupagem cristã judaizante. Ato profético é feitiçaria gospel!
Qual a relação de tais atos
proféticos com os atos proféticos do Antigo Testamento? Não
há qualquer relação, pois no Antigo Testamento não havia atos
proféticos, pelo menos, não nas configurações neopentecostais.
ANATOMIA DOS ATOS PROFÉTICOS
NEOPENTECOSTAIS
Boa parte da Igreja Evangélica de
nossos dias foi invadida por práticas pagãs, as quais se enraizaram
tão fortemente na mente e no coração das pessoas, que estou
convencido de que frequentar uma Igreja Romana seria, anos luz, mais
saudável. Claro, refiro-me, somente, as Igrejas Evangélicas que
seguem tais práticas. Infelizmente, são muitas; talvez, a maioria
delas.
Em ditas “igrejas”, o pastor
virou xamã, revestindo-se da mesma mística, e dos mesmos poderes,
que antes eram propriedade dos feiticeiros das casas de macumba. Os
crentes, assim como os que buscam os terreiros, transformaram-se numa
multidão de adoradores mercenários, a procura de um “cristo
talismã”, que lhes desamarre os caminhos.
Mas, ainda precisamos relacionar
os “atos proféticos” com os trabalhos de macumbaria. Coisa fácil
de se fazer. Basta compararmos as duas anatomias. Um trabalho de
macumba nada mais é que o homem valendo-se de ritos, e de objetos, a
fim de manipular a ação da Divindade (ou das divindades, dependendo
do caso).
Jostein Gaarder, na obra “O
Livro das Religiões” (Cia. Das Letras), nos fornece
uma descrição muito valiosa sobre o que seria a “magia”:
“... o ser humano que se vale de ritos mágicos, ele está tentando coagir as forças e potencias a obedecer à sua ordem – que com frequência consiste em atingir finalidades concretas. Desde que os rituais mágicos sejam realizados corretamente, o mago acredita que os resultados desejados decerto ocorrerão, por uma questão de lógica”.
Se você trocar “mago” por
“pastor”, “apóstolo”, ou mesmo “levita”, obterá um
retrato fiel da espiritualidade 'evangélica' alimentada por muitas
pessoas. Atos proféticos, e pontos de contato (como sabonetes,
chaves, e rosas ungidas), possuem a mesma utilidade dos ritos e
objetos utilizados em rituais de magia.
Pode ser que alguém nos imagine
exagerando, então, vamos pedir a opinião do 'Paipóstolo' Rene
Terra Nova, entusiasta e incentivador de “atos proféticos”:
“Mas, o que é um ato profético? É uma expressão, uma atitude visível da Igreja que tem uma referência e um respaldo no mundo espiritual. Digo que o ato profético é uma mensagem enviada ao reino do espírito que ratifica a ação da fé e da Palavra” (Atos proféticos, comando de Deus ou invenção humana?, MIR).
Mensagens enviada ao “mundo do
espírito”, a fim de que o “pastor” e o “crente” consigam
conquistar alguma coisa desejada no “mundo físico”. Ato
profético, portanto, é um meio do homem manipular o mundo
espiritual, inclusive a ação dos demônios:
“Se conhecermos a potencialidade da cobertura espiritual, impediremos que o diabo entre em nossas fronteiras, migre pelas brechas ou assalte pelas arestas. Os atos proféticos são uma ferramenta de Deus para impedir que sejamos apanhados de surpresa. Na verdade, é uma chamada de Deus para não permitirmos que o diabo adentre no nosso arraial... A realização desses atos emite mensagem no mundo espiritual, imobilizando a atuação do diabo e desatando a ação da igreja.” (Idem).
Em outras palavras, o pastor
assumiu o lugar do feiticeiro, especializando-se em manipular as
forças espirituais a seu favor. Seu suposto poder é tão grande,
que inventou também a Cobertura Espiritual, com o que ameça os
rebeldes – os que lhes questiona - de serem amaldiçoados por Deus.
Os macumbeiros mais poderosos hoje, estão em cargos de liderança
nas ditas Igrejas Evangélicas.
E OS ATOS PROFÉTICOS BÍBLICOS?
