Neopentecostalismo: Comeremos o Melhor da Terra


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“Bom dia, a expressão bíblica “Comerás o melhor desta terra” tem uma aplicação real para hoje, como interpretam os neopentecostais, ou é uma referência a Segunda Vinda de Jesus”.


Marcelo Lemos

Irmão Jader, tem sim uma aplicação para os nossos dias, mas não como querem os neopentecostais. De fato, os neopentecostais não podem fazer uso de tal texto, nem podem se apegar a sua promessa por um motivo muito simples: eles são antinomistas.

Antinomismo é a doutrina que diz que a Lei de Deus foi abolida por Cristo. Os neopentecostais apegam-se a tal doutrina, bem como a maioria dos cristãos de nossos dias. Tal postura não apenas contradiz as Escrituras, como também nunca foi a doutrina da Igreja de Jesus Cristo, incluindo a época da Reforma Protestante. Já publicamos aqui no Olhar Reformado alguns artigos sobre o assunto que vale apena conferir.  


Se a Igreja rejeita a Lei de Deus não pode esperar viver as bênçãos oriundas dessa Lei. Portanto os Neopentecostais fazem uso ilegítimo da promessa  de Isaías 1.19: “Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra”.

O fato é que Neopentecostais, bem como muitos outros, mesmo entre os Reformados, recusam-se a “me ouvirdes”, como se prescreve na própria profecia. A Lei de Deus sumiu de nossos púlpitos, dos nossos livros, das nossas estratégias. Só nos lembramos da Lei de Deus quando alguma coisa nela parece nos favorecer – por exemplo, na questão do homossexualismo. Fora isso, agimos como se a Lei de Deus em nada nos afetasse. Como desejamos suas bênçãos agindo assim?

Ademais, o Neopentecostais criaram um caminho alternativo para chegar as bênçãos da Lei de Deus. Eles pretendem fazer isso por meio do dinheiro. É verdade que no mundo “evangélico” a nossa volta se fala muito em “fidelidade”, “honra”, “obediência” e “ser santo”; porém, tudo isso está relacionado aos projetos pessoais deste ou daquele líder, desta ou daquela agremiação religiosa. Ser “fiel”, por exemplo, tem tudo haver com entregar determinada parte de sua renda aos pés de um “apóstolo”, mas pouco tem haver com a Ética que Cristo ensinou no Sermão da Montanha:

“Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos Céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus!” (S. Mateus  5. 19,20).

Podemos ilustrar isso com o livro “A Ultima Grande Transferência de Riquezas”, escrito por Morris Cerullo, guru da Teologia da Prosperidade, e que foi publicado no Brasil pela editora do pastor Silas Malafaia. Todas as promessas citadas no livro são verdadeiras e aplicáveis hoje, contudo, o meio de atingi-las é completamente equivocado e anti-biblico. E isso é um grande problema.


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No livro, Cerullo apresenta as promessas como tendo objetivos egoístas, ou seja, o cristão pobre que ficar rico ou vira chefe. Ele até mesmo espera que grandes empresas passem seu controle para pessoas ou entidades cristãs. E isso é tudo. Ademais, como acontecerá isso? A resposta de Cerullo é bem simples, direta e blasfema:

“Semeie a maior oferta financeira que você puder para cumprir a Grande Comissão de Cristo... Eu nunca fiz isso com nenhum livro que eu escrevi, mas Deus me mostrou que você deve dar um passo de fé - bem agora - enquanto a mensagem está FRESCA. Coloque sua fé em operação e ative a promessa de Deus” (Morris Cerullo).

Se você acredita nas “Sementes” (ofertas) da Teologia da Properidade – inclua no grupo o assembleiano Silas Malafaia, editor do livro supra citado – o máximo que você conseguirá é fazer com que alguns líderes religiosos “comam o melhor desta terra”. O que tais pessoas ensinam não tem nada haver com o Evangelho, apesar de usarem invalidamente as promessas do Evangelho.