Não há atos proféticos na
Bíblia, nem mesmo no Velho Testamento. Vamos recordar a definição
do xamã gospel Rene Terranova: “Digo que o ato profético é uma
mensagem enviada ao reino do espírito que ratifica a ação da fé e
da Palavra!”. Em que lugar das Escrituras lemos sobre patricarcas,
profétas ou apóstolos realizando atos que eram “mensagens
enviadas ao reino do espírito”? Em lugar algum!
O que esses falsários, sabios
analfabetos em exegese, fazem, é sequestrar profecias bíblicas,
deturpá-las de seu sentido natural e Evangélico, a fim encaixá-las
em seus manuais de feitiçaria. Terranova apresenta sua primeira
“prova” de que atos proféticos são bíblicos, valendo-se de
Genesis 3.15:
“Você sabia que em Gênesis 3, quando Adão e Eva se esconderam atrás das folhas de figueira, Deus estava apontando para a cruz?” (Idem).
Todo cristão que já foi a Escola
Dominical sabe que Genesis 3.15 aponta para a Cruz de Cristo;
Terranova não fala qualquer novidade aqui. Mas, que Genesis 3 tem de
ato profético? Se um ato profético é uma “mensagem enviada ao
mundo do espírito”, onde encontramos tal coisa no texto de Genesis
3, ou em qualquer outro texto inspirado pelo Espírito Santo?
O que encontramos em Genesis 3 não
é um ato profético, não é um ritual de manipulação do mundo
espiritual, mas uma tipologia; ou seja, um evento
histórico que simbolizava a Obra de Cristo. Seu objetivo não era
manipular o mundo espiritual, como ocorre nos atos proféticos, mas
sim ensinar o povo de Israel sobre a
realidade que estava por vir: Cristo!
Por esse motivo o Novo Testamento
chama o Velho de “sombra”, pois é composto de eventos
históricos, e da ritualística da Lei, que simbolizavam a realidade
futura, feita presente no tempo na pessoa do Cristo: “Portanto,
ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias
de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombra das coisas
futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2.16,17).
De modo que, os simbos do Antigo Testamento não eram atos proféticos que enviavam mensagens ao “mundo do espírito”, mas sim, símbolos que transmitiam mensagens aos homens, visando ensiná-los na Verdade.
Ainda mais ridícula é a
tentativa de identificar atos proféticos no Novo Testamento. Sobre
isso Terranova ensina: “A pregação do Evangelho, o
batismo nas águas, a ceia do Senhor, a unção com óleo, o dízimo
e a oferta são atos proféticos que serão realizados pela igreja,
até que o Messias volte”.
Ora, desde quando enviamos
mensagens ao mundo do espírito quando comemos do Corpo e do Sangue
de Cristo? Desde quando enviamos mensagens ao mundo do espírito
quanto somos conduzidos as águas do Batismo? Qual lugar da Escritura
ensina tal insanidade? O ensino bíblico sobre a Ceia, por exemplo, é
que a mesma consiste em um serviço de adoção a Deus (Liturgia),
e uma proclamação publica (feita aos
homens!) da mensagem do Evangelho: “Porque todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do
Senhor, até que venha!” (I Cor. 11.26).
Ainda que os seres celestes, de
fato, nos assistam na trajetória cristã, inclusive em nossos
serviços liturgicos (I Cor. 4.9; 11.10); o Culto Público é
prestado a Deus, e somente a Ele; transformar o Culto em uma mensagem
enviada ao “mundo do espírito”, a fim de manipular forças
espirituais, é paganizar a fé cristã! A simbologia liturgica do
cristianismo, em boa parte perdida no pós-puritanismo, não nos
coloca em contato com o mundo dos espíritos, mas nosensina sobre
a realidade escatológica por vir:
“O culto, portanto, é uma assembleia de antecipação escatológica. Vejam que Cristo lhe dá esta dimensão quando diz, na instituição da Santa Ceia, substituta da Páscoa judaica: "Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela (a Páscoa) se cumpra no reino de Deus" (Lc 22.16). Toda vez, pois, que se celebra a Santa Ceia o quadro simbólico do culto sacrificial se repete e uma antevisão escatológica se realiza” (Rev. Onézio Figueiredo,citado em Conta-gotas de sabedoria)
O que a simbologia bíblica
reflete é uma pedagogia divina, e não um ritual
de magia; porém, os xamãs evangélicos querem deturpar até
a pedagogia de Cristo. Como todo leitor das
Escrituras há de saber, Jesus sempre fez uso de parábolas e
ilustrações para transmitir seus ensinamentos; para os feiticeiros
evangélicos, o que Jesus fazia era “atos proféticos”. Com a
palavra, Rene Terranova:
“Jesus utilizou-se de muitas figuras do reino físico para ilustrar mensagens alusivas ao reino do espírito. Quando disse: destruirei esse templo e em três dias o reconstruirei, Ele falava numa linguagem profética (Jo. 2:19). As pessoas ao ouvirem-no olhavam para um templo físico, enquanto o Mestre aludia-se ao espiritual. Eles diziam: como o Senhor fará tal feito em três dias se nossos pais levaram 40 anos construindo esse templo?”.