Além disso, outro erro neopentecostal é desejar e pregar soluções imediatistas, como se por meio de palavras de ordem, ou barganhas financeiras, pudessem viver as promessas do Reino aqui e agora. Estão equivocados. Só podemos desfrutar das benesses do Reino a medida que o Reino “vem a nós”, e isso acontece com um Cristianismo que transforme a sociedade a sua volta, algo que o Neopentecostalismo não tem sido capaz de fazer.  O Reino vem a nós quando Sua vontade é feita, “na terra como no céu” (S. Mateus 6.10).

Comeremos o melhor desta terra? Sim! Está é uma promessa feita a Igreja. Mas não faremos isso plantando “sementes” nos bolsos de líderes religiosos, nem com palavras de ordem. Faremos isso, primeiro, vivendo a simplicidade do Evangelho; segundo, anunciando este mesmo Evangelho ao mundo, transformando-o, trazendo-o cativo a Cristo.

Devemos observar que as profecias referentes ao Reino de Cristo implicam em na conversão das nações ao Evangelho. Infelizmente boa parte dos cristãos imaginam que isso jamais acontecerá, e que a Igreja fiel será cada dia menor e mais desprezada no mundo. Isso contradiz as promessas messiânicas.

“Tu és meu Filho, hoje te gerei. Pede-me e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão. Tu os quebrarás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro” (Salmos 2.7-9).

“Domine de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra. Inclinem-se diante d’Ele os seus adversários, e os seus inimigos lambam o pó. Paguem-lhe tributo os reis de Társis e das ilhas; os reis de Sabá e de Seba ofereçam-lhe presentes. Todos os reis da Terra prostrem perante Ele; todas as nações o sirvam” (Salmos 72. 8-11).

Quando o Profeta Daniel, após vislumbrar em visão que Cristo derrotaria o Império Romano, ele contempla, em outra visão, Cristo sento entronizado, e descreve: “Eu estava olhando em minhas visões noturnas, e eis que vinha com as nuvens do céu um como Filho do Homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e foi apresentado diante dele. E foi lhe dado domínio, e glória, e um Reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu Reino tal, que não será destruído” (Daniel 7. 13,14).

Esse reino não vem como num passe de mágica. Esse reino vem, paulatinamente, pela pregação do Evangelho. Quando cumprimos a Grande Comissão, esse Reino se concretiza mais e mais. Se Cristo já reina, porque o mundo não é uma maravilha? Porque ainda vemos tanta maldade a nossa volta? Isso ocorre, pois o Reino cresce a medida que o Evangelho avança no mundo. Hoje, além de dedicarmos pouco a Grande Comissão, o evangelho que pregamos é “outro”. Porém, se pregarmos o Evangelho de Cristo, ainda que demore o Reino será cada dias mais visível no mundo. Segundo as Escrituras, ao vir ao mundo, Cristo trouxe o Reino, e este reino cresce juntamente com a pregação do Evangelho.

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim...” (Isaías 9.6,7).

“Propôs-lhe outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo; o qual é realmente a menor de todas as hortaliças, e faz-se árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos” (S. Mateus 13.31,32).

“Outra parábola lhes disse: O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado” (S. Mateus 13.33).

Vê, não há mágica no processo, nem atalhos. Nenhuma palavra de ordem ou meios humanos pode alterar a realidade a nossa volta. O Evangelho de Cristo é o “fermento” que, pouco a pouco, mas inevitavelmente, vai “levedando” o mundo, até que cheguemos a plenitude do Reino. Mas, não se trata de uma utopia, uma visão de futuro. Na verdade, o mundo de hoje é melhor que o de ontem justamente porque o Evangelho nos proporcionou isso. Apesar de a mentalidade secular hostilizar o Cristianismo, não haveria uma cultura desenvolvida como a nossa não fora a Igreja de Cristo Jesus. Foi Cristo, pela instrumentalidade da Igreja, quem construiu a civilização ocidental. Quem sabe escreveremos sobre isto em outro artigo.


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