Observem, apesar de sua fixação
pelo tal “reino do espírito”, Terranova não é completo
ignorante em exegese. De fato, Jesus se valia de elementos do mundo
físico para ilustrar verdades espirituais. Até aqui nada a
acrescentar. O que destoa o discurso mágico dos neopentecostais, é
alegar (ou mesmo insinuar) que as parábolas utilizadas por Jesus
eram “atos proféticos”, os quais são “mensagens enviadas ao
mundo do espírito”. Uma parábola é o que uma parábola sempre
foi: um método didático, que, obviamente,
objetiva ensinar aos homens!
Quando Jesus quis enviar
“mensagem” ao “reino do espírito”, Ele não fez uso de
parábolas, nem de quaisquer outra classe de figuras, simplesmente
ordenou Sua vontade:
“E andava pastando diante deles uma manada de porcos. E os demônios rogaram-lhe, dizendo: Se nos expulsas, permite-nos que entremos naquela manada de porcos; e Ele lhes disse: Ide!” (Mateus 8.30-32).
Se Jesus seguisse o manual
neopentecostal dos gedozistas, teria feito um ato profético! Talvez,
imagino, tivesse ordenado aos discípulos criar um boneco de porco, a
fim de arrebentá-lo a pauladas, com muita autoridade, enviando
assim, uma mensagem ao “mundo do espírito”, 'liberando' (sic) o
caminho de sua pregação. Ou, se o tempo fosse curto, ordenaria que
todos levantassem a barra das saias, e saíssem urinando nas cercas
do nefasto chiqueiro, demarcando território; coisa bem apropriada
para Aquele que é o Leão (risos).
Todavia, o alvo das parábolas,
apesar de didático, não era facilitar o entendimento das pessoas,
mas sim, forçá-las a meditar mais seriamente nas realidades
espirituais nelas inseridas (João 16.29,30). Um outro objetivo das
parábolas de Jesus, normalmente negligenciado por pregadores
populares, era impedir que os reprobados compreendessem a Mensagem do
Evangelho:
“Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado... Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e vendo, vereis, mas não o percebereis!” (Mateus 13.11, 13-14).
Atos proféticos? Não, método
didático, assim como as figuras e os rituais do Antigo Testamento.
Que são os atos proféticos
feitos em muitas igrejas? São trabalhos de feitiçaria, com roupagem
cristã e judaizante, cujo objetivo é manipular o reino dos
espíritos, enviando-lhes comandos e ordens. Qual a relação com os
atos proféticos bíblicos? Não há relação, pois a Bíblia não
ensina nada sobre tal prática. Apesar da Bíblia estar repleta de
simbologias, o alvo das mesmas, como vimos, é servir ao ensino dos
crentes, e não manipular o mundo espiritual.
Um
abraço André; que o Senhor nos ensine a caminhar na simplicidade do
Evangelho.
a explicação foi muito boa e convincente, aprendi a diferença.
ResponderExcluirsomente o ataque direto á pessoa que é reprovavel, pois a biblia não nos exorta a fazer isso.
tirando essa parte é edificante.
a explicação foi muito boa e convincente, aprendi a diferença.
ResponderExcluirsomente o ataque direto á pessoa que é reprovavel, pois a biblia não nos exorta a fazer isso.
tirando essa parte é edificante.